Tinta amarela escrita por star shot


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Em partes do texto, o uso das pontuações está incorreto. É proposital.



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No instante em que abri os olhos eu soube.

Não teria paz.

Era mais um dos dias em que parecia impossível conviver com a minha própria mente. Mais um dos dias em que eu tinha a constante sensação de que o meu cérebro estava usando toda a sua capacidade para me matar. Os pensamentos eram tantos que eu nem sabia exatamente no que estava pensando; era como se a minha cabeça estivesse fora de controle. Mas eu já havia sobrevivido a todos os outros dias iguais a esse. Era só mais um.

Estava imóvel na cama. Eu usava todas as minhas forças para tentar aquietar a minha mente. E quanto mais eu tentava, mais difícil ficava.

Preciso levantar tenho muita coisa para fazer acho que estou enlouquecendo. Não consigo respirar meu peito dói meu coração está acelerado por quê se acabei de acordar? Não sei quantas vezes acordei essa noite. Tenho certeza que algo está errado mas não sei o que é. Ontem meus amigos me chamaram para sair mas como vou sair se não consigo levantar da cama. Algo está errado eu sei disso. Tenho que sair do quarto. Não consigo respirar. Minha garganta fechou. Não vou pedir ajuda estou com medo de atrapalhar e incomodar os outros, ninguém é obrigado a me aturar assim. Eu vou lidar com isso sozinha. Não vou, não consigo. Não consigo respirar. Eu não consigo respirar. Para de pensar um pouco é sério fica quieto por favor. Fica quieto. Fica quieto eu só quero silêncio. Calma. Calma, calma, calma, calma. Não consigo. Fica calma. Respira. Presta atenção na respiração. Inspira fundo. Não dá. Tem que dar. Inspira. Agora solta. Não é para chorar. Inspira. Calma. Calma, fica calma. Não dá, não dá. Por favor eu só quero paz.

 

 

Eu não conseguia redirecionar força para nenhuma outra parte do meu corpo. Minha cabeça parecia pesada demais. Era como se pensar demais pesasse.

Peguei o celular para ver as horas.

06:34.

Nenhuma mensagem.

Não sei por que ainda acho que alguém realmente vai tirar uns segundos do próprio tempo para me mandar alguma coisa. Não adianta culpar ninguém, não. Quando meus amigos me chamam eu não respondo.

Não faço por mal. Eu só não tenho mais forças para continuar uma conversa.

É. Então não posso chorar, por que a culpa é minha. A culpa é minha. A culpa de todas as coisas ruins que já aconteceram na minha vida é minha. Tudo o que eu toco estraga, apodrece. Eu não aguento mais.

 

Peguei o caderno de desenhos, tentei desenhar. Minhas mãos tremiam.

Calma, calma, calma, calma. Calma, fica calma. Fica calma.

Peguei o diário, tentei escrever. Minhas mãos tremiam.

 

Olha o estado desse quarto. Estou vivendo num chiqueiro. Não aguento mais. Quando foi a última vez que consegui levantar pra tomar um banho? Eu não sei. Nojenta. Eu sei. Só vou ter paz quando morrer. Eu sei. Então termine logo isso. Vou decepcionar meus pais. Já fiz isso quando nasci. Eu sei.

 

Está doendo demais. Vou precisar tomar mais remédios do que o necessário. Bem mais. Todos de uma vez.

Engole. É para engolir todas as pílulas. Não vomita! Agora deita.

Vai silenciar tudo. Silêncio absoluto. Paz.

 

Eu já havia sobrevivido a todos os outros dias iguais a esse.

Só não sabia que esse era o último.


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Notas finais do capítulo

Tudo poderia ter sido evitado se ela tivesse pedido ajuda.
Por favor, peçam ajuda.