O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 2
Chocolate




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— James, não lhe dê estas porcarias. – Protestava o sonserino.

Deslaçando os dedos do pequeno, pegou a saborosa barra de chocolate ao leite e arremessou ao lixo.

Desacreditado, Harry começou a chorar.

Indignado perante o péssimo comportamento, Severus erguia o dedo indicador, na tentativa de discipliná-lo:

— Não chore, Harry. Harry! Não! – Inútil. O menino chorava ainda mais, como se houvesse perdido um ente querido. – Isto só faz mal, Harry. – Quase clamando por ajuda. - Por Merlin, se você continuar chorando, eu... Eu...

— Vai tirar pontos da Grifinória? – Brincou James, recolhendo a criança no colo. Sentando-se na cadeira, pedia com ternura. – Calma, Harry.

— Ele tomou meu chocolate, pai.

— Eu vi. - Lançando um falso olhar zangado para a contraparte, o qual indignou-se diante o inapropriado julgamento, segredou. – Sabe porque ele fez isto, Harry?

Cessando o choro por alguns segundos, os marejados olhos esverdeados fitavam o homem próximo a pia. Aquela figura sinistra sempre trajando vestes negras junto aos olhos tão fixos e vazios, expressavam um convite perfeito para inimigos.

— Porque...  - Deitando a cabeça no ombro do pai, levou as mãos ainda sujas de doce até os lábios, alfinetando de modo inocente. - ... Ele gosta de deixar as pessoas tristes. 

— Eu não acredito! – Indignado, desistia daquela casa.

Recolhendo a colher de madeira, começou a mexer a panela que borbulhava tão enfurecida quanto a ele.

Harry era uma criança mimada e o maldito Potter o estragava cada vez mais.

Segurando a risada, James buscava transparecer seriedade para mudar aquela ideia, por mais que fosse engraçado presenciar o amante possesso, resmungando sobre “ter aprendido com o mestre dos marotos”.

— Quem disse isto para você, Harry?

— O tio Sirius. – As palavras vacilavam. Ocultando o rosto contra o pescoço do pai, buscava fugir daquele terrível olhar pairando sobre si. Sentindo-se um pouco mais protegido, segredou baixinho. – Ele disse que o Sev é malvado e que gosta de deixar as pessoas tristes.

James suspirou entristecido.

Pelo visto, os amigos jamais superariam aquela cisma. Especialmente Sirius.

— Mas, pai... – Antecipando-se sobressaltado, interpunha. - Eu disse para o tio Sirius que o Sev não me deixa triste sempre. – Arregalando os olhos, contava animado. - Ele até me deu um livro sobre como voar e pediu que eu lesse, pois me ensinaria na primavera. – Magia...? Percebendo o erro, prosseguiu encabulado. - Eu sei que você não gosta de magia, mas não brigue com ele. Eu não quero que ele vá embora como a mamãe.

Apesar do aperto no peito, o bruxo sorriu com carinho para o atrapalhado namorado lutando contra as panelas do fogão. Cozinhar de modo trouxa não era sua especialidade, todavia sempre teimava sobre não precisar de um elfo doméstico.

E, embora inicialmente contra, Snape tentava aderir ao máximo daquela vida trouxa conforme o pedido de James, buscando despistar a possível ameaça ainda presente.

O lorde das trevas havia explodido quando adentrou a casa Potter no Halloween, buscando assassinar aquela família cuja profecia designava uma ameaça. Apesar disto, a ventania cruzando esquinas comentava acerca seu retorno.

Uma alma cruelmente fragmentada em diversas horcruxes, dificilmente desapareceria. Por isto, tanto seus seguidores como opositores caçavam cada um destes objetos para...

Assim, James evitava o uso de magia próximo de casa, na tentativa de não chamar atenção, treinando o pequeno para conseguir viver como os demais humanos, se necessário.

Afastando-se, poucos sabiam onde estavam e até comentavam sobre sua morte após o incidente.

Trabalhando no departamento secreto do ministério da magia, na pior das hipóteses, pensava em renegar ao legado bruxo somente por segurança e mudar-se de cidade, país e até de planeta.  

Sim.

Fugir não era a opção sensata, mas temia perder o filho naquela guerra.

Diante o silêncio, Harry insistiu:

 Por favor...

— Eu não vou brigar, Harry. E... Ele não tinha a intenção de te deixar triste. – Pontuou. Puxando outra cadeira da mesa, colocou a criança. Ajoelhando-se a sua altura, explicou. – É porque se você comesse todo o chocolate, perderia a fome para o jantar. Deste jeito, você não conseguiria ficar forte para voar na primavera. – Segurando as mãos sujas dentre as suas, assegurou convictamente. - Ele só estava pensando na sua felicidade, Harry.

