Assistente Especial escrita por Stephany15


Capítulo 3
Duende por uma noite


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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Talvez, apenas talvez, eu estivesse sobre efeito de drogas alucinógenas que nunca ingeri.

Assim que saímos do dormitório, a loucura ficou ainda maior, ultrapassando os limites do possível. Passamos por um longo corredor repleto de meias de natal penduradas nas paredes enquanto eu tentava exaustivamente obter respostas mais concretas. Otto estava muito à frente para me ouvir e Ollie, ansioso demais falando sobre como amava o Natal. Ninguém me respondeu, no final das contas.

Já estava quase desistindo de tentar dar algum sentido àquilo, e me convencendo de que nada passava de um sonho muito bem produzido pela minha mente quando chegamos ao nosso destino.

Qualquer teoria que eu criei naquele meio tempo foi jogada no lixo, e não pensei em mais nada que pudesse estragar aquilo. Milhares e centenas de duendes espalhados pelo salão imenso, recheado de pisca-piscas, suficientes para destruir qualquer treva, e enfeites até o teto, mais alto que o comum. Os homenzinhos se dividiam em dupla e cada uma trabalhava em um brinquedo específico. Provavelmente Otto e Ollie eram uma dupla também, já que tinham roupas de cores diferentes e andavam juntos.

Ninguém ficava parado ou quieto. Aquele era um ambiente barulhento e inquieto. Naquele momento mesmo, flagrei um duende vermelho fazendo uma pegadinha com outros. Ele entregou um presente ao amigo que, quando abriu caixa, algo explodiu e ele ficou com o rosto repleto do que me parecia farinha branca. Bem, garanto que o verdinho não gostou muito dessa surpresinha.

Uma grande árvore de Natal, com seus consideráveis quatro metros de altura preenchia o ambiente, completamente iluminada e cheia de enfeites por todos os galhos.Quanto tempo eles demoraram para montá-la? Muito, mas o resultado ficou incrível. Eu não tenho enfeites suficientes – nem paciência – para preencher o meu pinheiro, que era no mínimo vinte vezes menor que aquele.

— A do salão de festa é bem maior. – Ollie me contou com sua empolgação aflorando ainda mais, e lhe dei um sorriso, finalmente.

Eu não estava assustada. O ambiente natalino ao extremo não permitia isso, nem o cheiro de chocolate quente e pão doce que estava aferrado ao salão, nem a música instrumental de natal que tocava ao fundo, e nem as belas lareiras e os duendes alegres de forma tão sincera permitiam. Tudo era tão incrivelmente bondoso e bonito, um tipo de lugar que se quer ficar para sempre.

Cheguei à conclusão de que ninguém ali daria a resposta que eu queria – pelo menos não por enquanto –, então simplesmente tentei entrar no espírito da coisa. Sonho ou não, seria bom que nas minhas recordações eu não estivesse com uma imensa carranca o tempo todo.

Acompanhei os dois até uma das grandes mesas de madeira presente no salão, onde uma casa de bonecas bastante moderna esperava por nós. Segundo Otto, precisávamos apenas fazer alguns ajustes nela e terminar de pintar algumas coisas.

Era engraçado observá-los trabalhando, sempre muito perfeccionistas. Em poucos minutos percebi que Otto era o mais centrado, o que falava menos, enquanto Ollie era o verdadeiro oposto, sendo brincalhão e falante. Talvez isso se refletisse em suas roupas, como: Verde seriedade e vermelho alegria.

— Por que eu estou na Oficina do Papai Noel? – insisti mais uma vez, dosando o tom de voz enquanto pintava uma das paredes. – Achei que apenas seres mágicos viessem para cá.

Surpreendentemente, eles me deram atenção e Otto se pronunciou.

— Essa conversa é com o Papai. Por enquanto, você só precisa saber que é a Assistente Especial desse ano.

Assenti e decidi que não insistiria novamente. Uma coisa a mais ou a menos fazendo sentido não faria diferença alguma.

Quando terminamos com a casa e começamos a trabalhar em uma mini-estação de trem completa, uma outra dupla de duendes veio nos ajudar: Annie e Maggie. Consegui confirmar tinha teoria das cores assim que Annie, a de verde, fez sua primeira reclamação sobre adultos como eu ou algo do tipo.

— Acho que vai gostar de saber quem pediu isso. – Ollie me cutucou, entregando-me um envelope, que não me era estranho.

Abri com cuidado, esboçando um sorrisinho assim que notei o nome “Gabriel Rocha” no canto da folha. Na carta, ele garantia que fora um bom menino e pedia um “trenzinho bem bonito, se desse”. Ri da forma despretensiosa com que ele achava que estava pedindo o presente.

Mas, falando e bom menino...

— Como vocês sabem se a criança foi boa ou má? – não resisti.

Francamente, descobrir isso por meio de uma cartinha era ingênuo demais. Uma criança nunca se incriminaria.

— As fadas nos contam. – Maggie me respondeu,ajeitando um trilho torto. Me estiquei para ajudá-la. Claro, fadas entrariam na história também. – Cada criança tem a sua. Quando os pequenos fazem algo ruim e não se arrependem, mesmo com a repreensão das fadas, elas passam seus dados e essas crianças não ganham mais presentes do Papai Noel até se tornarem melhores de coração.

Então essas fadinhas andavam do lado das crianças, hum? Então...

— Por que não conseguimos vê-las? – confesso, eu estava os testando. Talvez devesse apenas ficar quieta, mas, para não haver questionamentos, precisava de respostas.

Os quatro abriram um sorrisinho, olhando um para o outro de forma marota.

— Só vê quem acredita. – ela continuou. – As crianças conseguem enxergá-las e ouvi-las sem dificuldades, e gostam das fadas. E os humanos, como não as vêem, as nomeiam como “amigos imaginários”, ou algo do tipo.

Amigos imaginários eram na realidade fadas que existiam de fato? Tentei não retroceder, duvidando daquilo. Testei o som do trenzinho.

— Não entendo os adultos. – Annie resmungou. – Preferem acreditar que os filhos conversam sozinhos, e não com fadas.

Os ajudei a guardar o conjunto do trem numa grande caixa dourada com um imenso laçarote vermelho, e Ollie me entregou um adesivo de estrela para que eu o colasse na tampa. Se olhasse com bastante atenção, sob um local bem iluminado, dava para ver, em letras douradas um pouco mais claras que a própria estrela, a palavra “Assistente Especial”. Sorri para isso. De certa forma, ajudei a fazer o presente de Gabriel, e talvez ele fosse capaz de imaginar isso.

— Não me lembro de ter conversado com fadas, na infância. – comentei, retomando o assunto.

— Mas conversava. – disse Ollie, virando-se para mim, quase deixando uma das pontas da caixa cair. Annie e Maggie tiraram a caixa das mãos dele e a levaram para outra sala. – Clairy adorava você! Te chamava de Cachinhos Dourados.

— E então você cresceu – Otto prosseguiu –, começou a desacreditar, e Clairy deixou de existir. É sempre assim. – suspirou.

Por alguns instantes, me senti mal por aquela fada e pelas outras que deixaram de existir. Eu realmente tinha uma amiga imaginária chamada Clairy, que era bem pequena e de cabelos roxos. Mas com nove anos meus pais me disseram que já estava ficando grande demais para continuar com aquela brincadeirinha infantil, e então parei. Coincidência ou não, naquele mesmo ano parei de pedir presentes ao Papai Noel.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é só. Amanhã eu posto o restante! Espero que tenham gostado! Comentem, pois isso incentiva muito o autor.
Até amanhã! Beijinhos!



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