Heartless escrita por unicornic


Capítulo 2
Believer




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Sirius Black havia escolhido uma suíte mediana. Não era em um dos primeiros andares do enorme edifício La Rose, mas também não era em um dos mais altos, onde os quartos passavam a ser chamados de “VIP’s”. O cômodo tinha uma decoração branca e floral que, junto a luz que entrava pelas duas janelas pequenas atrás da televisão, deixava no ar uma sensação deliciosamente reconfortante.

Black estava atirado sobre a enorme cama de casal, que era, provavelmente, a coisa mais fofa que ele já havia tocado. Seus cabelos na altura dos ombros estavam bagunçados e espalhados desordenadamente pela colcha. Seu peito desnudo subia e descia lentamente e seus olhos fechados deixavam que a mente dele voasse para lugares muito distantes. Havia sido uma longa viagem e tudo o que Sirius queria era um momento para descansar. O seu trabalho de pesquisa poderia começar no dia seguinte. Aos poucos, a escuridão que ele via foi sendo substituída por imagens inicialmente desconexas do seu dia e, por fim, se tornou uma cena já conhecida por ele.

Sirius estava na entrada no saguão do hotel. No entanto, diferentemente do que ele havia vivido, o local estava vazio. As luzes estavam quase todas apagadas, salvo alguns abajures de lâmpadas amarelas sobre criados mudos ao lado de sofás chiques. Black sentia um frio terrível se chocar contra todo seu corpo, fazendo até mesmo suas costelas tremerem. Ele procurou por todo o lugar de onde vinha aquela rajada de gelo que sentia, mas não encontrou nada. Quando enfim voltou o seu olhar para frente, viu um rapaz muito parecido com ele, apenas um pouco mais novo, atrás do balcão da recepção.

— Sentiu minha falta, irmão? — ele perguntou, com os olhos obsidiana tremulando fixamente em Black.

— Regulus — arfou Sirius, assombrado com a aparição à sua frente, sem saber se deveria manter distância ou aproximar-se e abraçá-lo com toda força. — O que está fazendo aqui?

— Este hotel… Você não está seguro aqui — disse Regulus, sem mover um músculo atrás do balcão. Era como se ele fosse um espectro incapaz de mover seus braços e pernas, apenas tendo aquele olhar intenso e a voz fantasmagórica para se expressar. — Vá embora o mais rápido que puder. Vá embora. Vá embora. Vá embora.

De repente, todo o corpo de Sirius começou a tremer e ele sentiu como se estivesse sendo tomado por uma força sobrenatural muito ruim, que fazia o seu estômago se revirar. O desespero cresceu em seu peito, a medida que as sensações de sufocamento aumentavam. A voz de seu irmão continuava repetindo aquelas palavras sem cessar, apenas intensificando o tom, tornando-o mais urgente. Regulus estava deixando-o nervoso. Sirius precisava fazer aquilo parar.

— Regulus! O que você está dizendo? — gritou Sirius, com toda a força de seus pulmões, mas era como se a sua voz não tivesse passado de um sussurro. Regulus não se importou com o desespero de Sirius e continuou repetindo as mesmas palavras, como se fosse um robô, condicionado a dizer aquilo para todo o sempre. — Pare, por favor! Eu não aguento mas! Eu não aguento mais!

Lágrimas quentes escorriam pelo rosto de Black e as suas pernas já não podiam mais sustentar o peso do seu corpo, então ele caiu, sentindo os seus joelhos chocarem-se dolorosamente contra o chão. Seu cérebro já não conseguia pensar em nada e ele apenas gritava, implorando para que Regulus parasse de dizer aquelas coisas.  

Até que um som alto e repetitivo ecoou por todo o saguão e Black abriu os olhos rapidamente, vendo-se novamente deitado na cama do seu quarto no hotel. A sua respiração, antes tranquila, agora estava agitada e ofegante; seu rosto suava frio e as suas bochechas estavam molhadas com lágrimas. Black sentou-se no colchão com dificuldade e olhou ao seu redor. Estava de fato dentro de seu quarto. Uma sensação de segurança tomou-lhe e ele passou a tentar normalizar seus batimentos cardíacos. Havia sido um sonho louco, mas ele sabia o que havia causado-o.

