Encontro em família. escrita por Takkano


Capítulo 4
Um sonho bem real.




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Quando Kiba começou a despertar no dia seguinte, a primeira coisa que sentiu foi o forte aroma do perfume favorito de Shino; um odor almiscarado com um leve toque de… café? Kiba fungou um pouco mais. Não só por estranhar o toque de café misturado ao odor, mas, também, pela intensidade do perfume. Mesmo que tivesse dormido na cama de Shino, Kiba tinha absoluta certeza de que, ao se deitar ontem à noite, o cheiro não estava tão presente como agora. Apertou os olhos, que nem chegara a abrir, sem muita coragem para descobrir que, Shino, sorrateiramente, invadiu seu espaço durante a noite e, agora, poderia estar ali; a milímetros de seu corpo.

Kiba sentiu uma vontade imensa de chutar aquele descarado pra fora de sua própria cama. Rolou um pouco para o lado e se assustou com o contato frio; o chão. Se sentou em um pulo, arrependendo-se logo em seguida ao sentir uma zonzeira na cabeça pelo movimento exagerado.

Estava no futon onde Shino passou a noite. Kiba sentiu as marcas vermelhas do seu clã se espalharem pelo rosto todo. Então, Shino não era o descarado pervertido que invadiu o seu espaço e sim, Kiba. Acusou Shino quando, na verdade, foi ele quem se jogou na cama do amigo, enquanto o pobre dormia inocentemente.

Agora que estava completamente desperto, notou que, na verdade, Shino nem estava mais ali, no quarto. O cheiro do café também ficou mais intenso; Shino já havia descido.

Se levantou morrendo de vergonha de si mesmo e foi lavar o rosto. Nem sabia com que cara olhar para Shino agora. Olhou para o espelho e suspirou derrotado, parece que só tinha aquela disponível.

Desceu o mais silencioso que pode até a cozinha. Chegando lá, encontrou Shino de costas mexendo algo no fogão. Kiba se sentou ali na mesa e ficou quietinho observando as costas de Shino. Shino estranhou muito aquele silêncio todo de Kiba. Mas, de uma coisa ele tinha certeza; Kiba estava incomodado com algo, e única coisa em que Shino conseguia pensar que poderia ter deixado o amigo tão inquieto assim, era a conversa de ontem, sobre as revistas de conteúdo adulto. Não conseguiu se conter em provocá-lo um tiquinho mais.

— Dormiu comigo? - Shino, se virou para encarar Kiba e, embora não demonstrasse, se assustou com a palidez do amigo. – É só uma forma de falar. Quer dizer que você precisa cumprimentar a pessoa; dar bom dia. - diante o silêncio de Kiba, Shino resolveu manter um diálogo unilateral. – Se foi por ontem à noite…

— NÃO É! - Kiba gritou daquele seu jeito meio exaltado, arrancando um sorriso de Shino, deixando claro que estava tudo de volta ao normal.

Shino levou uma tigela de arroz com legumes acompanhada de lulas secas a mesa, e um pouco de chá. Ambos começaram a comer em silêncio.

— Shino… você conseguiu dormir bem? - Kiba iniciou a conversa.

— Sim e você?

— Eu acho que apaguei, nem vi nada que poderia ter acontecido durante a noite. - Kiba estreitou um pouco os olhos.

— Uhm, e o que poderia ter acontecido durante a noite?

— Não sei, talvez eu tenha caído da cama?

— Sério? Quando acordei você estava bem na beirada mesmo. - Shino recolheu suas tigelas as levando para a pia – E eu escutei um baque quando estava descendo as escadas.

Kiba passou a mão na cabeça e sentiu de novo ela latejar. Notou um pequeno galo. Tinha mesmo caído da cama, mas, não como ele havia pensado. Uma nova onda de vergonha tomou conta de si. Precisava parar de achar que Shino o estava perseguindo.

— A que horas eu vou te buscar? - Shino ficou olhando Kiba derrubar a comida ainda a caminho da boca. – Ainda vamos sair pra jantar, certo?

— Ah claro, vamos sim, deixa eu ver… - Kiba pensou se seria uma boa ideia ele e a mãe passarem na casa de Shino, ou seria mais adequado pegar Shino primeiro e só depois ir buscar sua mãe. Dai se lembrou de algo que talvez fosse até bem importante; nem a mãe e nem Shino sabiam que ambos seriam suas companhias para o jantar.

— Kiba.

— Oe, ainda não sei, Shino… à noite. - Kiba começou a comer rápido. – Depois te falo.

