Chasing Stars escrita por Stella Tenebrae


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

☠ฺ Pretendo fazer uma continuação, um dia...
☠ฺ Leve ReyLo, pq esse casal é lindo, mas nada fora do contexto.
☠ฺ Fanfic revisada, mas pode haver alguns erros ortográficos.
☠ฺ Escrevi essa one ouvindo Chasing Cars, então pode ser considerado meio que o "tema" musical.



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Preciso que alguém me mostre meu lugar em tudo isso”.

 

― Você não é nada. ― Ele estendeu a mão em sua direção ― Mas não para mim.

Rey sentia o coração na garganta, pulsando descontroladamente enquanto a adrenalina escorria por seu corpo. Ao redor deles, a sala do trono esfriava, recém ferida com a violenta batalha que ali se desenrolara. Os corpos dos guardas fumegavam e ainda era possível sentir o cheiro de sangue, suor e carne queimada flutuando na atmosfera – Fruto da dança que seus sabres improvisaram a menos de cinco minutos, quando luz e escuridão deslizavam e giravam como um só ser em meio a batalha.

Ela sentira a conexão. Ele sentira a conexão. Por uma fração de tempo relativamente curta, porém significativa, ambos foram parte um do outro e o universo parecera enfim alcançar o equilíbrio. Pela primeira vez em sua vida, a catadora de lixo vinda das areias escaldantes do deserto de Jakku sabia onde estava e o que estava fazendo, e acima de tudo, sabia que era o certo. Escolher Ben Solo fora o certo.

Mas aquele sentimento se esvaeceu, juntamente com suas esperanças de salvar a Resistência. “Não é tarde demais!”, ela insistira em se convencer quando largara Ach-To e Luke para ir até Ben, contrariando a tudo e a todos com sua teimosia. Mas a verdade é que era. Desde que o corpo de Han Solo despencara daquela passarela no interior da StarKiller, já havia se tornado demais para ele. Aquele fora o seu primeiro passo para dentro do lado sombrio. Agora, a escuridão o envolvia definitivamente. O despertar de Ben resultara na destruição de Snoke, mas aquilo não significara o fim e sim o recomeço. Pois Ben Solo, filho de Leia Organa e Han Solo, caíra em crepúsculo para se erguer como Kylo Ren, Líder Supremo da Primeira Ordem. Aquele que esmagaria a Resistência para apagar o passado, não quem a salvaria para garantir o futuro.

Rey sentiu suas entranhas se contorcerem e o mundo ao seu redor girou num vórtice. A mão de Ben... Não, Kylo Ren, ainda estava erguida, num convite silencioso para que ela se aproximasse. A moça de Jakku hesitava, mas sua própria pele formigava em anseio por tocá-lo novamente. Em Ach-To, na ligação que a força forjara, quando eles se tocaram pela primeira vez parecera a coisa mais certa da galáxia e ela sentira-se arrebatada. O chão sumira de debaixo dos seus pés e só haviam os dois, flutuando na imensidão do universo, através de constelações, sistemas solares, supernovas, buracos negros, nebulosas... Rey não sentira frio, pois sua própria pele parecia fumegar. Ela se perdeu em Ben e Ben se perdeu nela, ambos completamente absorvidos para dentro um do outro de uma forma única e inexplicável.  A garota o vislumbrou através da armadura... Ben Solo, o menino cheio de incertezas e inseguranças, com complexo de abandono e perseguição. Ela sentira sua dor e o vazio pela ausência de Han, a admiração tóxica pelo avô ― Darth Vader ―, o medo frio e cruel que escorrera em sua espinha quando Luke ergueu o sabre na escuridão de seus aposentos, a raiva fervente que bagunçara seus pensamentos e o enlouquecera quando sentiu-se ser descartado. O despertar vazio depois de destruir seus amigos, o templo, seu mestre... O perambular sem rumo pela escuridão, até que Snoke o encontrasse e terminasse de corrompê-lo.

