Lux et Nox escrita por Zatanna


Capítulo 1
Capítulo Único — Luz e Trevas


Notas iniciais do capítulo

Não há palavras que possam traduzir sentimentos, mas ainda tentamos.



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Uma sombra devastadora dançava a sua volta, Rey encarava aquele brilho negro e indecifrável com singela preocupação. Aos poucos, em seu bailar aéreo, a pequena névoa de sombra pura se transformava e, mais lentamente ainda, a forma foi se decifrando.

Ela poderia conhecer, como bem sabia que sim, muitas peças de naves, muitos objetos que somente se encontrariam no lixo – a maioria deles, quebrados e sem solução aparente. Aquela sombra, no entanto, trazia-lhe algo tenebroso, sentia em seu âmago, porém, ao mesmo tempo, carregava-a com um sentimento profundo no coração e um gosto na boca de que tinha jeito, que tudo podia ficar bem.

Quando, em seu sonho, vislumbrou o corpo esguio de Ben Solo, ela sabia que – de alguma forma –, ao menos em seus sonhos, luz e trevas poderiam ser somente um, sem se preocuparem com performances ou política. Ali, naquele pequeno espaço de sua mente, havia equilíbrio, porque eles estavam juntos e não duelavam um contra o outro, não impunham seus ideais em cima do outro.

Ela ousaria dizer que estavam em paz.

Contudo, aquele equilíbrio era somente um sonho passageiro, ela sabia bem o que lhe aguardava no mundo real, com seus amigos e as pessoas que não se importavam que outrora tivera sido catadora de lixo, ela era parte da resistência, ela era parte do que havia restado dos Jedi.

Ele era a parte do que havia restado dos Sith. Entretanto, naquele instante em que realidade não importava de fato, Ben era somente Ben. Não havia Kylo Ren, nenhum cavaleiro que empunha um sabre de luz vermelho e se oferecia a raiva a cada instante, a cada mirada. Ali, havia somente o menino-homem que tinha implorado que ela ficasse ao seu lado e que deixasse todo o passado para trás, não com um ideal corrupto, mas como um apelo, uma quase oração por salvação.

Você não é nada para eles, mas é para mim.

Aquele sussurro breve ainda mexia com sua mente e fazia com que seu estômago entrasse em reboliço, mesmo que não desejasse admiti-lo nem para si mesma. Ela ainda queria chorar e rogar para que ficasse ao seu lado – para que não se corrompesse com seus próprios medos. Ela tinha esperança. Ela sabia que deveria ter esperança.

Rey não entendia muito bem as sensações corruptas que sentia com aquelas palavras que ele proferira, os sentimentos que nutria e toda a ideia de que tudo ficaria bem a partiam ao meio, enquanto decidia se aceitava-o ou não em sua mente. Contudo, ainda que recusasse, ela sabia a resposta. Ela ansiava tão fervorosamente que tudo ficasse bem, que ela simplesmente sabia.

A sua ânsia era tão forte que a Força a presenteava com aquele momento singelo em seus sonhos. Ao menos, nos sonhos. Ele era como um príncipe enfeitiçado, que sorria de canto, mas o sorriso não alcançava os olhos; que queria se aproximar, mas não chegava perto nem sequer um centímetro; que tinha a mão estendida, mas não podia tocá-la.

Logo, Rey percebeu que a maldição era bipartida, pois não havia encantamento que somente afetasse um dos dois lados. Eles eram os lados opostos da Força. Quando Ben era atingido, em algum lugar, ela sentia.

O medo dele era tão palpável que alcançava as suas próprias fraquezas; a raiva era tão nítida que se entranhava nos pequenos receios de sua mente. Ela queria salvá-lo. Rey deu dois passos para frente e viu a sombra se afastar dois passos para trás.

Percebeu que a distância não era proposital, somente acontecia. Os seus ideais os separavam, ainda que ela continuasse a caminhar à sua direção, ele se afastava equivalentemente. Em um instante, Rey sentiu um aperto do peito, esmagando algo dentro de si, como se seu coração fosse apertado por uma mão terrível.

Ela o vislumbrou, piscando os olhos em confusão. O rosto – ainda que sorrisse como se estivesse satisfeito – tinha uma expressão triste. Os olhos, como janelas da alma, mostravam todas as sensações, tão dele e tão suas.