***

Shino esperou Kiba voltar a sua casa para poder sair. Achou mais seguro adiantar as coisas enquanto Kiba, como sempre, enrolava. Tinha dado uma boa olhada em seu guarda-roupa e acabou meio decepcionado com as opções disponíveis. Se levasse em consideração que o jantar seria com Kiba e que nada havia sido planejado antes, Shino optaria por um casaco menos formal de um tom mais escuro, uma calça social e sapatos de couro preto; seu melhor traje. Mas os anos ocupados com os treinamentos e a falta de companhia para sair, fizeram suas roupas serem duramente massacradas pelo tempo. Resultado: as mangas do casaco e as pernas da calça, curtas demais para passarem desapercebidas; sem contar no cheiro de animal morto que aquilo tinha.

Parou em frente a uma famosa Alfaiataria. Precisava de algo adequado, mas, duvidava muito que dispunha de dinheiro e tempo para encomendar qualquer coisa que pudesse ser usado ainda hoje. Ficou um tempão ali até se dar conta de que tinha companhia.

— Não acha que daríamos ótimos manequins, rapaz? - Tsume estava ali também, parada feito estátua observando a porta da loja.

— Eu não me importaria desde que ganhasse um bom terno. - Shino suspirou parecendo bastante frustrado.

Shino desistiu da compra e foi acompanhado por Tsume.

— Pra que precisa de um terno novo, Shino? - Tsume perguntou antes mesmo de pensar se a pergunta seria pertinente.

— Tenho… - Shino sentiu uma pontinha de culpa – … um encontro hoje a noite e queria passar uma boa impressão.

— Uhm, também precisava comprar alguma coisa para o Kiba e pra mim. Mas se um dos dois tiver que sair bem na foto, desconfio que não seria eu. Mas que tipo de encontro é esse? Não pode usar o que você já tem; você sempre anda bem-arrumado.

— É algo mais formal. Talvez eu dê um passo importante e gostaria de estar à altura do acontecimento.

— Me lembro de ter visto você vestido formalmente um tempo atrás.

— Alguns bons anos atrás; ainda estou crescendo.

— As roupas não cabem?

— Não sei, me parecem um pouco curtas.

— Posso… dar um palpite?

Shino sorriu em resposta. A mãe de Kiba era uma pessoa bem observadora e exigente. Confiava muito nela e sabia que a mulher daria o veredicto final de que ele estaria ferrado sem ter o que vestir naquela noite.

Assim que chegaram a casa de Shino, subiram até o quarto do rapaz. Shino achou engraçado como Tsume havia decorado todo o caminho e encontrou até mesmo seu quarto sem ajuda. Shino abriu a porta dando passagem para Tsume entrar. Shino a viu farejar o ar e se sentar na cama, o olhando com um jeito firme.

— O Kiba dormiu aqui essa noite?

— Sim. - Shino ignorou o fato de que Tsume olhou pra sua cama ao perguntar aquilo, até mesmo porque, se o garoto não voltava pra casa, só poderia estar ali; sempre foi assim.

Shino foi até o armário e pegou as vestes que já havia provado antes. Entrou no banheiro e depois de um tempo voltou ao quarto, onde Tsume continuava a farejar discretamente. Assim que Shino se aproximou, Tsume se levantou a foi até ele. Puxa daqui, desdobra de lá e nada da cara de Tsume melhorar.

— A coisa tá feia Shino. Caramba como você cresceu rapaz. - Tsume deu um daqueles famosos tapas que geralmente só Kiba ganhava. – Desculpe Shino, não vai dar pra usar, tá muito estranho.

— Sim eu percebi.

Tsume de repente pareceu eufórica. Mostrou os dentes sorridente e deu outro belo tapa em Shino.

— Tive uma ideia. Agora, você vem comigo, rapaz.

***

 

Assim como Tsume, Shino também conhecia muito bem a casa dos Inuzukas. Desde de pequeno vinha todos os dias brincar com Kiba e ficava tocado ao saber que logo, aquela velha amizade poderia se transformar em algo bem maior. Tentou manter seus pensamentos controlados para não despertar a curiosidade da matriarca.

Acompanhou Tsume e ficou curioso ao parar em uma porta diferente ao fundo do corredor, bem longe do quarto de Kiba, ao qual era o único que estava acostumado a frequentar. Ali era o quarto de Tsume.

Entrou pedindo licença ao convite da mulher.

O lugar era bem mais selvagem que o quarto de Kiba, que possuía um ar jovial e alegre. Ali era tudo um tanto escuro e pesado, mas, também, mais organizado e refinado. A mobília era pouquíssima, e havia um tapete de peles bem grosso que cobria quase todo o chão. A cama de casal, estava ainda desarrumada, mas, o que chamou a atenção de Shino, era que apenas o lado esquerdo parecia ter sido ocupado; o outro estava perfeitamente intacto e alinhado. Shino sentiu uma dorzinha no peito. Tsume parecia não ter superado, depois de anos, a morte do marido; quem diria de Hana.

