Geek escrita por Lara


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá Cupcakes ♥!

Fanfic dedicada a Maly, como seu presente de Natal. Apesar de não ter saído como eu desejava, eu espero que possa se divertir lendo essa história, Maly.



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GEEK

 

Os dicionários definem geeks como pessoas que se interessam excessivamente por tecnologia e por tudo que é novo ou quem é especialista em tudo o que é do seu interesse ou quem tem interesse em videogames, filmes, séries, colecionar objetos, brinquedo, tecnologia, computação, códigos, música eletrônica.

Por outro lado, eu diria que esse termo é dado para pessoas introvertidas, sem qualquer habilidade para se comunicar com outros seres humanos e por esse motivo dedicam suas lamentáveis vidas ao mundo virtual e a personagens 2D. Em outras palavras, essa pessoa sou eu, Byun Baekhyun.

A ovelha negra da família, a vergonha dos pais que se esconde no quarto para não ter que interagir com a própria família, o gay não assumido, mas que sabe que todos desconfiam de sua sexualidade menos os próprios pais, aquele que é viciado em simuladores de encontro e que se importa muito mais com os personagens de seus jogos do que com as pessoas que estão ao seu redor.

Dedicando minha vida por completo aos meus amados jogos de RPG e simuladores, eu encontrei aquele que completou o vazio em meu coração. O único ser que entendia meus sentimentos e merecia minha total atenção e amor: Takumi-sama.

Um rapaz alto, magro, de sorriso fácil, personalidade doce, olhos brilhantes e inocentes, cabelos macios e alguém extremamente dedicado a tudo que faz. Um verdadeiro príncipe por quem me apaixonei loucamente ao jogar Juliet’s Romeo. Sim, como o fracassado que sou, eu me apaixonei pelo personagem de um jogo.

E eu teria vivido a minha vida muito bem no escuro do meu quarto, longe de todas as pessoas e suas complexidades se não fosse por Park Chanyeol, o aluno novo. O tímido, mas popular rapaz, de um e oitenta e quatro de altura, sagitariano, do tipo sanguíneo A, apaixonado por animes e mangás, sorridente e lindo. Muito lindo. O cara mais lindo que eu já vi em toda minha vida.

O maldito simplesmente é a reencarnação de Takumi-sama no mundo real. Por muitos meses, eu ignorei a minha louca e inexplicável vontade de me aproximar de Chanyeol. Eu dizia a mim mesmo que tudo não passava de uma ilusão criada pela minha mente doente e obcecada por Takumi-sama. Não seria nenhuma novidade. Eu vivo me iludindo. A ilusão é algo bastante comum em minha vida.

A questão é que quanto mais tempo eu passava observando meu colega de classe, mais confuso eu me tornava. Por que os sorrisos de Chanyeol me chamavam mais atenção do que os de Takumi-sama? Por que eu queria me aproximar dele, quando eu tenho pavor de ter contato com seres humanos?

E essas dúvidas continuaram em minha mente até que eu fosse obrigado a admitir a mim mesmo que eu estava loucamente apaixonado por Chanyeol. Não dava mais para negar que eu desejava que ele me notasse. Entretanto, como o estranho e confuso ser humano que sou, eu queria que ele adivinhasse que eu estava totalmente na dele e que ele tinha que me chamar para sair.

Por mais que eu tentasse, eu nunca conseguia me aproximar de Chanyeol. O motivo? Eu sou um idiota introvertido, que não consegue nem olhar nos olhos das pessoas e que o único assunto que consegue pensar quando se aproximar dele é sobre a estranha vontade de ir ao banheiro.

Eu provavelmente deveria ser o garoto da sala viciado em banheiro aos olhos de Chanyeol. Todas as vezes em que tivemos a mínima oportunidade de nos falar, a primeira coisa que eu fazia era dizer que precisava ir ao banheiro e saia correndo como o verdadeiro trouxa que sou.

Não importa quantas vezes eu pense sobre isso, Park Chanyeol foi feito sob medida para mim. Ele é a personificação de Takumi-sama. Inteligente, tímido, sorridente, fofo e alto. Há outra explicação para que justamente o garoto com todas as características de meu personagem favorito no mundo dos jogos esteja na mesma escola e sala de aula do que eu, além de destino? Provavelmente, coincidência, mas eu preferia continuar a me iludir.

E é por esse motivo que eu estava decidido a conquistar o coração de Park Chanyeol a qualquer custo. Ainda que eu tivesse que vencer a minha estúpida timidez, eu não podia perder a oportunidade de ter o Takumi-sama da vida real para mim.

— Hyung, vamos embora, por favor. – Pede Sehun, preocupado. – Isso não vai dar certo.

Ah, quando eu disse que eu teria o coração de Park Chanyeol a qualquer custo, eu não estava mentindo. Nesse momento, meu primo e meu melhor amigo estavam escondidos em uma moita, enquanto observávamos Chanyeol de longe, em um possível encontro. Coloco minha mão sobre a boca de meu primo e continuo a espionar meu amado Takumi-sama pelo binóculo.

— Calado, Sehun. Você está me atrapalhando a ver meu futuro namorado, Takumi-sama. – Repreendo meu primo, atento aos movimentos de Chanyeol e a garota que estava a sua frente.

— O nome dele é Chanyeol e esse seu plano é ridículo. – Afirma meu melhor amigo, Kyungsoo, revirando os olhos.

Eu sempre tive medo de interagir com as pessoas. No entanto, eu também não podia negar que precisava de humanos para sobreviver nessa estúpida sociedade. Seja seus pais, irmãos, primos ou outros familiares, querendo ou não, você acaba tendo algum tipo de contato com outras pessoas.

Oh Sehun foi obrigado a ter contato comigo. Sendo primos tanto por parte de mãe como por parte de pai – estranhamente, minha mãe é irmã do pai de Sehun e meu pai é irmão da mãe de Sehun -, nós éramos como irmãos. Ele se acostumou com meu jeito e, por motivos desconhecidos, estava sempre comigo.

Já Do Kyungsoo era um caso mais intrigante ainda. Nós nos conhecemos através de um jogo RPG online. Assim como eu, ele é mais um fracassado viciado em jogos e que detesta pessoas. Depois de anos falando mal sobre seres humanos, coincidentemente, nós nos tornamos vizinhos e melhores amigos.

Os dois eram os únicos com que eu conversava na escola e que sabiam do meu amor por Park Chanyeol. E apesar de reclamarem com frequência da minha falta de noção, eles sempre estavam ao meu lado, ainda que não concordassem com minhas atitudes, como agora, que estamos de frente a um restaurante de luxo, espionando o amor da minha vida e futuro marido, ainda que ele não saiba disso.

