Mei segurou a caneca fumegante de café com ambas as mãos e se acomodou mais no sofá. Não tinha palavras para descrever o quão grata era por Winston tê-la acolhido em

 Gibraltar após seu despertar, mas... Se fosse confessar, ela estava apavorada. Parecia que seu coração iria saltar de sua boca, e Mei não sabia o que fazer a respeito dessa sensação. Ela amava a neve, amava os sorrisos que o Natal trazia, amava o acolhimento que a data representava. Mas aquele era o primeiro Natal em décadas que passava sem seu time... sem sua família.

Em seu colo, Snowball aconchegou-se reconfortantemente, como se pudesse ler os pensamentos da garota.

— Você sente falta deles, não sente, Snowball? – Mei acariciou o pequeno, em resposta recebendo um som que ela interpretou como um soluço. Sorriu tristemente. – Eu também... Eu também. Pelo menos eu ainda tenho você, garoto.

Snowball era seu tesouro, simplesmente. Mei ainda sentia náuseas todas as vezes em que lembrava do sacrifício que o amigo tinha feito para que ela pudesse sair do Ecoponto. Ela não tinha palavras para expressar o quanto a presença dele significava. Não queria perdê-lo de novo.

Ainda acariciando-o, olhou ao redor. Depois da dissolução da Overwatch, o observatório em Gibraltar tinha sido abandonado. Mas, com o plano de Winston de reunir o máximo de pessoas possível para reviver a organização – ou pelo menos o desejo de fazer a diferença no mundo –, lentamente o lugar voltava à vida, servindo de abrigo para qualquer um que o procurasse (embora os únicos moradores fixos fossem Mei, Winston e Snowball).

A vida para a qual Mei acordou era totalmente nova. O mundo estava um caos – principalmente para os antigos membros da Overwatch –, e o que a mulher podia fazer era analisar todos os dados reunidos naqueles nove anos em que esteve hibernando. E ela o fazia, religiosamente, todos os dias. Com exceção, é claro, daquela manhã de Natal, na qual Mei se deu o direito a fazer uma pausa, e apenas... sentir.

Bebericou o café, já não tão quente graças ao contato de suas mãos geladas, enquanto encarava a pequena árvore de Natal que Winston montara em um canto, parte do projeto de deixar o observatório mais próximo de ser um lar.

Ouviu o som da porta se abrindo, e endireitou-se no sofá. Os passos pesados eram com certeza pertencentes a Winston.

— Já está de pé, Mei? – o gorila cumprimentou-a. Até aquele dia, conhecendo-o por mais de uma década, a mulher não ousara perguntar onde ou como ele dormia. Mas tudo bem, ele tinha lhe emprestado um sofá e uma casa, então sem reclamações da parte de Mei. – Feliz Natal, Mei. Feliz Natal, Snowball.

— Feliz Natal, Winston – Mei repousou a xícara no braço do sofá e correu para abraçar o gorila, deixando por um instante, suas preocupações de lado.

— Fico feliz em te ter por aqui – ele disse. – Como você está?

A pergunta fez Mei dar um passo para trás e rir desconfortavelmente.

— Na medida do possível, estou bem. – Winston definitivamente sabia o que estava passando pela cabeça da mulher, e a puxou para outro abraço.

— Imaginei que isso aconteceria – ele disse suavemente. – Seu presente já vai chegar.

Isso pegou Mei de surpresa.

— Ai meu Deus – exclamou, quase choramingando. – Winston, eu não comprei nada pra você! Eu não achei que a gente fosse celebrar assim, me desculpa! Desculpa, desculpa.

Winston sorriu diante do desespero da amiga.

— Calma, não é esse tipo de presente – corrigiu. – Eu sabia que você ia entrar em pânico assim, então não comprei nada, mas ao invés disso... Ah, acho que aqui está.

Ele se virou na direção da porta, e Mei e Snowball se entreolharam, para então acompanhar o olhar do gorila, com curiosidade.

A princípio, não viram nada. Então Mei captou um flash de luz com o canto de olho, e de repente...

— Mei! Feliz Natal!!

Mei na verdade sentiu como se fosse explodir, tão fortes eram os braços de Lena a seu redor. A pequena gargalhou, ainda pendurada no pescoço de Mei.

— Winston nos chamou pro almoço de Natal! – anunciou. Almoço de Natal?— Tivemos que vir, é claro!

Mei sorriu para a garota, se virando para cumprimentar Emily.

— Feliz Natal – disseram. A esse ponto, o sorriso de Mei era tão grande que ela sentiu que ia rasgar seu rosto. Fitou Snowball, e sorriram juntos.

Winston ajeitou seus óculos.

— Angela e Fareeha também estão a caminho. Hana não pôde vir, mas ela também desejou um feliz natal – ele disse e Mei praticamente pulou nas costas dele.

— Obrigada, grandão.

E ela realmente queria dizer isso. Porque sério, ela tinha acordado antecipando um dia sombrio e doloroso, mas Winston já tinha feito ela acordar com um sorriso gigante, e com a certeza de que ela tinha uma nova família. Não que ela fosse se esquecer de seu antigo time, mas ela se permitiria viver de novo, carregando eles pra sempre consigo.

E ela só tinha a agradecer por poder passar o Natal assim.