O som alto e repetitivo continuava ecoando no quarto e vinha do notebook dele, que estava sobre a escrivaninha ao lado da televisão. Ao olhar naquela direção, Sirius viu o Skype aberto e o nome “R.A.B” brilhando na tela, abaixo de uma foto antiga do seu irmão mais novo. De repente, a mesma sensação sobrenatural que Sirius havia sentido no sonho voltou, mas ele obrigou o mau pressentimento a ir embora. Não era lógico sentir aquelas coisas. Havia sido apenas um pesadelo e nada mais.

Cambaleando, ele levantou-se da cama e aproximou-se do notebook. Black franziu o cenho e respirou fundo antes de sentar-se na cadeira. Por que seu irmão estaria ligando para ele? Regulus não havia jurado que jamais falaria com ele, se ele fosse para o La Rose sem sua companhia? Sirius clicou no botão verde que iniciava a chamada e, depois de alguns segundos de tela preta, a imagem de má qualidade do irmão apareceu em tela cheia. Black soltou um risinho nasalado. Era um pouco cedo para se arrepender das palavras ditas há menos de 24 horas.

— O que faz você quebrar seu juramento? — perguntou Black, deixando suas costas descansarem na cadeira, enquanto tentava fazer uma pose despreocupada para esconder seu verdadeiro sentimento de saudade profunda do irmão.

— Mãe — foi a única palavra dita por Regulus, que mantinha o rosto seriamente fechado, com tom de descontentamento e irritação. — Ela se preocupa com você. Eu sei que ela se preocupa.

— Não. Ela não se preocupa — respondeu Sirius, percebendo em Regulus qualquer coisa que não o deixava falar a verdade. Depois que Walburga descobriu nas coisas de Sirius suas ligações com pesquisas do sobrenatural, ela imediatamente amaldiçoou-o e cortou suas relações com ele. Como uma cética nata, ela pensava que o seu próprio sangue aceitando uma possibilidade como a existência de seres mágicos era como um atestado da burrice completa. Mas Sirius não queria lembrar mais dela. Não quando seu trabalho estava tão próximo de ser comprovado. — Por que você está me ligando?

— Você está certo. Ela não se preocupa — confessou Regulus. — E isso me enfurece! — irritou-se de repente, dando um soco na mesa que balançou a câmera do Skype. Sirius apenas arregalou os olhos, surpreendendo-se com a reação repentina. — Quero dizer, ela está tão paranóica depois que você trouxe essa maldição de pesquisa para casa que agora fica me vigiando dia e noite. Eu não tenho mais paz! Até papai entrou nessa loucura. Foi por isso, seu desgraçado, que eu quis ir com você para a Inglaterra. Foi porque eu sabia o que eu passaria aqui sozinho.

— Você não está pronto para trabalhar em campo — respondeu Black, simplesmente.

— Claro que estou! Eu li todos os seus artigos, todas as suas revistas, assisti a todos os seus documentários, acompanhei cada pesquisador e cientista que te levaram a crer no sobrenatural. Eu acredito no que você diz, Sirius — rebateu ele, quase como implorando novamente para ir com o irmão em sua louca viagem. — Mas eu já disse tudo isso a você quando estava aqui na Suíça, não disse?

Sirius não respondeu, apenas suspirou pesadamente e ajeitou-se na cadeira. Já estava farto daquele assunto. Conversar com Regulus nos últimos tempos era como conversar com uma criança que não aceita a decisão dos pais. Sirius sabia o que estava fazendo, ele sabia dos riscos que corria no La Rose, mas Regulus… Regulus era muito jovem para aquele tipo de perigo. Ele achava que sabia o que estava em jogo, mas não sabia.

— Você é um egoísta desgraçado — amaldiçoou Regulus, após longos segundos de silêncio, chamando a atenção de Sirius, que apenas ergueu o olhar para a tela e franziu o cenho, esperando as próximas palavras do irmão. — Você me fez acreditar em tudo isso, me fez querer te defender para a mamãe, você irresponsavelmente trouxe esse maldito trabalho para dentro de casa, para onde nossos pais podiam ver. E depois, quando toda a merda estava feita com eles, você me deixou aqui sozinho para pagar o preço.

— Eu me preocupo com a sua segurança, Regulus! — disse Sirius, firmemente, aproximando-se da tela do computador, pronto para uma briga. Como ele não conseguia entender uma coisa tão simples quanto aquela? — A única coisa que eu quero é que você não se machuque!