 - Poxa. Vocês deveriam era estar me apoiando nesse momento histórico em minha vida. – Dramatizo, retirando o binóculo para olhar para meus dois melhores amigos.

— Momento histórico? – Questiona Kyungsoo, rindo. – Isso é só fogo no rabo, Baekhyun. Eu ouço você falar que vai mudar desde que te conheço. Essa história de que você vai criar coragem para falar com ele é algo que escuto há muito tempo.

— Você é insuportável! – Resmungo, cruzando os braços e fazendo bico, chateado. – Dessa vez é verdade. Eu vou falar com ele. Principalmente agora que teremos o baile de primavera.

— O quê? – Questiona Sehun, confuso. – Você odeia bailes.

— E detesta pessoas, algo que tem em excesso em bailes. – Complementa Kyungsoo com desconfiança.

— Detalhes... – Respondo, como se não fosse nada demais. Ainda que eu soubesse que eles tinham razão por questionarem esse meu desejo atípico de ir ao baile. – O importante é que eu quero ter a oportunidade de esfregar na cara de todas as pessoas da escola que Chanyeol e eu fomos feitos um para o outro. Por isso, eu garanto que finalmente irei falar com ele.

— Vamos supor que seja verdade...

— É verdade, Sehun! – Interrompo meu primo de maneira irritada.

— Tudo bem. – Concorda Sehun, revirando os olhos diante de minha teimosia. – Supondo que seja verdade, - ele sorri irônico e continua: - o que vir ao restaurante onde ele está para ficar espionando vai te ajudar a conquistar ele?

— Simples, meu tolo e adorável priminho. Eu preciso descobrir quem é essa garota que está colocando em perigo meu futuro casamento com Chanyeol, meu Takumi-sama da vida real. – Respondo de maneira sonhadora, arrancando suspiros de frustração de meus melhores amigos.

— Não acha que está indo longe...

— Olha! Eles estão saindo! Vamos segui-los! – Interrompo meu primo mais uma vez, puxando ele e Kyungsoo pelos braços.

  Procurando ficar a uma distância segura, nós três continuamos seguindo o casal até que eles param ao lado de um carro preto luxuoso. Um homem, que supus ser o motorista particular da acompanhante de meu futuro marido, abre a porta de trás e aguarda pacientemente. Chanyeol se despede da garota com uma breve reverência. Em seguida, ela entra no veiculo e não demora a ir embora. 

Eu não sabia muito da família de Chanyeol, além de que os pais dele são donos de industrias têxtil. Ele evitava falar da família na escola, então eu sempre imaginei que eles não tivessem a melhor das relações. Por mais que eu quisesse descobrir mais sobre sua vida, o lado misterioso de Chanyeol me atraia ainda mais.

Ele volta a caminhar pelas ruas de Seul, tranquilamente, perdido em seus pensamentos. Eu queria ter as habilidades de ler mentes somente para saber o que tanto se passava em sua cabeça naquele momento. No entanto, quanto mais Kyungsoo, Sehun e eu seguíamos Chanyeol, mais próximos ficávamos das avenidas mais movimentadas da cidade.

Esse fato começa a me deixar apreensivo. Eu odiava ficar em multidões, sendo arrastado, empurrado e pisoteado pelas pessoas. E para piorar a situação, acabamos por perder Chanyeol de vista. Começo a me sentir sufocado e perdido. O pânico de estar rodeado por tantas pessoas aumenta ainda mais quando me separo de meus melhores amigos.

Sozinho e cercado por desconhecidos, eu não sabia para onde ir. Respirar estava sendo uma missão quase impossível. O vai e vem intenso de pessoas, naquele fluxo alucinante, fazia eu me sentir como um peixe fora d’água, lutando pela própria sobrevivência.

De repente, eu só desejava ver Chanyeol. Não fazia sentido algum a imagem do sorridente garoto está em minha mente em meu ataque de pânico, mas era tudo que eu conseguia pensar. Eu queria ir embora, mas não importava qual caminho eu tomasse, o fluxo de pessoas se chocava contra mim e eu acabava sendo levado pela multidão.

 - Takumi-sama. – Chamo como um nome precioso, enquanto fecho os olhos e sinto o desespero me tomar. A imagem de Chanyeol brilha ainda mais intensa em minha mente, fazendo meu coração se apertar.

— Baekhyun? – Ouço meu nome ser chamado por uma voz angelical, enquanto meu corpo é amparado por alguém bem mais alto do que eu. Sem me importar com nada, abraço a pessoa que estava a minha frente e afundo meu rosto em seu peito. – Você está bem?

Não sou capaz de dizer nada. Aperto ainda mais meu corpo contra o dele, sentindo um alivio instantâneo e uma segurança inexplicável ao ser correspondido pelo o até então desconhecido. Assim que sente que estou mais calmo, ele se afasta de mim, pega em minha mão e me conduz em meio a multidão até um local mais tranquilo.

Respiro aliviado ao não ter mais centenas de pessoas ao meu redor, torturando-me. Tento acalmar meu coração, enquanto ainda segurava a mão do desconhecido. Quando consigo voltar ao meu normal, finalmente percebo que aquela situação era extremamente estranha e que não fazia sentido algum eu estar tão calmo tendo contato físico com um desconhecido.

— Baekhyun? – O desconhecido volta a me chamar, parecendo preocupado. Agora, consciente, reconheço a voz do meu herói e o desespero volta a me atingir.

— Pa... Park Chan...Chanyeol? – Gaguejo, finalmente olhando para o rosto do rapaz. Puxo minha mão de volta e olho para qualquer lugar que não fosse os olhos dele. Eu estava tão envergonhado que ao mesmo tempo que eu queria fugir, eu queria me enterrar no chão naquele momento.

— O que aconteceu? Você estava muito pálido e parecia que ia chorar a qualquer momento. Você está bem? – Ele questiona, encarando meu rosto com atenção. – Baekhyun?

— Você...você sabe... o meu...nome? – Continuo a gaguejar, em choque por Chanyeol estar tão próximo de mim.

— Claro que sei. Nós estudamos juntos há quase dois anos. – Responde o rapaz, de maneira brincalhona. No entanto, ele volta a me encarar com preocupação, ao ver que minha expressão continuava em choque. Chanyeol leva a mão a nuca e a coça, sorrindo nervoso. – O que eu deveria fazer? Será que devo chamar seu primo? Melhor, acho que vou chamar o Kyungsoo!

— Eu...eu... – Tento dizer alguma coisa, mas minha voz se perde.

Fracassado! Idiota! Covarde! Fala alguma coisa para ele! Deixa de ser covarde e o chame para sair!

Minha mente continuava a me condenar por minha falta de coragem. Eu sabia que precisava aproveitar a oportunidade única que os céus estavam me dando, mas ao mesmo tempo em que eu continuava sem voz, eu não conseguia não me perder nos olhos brilhantes e gentis de Chanyeol, que me encaravam com preocupação. Maldito! Por que tinha que ser tão lindo?