— Aqui Shino. - a mulher colocou cuidadosamente um terno sobre a cama. Parecia simples, mas, bem bonito e escuro, como Shino gostava. Shino deduziu, pelo cuidado que Tsume dedicava a peça, que aquilo pertenceu a seu falecido marido; pai de Kiba.

— Eu não…

— Não me venha com essa, rapaz. - Tsume o cortou com severidade antes que Shino dissesse que não poderia aceitar algo importante assim. – Se existe alguém que tem o direito de usar isso é você, Shino, que já é praticamente da família. Shino sorriu demostrando mais felicidade que o normal. Pegou a roupa com todo o cuidado que ela merecia.

— Bom, vou sair e…

— Tsume-san, posso trocar no quarto do Kiba? - Shino se apressou, antes de ser deixado ali. Não se sentia à vontade no quarto da mãe de Kiba; parecia desrespeitoso demais.

— Oh, não precisa ficar com medo Shino pode trocar aqui mesmo, não tem problema.

— Não é que eu realmente me sentiria mais a vontade lá; desculpe por isso.

— Tudo bem então, mas, o Kiba tá lá, dormindo. - Tsume lhe lançou um olhar furtivo – Ele disse que não conseguiu dormir bem essa noite.

Shino ficou meio sem graça. Não queria que a mãe de Kiba pensasse que o garoto ficava desconfortável em sua casa. Pegou as roupas e foi até o quarto de Kiba.

Abriu a porta bem devagar para não acordar Kiba, que estava todo embolado embaixo dos cobertores. Fechou novamente a porta com o mesmo zelo que a abriu, colocou as roupas do pai de Kiba em cima de uma mesa ali e começou a se despir.

Kiba ouviu o som da porta se abrindo e depois fechando. Se remexeu incomodado, mas, sabia que sua mãe não respeitava muito bem seu sono durante o dia. Provavelmente veio guardar algo ali. Mas seu nariz dizia que algo estava errado. Sentiu um cheiro familiar no ar; um cheiro bem presente por sinal.

Era o cheiro de Shino.

Kiba girou devagar para o lado de deu de cara com uma silhueta que conhecia bem. Apesar da escuridão, era dia e dava pra ver perfeitamente que Shino estava…

Só com a roupa íntima.

Kiba sentou de uma vez na cama assustando Shino que paralisou prendendo a respiração. A mente de Kiba trabalhou mais rápido que o normal, e a única explicação para Shino estar ali, despido bem ao lado de sua cama, era… um sonho.

Kiba estava sonhando. “Isso que dá ficar falando de punhetas e fantasias sexuais quando você ainda não passa de um virjão.” foi o pensamento de Kiba que suspirou sentindo a tensão do momento. Mas aquilo era um sonho e nos sonhos você é inatingível. Com esse pensamento, Kiba prendeu o olhar no corpo de Shino, que parecia relaxar aos poucos. Se sentou deslizando os pés para fora da cama a fim de poder apreciar um pouco mais de perto. Não sentia atração pelo corpo masculino, e a única diferença entre ele e Shino era a cor da pele e a altura. Talvez Shino fosse um pouco mais forte também, e tivesse menso cicatrizes, e também tinha…

Um volume bem grande na parte inferior do corpo de Shino chamava bastante a atenção. Kiba sentiu o roso esquentar, e o maior problema é que não era bem só o rosto que estava ganhando alguns graus a mais.

— Kiba…

A voz o chamou; parecia meio embargada. Kiba não soube dizer se ela estava mole de prazer ou se o sono ainda o afetava. Sempre teve algumas dúvidas em relação a Shino. Por que o amigo nunca ficava com ninguém; por que Shino não gostava de falar sobre garotas com ele; por que Shino não tinha nenhuma revista de adulto, por que… Kiba achava que de alguma forma poderia ser a pessoa que preenchia as fantasias pervertidas de Shino…?

Kiba esticou a mão. Podia sentir uma onda de calor emanar do corpo de Shino, sua própria pele parecia arder. Estava a milímetros da intimidade do outro, iria tocá-lo e acabar com algumas de suas dúvidas.

— Shino. Já terminou, rapaz? - duas pancadinhas na porta fizeram Shino virar de uma vez, assustado. Kiba com um pulo, se enfiou embaixo das cobertas e fingiu que dormia de novo, embora, agora já soubesse que aquilo não era um sonho, e sim um pesadelo; um terrível e real pesadelo.

Shino se trocou na velocidade da luz e saiu fechando a porta. Kiba ainda pode ouvir ao longe a voz da mãe elogiando a forma como sebe se lá o que ficava ótimo em Shino. As vozes foram se afastando e Kiba limpou algumas lágrimas que escorria do seu rosto.

Lágrimas de vergonha.

 

 

 


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