Era noite, véspera de Natal, e todos os vingadores estavam reunidos na sala, conversando alegremente.

Natasha observava pela janela da Torre os flocos de neve que dançavam e cobriam toda a cidade de nova York. Ela tomou um gole de sua taça e tilintou o fino cristal com as unhas pintadas de negro. Acima da doce melodia de Daves Barnes que explodia nas caixas de som ao redor dela, pode ouvir Tony fazendo suas famigeradas piadas natalinas, Thor e Jane rindo, as crianças de Clint correndo ao redor dos sofás acompanhadas por Visão e Wanda, que se juntaram na brincadeira. Natasha virou-se e viu toda sua família reunida.

Família...

Ela jamais poderia imaginar, em nenhum de seus sonhos mais loucos que ela teria uma família. Que ela teria uma casa. Que finalmente faria parte de um grupo de pessoas que a amavam, que cuidavam dela, que se importavam.

Desde pequena, Natasha nunca se achou merecedora de nada de bom. Sempre foi ensinada que ela não era algo bom. E que monstros como ela não mereciam nada de bom em troca. Mas agora era diferente.

Obvio todo o vermelho em seu livro ainda estava lá. Cada vida tirada por suas mãos ainda continuava marcada em suas entrelinhas. Contudo, pela primeira vez na vida ela tinha um lugar que pudesse de todo coração chamar de lar.

Ela era uma vingadora.

O monstro pintado por milhares de pessoas não a pertencia mais. E ela estava feliz, feliz por fazer parte de algo tão bonito, algo que ela jurava todos os dias que protegeria com sua vida.

Olhou para cada uma das pessoas que ocupavam a sala. Viu a felicidade de Jane, que toda vez que olhava para Thor um sorriso bobo se formava em seus lábios. Viu Pepper e Tony tocarem pequenos beijos vez ou outra. Sam e Bruce rindo alegremente de algo. Até Nick Fury, que conversava despretensioso com Buck. Ela viu Laura e Clint, que estavam sentados em um dos sofás apoiando o pequeno Nathaniel no chão. Seus pezinhos firmes aventuravam dar pequenos passos, com Clint sempre segurando suas mãozinhas para lhe dar apoio. Viu que suas pequenas crianças estavam cada dia mais crescidas e mais bonitas, e ela sorriu amplamente por poder presenciar tudo isso.

 Os olhos de Natasha percorreram toda a sala, até pararem no homem loiro de sueter azul marinho que também a observava. Os olhos dele apenas encontram os delas com a facilidade que sempre acontecia, e ela nunca se importou em desviar. Ele se levantou e caminhou em  sua direção. Tomou a taça vazia das mãos de Natasha e ofereceu a sua em troca.

— Obrigada, capitão.

— Porque esta aqui sozinha?

— Só estou vendo minha família de uma perspectiva melhor.

Steve sorriu e cruzou os braços em frente ao peito

— Família... – Ele sussurrou – Vou confessar que a um tempo eu não acreditava que fosse fazer parte de uma novamente.

— Eu sei, é incrível não é?

— As crianças de Clint estão crescendo rápido. Na verdade todas as crianças hoje estão crescendo rápido demais - Steve balançou a cabeça parecendo assustado com a conclusão.

— Bem vindo ao século 21 capitão. – Natasha riu e deu um tapinha no ombro de Steve, o fazendo sorrir

Ele observou Natasha, as bochechas tomando um leve tom rosado.

— Você esta linda, Nat... E feliz... Eu gosto de ver você feliz, você merece. – Steve olhou para o chão e colocou as mãos no bolso da calça.

As palavras atingiram Natasha como um trem bala. Ela sentiu o coração martelando na garganta, e tinha certeza que ele poderia pular para fora a qualquer instante.