— Baekhyun-hyung! – Sehun é o primeiro a aparecer para atrapalhar aquele momento. Lanço meu pior olhar para meu primo, que se encolhe e sorri sem graça ao notar a presença de Chanyeol. – Ah, oi. Estou atrapalhando?

Claro que está, idiota! Não tinha hora pior para aparecer não? Ai! Eu odeio ser um fracassado covarde azarento.

— Não! De forma alguma! – Afirma Chanyeol de forma educada. – Na verdade, eu estava me questionando o que deveria fazer para ajudá-lo.

— Ah, então vocês estão aqui. – Kyungsoo aparece, observando-nos com atenção. Não demora muito para que entenda sobre o que estava acontecendo e dê uma risada discreta. – Oi Chanyeol.

— Oi Kyungsoo! – Cumprimenta o rapaz, com um sorriso simpático. – Eu estava mesmo pensando em te ligar.

— Mesmo? E por quê? – Questiona meu melhor amigo, encarando-me com intensidade.

— Eu esbarrei com o Baekhyun no meio da multidão do centro. Ele estava pálido e parecia em choque. Mesmo depois de ter tirado ele de lá, parecia que Baekhyun estava em uma espécie de transe. Eu não sabia o que fazer. – Confessa Chanyeol, coçando a nuca de maneira envergonhada. A mania mais fofa que eu já vi em minha vida, devo ressaltar.

— Baekhyun tem medo de multidões. Você fez bem em tê-lo tirado de lá. Obrigado, Chanyeol. – Kyungsoo agradece, fazendo uma breve reverência.

— Não foi nada. – Afirma o Park, sorrindo docemente. Ele olha para seu relógio de pulso e sorri um pouco nervoso. – Eu preciso ir agora. Foi muito bom encontrá-lo, Kyungsoo. Melhoras, Baekhyun. E até mais Sehun.

Após se despedir, Chanyeol me olha mais uma vez e vai embora. Permaneço olhando para o caminho que ele havia feito até que o perca de vista. Desvio meu olhar para meus melhores amigos e os encaro com seriedade. Ao mesmo tempo em que eu queria matar os dois, eu estava feliz em vê-los.

— O que foi? – Questiona Kyungsoo, entediado.

— Você está bem, hyung? Nós ficamos preocupados com você. – Fala Sehun, dando um suspiro em seguida. – Sabemos como você fica surtado quando está no meio da multidão.

— Eu não fico surtado. – Afirmo, contrariado.

— Fica sim. – Contrapõe, Kyungsoo. – Mas, de qualquer forma, isso não importa.

— Tem razão. O que importa é: desde quando você tem essa intimidade toda com o Chanyeol? – Pergunto, encarando meu melhor amigo de maneira intimidante.

— Eu sou tão íntimo dele quanto você. – Responde o moreno, arrancando risos de Sehun.

— O que quer dizer com isso? Você gosta dele? – Questiono preocupado.

— Claro que não, idiota! – Kyungsoo dá um tapa em minha nuca e começa a caminhar em direção ao nosso prédio, que não ficava muito longe de onde nós estávamos. Felizmente. – O que eu quero dizer é que assim como você, o máximo que eu fiz foi trocar algumas palavras com ele por causa de alguma conveniência. Minha mãe é muito amiga da mãe dele. Só isso.

— De qualquer forma, no fim, nós não conseguimos descobrir quem é aquela garota. – Relembra Sehun, suspirando cansado. – Eu ainda não acredito que você me fez levantar de madrugada para ir espionar o seu amor platônico para nada!

— Não foi de madrugada. – Rebato, revirando os olhos.

— Oito horas da manhã de um domingo é madrugada sim. – Argumenta meu primo, chateado.

— E não foi para nada! Eu consegui abraçar ele. E descobri que ele sabe o meu nome! – Respondo com um ar sonhador.

— Grande coisa. – Fala Kyungsoo, rabugento. – Vamos logo para casa. Eu tenho muito o que fazer.

— Tipo o quê? – Questiono, irônico. Eu conhecia Kyungsoo há anos. Ele nunca tinha muita coisa para fazer.

— Tipo jogos para zerar e animes para assistir. – Responde com ironia. Por fim, assim como eu havia feito mais cedo, Kyungsoo nos puxa pelos braços, conduzindo-nos de maneira apressada. – Vamos logo.

 

[...]

 

— Bom dia, Baekhyun. Você está melhor? – Questiona Chanyeol, assim que se encontra de frente para mim.

Levanto minha cabeça e desvio meu olhar do mangá que lia para encarar o belo rosto de Chanyeol. Ele possuía um sorriso preocupado em seus lábios. Olho para os lados, procurando por outra pessoa que não fosse eu, com quem ele estivesse falando.

Mas ele havia falado o meu nome, certo? E ele também estava me encarando, não é? Ou será que eu estou imaginando coisas? Abro e fecho minha boca várias vezes e sinto meu rosto esquentar. Procuro por Kyungsoo pela sala, desejando que ele me ajudasse. Assim que encontro os olhos escuros de meu melhor amigo, ele faz alguns gestos, incentivando-me a conversar com Chanyeol.

— Bom...bom dia, Chanyeol. – Respondo com a voz quase falhando. Ele ri e puxa a cadeira para se sentar ao meu lado. – Obrigado por ontem. Eu...eu estou bem.

Eu não conseguia acreditar que ele veio conversar comigo. Minhas mãos estavam tremendo e eu sentia que meu coração poderia sair da minha boca a qualquer momento.

— Não foi nada. – Afirma, sorrindo gentilmente. – É bom saber que você está melhor.

E a partir daquele momento, eu não sabia o que dizer. Perguntas como: e se ele se cansasse de conversar comigo? E se ele me achasse entediante? Eu não queria que ele fosse embora. Não agora que ele havia vindo por vontade própria conversar comigo.

— Você também gosta de mangás? – Pergunta Chanyeol, olhando interessado para a capa do que eu segurava.

— Sim. – Respondo, sorrindo animado com o assunto. – Esse aqui é muito bom. Já estou no terceiro volume. Ele é um pouco antigo e terminou há alguns anos, mas o mangaká é bem talentoso. A história é envolvente e cheia de mistérios. Os personagens possuem características únicas e mesmo sendo um mangá de suspense, há muitos momentos cômicos. E... – Paro de repente, vendo que havia me animado demais. Chanyeol me encarava com atenção, enquanto carregava um sorriso divertido em seus lábios. – Desculpa. Acabei me empolgando.

— Não. Tudo bem. – Fala Chanyeol, rindo. – Na verdade, acho que essa é a primeira vez que vejo você conversar de maneira tão animada. Fico feliz por isso.