— Felicidade? – A palavra tão grande aparentava legal. O pequeno riso no rosto inchado, admitia. – Eu gosto dele, pai. Parece que ele sempre está planejando algo legal para a minha... – Piscando os verdes olhos para os acastanhados, repetia a descoberta palavra. – Felicidade?

Desligando o fogo, por mais que os dois conversassem baixinho, Snape escutava.

Ás vezes, questionava acerca do que fazia ali? Por que retornava? Quase todas as noites, James cozinhava e eles jantavam fingindo ser uma espécie de... família?

Largando a colher de madeira sobre a pia com certa raiva, valeria a pena destruir aquilo por causa do medalhão?

Sim.

Valeria.

Uma questão de fidelidade, contudo..., contudo, estava confuso. Faltava apenas três artefatos. Um - paradeiro desconhecido. Dois – poderia ser encontrado a qualquer momento. E o terceiro - aquela maldita joia.

Fechando o punho, deferiu um leve soco contra a pia, buscando extravasar o crescente sentimento lhe cambaleando a razão.

Aproximando-se, James lhe tocou a omoplata com carinho, desmoronando ainda mais suas convicções.

Vagamente preocupado, ele perguntou naquele conhecido tom de brincadeira, o qual o sonserino detestava adorar:

— Se queimou novamente, meu amor?

— James, pare. – Desvencilhando do toque, colocou-se de frente a contraparte.

O cenho franzido.

Os olhos transpareciam o sofrimento tão dissimulado pelo frio comportamento.

Felicidade?” O grifinório nem compreendia o significado daquela palavra e explicava ao filho com facilidade.

Francamente...

No entanto, pelo Harry, por eles... Não seria justo se... Criando coragem para fitá-lo, interpôs com extrema dificuldade:

 – Eu... - Embora os lábios houvessem articulado algo, ao sentir um ardor no antebraço esquerdo, optou pelo silêncio.

Novamente, convocado.

A lealdade em jogo.

Cabisbaixo, fechou os punhos em ódio por...

— Severus...

— Preciso de todo chocolate de vocês. – Quase desesperado, Sirius adentrava a cozinha, já abrindo os armários.

Imediatamente, Harry pulou para pegar a vermelha barra que havia escorregado ao chão.

Antes da primeira mordida, o recém-chegado tomou, reclamando:

— Não, Harry. Este chocolate já tem dono.

— Poxa, tio! – Desconsolado, os olhos marejavam outra vez. Todo chocolate parecia condenado a desaparecer após algumas mordidas.

— Não. Este é para o tio Lupin e nem adianta chorar. Não podemos ter tudo nesta vida, pequeno.

— Boa noite também, Pad. – James cumprimentou, um tanto intrigado pelo comportamento do amante. Assim como a Ordem caçava os artefatos, tinha certeza que... Não. Não queria pensar nisto. Não queria tocar naquele assunto. Meneando a cabeça para dissipar a preocupação, foi até a geladeira, pegando algumas verduras enquanto provocava o invasor. – Não sabia que já tinha a chave da minha casa?

— Desta vez entrei pela janela, vizinho. – Retrucou, erguendo a sobrancelha surpresa ao notar o “ilustre convidado”. O que aquele cínico fazia ali? Dando uma mordida na barra capturada do afilhado, alfinetou. – É meu dever verificar que tipos de visita você vem recebendo. Afinal, comensais não desertam.

— Eu não vou permitir que... – Abandonando a faca sobre o balcão, James foi parado pela mão em seu ombro, num silencioso pedido para não se alterar.

— Estou brincando, James. – O forçado sorriso. - Todavia, serpentes são traiçoeiras. Elas se aproximam e ficam aguardando o momento certo para atacar.

Diante a ofensa, Snape revirou os olhos. Não reclamava, aquilo era bom para lembrar o seu dever com o mestre das trevas e seus semelhantes. Ele jamais seria reconhecido dentre aqueles... Leões? Destinos separados por um mero parecer do chapéu seletor?

— Chega, Sirius...!  

— Chega? Ainda não sabemos quem dedurou sua localização da última vez, por isto, não compreendo porque continua... – Desviando o olhar, recusava-se a acreditar.

— Dormindo com o inimigo? - Dando de ombros diante a cólera presente nos olhos acinzentados, Severus não pode deixar de esboçar um mínimo sorriso saturado em ironia. — Não se preocupe, Senhor Black. – Após recolher os livros sobre a mesa, despediu-se, avisando. – Eu lhe garanto que traidores não se restringem a um grupo. E só pode existir um rei entre os leões, não é?  

— Severus, onde está indo?

— Tenho uma reunião.

— São 11 da noite. – Não obteve resposta.

Apenas a fumaça de pó de flu deixava toda a sala verde.

— Você não deveria...

— Obrigado, Sirius!


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