Promessas de uma escolha escrita por Tainara Justiniano


Capítulo 5
Capitulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/749860/chapter/5

Clara esperou a madrugada chegar e os pais deitarem para dormir, arrumou a bolsa com o que considerava necessário, dois shorts, uma calça jeans, um casaco, algumas calcinhas, escova de dentes e pasta, o dinheiro que juntara no período que esteve fora e claro, seus documentos. Mandou mensagem para Bernardo avisando que em breve chegaria para passar um tempo hospedada em sua casa e não esperou a resposta, sabia que ele aceitaria.

Abriu a porta do quarto devagar, os pais tinham o sono pesado e o quarto deles ficava longe o suficiente para não ouvi-la, mas tinha que ter cuidado com os funcionários que podiam estar acordados ou serem acordados com qualquer barulho vindo do andar de cima.

Lentamente avançou pelo corredor no escuro, andara tanto pela casa de madrugada durante a infância para assaltar a geladeira, que ainda conseguia andar sem tropeçar ou esbarrar em nada. Saiu pela porta da frente, contente por não ter encontrado ninguém, mas não ousaria ir de carro para a rodoviária, com certeza o barulho acordaria alguém. Iria andando, mesmo que demorasse cerca de duas horas para chegar ao seu destino.

¨Eu não vou casar com um caipira que nunca vi na minha vida, meu pai só pode estar louco, achando que eu concordaria com algo desse tipo, ainda tem a audácia de dizer que não tenho escolha, ele vai ver se não tenho escolha.¨ Clara seguiu caminhando e resmungando na noite escura, não tinha medo dos barulhos que ouvia, sabia que eram de animais que não fariam mal a ela.

Estava tranquila, atravessou toda a área de sua fazenda, sem sentir necessidade de se despedir de tudo aquilo, passou pelas terras do senhor Waldir, observando a enorme casa de madeira ao longe e todas as árvores que a rodeiam, parecem monstros no escuro, pensou. Quando terminou de atravessar o terreno dos Mendes, olhou no relógio e percebeu que já havia andado umas meia hora. Mais dez minutos e sua tranquilidade em andar sozinha no escuro foi embora.

Ela ouviu o barulho de alguém pisando nas pedrinhas da estrada vindo em sua direção, um caminhar tranquilo, sem pressa, sinal de que não era alguém a sua procura, mas ainda assim, preocupante. Pensou em correr para trás de alguma árvore e se esconder, mas agora estava na área em que as árvores ficavam distante da estrada, não daria tempo e mesmo que fosse possível, já não valia mais a pena. A uns 50 metros dela um homem apareceu na escuridão.

Ele era grande, ela podia perceber a medida que se aproximava, coisa que não a ajudava muito a manter pensamentos ruins longe de sua mente. Ela queria correr, mas seu corpo parecia não querer respeitá-la, quando finalmente seus pés pareceram voltar a vida, ela ouviu uma voz grossa cortar o silêncio.

—O que está fazendo por aqui uma hora dessas? Quem é você?

Ele agora estava próximo o suficiente para ela conseguir ver suas feições. Aparentava ter uns 23 anos, cabelos escuros, olhos incrivelmente negros, rosto quadrado, lábios grossos emoldurados por uma barba sem falhas, tinha um corpo largo e era alto. Não havia como negar que era bonito, até mesmo Clara, que estava tremendo de medo, conseguiu pensar nisso no momento em que o viu.

—E-eu me chamo Ana, sou uma das empregadas da fazenda dos Buarques.

Clara não ousaria dizer ao rapaz quem era de verdade, sabia que o pai não era exatamente querido naquela cidade e não iria brincar com a sorte, não em uma hora dessas.

—Prazer Ana, meu nome é Henrique. -Deu um breve sorriso, mostrando o perfeito alinhamento de seus dentes. -Me diz, o que está fazendo por aqui uma hora dessas?

Clara ficou um pouco mais calma com a presença de Henrique, ele não parecia ser alguém ruim, mas ainda assim, continuou alerta.

—Estava sem sono, resolvi dar uma caminhada.

—Mas está um pouco longe, não acha?

—Perdi a noção do tempo.

Ele a analisou dos pés a cabeça, viu seus longos cabelos castanhos, seus olhos com um tom claro até mesmo na escuridão, não conseguiu ver as sardas espalhada acima das bochechas e do nariz, mas reparou no nariz pequeno e na boca miúda, que combinavam com seu rosto e corpo igualmente pequenos. Parece uma fada, ele pensou. Não deixou de notar a bolsa pendurada em seu ombro, achou estranho, mas preferiu não perguntar sobre ela.

—Eu vou acompanhar você de volta a fazenda, isso não é hora de andar sozinha, mesmo em uma cidade pacata como a nossa, coisas podem acontecer.
Clara não esperava por isso, queria que ele seguisse o rumo dele e não resolvesse dar uma de cavaleiro.

—Não, não precisa, não quero dar trabalho.

—É meu caminho, não vai ser nenhum trabalho.

Clara respirou fundo, não sabia de que maneira podia tirá-lo da sua cola, também não queria que ele soubesse que seu caminho era contrário ao da fazenda. Com certeza ele não aceitaria a desculpa de que ela ainda andaria mais um pouco antes de voltar e mesmo que aceitasse, ele se ofereceria para andar com ela. A expressão dele deixava claro que não a deixaria ali sozinha. Não teve opção senão aceitar sua proposta, deixaria a fuga para o dia seguinte.

—Tudo bem, então vamos.

Caminharam em silêncio por um bom tempo, Clara estava sem graça e um pouco puta com a situação. Já Henrique, bom, o silêncio não era incômodo e ele não era muito bom em manter conversas só pelo bem da convivência.

—Até que enfim ela apareceu.

Ele falou de repente, dando um susto em Clara, que estava perdida em seus pensamentos. Eles já tinham atravessado toda a fazenda dos Mendes e estavam na metade do terreno de Waldir.

—Ela quem?

—A lua, eu saí para vê-la, é dia de super lua hoje, olha como está linda.

E realmente estava, uma enorme lua cheia com um tom amarelado começava a aparecer por entre as nuvens a frente deles. A estrada de terra ficou iluminada, a enorme casa de madeira com os monstros a volta dela, tornou-se encantadora com as árvores coloridas. O enorme lago que ficava em frente a todos os sítios e que antes era um completo breu, agora refletia a lua. Henrique estava com um semblante sério enquanto olhava para a lua, seu rosto iluminado por ela ganhara um ar sombrio e Clara, mesmo sabendo que deveria sentir medo, sentiu algo diferente. Não era uma atração simplesmente, mas algo que ela não sabia nomear.

—Realmente, está muito bonita! -Henrique apenas sorriu ao ouvir o comentário.

Esse foi todo o diálogo que os dois tiveram durante todo o caminho. Henrique parecia completamente absorvido pela lua e a maneira como ela iluminava tudo a volta deles e Clara não sabia um modo de manter um diálogo sem entregar quem realmente era, então preferiu manter-se em silêncio. Quando chegaram na casa, ele a levou até a porta, desejou boa noite e pediu que ela não ficasse andando sozinha de madrugada por aí. Clara agradeceu a companhia e acenou enquanto fechava a porta.

Essa noite, ela sonhou com ele


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaria de saber o que estão achando.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Promessas de uma escolha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.