Meu rosto se torna ainda mais vermelho com a constatação. Chanyeol ri e eu acabo me perdendo na beleza daquele garoto. Como podia ser tão lindo assim? A maneira como os olhos se fechavam de maneira fofa, a forma como o cabelo macio e brilhoso balançava no ritmo em que seu corpo se movia. Tudo era tão perfeitamente perfeito!

Maldito! Ser bonito assim deveria ser crime!

— Você gosta mesmo de mangás, não é? -  Comenta o mais alto, virando-se por completo para me encarar.

— Sim. E de jogos e animes também. – Confesso, sorrindo envergonhado.

— Eu também gosto. – Revela Chanyeol, animado. Eu sei, penso, enquanto encaro o brilhante sorriso do rapaz. – O chato é que nenhum de meus amigos gostam, então acabo não tendo com quem conversar.

— Agora você tem. – Tomado por uma coragem que eu não fazia ideia de onde tinha vido, digo a Chanyeol com naturalidade. De repente, percebo a bobagem que havia dito e sinto meu rosto se tornar extremamente quente. Chanyeol me encara surpreso. – Quer dizer... se você quiser conversar...eu... eu estou aqui. Eu não sou bom...com pessoas, mas... gosto muito de jogos, mangás e animes.

— Obrigado. É ótimo saber que posso conversar com alguém. – Agradece o rapaz, lançando-me um olhar completamente diferente dos outros que recebi dele.

Fico em silêncio, sem saber o que fazer ou falar. Talvez fosse a minha visão afetada pela minha paixão platônica por Chanyeol, mas eu sentia que aquele olhar significava muito mais do que eu podia compreender. Ele estava sério e me encarava com tamanha intensidade, que eu até mesmo me esquecia de respirar.

Ao notar a situação em que estávamos, Chanyeol é o primeiro a se afastar e encerrar àquela troca de olhares confusa e, ao mesmo tempo, maléfica para a minha saúde mental. Se ele continuasse a me encarar daquela forma por mais algum tempo, eu seria capaz de pular em cima dele e nunca mais o largaria. Ele começa a ri, de repente.

— Mas, eu confesso que estou curioso. – Admite Chanyeol, parando de ri. Ele assume uma expressão pensativa e sorri em seguida. – Se você tem tanto medo de multidão, o que estava fazendo no centro da cidade em horário de maior movimento?

— Eu...eu estava...- Tento pensar em alguma desculpa, mas minha mente estava atordoada demais para ter uma boa ideia. Olho para trás, procurando a ajuda de Kyungsoo, mas não o encontro. De repente, Sehun entra na sala com um grande sorriso no rosto.

— Hyung! – Cumprimenta o garoto, animado. Provavelmente, ele ainda não tinha visto que Chanyeol estava ao meu lado. Assim que nota, sorri sem graça e me olha com preocupação. – Ah, oi Chanyeol-hyung!

— Olá, Sehun. – Responde Chanyeol com um sorriso gentil.

— Eu estou...atrapalhando? – Pergunta Sehun, hesitante.

— Não. De forma alguma. – Afirma o Park, desviando seu olhar para me encarar.

— Que bom. – Responde meu primo, aliviado. – Hyung, eu tenho boas notícias!

— Mesmo? E o que seria? – Pergunto, encarando meu primo com curiosidade.

— Luhan me chamou para ir ao baile com ele. Isso não é incrível?! – Sehun estava feliz. Muito feliz. Provavelmente, mais feliz do que na vez em que ganhou sua primeira medalha de ouro na natação. E olha que esse momento foi o mais importante e feliz da vida dele.

— Uau. Que incrível! Parabéns, priminho. – Parabenizo o mais novo, realmente animado com a agitação do garoto. Paro para pensar por um tempo e o encaro confuso. – Mas, quem é Luhan?

Sehun vai desfazendo seu sorriso aos poucos até que ficasse completamente sério. Após alguns segundos, parecendo analisar a minha pergunta, ele me encara com incredulidade. Chanyeol começa a ri, discretamente, provavelmente, se divertindo ao imaginar a bronca que eu levaria de meu primo.

— Que cruel, Baekhyun! – Exclama Kyungsoo, aparecendo do além. Olho assustado para meu melhor amigo e ele sorri, adorando a minha cara surpresa. Eu odiava ser surpreendido e, por saber disso, parecia que Kyungsoo fazia questão de aparecer de mansinho. – Luhan é o namoradinho do seu primo. Você deveria saber disso.

— Ele não é meu namoradinho. Nós estamos apenas nos conhecendo. – Afirma Sehun, envergonhado. – Mas você está certo, Kyungsoo-hyung! Você deveria saber quem é o Luhan, Baek-hyung!

— Tudo bem. Me desculpe. – Lamento, erguendo meus braços em sinal de rendição. – Mas eu continuo sem saber quem é ele.

— Ele é o estudante chinês transferido do segundo ano. – Responde Chanyeol, gentilmente.

— Ah, sim! – Ao ter as descrições do rapaz, a imagem do adorável chinês que estava mexendo com o coração de meu primo vem a minha mente.

— Quem diria que o Luhan era quem te convidaria para ir ao baile, não é mesmo, Sehun? – Comenta Kyungsoo com um olhar perigoso. O olhar da morte. Aquele que eu sabia que me faria arrepender de permitir que meu melhor amigo continuasse falando. O olhar não! Por favor. Não faça nada que possa me tornar ainda mais lamentável do que sou na frente de Chanyeol. Não agora que eu estou indo tão bem! — E você, Baekhyun? Quando vai convidar o Chanyeol para ir ao baile com você?

Maldito! Traíra! Amigo da onça! Eu sabia! Eu sabia que ele ia me fazer passar vergonha. Eu vou te matar, Do Kyungsoo! Eu te odeio!

— O que...você está...dizendo...Kyungsoo? – Questiono, entredentes, tomado pela fúria e a vergonha.

— Qual o problema? – Pergunta Kyungsoo, cínico. – Você por acaso já tem um par, Chanyeol?

— Na verdade, não. – Afirma o rapaz, sorrindo envergonhado.

— Não? Mas e aquela garota do seu encontro de ontem? – Pergunto, mas logo me arrependo por ter aberto minha boca. Chanyeol me encara com desconfiança e confusão.

— Como sabe que eu estava em um encontro ontem? – Questiona Chanyeol de maneira desconfiada.

Minha garganta seca na mesma hora. Como eu poderia explicar a Chanyeol que eu estava o espionando? Eu nunca fui bom com mentiras e estar sob pressão por causa do olhar intenso de Chanyeol não ajudava em nada a me fazer criar uma desculpa boa o bastante para fazê-lo acreditar.

