Tenha uma boa vida sem mim escrita por BluexMonday


Capítulo 1
01




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Percorro as ruas da cidade freneticamente, sem propósito, até que me deparo com as luzes da aeroporto. Sinto o sabor da angustia na ponta da língua. A brisa dispara contra meu cabelo e o tempo para. E eu começo a me questionar se mereço esse lugar. Quem sou eu? Aposto que você, amigo, não quer uma resposta vaga, nem clichê. Eu sei disso, porque é fácil ver alguém, bem na sua frente, omitir cada fragmento de si mesma. Somos como icebergs, parte submersos debaixo d'água, parte expostos. Você só descobre que está correndo perigo, quando sua percepção é enganada pela frágil e inofensiva ponta do iceberg.

 Observo os errantes, que vem e vão, e decido que quero ser um pouco mais como eles. Ajeito o casaco, o cachecol está me sufocando, tento afrouxá-lo, mas o frio me faz mudar de ideia no mesmo instante. O celular vibra, é Jess.

— Oi...

— Maya? Aonde você está? Eu estou ligando para você desde ontem? Volta para casa...

— Jess, tudo bem, eu estou bem.

— Fazem dois dias, se você quer espaço, é só dizer, droga!

— Não, não é isso.

— Olha, que seja, o Stavo veio te procurar, disse que você não estava, só fala com ele, tá? Tchau. 

 Gustavo e eu somos amigos desde a infância, ele era o único garoto que não se importava em ser melhor amigo de uma garota, sem qualquer vestígio de segundas intenções. E agora, nossa amizade foi infectada.

 Agir como uma granada, é isso que pessoas como eu fazem, é isso que pessoas como Rebeca, fazem. Destruímos vidas, as nossas e a dos outros.

 Vou até uma cabine, a senhora me encara por alguns minutos, tentando decifrar o que eu quero.

— Você precisa de alguma coisa? — Pergunta.

— Uma passagem, para Pinhais, por favor.

— Temos um avião, para amanhã de manhã, seus documentos, moça.

— Preciso ser rápida, tem algum voo hoje à noite?

— Por enquanto não...

 Me afasto aos poucos e percebo que não tem como fugir, ir embora agora, não muda nada. Não quero deixar Jess, nem esquecer o que houve comigo e com Rebeca naquela noite. Então me sento, perto de um homem de terno, com olhos escuros e cabelo grisalho.

— O clima está cada vez mais instável, não é? Calor, frio, muito frio. Nunca se sabe. — Múrmura, com um sorriso frouxo nos lábios enrugados e secos.

 Dou um breve sorriso, ele se levanta e se despede com um pequeno aceno.

***

 Meus dedos estão congelados, sinto as bochechas e nariz vermelhos e a boca ressecada, me levanto para ir embora, mas sinto as minhas pernas perderem os sentidos. Eu travo totalmente.   É como se eu estivesse presa dentro do meu próprio corpo, estagnada. E ninguém percebe, ninguém tenta me ajudar. Minha respiração está falhando cada vez mais. Então eu olho em volta, procurando alguém para me apoiar, mesmo com as vistas embaçadas, com as mãos trêmulas, toco em um desconhecido, que a pouco estava de costas. Ele se vira para mim, e põe a mão no meu ombro e me pergunta se estou bem. Algo nele me parece tão familiar, que me faz recuperar os sentidos.

— Estou, obrigada, eu estava tentando me apoiar em alguma coisa, desculpe.

— Tudo bem, primeira vez de avião? Isso acontece com mais frequência do que você imagina.   Mas posso te acompanhar até a enfermaria, eles vão te dar alguma pílula salvadora.

— Não, não precisa, o que quer que tenha sido, já passou. — Sorrio.

— Maya, né? — indaga.

— Como, co-como você sabe? — Pergunto, preocupada.

— Ei, calma, seu crachá — responde ele, apontando na direção do meu crachá.

— Ah, claro! Meu crachá. — Digo, desajeitada.

— A propósito, sou Thomas, prazer.

 Ele estende a mão para me cumprimentar e nós dois nos sentamos novamente. 

 


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Notas finais do capítulo

Primeiro capitulo, espero que goste ♥



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