— E você tem certeza que isso é para o meu bem? Ou é só para que você não se sinta culpado? — cuspiu Regulus, com um olhar acusador.

Sirius respirou fundo e, pela enésima vez durante aquela conversa, ajeitou-se na cadeira. Ele costumava se mexer muito quando estava nervoso.

— Dane-se, Regulus, não importa o motivo. O que importa é que eu não quero que você sofra e eu morreria por dentro se isso acontecesse. Eu sou responsável por você desde o dia que nasceu e eu sempre serei. Agora chega dessa conversa. Eu tenho coisas sérias para resolver aqui e você sabe — disse Sirius, irredutível e também muito irritado com toda aquela insistência. — Eu tenho que ir. Depois eu falo com você.

Sem esperar uma resposta do irmão, a qual ele tinha certeza de ser em protesto, Sirius clicou no botão vermelho que encerrava a chamada e fechou a tampa do notebook com força, querendo apenas sumir para um lugar onde a sua família não o atrapalhasse no seu trabalho e ele não precisasse se preocupar diariamente com Regulus.

 

— Vamos logo, Doe! — gritou Marlene, a plenos pulmões, cansada de esperar pela amiga. — Você está aí dentro tentando escolher um vestido há séculos.

McKinnon estava sentada em sua cama, em um dos melhores quartos do hotel La Rose, reservado apenas para a família dona do negócio. À sua frente, o seu notebook estava aberto em uma página com uma enorme planilha virtual. Ali, havia todas as suas tarefas do dia para deixar tudo da forma mais perfeita possível para as festas de seu pai. Como sempre, a organizada e dedicada Marlene havia conseguido cumprir todas as missões, exatamente como era esperado dela.

— Calma, Lene! Você precisa estar linda hoje — Dorcas repreendeu, utilizando o apelido carinhoso delas duas.

Marlene respirou fundo e revirou os olhos, mas não podia negar que a amiga estava certa. Aquele tipo de festa secreta do La Rose era famoso no mundo todo, vampiros magnatas de toda parte do globo deslocavam-se até Londres durante aquela semana mágica para participar do que Michael havia sonhado para eles. Aquilo era especial, de qualquer forma, e era a primeira vez que ela tinha oportunidade de coordenar um evento sozinha.

— Tem razão — disse ela, à contragosto, levantando-se da cama e entrando no closet ao lado da porta do banheiro. — O que você tem para mim?

Dorcas estava parada em frente à dezenas de vestidos de cores sóbrias que Marlene havia adquirido ao longo da sua eterna vida. A loira não conseguia se decidir sobre um e ficava mexendo em cada tecido freneticamente, como se a partir do tato ela fosse chegar a alguma conclusão. Eram tantos vestidos ali dentro que Marlene nem mesmo se lembrava da maioria deles. Haviam peças raras dos anos 30 até o ano de 2017. A variedade era grande e haviam muitas coisas que simplesmente não se usavam mais.

— Eu não sei, você tem muita coisa! Já pensou em se desfazer de algumas delas? Tenho certeza que você não usa nem 60% disso tudo — começou Dorcas, andando até a parte dos shorts e calças e pegando algumas peças. — Essas, por exemplo. Eu adoraria tê-las no meu bazar.

Marlene irritou-se de repente e tomou todas as peças da mão de Dorcas.

— Eu já disse que não gosto de me desfazer das minhas coisas — ralhou, enquanto colocava os panos de volta nos seus devidos lugares. — Essas roupas são a minha história, Dorcas, e elas não vão sair do meu closet tão cedo. Eu já dei a você o nome de várias amigas minhas que adorariam doar para o seu bazar, mas eu não.

— Tá bom, tá bom — disse Dorcas, afastando-se lentamente de Marlene, com os braços erguidos, em rendição. — Não está mais aqui quem falou.

McKinnon, frustrada com a brutalidade com que tinha repreendido a amiga, bufou, cansada. Tudo o que ela queria era não ser mais perturbada sobre aquele assunto e se arrumar logo para a maldita festa.

— Não é possível que nesse tempo todo que você ficou aqui dentro você não tenha achado nenhum vestido interessante — disse Marlene, tentando apaziguar as coisas. No entanto, Dorcas não moveu sua expressão melindrada. — Vamos, Doe, eu preciso de você para ficar linda hoje. O que eu vou fazer se você não me ajudar?