— Nós vimos você ontem, enquanto caminhávamos pela cidade. – Responde Kyungsoo com naturalidade. – Vocês estavam em um restaurante, certo? Você está namorando, Chanyeol?

Isso! Você é o melhor amigo do mundo, Kyungsoo! Eu sabia que você tinha um plano. Nunca duvidei de sua lealdade comigo. Eu te amo!

— Não. Ela é... como eu posso dizer? – Chanyeol parecia desconfortável com o assunto.

— Não precisa dizer, se não quiser. – Afirmo, tentando fazer com que ele se sentisse melhor.

— Precisa sim. Desembucha que eu estou curioso. – Responde Kyungsoo, enquanto Sehun balança a cabeça, concordando com o amigo.

Surpreendo-me com a resposta de Kyungsoo. Geralmente, meu melhor amigo era reservado e jamais se envolvia na vida dos outros, a não ser que seja extremamente necessário. E Chanyeol parecia saber disso, pois demonstrava estar tão surpreso quanto eu. Isso me fazia questionar: Será que eu estou tão ruim assim ao ponto de Kyungsoo se meter?

— Não estou namorando. – Afirma Chanyeol com aparente sinceridade. Ele suspira e sorri sem graça para mim. – Você sabe como minha mãe é, Kyungsoo.

— Louca, estranha e sem nenhum senso do comum? – Supõe meu melhor amigo, fazendo com que Chanyeol ria envergonhado e coce a nuca.

— Eu ia dizer exótica, mas é isso mesmo. – Concorda o Park, por fim, dando de ombros. – Ela descobriu que eu sou gay e começou a fazer um monte de encontros para um casamento arranjado.

Eu estava surpreso, feliz, preocupado. Eram tantos sentimentos dentro de mim ao mesmo tempo, que eu nem mesmo conseguia disfarçar a minha cara de espanto. Como esse garoto ousa me fazer ir do inferno ao céu em questões de segundos? Maldito Chanyeol!

1º. Chanyeol é gay. Repetindo: GAY!

De todas as boas notícias do dia, essa com certeza foi a melhor. Por nunca falar sobre si mesmo para os amigos, eu não fazia ideia da opção sexual de Chanyeol. Quando eu o vi com aquela garota, confesso que tive vontade de chorar. Apaixonado por um hétero? Isso, com certeza, causaria muitas dores em meu frágil e trouxa coração.

2º. minha futura sogra é doida e homofóbica.

Essa informação me deixou preocupado. E se por causa disso, Chanyeol não quiser se envolver comigo? E se por acaso ele gostar de mim e ela resolver que não devemos ficar juntos? Eu jamais poderia competir com a mãe de Chanyeol. Além de ser a mãe dele, ela é simplesmente uma das mulheres mais ricas de Seul. Não seria muito difícil ela contratar um assassino de aluguel para me matar.

3º. Casamento arranjado? Megera! Como ousa tentar destruir meu futuro perfeito com o seu filho?

Minha futura sogra deve achar que estamos no século passado. Só pode! Pela minha experiência com relacionamentos, que se resume a ler todos os tipos de mangá e assistir a animes, se Chanyeol é gay, não há nada que ela possa fazer além de aceitar.

— Então você vai se casar? – Questiona Sehun, expondo a dúvida que estava presa em minha garganta.

— Não mesmo! Não há nada que minha mãe possa fazer que me faça casar dessa forma. – Chanyeol fala com tanta determinação, que é impossível eu não me animar com a notícia.

— Então você pode ir ao baile comigo? – E mais uma vez, a minha boca se tornou a minha maior inimiga. Além de geek, fracassado e iludido, eu ainda estava me tornando alguém que fala mais do que devia e acaba se colocando em situações indesejáveis. – Quer dizer...

— Isso é um convite? – Questiona Chanyeol, sorrindo com um olhar malicioso. Aquele ato me faz ficar extremamente vermelho.

— Você aceitaria, se fosse? – Pergunto, após reunir toda a coragem que ainda havia dentro de mim.

— Por que não tenta a sorte? – Chanyeol ri e, apoiando seu queixo sobre a mão, me encara com intensidade.

— Ah, pelo amor de Deus, dá para vocês pararem com esse flerte e admitirem logo que estão loucos para irem juntos? – Kyungsoo parecia ter perdido a paciência conosco. Ele então respira fundo e sorri para nós de uma maneira carinhosa. Em seguida, ele se vira para Sehun e pega nas mãos do mais novo. Olho desconfiado para meu melhor amigo. – Chanyeol, você aceita ir ao baile de primavera da escola comigo?

— Claro que eu aceito, Baekhyun! – Sehun entra na brincadeira, em uma péssima atuação.

— Vocês são muito idiotas! – Exclamo, completamente envergonhado com o comportamento de Kyungsoo e Sehun.

O sinal para o início das aulas soa alto pelo colégio. Essa era a primeira vez que eu havia conversado por tanto tempo com Chanyeol e o surpreendente era que nós agimos como se nos conhecêssemos há anos. Seus olhos transmitiam tanto carinho. Talvez eu estivesse imaginando coisas, mas, após essa conversa, eu finalmente me sentia confiante para me declarar a Chanyeol.

— Bom dia! Todos em seus lugares, por favor. – Pede o professor, entrando na sala com seus materiais. Ele os coloca sobre a mesa e sorri animado. – Vamos começar?

— Obrigado pelo convite. – Agradece Chanyeol, levantando-se do lugar de Kyungsoo. – Estou ansioso para o baile. Tenho certeza de que será uma noite memorável.

Em estado de choque, observo meu melhor amigo de sentar ao meu lado, enquanto Sehun vai para sua sala. Kyungsoo me encarava com divertimento e malícia. Ele sabia que eu, o geek mais fracassado do universo, não conseguia acreditar que pelo menos uma vez na vida eu tive sorte.

— De nada. – Responde Kyungsoo, com um sorriso presunçoso em seus lábios.

É. Eu tinha que admitir. Kyungsoo havia sido uma fada madrinha nesse momento. Reviro os olhos e sorrio para meu melhor amigo, levantando meu punho para ele. O outro corresponde ao sorriso e ao toque. Talvez, só talvez, aquele fosse o sinal que eu havia pedido aos céus de que Chanyeol é realmente o meu Takumi-sama.

 

[...]

 

Dia do baile de primavera da escola. Eu não poderia estar mais ansioso e feliz. Desde as sete horas da manhã, eu estava atormentando Kyungsoo em seu apartamento ao lado do meu. Ele me encarava de mal humor, irritado com a minha animação.

Eu criava inúmeras teorias de como o dia seria incrível, enquanto jogávamos Blood Wars. Ele em seu computador, enquanto eu estava em sua cama com o meu notebook. Jogávamos o jogo favorito de meu melhor amigo, porque era a única forma dele suportar os meus surtos, sem me expulsar de sua casa.