Rey sentiu lágrimas escorrerem pelo seu rosto, muito embora estivesse triste, sabia que aquelas lágrimas não lhe pertenciam. De quem são? De quem são essas lágrimas? Questionou-se, secando as bochechas.

Então, por um instante, olhou para a frente e viu os olhos marejados de um menino, que tinha a forma de um homem. Ele parecia completamente com medo, raiva e angústia.

Sem que tivesse percebido suas próprias ações, a menina-mulher, inconscientemente, aproximou-se dele, que abaixava o rosto, o corpo e a alma por puro embaraço. Não havia espaço para dúvidas, dívidas ou denúncias. Não havia espaço para raiva, ódio ou desprezo.

Quando ela finalmente conseguiu alcançá-lo, percebeu que não soube o que tinha feito para chegar até ali. Não soube como conseguiu algo que tanto ansiava, sem qualquer esforço.

Ben levantou o rosto, próximo o suficiente para sentir as lágrimas que ele derramava pelos olhos dela. Cada lágrima caíra no rosto dele. Elas sabiam a quem pertenciam, somente voltavam para o dono original.

Inconscientemente, sentiu sua mão vagar em busca da dela. Ele ansiava, mesmo naquele sonho banal, tocá-la, senti-la e imaginar que ela havia dito sim para sua proposta. Kylo Ren poderia ser um Sith, mas Ben somente queria alguém que estivesse com ele, não queria mais ter que desconfiar, trair ou magoar, só queria estar com alguém igual a ele e que não desejasse fazê-lo passar aquilo tudo de novo.

Ela tinha desistido de tudo, mesmo acreditando que o filho ingrato de Han Solo fosse um monstro. Ao fazer isso, Ben sentiu que ela era alguém. Alguém diferente dos demais.

Ele não queria estar com Rey. Ele precisava estar.

Sentiu os dedos dela tocarem os seus, sem luvas, sem acessórios ou máscaras. Sentiu os olhos que chamavam por seu nome, sentiu a quentura do rosto que clamava por uma conciliação.

Por um momento, ele esqueceu que a Força, Equilíbrio e Ordem existiam. Era somente um sonho e podia fazer o que quisesse. Ele, naquele pequeno espaço de sua mente, poderia tê-la em seus braços.

Ele poderia beijá-la.

Não houve repreensão do seu inconsciente, nem de nenhum homem, mulher ou criança. Não havia Primeira Ordem e nem Aliança Rebelde, nem a raiva ou o medo, pelo contrário, tudo que ele sentia era paz.

Era uma paz estranha, mas era paz. Ela fazia seu coração explodir como se tivesse medo, suar frio como se estivesse com raiva, desejar como se fosse uma fonte de poder. Mas ela não era nada disso.

Ben percebeu que era muito mais quando finalmente encostou suavemente os lábios nos dela. Rey conseguia ser a mais poderosa fonte de poder: a liberdade. Seus lábios eram como o espaço e ele queria explorá-los, ele precisava explorá-los.

Rey teve o que desejava, mas era incapaz de pedir.

Não poderia dizer se, naquele pequeno espaço de sua mente, havia gravidade, porém, ao sentir os braços de Ben enrolados em sua cintura enquanto ele buscava se levantar, pareceu mantê-la no chão.

Mas ela queria se manter no chão? Seu peito queimava, partia e sentia tão profundamente que quase não conseguia respirar. Ela não queria respirar, se isso a proporcionasse a sensação daquele instante.

Os lábios dele continuavam marchando pelos seus como se tivessem sempre habitado por ali, as respirações se encontravam como se outrora já tivessem sido prometidas uma a outra, em um silêncio murmurado. Havia um desespero mútuo galgado pela docilidade e, principalmente, pela fragilidade da relação que eles possuíam.

Ben não conseguiu se conter mais quando a trouxe para mais perto, em um desejo inédito de fundir-se com alguém. Não sabia os motivos que o levaram a sonhar aquilo, mas entendia o quanto ambicionava.

Uma batida suave na porta. Um grito chamando por ela.

 Nesse momento, eles se separaram abruptamente e descobriram que não era apenas um sonho – Luz e Trevas flertavam com a Força.  


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Notas finais do capítulo

Essa história me pertence. Não ao plágio.