Acorda, amor escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 1
Capítulo Único




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Já perdi a conta de quanto tempo estou preso nesse inferno. Quando me encontraram era 1972 e Médici estava no poder. Dias incontáveis de tortura, dor e de algo que no futuro se tornará um trauma.

A última vez que estive ao lado do meu amor foi antes de me tornar um prisioneiro.

Acordei com o som das sirenes ainda longe, talvez estivessem na esquina. Antes eu tinha sonhado com os militares no meu encalço.

Acorda, amor! Tem gente lá fora!”, eu sussurrei para Amália que dormia ao meu lado.

Foge, Julio. Foge que eles irão te pegar!”, ela tropeçou para fora da cama. “Tem gente já no vão de escada!”.

Quando os militares invadiram nosso pequeno apartamento, Amália já soluçava aos prantos e eu, parado de pijama, a sacudi.

Não discuta a toa, não reclame!”, eu a disse enquanto empurrava-a para o guarda-roupa.

Apanhei como um cachorro que ninguém tem pena. Naquele momento desejei ter ido á Cuba com meus amigos. Eu iria me tornar mais um dos milhares que morriam por ser a oposição.

Nessa cela, onde não sei mais o que é luz do sol, meu grito desumano ecoa pedindo por morte. O militar ao meu lado bebe da xícara de café puro, não esboça reação alguma ao meu terror.

Seria mais uma longa noite nos porões da DOI-CODI.

Hoje eu apenas me sinto como alguém que já partiu ou morreu.


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