Ascensão - Alicança escrita por Nancy


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Baile


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o grande baile!
Sinto-me no dever de informá-los que a partir deste momento, vocês verão algumas diferenças em relação ao jogo, tanto em acontecimentos quanto em personalidades e como estou "me desligando" do jogo, gostaria de opiniões.
Sem mais delongas: O baile.



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— Por aqui Srta. Eleanora. – Kole me ofereceu o braço ao descermos da carruagem.

Fiquei estática. Eles eram muitos, tomavam todo o lugar e sua presença era realmente tudo e mais um pouco daquilo que as pessoas me descreviam. De certo Kole podia sentir que eu estava prestes a correr dali, pois logo segurou minha mão delicadamente, passando imensa segurança. – Está tudo bem, estou aqui por você.

Respirei fundo com todas as minhas forças, antes que chamasse a atenção de alguém. Finalmente olhei para Kole e notei o quão bem vestido ele estava. Os cabelos vermelhos penteados para trás e a roupa preta e dourada que combinada com a minha, o faziam parecer um verdadeiro cavalheiro. Respirei fundo novamente e me deixei tomar por sua coragem. Coloquei a máscara que havíamos ensaiado e passei a agir exatamente como aqueles opressores ao meu redor.

Não precisamos caminhar muito até que um soldado se aproximasse.

— Bem-vindos ao castelo de Northcliff. Posso verificar seu convite, Milady? – Ele abaixou a cabeça respeitosamente.

— Sim, é claro. – Fiz sinal para que meu guarda-costas entregasse o convite, e Kole o fez. – Seja rápido, por gentileza. – Pedi com firmeza na voz.

O guarda verificou todos os aspectos do convite forjado pelos Águias e então o marcou com um pequeno selo azul.

— Está tudo em perfeita ordem, Milady. Por favor, aproveitem a noite. – Ele nos deu passagem para a longa escadaria e nenhum de nós trocou mais nenhuma palavra ou olhar.

Kole e eu adentramos o castelo na exata hora marcada no convite. O salão era enorme, eu jamais havia estado em lugar tão grande e suntuoso. O chão era feito de pedra, mas tão lustroso que era possível ver seu reflexo nele. Tudo era claro e harmonioso, os últimos resquícios da luz do sol faziam parecer que o salão era dourado, inteiramente feito de ouro. No canto a leste havia uma enorme mesa cheia de todo o tipo de comida e era ali que estava a maior concentração de pessoas. Ao norte se encontrava uma enorme escadaria que levava ao primeiro andar do castelo e era de livre acesso aos convidados. A Oeste havia um grande arco que provavelmente levava aos jardins, que eu apostava, eram tão suntuosos quanto o salão.

Me sentia como um Lith devia se sentir em Ildis. Todos ali me desejavam morta ou coisa pior, mas ao mesmo tempo, ninguém me conhecia de verdade, nem a mim e nem ao rei. Era incrível para mim que Kole fosse tão sensível a minhas emoções. Logo ele me puxou para o jardim, para um local onde não havia tantas pessoas. Embora o jardim estivesse repleto de mesas e cadeiras, fomo-nos sentar próximo a entrada para o outro lado do castelo, ali ficava uma câmara não muito grande que se parecia com uma galeria de arte.

Fiquei curiosa com o maior quadro que havia ali dentro e resolvi entrar para sanar a curiosidade. Conhecia aqueles rostos de algum lugar. Um casal estava junto naquele quadro, uma mulher muito bonita, Nobre em todos os sentidos da palavra. Cabelos brancos e lisos na altura da cintura, muito bem arrumados; Olhos rubros como sangue, mas não aterrorizantes como os de qualquer outro Nobre, havia algo neles que era familiar e acolhedor. Ela usava um vestido branco, bordado com o que pareciam ser fios de ouro. Ao seu lado estava um homem e cabelos médios, da cor da terra, seus olhos eram ainda mais bondosos e acolhedores do que os da mulher, eram verdes como esmeraldas e pareciam sorrir à qualquer um que os olhasse. Era um quadro realmente muito bonito e eles formavam um casal interessante.

Notei-me emotiva e patética após ler uma pequenina placa dourada logo abaixo do quadro:

“Rei Adrian e Rainha Kathleen”

Suspirei e logo notei que Kole não entendia o que estava acontecendo, mesmo que fosse ótimo em entender meus sentimentos.