Dorcas abriu um sorriso de repente e Marlene sorriu também. Amolar o seu gigante ego sempre funcionava. Marlene e Dorcas eram amigas há muitos anos, uma vez que havia sido a própria McKinnon a transformar a loira em vampira durante uma festa hippie na década de 70. As duas já haviam vivido muitas coisas juntas e já se conheciam mais do que qualquer ser humano na Terra.

— Você poderia contratar a melhor estilista de Londres — sugeriu Dorcas, fazendo charme, e Marlene já sabia o que ela queria ouvir.

— Mas não seria o mesmo que você, baby.

Meadowes sorriu mais ainda e deu um pulinho infantil de felicidade. Como ela era fácil de lidar, McKinnon pensou.

— Você está certa, não seria — respondeu, voltando-se novamente para os cabides. — Certo, eu tenho certeza que eu vi um pretinho básico por aqui que vai ficar lindo com aquele seu batom vermelho escuro. Você vai ficar ma-ra-vi-lho-sa, Lene!

Marlene deu um riso nasalado e encostou-se na outra prateleira do closet, pensando em como a festa naquele dia seria.

 

Sirius não conseguia gostar dos canais disponíveis na TV aberta inglesa. Era tudo sempre tão sóbrio e chato. Não que na Suíça fosse muito diferente, mas lá ele se limitava a não assistir televisão. No entanto, preso em um quarto de hotel, sem nada de muito interessante para fazer naquela noite, sua melhor opção era deitar em sua cama assustadoramente confortável e assistir aqueles programas que o deixavam sonolento. O tédio estava tirando-o do sério! Já estava naquela mesma posição há exatas três horas, quando, finalmente, seu estômago fez um barulho estranho de ronco, indicando que ele estava com fome. Era hora de fazer alguma coisa prazerosa!

Black esticou-se sobre o colchão e alcançou o telefone sobre o criado mudo. Ao lado do mesmo, um papel autocolante estava preso na mesa com todos os números que ele precisava saber: lavanderia, piscina, motorista, serviço de quarto, cozinha. Os olhos famintos dele brilharam ao ler aquela palavra suculenta. Rapidamente, ele puxou o telefone e digitou o curto número indicado no papel. Após quatro toques, ele escutou uma voz masculina e educada do outro lado da linha.

— Boa noite, em que posso lhe ser útil?

— Boa noite, eu gostaria de pedir uma comida no quarto. Quais são as opções disponíveis? — indagou Sirius, uma vez que havia olhado por toda a parte no quarto mais cedo e não havia encontrado nenhum tipo de cardápio.

— Oh! Hoje não estamos levando a comida até o quarto. O senhor precisa descer até o restaurante, se quiser as opções que estão lá.

Black franziu o cenho, estranhando toda aquela situação.

— Tem algum motivo especial? — perguntou, com o mesmo questionamento que havia feito ao recepcionista. O hotel parecia estar pegando fogo sem nenhum funcionário ver as chamas.

— Não, senhor. Nenhum especial. Ordens do chefe — constatou o homem, dando pouca importância à clara desconfiança de Black.

Sirius apertou os olhos, cheio de incerteza, agradeceu e desligou o telefone, colocando-o de volta no gancho.

Ele não sabia direito o que pensar. Ele conhecia aquele hotel e sua fama de suas longas pesquisas na Suíça. Diversos cientistas e pesquisadores, como ele, chegaram muito perto de provar que o La Rose era um grande polo de concentração de seres sobrenaturais, mais precisamente de vampiros. E, no primeiro dia em que Sirius pisa no lugar, tudo parece fora dos eixos para os funcionários. O mais impressionante de tudo era que nenhum deles parecia questionar o número excessivo de hóspedes ou a cozinha que, de repente, não estava aberta para serviço de quarto. Estavam mergulhados em uma resignação sombria. Quase como se estivessem hipnotizados.

Ou talvez Sirius apenas estivesse ficando louco. Talvez estivesse sendo influenciado pelo trabalho de seus colegas investigadores e qualquer mínimo ruído dentro das paredes do La Rose fosse assustá-lo. As coisas mudam dentro de um hotel, afinal. Talvez… só talvez, as coisas estivessem certas.