— E se eu estragar tudo? – Pergunto, ansioso.

— Então não estrague tudo. – Responde Kyungsoo, simplista, concentrado em seu jogo. – Morre, demônio irritante! 

— Nossa, muito obrigado pelo conselho, Kyungsoo. – Digo com ironia. – Eu estou aqui, jogando o seu jogo favorito e mesmo assim você nem mesmo se esforça para me aconselhar em meu encontro com o Chanyeol.

— Primeiro que você vai a um baile escolar e não a um encontro. E outra, o que você quer que eu diga? Isso! – Kyungsoo vibra, ao finalmente dar um fim ao demônio que estava lhe dando trabalho. Ele suspira e se vira para mim. – Escuta, você procurou a pessoa errada para perguntar sobre o que fazer nesse baile. Assim como você, a minha única experiência amorosa é em simuladores de jogos e eu odeio festas.

— Eu sei. Mas quando minha tia soube que o garoto que ele gosta tinha chamado ele para ir ao baile, ela ficou extremamente animada. Ele disse que vai passar o dia com ela. – Reclamo, entristecido. – Bem que meus pais poderiam agir assim.

— Quando vai contar para eles que você é gay? – Questiona meu melhor amigo, pausando o jogo. – Quer dizer, não é como se você fosse discreto e ninguém soubesse. É bem óbvio que você passou longe de ser hétero.

— Ei! Também não é para tanto. – Repreendo, arrancando uma risada sarcástica de meu melhor amigo.

— Você tem pôsteres do seu “Takumi-sama” por todo seu quarto. Você sempre baba quando o Chanyeol passa. Sem contar que você tem tantas frescuras com comida e limpeza, que só sua mãe te aguenta. Ah, e teve aquela vez que você comentou alto que achava o cantor um gato no casamento da sua prima. E teve também a vez que...

— Tudo bem, tudo bem. Eu já entendi. – Interrompo Kyungsoo, um pouco envergonhado. Era verdade. Eu não conseguia disfarçar muito bem a minha sexualidade. – De qualquer forma, isso não importa. Um dia eu conto a eles, mas esse dia não é hoje. Não quero que meu dia perfeito com o meu Takumi-sama seja estragado pelos meus pais surtando. E isso não muda o fato de que eu ainda não sei o que fazer. – Você vai ao baile, não vai?

— Não mesmo. – Afirma Kyungsoo, voltando a jogar.

— O quê? Por quê? – Pergunto, desesperado. Com Sehun ocupado com o Luhan, quem iria me acalmar no meio daquela multidão de alunos? E se eu estragasse tudo, quem me ajudaria a consertar os estragos?

— Eu já te disse. Eu odeio festas e caso você não saiba, bailes escolares estão incluídos nessa categoria. Eu ficarei em casa, fazendo uma maratona de Star Wars e jogar Blood Wars até o amanhecer. – Kyungsoo estava decidido. Eu o conheço bem o suficiente para saber que era quase impossível fazê-lo mudar de ideia. – Além disso, não estou a fim de ficar sozinho no meio de inúmeras pessoas, enquanto vejo vocês dois se agarrando com os pares de vocês.

— Você acha mesmo que ele vai me agarrar? – Pergunto animado. Kyungsoo revira os olhos e suspira, sem desviar a atenção de seu jogo. – Desculpa.

— Tanto faz. – Responde meu melhor amigo, dando de ombros.

— Mas, e quanto a Jong-In? Ele não tinha te chamado para ir com ele ao baile? – Questiono, confuso. Jong-In ou Kai, como era chamado, era o melhor amigo de Chanyeol completamente apaixonado por Kyungsoo, acabou se inspirando com a minha atitude e o chamou para ser seu acompanhante.

Eu achava incrível o fato de Jong-In gostar tanto de Kyungsoo. Mesmo sendo afastado pelo rapaz de inúmeras formas, por muitos anos, ele jamais desistiu de meu melhor amigo. Eu torcia muito pelo casal.

— E daí? Não é por que ele me chamou que eu tenho que ir.

O problema era a cabeça dura de Kyungsoo e a sua aversão por pessoas. Ele não tinha nada contra Jong-In – eu até mesmo desconfio que ele goste do rapaz e corresponda aos seus sentimentos -, mas a sua personalidade introvertida impede que as pessoas se aproximem dele.

— Kyungsoo! Jong-In gosta de você e eu sei que você também gosta dele. Por que não pode se esforçar um pouco para ir ao baile com ele? – Repreendo o outro, deixando o notebook de lado, para puxar sua cadeira e o fazer olhar para mim. Ele resmunga e finalmente me encara, mal-humorado. – Vamos ao baile de primavera. Por favor!

— Eu gosto de Star Wars e Blood Wars, e não dele. – Ironiza, mas ao mesmo tempo, parecia não ter tanta confiança em suas palavras. – E eu não quero ir, Baekhyun. – Afirma o garoto, respirando fundo para tentar manter a calma.

— Quer sim! Você só diz que não quer ir ao baile, porque está com medo de acabar indo e se confessando para Jong-In. – Digo com seriedade.

— Você não vai me fazer mudar de ideia. – Declara Kyungsoo, retirando minhas mãos de sua cadeira para voltar a jogar.

— Isso é o que nós vamos ver. – Respondo, sorrindo com malícia.

Não foi uma tarefa fácil. Foram horas e horas chorando e perturbando Kyungsoo até que ele se desse por vencido e concordasse em ir ao baile. Sehun e eu não poderíamos estar mais animados e ansiosos por essa festa.

— Eu deveria estar em casa, tendo uma maratona de Star Wars. – Resmunga Kyungsoo, ajeitando a gravata em seu pescoço.

Nós estávamos em frente a entrada do colégio, esperando nossos acompanhantes chegarem. Para todos os efeitos, eu iria ao baile com uma linda garota da minha sala e por ser muito tímido, eu não apresentei e nem disse o nome dela aos meus pais.

— Deixa de ser mal-humorado, hyung. – Sehun o repreende, rindo de sua cara fechada.

— Kyungsoo, eu também amo Star Wars, mas esse é o momento mais importante de nossas vidas. Aproveite um pouco. – Concordo com meu primo.

— Só se for da vida de vocês. – Kyungsoo continua a reclamar, irritado. No entanto, sua cara fechada dá lugar a uma expressão surpresa de repente.

Sehun e eu nos olhamos rapidamente e, tomados pela curiosidade, passamos a encarar a mesma direção que Kyungsoo encarava. Um sorriso apaixonado molda meus lábios ao encontrar Chanyeol caminhando como um verdadeiro galã de novela ao lado de Jong-In e Luhan. Como um garoto podia ficar tão lindo e sexy em um terno?