— São meus pais, Kole... – Sussurrei o mais baixo possível, embora houvesse somente mais um homem na sala conosco. – O Rei e a Rainha... Eu sequer sabia como eles eram.

— Pobre criança... – Ouvi uma voz totalmente diferente vinda detrás de nós e imediatamente me virei para olhar o homem que estava ali conosco, também olhando o quadro grande. Gelei.

— Desculpe? – Lutei para manter a razão. Quem era ele? Havia ouvido o que disse para Kole?

— Oh, perdão Senhorita. Estava falando comigo mesmo. – Ele se curvou levemente, tomando minha mão e levando-a até seus lábios, depositando um beijo suave. Esperava que ele não tivesse notado o quanto tremia. – Tenho o mau costume de falar com o quadro de meu irmão.

Irmão?

— Oh, seu irmão fez a obra? – Perguntei. Ele pareceu divertir-se com a situação.

— Não Senhorita. Perdão por ser tão desastrado. Sou Landon Fairbairn, irmão do falecido Rei Adrian, que Eanna o tenha.

Gelei novamente. Aquilo estava ficando pior. Ele era da família, havia visto meu rosto e provavelmente meus olhos, talvez tivesse me ouvido falar com Kole. Precisava sair dali imediatamente.

Sorri, forçando uma tentativa de arrogância, como se sequer me importasse com aquilo.

— Esta é a Senhorita Eleanora Montgomery. Filha da Senhora Cecília e do Senhor Barnaby Montgomery. – Kole tomou a frente e apresentou-me formalmente.

— É um prazer conhecê-la, Senhorita Eleanora. – Ele abaixou a cabeça novamente em um cumprimento. – Posso acompanhá-la por uma visita à pequena galeria que temos aqui? – Perguntou educadamente estendendo o braço. Embora eu quisesse correr, imagino o que ele diria ao rei e como tudo seria tão suspeito se uma Nobre recusasse o pedido de alguém tão próximo da família real – quanta ironia.

— É claro. – Olhei de relance para Kole, como se implorasse que ele não saísse de perto. E ali ele permaneceu próximo ao quadro do Rei e imóvel.

— Notei seu interesse no quadro do Rei e da Rainha... – Ele disse.

— Sim. É natural, afinal minha família é de longe daqui, ouvimos falar da realeza, porém não tivemos a chance de conhecê-los.

— Oh, entendo. O reinado deles foi curto, infelizmente. Meu irmão tinha tato para a política como eu jamais tive. Apesar de ser o mais velho, sempre soube que ele seria o Rei.

— Nesse caso, o que o impediu de tomar para si o trono após a morte do Rei? Kael... – Pigarreei, lembrando-me que não falava com qualquer um. – O Rei Kael ainda era muito novo para assumir tal responsabilidade, não acha?

— É exatamente por este motivo que estou aqui. O Rei Adrian originalmente me enviou em uma missão longe daqui, porém achei sábio retornar para guiar o jovem Rei Kael em sua difícil jornada. – Ele parou por um momento. – Embora compreenda que ele não aceite minha ajuda e está respaldado pela Ordem prateada.

— Não. Eu não aceito seus conselhos, querido tio. – Era uma voz diferente, não era a de Kole. Viramo-nos para olhar e minhas pernas tremeram.

Kael.

— Querido sobrinho, somos uma família...

— Sou “Rei Kael” para você, Landon. – O olhar dele estava fixo no homem ao meu lado. Seus olhos eram frios como sempre foram, uma íris verde e a outra vermelha como a de Katheleen, cabelos brancos como os meus. Não conseguia me mover. – Onde estava esse seu espírito familiar quando meu pai morreu?!

Quando foi que ele chegou aqui? Porque estava aqui? Kole não o notou? Por sorte eu parecia insignificante demais para chamar sua atenção. Pelos Deuses, só queria que seu acesso de raiva acabasse e ele fosse embora sem pedir satisfações.

— Estava em Taran, cumprindo as ordens de seu pai, meu caro Rei. – Landon respondeu.

— Também eram suas ordens o abandonar em seu leito de morte? – O Rei vociferou.

— Sempre como sua mãe... – Landon suspirou. – Inquieto e explosivo.

Aquilo me soou como uma provocação e foi totalmente desnecessário, queria apenas que ele fosse embora...

— Ora seu... – Kael avançou, mas logo parou ao ouvir uma voz vinda da entrada da galeria.