Mas não havia somente escuridão no coração de Ben Solo. Atrás de suas barreiras, havia amor... Incontestável, devastador e desesperador por Leia. Esse amor tão forte que o impedira de apertar o gatilho no último minuto e expôs sua fraqueza.  Porque ele podia enfiar um sabre de luz nas entranhas de Han Solo, seu progenitor, sem remorso, usando toda a sua decepção e amargura como gatilho. Mas com Leia... Com Leia não. Ele não conseguia machucá-la, não com suas próprias mãos.

E acima de tudo isso, de todos esses sentimentos que se misturavam e a confundiam, havia a visão que Rey tivera. O vislumbre do futuro de ambos, que a fizera corar como uma menina tola e vibrar de alegria. Ela queria sentir aquilo de novo, estar conectada aos mais profundos sentimentos de Ben para ter certeza de que nem tudo estava perdido. De que havia luz em algum lugar dentro dente. De que ainda existia esperança para Ben Solo.

Sua mão pareceu pequena quando foi envolvida pela dele. E ela esperou com um suspiro preso na garganta pelo calor que ferveria seu sangue e a levaria para longe. Mas só havia o contato frio de sua pele nua com o couro da luva negra. Ela ergueu o olhar, buscando... O que exatamente? Por um feixe de luz, uma centelha, uma faísca, talvez. Mas os olhos escuros de Kylo Ren apenas refletiam sua própria decepção.

Preciso que alguém me mostre meu lugar em tudo isso”.

“Você não é nada”.

Lágrimas rolaram pelas bochechas de Rey, sem que ela pudesse prever ou controlar. Os soluços irromperam do fundo de sua garganta, parecendo rasgar seu peito de dentro para fora. Seu próprio corpo tremia e chacoalhava com a violência de seu pranto e ela sentia-se perdida, rendida às suas próprias fraquezas e emoções. Pela primeira vez naquele dia, ela teve noção de sua condição insignificante no universo. Do quanto estava sozinha, sem ninguém para ampará-la, sem um lugar para onde retornar, ninguém para esperar. Ela percebeu que estava no meio de uma guerra sem sentido da qual não passava de uma intrusa, agarrada a seu suposto inimigo porque não tinha mais ninguém para secar suas lágrimas e abraça-la, quando nem mesmo seus pais a amaram o suficiente para ficar. E Rey, a pobre catadora de lixo que queria ser especial, estava sozinha no meio do deserto escaldante, porque no fim de tudo, ela não era nada nem ninguém.

“Mas não para mim”

Os olhos de Kylo, aqueles olhos frios e escuros, estavam fixos nos seus. Então Rey percebeu, que no seu momento de fraqueza, ela baixara suas defesas e ele perscrutara cada centímetro de sua mente, sorvendo suas emoções.

“Vai usá-las contra mim, para me manipular”. ― Compreendeu, num ímpeto de sanidade e razão.

Infeliz, num súbito entendimento de que tudo acabara, ela apertou mais forte os dedos dele e se inclinou, ficando na ponta dos pés. Seus lábios tocaram os dele de leve, num simples roçar de um beijo salpicado de lágrimas. E então, o mundo desvaneceu em escuridão.

Rey mergulhou numa espiral fria e cinzenta e sentiu como se estivesse se afogando num lago congelado e de águas turvas. E de repente, ela já não era mais ela. Era apenas um amontoado de partículas sendo jogadas de um lado para o outro pelos vieses da Força, vislumbrando imagens distorcidas, memórias distantes, ouvindo frases desconexas e vozes que sussurravam, sentindo seu “corpo” ser puxado cada vez mais para dentro daquela cacofonia enquanto se debatia para ir para longe. Afundou e afundou e quando pensou que cairia para sempre, tudo parou.