— Uau. – Sussurra Sehun, encantado com Luhan.

— É. Uau. – Concordo, prestando atenção em cada movimento feito por Chanyeol.

Assim que eles estão mais próximos, afasto-me de meus amigos e me aproximo de Chanyeol. Seu sorriso era o mais bonito que eu já havia visto em minha vida. O perfume forte e atraente, embriaga-me de forma inexplicável. Até mesmo o mais ínfimo de meus poros estava atraído por Chanyeol. Eu desejava aquele homem como nenhum outro.

— Você está lindo. – Afirma Chanyeol, sorrindo amável, enquanto me encara de cima à baixo. Coro instantaneamente. – Realmente lindo.

— Obrigado. Você também está muito bonito. – Digo, apaixonado.

— Vamos entrar? – Chanyeol estende sua mão e eu a pego na mesma hora. Aquela noite seria única. Eu não perderia nenhuma chance de me aproximar dele.

— Claro. – Concordo, passando a andar ao seu lado.

Esquecendo completamente da existência de Sehun e Kyungsoo, entramos no salão onde estava acontecendo o baile. A primeiro momento, aperto ainda mais a mão de Chanyeol e chego mais perto dele. Havia muita gente no salão de festas e parecia que todos estavam nos olhando.

— Fica calmo. Eu estou aqui. – A fala mansa e carinhosa de Chanyeol me faz esquecer, por um momento, que estávamos rodeados de dezenas de pessoas. Concentro-me em encarar seus olhos brilhantes e o sorriso doce.

Respiro fundo e continuamos a nos aproximar da pista de dança. Finalmente, lembrando de que eu não havia vindo sozinho para o baile, passo a procurar por meu primo e melhor amigo. Surpreendo-me ao ver Sehun dançando muito próximo de Luhan. No entanto, logo lembro que os estranhos em nosso grupo éramos Kyungsoo e eu, que não conseguíamos nos aproximar das pessoas.

Falando em meu melhor amigo, Kyungsoo estava encostado no canto do salão, parecendo intimidado com a quantidade de pessoas, assim como eu. No entanto, ao invés de estar grudado em seu celular, jogando Legends Metal como pensei que estaria, Kyungsoo conversava com Jong-In, bebendo um pouco de ponche.

— Parece que está todo bem. – Sussurro e Chanyeol ri.

— Melhor do que o esperado. – Concorda Chanyeol, encarando nossos melhores amigos. – Que tal irmos para as mesas? Eu pego um pouco de ponche e podemos ficar sentados, conversando um pouco.

— É uma excelente ideia. – Respondo, sorrindo aliviado. Seria bom ter um pouco de privacidade e tranquilidade.

Assim que vamos para o segundo andar, sento-me em uma das mesas vazias do lugar e Chanyeol vai buscar as bebidas. Durante algum tempo, observo as pessoas dançando na pista de dança e se divertindo. A música ecoava de maneira animada por todo o lugar e eu me sentia cada vez mais a vontade com aquele ambiente. No fim, bailes não são tão ruins assim.

Alguns minutos se passam e eu começo a ficar preocupado com a demora de Chanyeol. Aproximo-me do parapeito do andar e procuro pelo rapaz em meio ao mar de pessoas abaixo. Quando finalmente o encontro, percebo que ele estava com dificuldade de se locomover em meio à multidão.

Sentindo-me culpado, desço as escadas para ir me encontrar com ele e o ajudar a trazer as bebidas. Respiro fundo para tentar controlar o meu pânico e começo a andar, desviando de algumas pessoas. Por sorte, Chanyeol é alto, então não demoro tanto para encontrá-lo. No entanto, paraliso ao me aproximar dele.

Uma garota estava abraçando as costas de Chanyeol. Apesar de não consegui ver com clareza o seu rosto, eu tinha quase certeza que aquela garota era a mesma com quem ele tinha saído dias antes. O ciúme e a raiva sobem a minha cabeça naquele momento. Eu havia me esquecido até mesmo do meu pavor de multidão.

Adentro a pista de dança, empurrando qualquer um que aparecesse a minha frente. Em segundos, eu estava ao lado dos dois, com os braços cruzados e a raiva evidente em meus olhos. Como essa garota ousa abraçar o meu Takumi-sama? Meretriz!

— Baekhyun? – Sussurra Chanyeol, visivelmente assustado. Ele abre e fecha a boca várias vezes, tentando formar alguma frase coerente, mas levanto minha mão, impedindo que ele dissesse qualquer coisa.

— O que pensa que está fazendo? – Pergunto entredentes, encarando a garota. – Solta ele.

— Quem é você? – Questiona a garota, afastando-se de Chanyeol, que ainda segurava as duas bebidas.

— Eu que te pergunto isso. Quem é você? – Repito a pergunta, com o meu olhar mais intimidante. Quem essa garota pensa que é para agarrar o meu futuro marido?

— Baekhyun... – Chanyeol chama, parecendo preocupado. – Vamos voltar para as mesas.

— Eu sou a futura esposa dele, Oh Soo-Ah. E você? – Fala a garota, sorrindo com ironia. Garota com nome de cachorro irritante! Será se eu vou ser preso se matá-la na frente de toda a escola?

— Você não é a minha futura esposa, Soo-Ah. – Chanyeol afirma, mas tanto eu quanto Soo-Ah estávamos pouco nos importando com a presença do garoto.

— Byun Baekhyun. – Respondo, sem saber como deveria me apresentar. Não é como se fossemos amigos, tampouco namorados. O que eu sou dele, afinal?

Ela ri com ironia e se não fosse por Kyungsoo, que chegou no momento certo para me puxar para perto dele, eu teria avançado contra Soo-Ah. Ah, como eu a odeio! Desde o início eu sabia que ela poderia ser um grande problema.

— Acalme-se. – Pede Kyungsoo, com firmeza.

— Eu amo essa música! Oppa, vamos dançar! – Exclama Soo-Ah, assim que uma nova música começa a tocar. Ela puxa o braço de Chanyeol, que sem querer, acaba derrubando ponche em mim. – Ops! Desculpa. Agora, vamos dançar, oppa?

Aquela havia sido a gota d’água. Eu estava completamente coberto por ponche, sentindo-me o pior lixo de todos, sob centenas de olhos sob mim. Puxo meu braço para me soltar de Kyungsoo e corro para o jardim que havia nos fundos do salão.

Eu nunca deveria ter vindo a esse baile. Eu deveria ter ouvido Kyungsoo e ficado em casa. Como um dia eu pude achar que eu, um geek fracassado, teria alguma chance com um cara tão incrível quanto Park Chanyeol? Como competir com uma garota tão bonita – ainda que irritante -, quanto Soo-Ah? Eu realmente sou muito idiota.