— Meu Senhor. – Uma voz calma, firme e imponente, mas que não se sobressaía a de Kael, o que me assustava ainda mais. – Não se importune com coisas tão triviais, devemos receber seus convidados mais ilustres, sim?

Kole finalmente se intrometeu, mas não sei até que ponto foi uma boa ideia. Ele tomou meu lado e segurou meu braço.

— Meus Senhores. Peço minhas mais sinceras desculpas por interrompermos tal reunião. Eu e minha Senhora os deixaremos agora. – Ele ia me puxando pelo braço quando senti algo segurar minha saia. Olhei para trás para desenroscar o que quer que a houvesse prendido e então vi que Kael pisava na barra.

— Milady... – Kael se dirigiu à mim diretamente. Meu coração parou. – Espero que esteja aproveitando o baile.

Não pude responder. Não conseguia ar para proferir nada.

— É um baile extremamente elegante, meu Senhor. – Kole me defendeu. – Minha Senhora e eu estamos extremamente lisonjeados de ter-se lembrado de nós.

— Sua Senhora sempre precisa que seu guarda-costas fale por ela? – Foi incisivo.

Abaixei os olhos imediatamente.

— Não Vossa Majestade. Mas eu raramente valho o seu tempo. – Forcei a voz mais firme que pude.

— Verdade? – Ele se aproximou ferozmente. – Perdoe minha curiosidade Senhorita, mas acredito que não fomos apresentados. Posso saber seu nome?

— Eleanora Montgomery, Vossa Majestade. Filha da Senhora Cecília Montgomery e do Senhor Barnaby Montgomery. Não creio que os conheça pessoalmente, vivemos fora de Valond, Meu Senhor. Como eu disse, não valho seu tempo.

Vá embora... Por favor, vá embora...

Ele demorou a responder.

— Você deveria olhar nos olhos das pessoas ao falar com elas. Nós em Valond consideramos rude essa atitude.

O que ele faria se eu não o olhasse? Não queria descobrir. Apenas ergui o olhar rapidamente, logo voltando a atenção para minha saia.

Pude sentir o sorriso em sua voz ao dizer:

— Aproveite o baile. Eleanora Montgomery. – Ele falou e então se foi, juntamente com os demais homens na sala, deixando-me sozinha com Kole.

Kole me olhou e a situação não podia ser boa. Ele não disse nada, apenas ficou ali, esperando meu tempo. Demorei a conseguir lembrar como respirar e mais tempo ainda para conseguir me mover.

Victor... Victor era meu foco e se me deixasse abater por aquele encontro, jamais conseguiria tirá-lo do castelo.

— Me tire daqui... – Sussurrei para Kole. Logo ele me arrastou de volta para o jardim e por uma pequena escadaria que conduzia a uma varanda. Sentamo-nos em um dos bancos de pedra que havia ali, próximos a duas mulheres muito elegantes – também Nobres. Qualquer outro lugar estava ocupado, era óbvio que ninguém queria o assento mais próximo delas. Nenhuma das duas se abalou com nossa presença e ambas continuaram a conversar, e pelo que pude discernir da conversa, eram a noiva e a sogra do Rei.

Que lugar mais infernal...

— Senhoras e senhores, pedimos a todos que compareçam ao salão principal para o anúncio Real. – Vociferou o guarda.

Todas as pessoas se levantaram e seguiram com calma para o salão. Kole e eu fomos os últimos a nos levantar.

Era agora. Iríamos nos utilizar da distração dos guardas e dos convidados para escapar para as masmorras e resgatar Victor. Ainda tinha o mapa do castelo fresco na mente, após estudá-lo por tanto tempo no navio.

Foi então que notei a movimentação estranha dos guardas. Havia mais deles e me encaravam.

— Estamos com problemas... – Kole sussurrou, me empurrando para trás de suas costas. – Corra, por favor. Darei conta deles.

— Não... Kole. – Ele morreria.

 - Por favor. É para isto que vim com você. – Ele insistiu, enquanto o cerco se fechava. O som das vozes aglomeradas no salão logo abaixo de nós era quase ensurdecedor. Imagino que tudo tenha contribuído para aquele momento.

Um soldado enorme se aproximou com velocidade impressionante e acertou Kole com seu escudo de ferro. Embora ele tenha se defendido, não foi páreo para aquela força brutal. Ao ser arremessado para trás levou tudo em seu caminho e desapareceu de vista nas escadarias abaixo. O empurrão foi tão forte que acabei atingida pelo corpo de Kole e caí.