Natasha aproximou-se e tocou os lábios em sua bochecha, deixando uma pequena marca de batom. Quando ele levantou a cabeça e olhou em direção a ela, Natasha não pode deixar de rir. A marca de batom vermelho estava se fundindo a coloração natural que suas bochechas tinham, e isso o deixava ainda mais adorável.

Steve alcançou o bolso de trás da calça, tirando uma pequena caixa retangular de veludo preto dele. Ele estendeu o objeto para Natasha.

— Eu poderia esperar até amanha, mas prefiro dar o seu presente de natal hoje.

Natasha a pegou nas mãos desfazendo o laço de cetim vermelho que envolvia a caixinha. Ao abri-la permitiu que seus olhos dançassem com o brilho dos pequenos diamantes em formato de estrelas que adornavam a fina corrente prateada. Ela deslizou seus dedos pelo colar, encantada com a delicadeza e beleza que ele majestosamente exibia.

— Steve... Isso é... É maravilhoso.

— Você me disse uma vez que gostava de olhar as estrelas, achei que gostaria.

O sorriso de Natasha estava estampado em cada músculo de seu rosto. Ela não podia acreditar que um simples comentário que ela dissera a Steve enquanto estavam de tocaia no topo de um prédio em Tokyo poderia ter sido lembrado por ele.

Tirou com cuidado o colar da caixa e levantou na altura dos olhos. Ela pensou que desde o colar que Clint havia lhe dado com uma pequena flecha, nenhum outro presente tinha tanto significado e beleza para ela como esse.

— Será que você poderia? – Natasha entregou a correntinha para Steve, virando-se de costas para ele.

Natasha sentiu os dedos de Steve deslizarem pela pele nua de suas costas, afastando seu cabelo para o lado. Ela sentiu cada centímetro do seu corpo se arrepiar ao seu toque. Era algo tão puro, tão delicado. Parecia tão certo.

Ele cuidadosamente contornou seu pescoço com o colar, fechando-o atrás do pescoço. Natasha descansou a mão na clavícula, sentido as pequenas estrelas abaixo do seu dedo.

Ao se virar de volta para Steve, Natasha o viu sorrindo, seus olhos baixos na altura do colar.

— Combinou com você

 - Foi feito para mim, eu diria.

Steve assentiu. Natasha não podia escolher momento melhor para entregar-lhe o seu presente de natal.

— Você espere aqui. Não ouse se mexer.

Antes de ouvir qualquer resposta vinda dele, Natasha deixou a sala, rápida como um gato. Os finos saltos bateram no chão de mármore até seu quarto. Natasha sentou-se na cama e abriu a gaveta do criado mudo, retirando a envelope preto que guardará como o maior tesouro que já havia encontrado. E era.

A meses, em uma das conversas com Fury, havia descoberto que alguns itens que pertenceram a Steve tinham sido resgatados de uma base abandonada da Hydra por um agencia parceira da SHIELD. Natasha viajou sozinha até Hamburgo para resgatar os pertences. Quando pousou e se dirigiu a sede da agencia, foi apresentada a  uma caixa de arquivo desgastada pelo tempo. Dentro haviam pequenos objetos, acessórios e uma foto. Segundo um dos agente responsáveis pela operação, logo depois que Steve foi perdido no gelo, a HYDRA invadiu seu antigo apartamento e deu fim a tudo que poderia ser associado a Steve Roger.

 Tudo estava consideravelmente em boas condições, exceto a foto. A imagem de uma mulher de cabelos loiros e lisos, sentada em uma escada de madeira, beijando o rosto de um pequeno menino sentado em seu colo estava destruídas, ou quase. As manchas de água, o bolor em toda a imagem e o os rasgos em todas as partes faziam a foto se perder no tempo. Mesmo na condição em que se encontrava Natasha não precisou de muito esforço para perceber que a mulher era Sara Rogers e o pequeno garoto sentado em seu colo era Steve.

“O sorriso ainda é o mesmo” Ela pensou.