Ela se viu em pé numa espécie de palanque elevado de mármore, diante de vários soldados e stormtroopers, cercada por líderes de várias hierarquias. Não era mais a catadora de lixo esquecida em Jakku, não havia nenhum vestígio daquela menina esfarrapada e miserável na mulher que vislumbrava, ao menos fisicamente. Estava ricamente vestida, com joias ornamentando seu cabelo, trajando um vestido que nem mesmo uma vida de trabalho árduo no planeta desértico lhe permitiria adquirir uma tira do tecido. Ela parecia uma rainha e Kylo Ren estava ao seu lado. Os olhos dele cintilavam com admiração e orgulho enquanto ele dizia algo que não conseguiu entender. Então Rey ergueu um sabre contra o céu noturno e o ativou. O laser esticou, banhando a noite com sua luz carmesim e toda a guarnição vibrou em êxtase. Ela era oficialmente um deles. Ela era um Sith.

Desesperada, o ar fugiu de seus pulmões e a visão tremulou e desapareceu. Agora, Rey treinava em um pátio com seu bastão cujo de ambas as extremidades se estendiam feixes de luz rubros. Estava cercada por garotas um pouco mais jovens do que ela que imitavam seus movimentos com bastões comuns. Ela as treinava. Eram suas valquírias, sua guarda pessoal.  Novamente, Rey saltou, passando por festas, bailes e indo para o campo de batalha, onde ela angariava vitórias para a Primeira Ordem, brilhando no meio da luta com seu sabre vermelho rubi. Ela tinha um nome temível agora, um nome que fazia gelar o coração dos homens mais corajosos ao ser pronunciado.

Darth Rubrum, a guerreira vermelha. A primeira Sith depois de décadas”.

A garganta de Rey se fechou com aquele pensamento e ela cerrou firmemente as pálpebras para não ver mais. Mas como se levada por uma onda, ela caiu em outra visão e se viu forçada a enxergar. Não através de seus olhos verdes, não precisava deles ali por mais que desejasse arrancá-los. As imagens se projetavam em sua mente, reverberando no fundo do seu ser.

Era noite e os aposentos eram colossais. Só havia uma luz escassa vindo de uma luminária na parede. A percepção de que não estava sozinha a atingiu como um soco e a fez querer vomitar o que não havia comido. Não por repugnância, mas por se sentir toxicamente tentada. Na cama, ela se via nua junto com Ren, no ato de cópula que a fez querer desviar o olhar se pudesse. O sentimento que explodiu dentro de si causou um leve distúrbio na força e ela girou. E viu Kylo Ren sobre si, o peito nu, a pele lisa de suor, os ombros marcados por arranhões ― Seus arranhões ― movendo-se impetuosamente contra ela, rosnando e grunhindo, fazendo-a gritar de deleite enquanto agarrava os cabelos negros.

Eu não vou deixa-la ir para longe. E irei garantir que suas noites nunca mais sejam frias e solitárias.”

Rey voltou a si em chamas, o rosto vermelho e suado, e percebeu que segurava um sabre de luz. Por um momento, pensou que se tratava do sabre de Kylo, com as terminações rubras e irregulares. Mas então um pensamento distante lhe soprou que aquele sabre agora lhe pertencia e que estava ali como algoz para executar traidores. Rebeldes.

E diante de si, ajoelhada e vestindo trapos, estava a general Leia Organa.

Quando acordou, encarava os olhos nebulosos de Kylo Ren e pela expressão no rosto dele, entendeu que ele já havia visto tudo aquilo antes.

“― Eu vi algo também”. ― O rosto de Ben estava sério, mas seus olhos brilhavam em expectativa, como uma criança que guardava um segredo travesso. “― Eu sei que quando a hora chegar, você será a única a mudar de lado. Você ficará comigo, Rey”.

― Rey...

Ela olhou para a frota quase dizimada da Resistência através do monitor na outra extremidade da sala e percebeu que não haveria esperança, a menos que fizesse o que tinha de fazer. Por mais dolorosa que fosse sua escolha, por mais tóxico que o futuro lhe parecesse, ela precisava seguir adiante.

Para descobrir um jeito de encontrar a luz mesmo mergulhando nas trevas. Para encontrar a esperança mesmo no fracasso.

― Eu vou com você.


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