Não tive opção, tinha que correr. Levantei-me o mais rápido possível e saí em disparada pelo primeiro corredor em que pude pôr os olhos. Mas a quem eu queria enganar? Eles eram Nobres. Um dos soldados me agarrou pelo braço, apertando-o tanto até quase quebrar.

Quando recobrei a consciência estava de volta ao salão suntuoso, cercada por centenas de pessoas, algemada e com o rosto ensanguentado. Alguns me encaravam com espanto, outros com orgulho.

— Obrigado por terem aceitado meu humilde convite e estarem aqui hoje. – Kael falava. Estava na minha frente, mas eu podia ver apenas seus pés de onde estava jogada. – Espero que tenham se divertido. Há muitos rostos familiares aqui hoje, incluindo minha noiva e meu tio. Obrigado por sempre estarem aqui por mim. Embora eu seja jovem, sempre tentarei meu melhor para ser um bom Rei.

Não conseguia pensar direito. Minha cabeça doída e eu podia sentir o sangue quente escorrer por meu nariz.

— Neste baile, porém, há uma pessoa que fiquei feliz, senão um tanto surpreso em ver... – Podia sentir o asco em as voz. – Minha queria irmã gêmea, perdida há muito tempo. Ela está aqui conosco hoje, ela foi roubada por uma ama de leite enquanto ainda era apenas um bebê e eu estive procurando-a por anos.

O que ele estava fazendo?

O público pareceu se comover então. Não sabiam que eu era irmã de Kael, ou que ele tinha uma irmã? Achei que isso havia vazado com sua ameaça de guerra. Eu sou muito estúpida...

— É com grande pesar, porém... Que venho diante de vocês explicar tal situação, pois descobri que minha irmã, meu próprio sangue está tramando para usurpar meu trono e destruir tudo o que temos construído.

Não havia saída... Senti uma lágrima escorrer pelo rosto, se misturando com o sangue. Não poderia salvar Victor, Kole deveria estar morto, eu seria morta e tudo o que tentei para que o mundo não fosse dominado por esse tirano, seria morto junto comigo.

— Meu Rei... – Ouvir Landon chamar. – Isso é realmente verdade?

— Lamento meu tio... – Ele me olhou, pude sentir. – Por esse objetivo, ela se aliou à uma organização realmente muito perigosa, famosa por ter aniquilado a Ordem dos Cavaleiros que meu pai ajudou a construir. Essa organização conhecida como “Os Águias”, creio que todos os conheçam.

O público gemeu em terror.

— Ainda que me parta o coração, irmã...

“Eu a sentencio à morte” estava esperando a frase.

— Eu a declaro uma traidora.

— É só isso? – Me atrevi a encontrar forças para falar, mas duvido que muitas pessoas tenham ouvido a patética voz fraca que saiu da minha boca. – Da última vez que nos encontramos foi mais assustador, você enfiou uma faca no meu estômago.

Ele havia se abaixado para me olhos nos olhos.

Que típico, um irmão traidor...” Alguém da multidão vociferou e fez Kael sorrir com o canto dos lábios, ficando ainda mais assustador.

Um julgamento se faz necessário, afinal ela é parte da família real” Outra pessoa disse em voz alta, arrancando o sorriso do rosto dele.

Até hoje não sabíamos da existência dela.

— Kael, meu rapaz... – Era Landon novamente, ele havia se aproximado do altar de onde Kael discursava. – Dê-lhe uma chance para se explicar.

— Como ousa questionar as decisões de nosso Rei? – Talvez fosse a noiva dele. Não conseguia ver seu rosto, mas me lembro da vestimenta. – Se ele a declarar culpada, então ela é culpada!

O homem que esteve na galeria com Kael se aproximou dele e não deixou que ninguém mais ouvisse o que disse ao Rei.

— É melhor que dê a ela o direito ao julgamento, pela lealdade de seu povo. Temos a prova de que precisamos para que ela seja condenada.

— Ela não será condenada. – Kael respondeu. – Eu a quero nas masmorras agora mesmo. Não me interessa o que esses camponeses querem.

Lembro-me que o homem que o aconselhava se levantou e agarrou a gola de minha camisa, me sufocando o me tirar do chão. Depois disso tudo estava no mais completo breu.


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Notas finais do capítulo

Eita rapaz.
Agora a cobra vai fumar...



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