Segurando as lágrimas, sento-me em um banco afastado do salão. Eu jamais me permitiria chorar. Já havia sido humilhante o bastante ter feito aquela cena por causa de ciúmes e ainda ter saído como o perdedor. Encaro o céu estrelado, observando a beleza daquela noite com o clima agradável.

— Baekhyun! – Chanyeol exclama, correndo em minha direção. Ao me alcançar, ele se apoia em seus joelhos e tenta recuperar o fôlego. – Por... por que você...fugiu?

— Porque eu sou um idiota por achar que conseguiria me divertir nesse baile. – Afirmo, encarando meus punhos.

— Você não é idiota. – Chanyeol me repreende, sentando-se ao meu lado. Ele encara a fonte que havia a nossa frente, que eu nem mesmo havia notado estar ali e suspira. – Me desculpa pela Soo-Ah. Eu prometo que ela não vai mais nos atrapalhar.

Chanyeol pega um lenço que havia em seu bolso e passa a limpar meu rosto e outras partes que estavam molhadas pelo ponche de frutas. Apesar de tudo, meu Takumi-sama da vida real continuava sendo gentil. Pego em sua mão e a afasto. Nós nos encaramos intensamente. Havia tanto a ser dito, mas era como se as palavras estivessem se perdido.

— Chanyeol, me desculpe por te envergonhar. Eu não deveria ter vindo. – Lamento, entristecido. Minha atitude, com certeza, traria muitos problemas para a imagem do rapaz.

— Do que está falando? Eu que tenho que me desculpar por te envolver em um problema como esse. Sinto muito por ter te molhado e não ter parado Soo-Ah. – Responde Chanyeol, suspirando em seguida. – Eu fiquei tão animado de vir ao baile com você, que nem mesmo me certifiquei de que deixei claro com Soo-Ah de que não vou me casar com ela.

— Você ficou animado de vir comigo? – Pergunto surpreso. – Por quê?

Chanyeol permanece em silêncio por um tempo, perdido em seus pensamentos. Ele ficou tão distante que até mesmo pondero repetir a pergunta, mas ao receber um sorriso envergonhado e um olhar repleto de significados, volto a ficar quieto.

— Eu sei que pode parecer estranho, mas eu gosto de você Baekhyun. – Declara Chanyeol, surpreendendo-me. – Desde o primeiro dia de aula, esse seu jeito introvertido sempre chamou a minha atenção. Eu não sei explicar o porquê disso, mas eu queria me aproximar de você, me tornar seu amigo. No entanto, todas as vezes que eu tentava puxar alguma conversa, você fugia de mim. Então, pensei que você só não gostava de mim. Até mesmo pensei em desistir desse amor estranho, mas Kyungsoo me incentivou e insistiu que eu deveria continuar investindo em você.

Meu melhor amigo é realmente meu anjo da guarda!

— Eu apenas não me achava bom o bastante para conversar com você. Eu tinha medo de dizer alguma coisa e acabar estragando tudo. Não que as minhas corridas ao banheiro ajudassem em alguma coisa. – Chanyeol ri de minha explicação e suspira, encarando-me com doçura. – Eu gosto de você, Chanyeol. Muito. Acho que gosto até mais do que gosto do Takumi-sama.

— Eu não sei quem é Takumi-sama, mas isso era tudo que eu precisava ouvir. – E então ele me beijou.

Minha mente se tornou branca e tudo que eu podia fazer era me entregar àquele momento. Inexperiente, eu tentava imitar seus movimentos, sentindo meu coração bater tão forte ao ponto de quase explodir. De repente, sua língua acaricia meus lábios e completamente enfeitiçado por aquele beijo, permito que ele invada a minha boca.

Tudo era intenso, surpreendente e delicioso. Era um sentimento que eu jamais havia experimentado antes. O mais impressionante era que eu queria mais contato, mais daquela simples ação. Eu queria sentir mais da pele macia de Chanyeol, sentir mais ainda o seu delicioso perfume, sentir sua respiração se chocando contra a minha.

Nós nos separamos brevemente e, após uma rápida troca de olhares, voltamos a nos beijar. E de novo. E de novo. E de novo. Até o ponto em que eu perdi as contas. Aquele era o meu mais novo passatempo favorito: beijar Park Chanyeol. Não havia nada melhor no mundo do que estar em seus braços, receber seu afago carinhoso em meu rosto, sentir aquele friozinho na barriga gostoso.

— Acho...que...precisamos...voltar...para a... festa...- Tento dizer, enquanto Chanyeol me dava vários selinhos. Rio, sentindo cócegas. – Pare, Chanyeol.

— Eu não consigo. Você é viciante. – Responde, colocando seu rosto na curvatura de meu pescoço. – Por que não ficamos aqui? Eu não me importaria nenhum pouco em passa a noite aqui com você, sozinhos, sob as estrelas e o luar.

— Eu adoraria. – Afirmo, rindo. Ele levanta o rosto e me encara com esperanças. – Mas, Kyungsoo e Sehun devem estar preocupados e nós viemos aqui para dançar e nos divertir. Nós temos todo o tempo do mundo para nos beijar e curtir um ao outro. Eu nunca fui a um baile antes. Eu quero viver essa experiência um pouco. Eu sei que é bobagem, mas...

— Vamos voltar. – Fala Chanyeol, sorrindo docemente.

Ele se levanta e estende sua mão. Sorrindo, correspondo ao gesto e passo a ser guiado pelo lindo jardim em direção ao salão de festas. Nossas mãos pareciam ter sido feitas sob medida para ficarem entrelaçadas. Meu coração estava tão aquecido. Meu Takumi-sama da vida real finalmente era meu namorado.

— Acho que estão tocando a nossa música. – Comenta Chanyeol, assim que chegamos ao salão de festas.

— Não temos uma música. – Afirmo, rindo do comentário sem sentido do rapaz.

— Agora temos. – Responde com um sorriso galanteador. Rio de sua expressão. – Venha. Vamos dançar. O baile está apenas começando.

E sendo puxado para a pista de dança, Chanyeol e eu começamos a dançar sem nos preocuparmos com nada. Eu estava sujo de ponche, o cabelo completamente bagunçado – devido aos beijos trocados com Chanyeol mais cedo -, mas nunca havia me sentido tão vivo como naquele momento. Até mesmo meus medos, eu estava conseguindo controlar e ignorar.

Aquele dia havia sido o mais divertido e mágico de minha vida. Foi apenas o começo para a vida que eu e meu Takumi-sama da vida real construímos juntos. Nossos pais surtaram, e não foi de uma maneira muito positiva, ao saberem que estávamos juntos. Mas isso era história para um outro dia. O importante é que no fim, nós vivemos felizes para sempre.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Feliz Natal ♥



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