Natasha guardou a foto em seu traje e voltou para Nova York, entregando a caixa para Steve, que pareceu surpreso e muito feliz na época por recuperar uma pequena parte de sua vida. Ela sabia que a foto poderia ser tudo que Steve tivesse em relação a mãe e decidiu que entraria em contato com os melhores restauradores para recupera-la.

E deu certo.

 Natasha Romanoff, sendo Natasha Romanoff, conhecia os melhores entre os melhores. Quando recebeu o trabalho de  Kyo Yama, fotografo e historiador japonês podia dizer que a foto parecia ter sido buscada no dia em que foi tirada através de uma maquina no tempo. Kyo conseguiu até o mesmo papel fotográfico utilizado na época. Toda a coloração estava intacta. Natasha havia guardado a foto por meses em seu criado mudo, esperando o dia de Natal para poder entrega-la ao seu dono.

Voltou para a sala, vendo que Steve estava exatamente no mesmo lugar em que o tinha deixado. Natasha se aproximou, estendendo braço ara pegar sua mão. Ela o levou para o bar, onde a visão de todos não poderiam alcança-los. Se encostou na bancada e observou o olhar curioso de Steve

— Bom, eu guardei isso por meses – Ela chocalhou o envelope em suas mãos – Queria que seu Natal fosse especial.

Natasha estendeu o envelope em direção a Steve, que o tomou e ficou encarando a folha preta.

— Vamos logo, Rogers! Abra! Daqui a pouco estamos no Ano Novo e você ainda esta encarando isso.

Steve revirou os olhos e sorriu, desgrudando o pequeno selo dourado na ponta que prendia o envelope. Quando as pontas dos dedos alcançaram o conteúdo, puxando-o para fora, ele congelou. Natasha pode perceber seus longos dedos tremendo, seu rosto em perfeito choque. Ele levantou o olhar, encontrando novamente os olhos de Natasha

— Como você?... Onde?... – Ele parecia confuso, oscilando seus olhos entre a foto e o rosto de dela.

— Bom, essa foto estava na caixa que eu entreguei com o seus pertences. Na verdade ela estava quase se transformando em pó.

Steve assentiu, traçando os dedos pela figura da mãe.

— Então eu a peguei e entreguei para um amigo, que me devia um favor. Ele fez esse trabalho incrível que você esta vendo agora. Ficou maravilhoso, certo? A propósito, você realmente era uma criança fofa – Ela riu.

— Natasha, eu nem sei o que dizer, eu achei que eu nunca mais fosse ver essa foto... Minha mãe... Eu me lembro do dia em que tiramos essa foto... Eu...

— Feliz natal, Steve – Natasha permitiu-se interrompê-lo. Sabia que aquele momento era único para ele, podia sentir todas as emoções cobrindo seu corpo como um manto. Ela sabia que tinha feito o certo. Ela se sentiu orgulhosa de si mesma. Sentiu-se sortuda por ser a pessoa que estava em frente a ele nesse momento, apenas para olha-lo sorrindo.

Steve colocou a foto em cima da bancada e se aproximou. Seus braços alcançaram sua cintura puxando-a, até seus corpos estarem colados. Ele percorreu a mão por todo o braço de Natasha, até descansa-la em seu pescoço. Ela suspirou, fechando os olhos em reação. Steve encostou sua testa na dela.

— Obrigada por ser a pessoa mais incrível que existe – Ele sussurrou antes de capturar seus lábios.

Deus, Natasha sentiu que cada célula do seu corpo estava sendo incendiada quando seus lábios tocaram os dela. Era um beijo reivindicado, profundo, Steve estava deixando claro que eles se pertenciam, e que tinha que ser assim. Era mais sentimentos que ela poderia descrever.  Foi quando seus lábios se tocaram, foi quando ele a segurou em seus braços, quando ela o ouviu sussurrando que a amava entre o beijo que Natasha teve certeza: Steve Rogers era o melhor presente que ela já havia ganho, Não só de natal, mas de toda a vida.