Black deu de ombros, por fim, e levantou-se da cama, movido pelo ronco de seu estômago. Já que a comida não iria até ele, ele deveria ir até a comida.

O restaurante do hotel estava cheio. Aparentemente, todas as pessoas que Sirius havia visto no check-in mais cedo estavam ali, jantando. Ele até mesmo teve dificuldade em achar uma mesa livre, mas conseguiu uma não muito boa, que era ao lado de um longo corredor escuro com acesso restrito aos funcionários. As pessoas ao redor dele falavam alto, riam demais e comiam muito. Não era um conjunto que costumava deixar Black muito confortável, mas, se ele quisesse comer alguma coisa naquela noite, precisava aceitar as condições. As opções na mesa de buffet, por sua vez, não podiam ser melhores. Ali havia de tudo do bom e do melhor, fazendo jus às cinco estrelas que o hotel exibia na entrada. Sirius escolheu uma carne de porco, recheada com queijo derretido, um punhado de arroz marroquino com sementes de chia e um delicioso vinho francês da safra de 78.   

Ao olhar para aquele prato bonito, em tons amarronzados, Black salivou e rapidamente agarrou o garfo e a faca, atacando a carne de porco e levando o pedaço bem cortado à boca. Uma grande onda de sensações o invadiu pelo paladar e ele constatou o que já havia pensado antes: o gosto forte do porco e o suave do queijo derretido fervente ornavam perfeitamente bem.

Sirius estava entretido demais com a sua comida por um tempo que não percebeu passar. Se qualquer pessoa dentro daquele ambiente desse uma cambalhota por sobre três mesas, ele provavelmente não perceberia tamanha era a sua imersão na refeição divina. No entanto, James Potter não era qualquer pessoa. O recepcionista passou apressadamente ao seu lado, seguido por mais dois funcionários. Ele tinha uma expressão preocupada e séria que imediatamente chamou a atenção de Sirius. O rapaz seguiu-o com os olhos, curioso para saber aonde ele ia com tanta urgência. Até que viu Potter adentrando o corredor restrito juntamente dos outros dois.

O interesse de Black foi aguçado e ele tentou esticar-se na cadeira para tentar acompanhar os três homens uniformizados até tão longe quanto pudesse ver. No entanto eles logo desapareceram na escuridão. Sirius ficou ali, com metade de seu prato vazio, tentando ouvir qualquer coisa que fosse de dentro daquele corredor, mas nenhum som aproximou-se de seus ouvidos. O que ele estava pensando, afinal? Eles estavam apenas trabalhando, não? Talvez sim, mas, ele pensou depois, como pesquisador de campo, era importante que ele seguisse a sua intuição e prestasse atenção naquele recepcionista, que o havia intrigado com a conversa de horas mais cedo.

Tudo parecia perdido, no entanto. Black não podia segui-los e tampouco conseguia escutar nada comprometedor. Até que finalmente, ao longe, ele conseguiu alcançar vozes misturadas. Eram cerca de quatro pessoas se comunicando em um ritmo frenético, que deixou Sirius ligeiramente nervoso.

— Onde estão os malditos seguranças, James? — a voz de uma mulher ralhou.

— Eu não sei. Eu contratei o serviço exatamente como você pediu, chefe, mas eles simplesmente desapareceram do hotel — desculpou-se Potter, com a voz trêmula e claramente apavorado.

— A festa não pode prosseguir sem a segurança. Você tem ideia de quantos magnatas famosos estão bebericando sangue aqui e no subsolo? — Sirius arregalou os olhos ao ouvir as palavras duras da mulher. Sangue. Então era, de fato, a pista que ele precisava seguir. — Você tem ideia do colapso mundial que aconteceria se algum dos hóspedes humanos descobrisse o que está acontecendo aqui? Seria o caos, James! Eu preciso da maldita segurança.

Black olhou ao redor, cuidadosamente. Não havia ninguém olhando naquela direção ou nem mesmo que parecia saber o que estava acontecendo. Então, ele levantou-se devagar de sua cadeira, procurando não chamar atenção e aproximou-se sorrateiro da entrada do corredor. O local não possuía nenhuma porta, apenas uma placa no topo com os dizeres “acesso restrito”. Receoso, Sirius adentrou no corredor e passou a dar passos lentos na escuridão, seguindo a direção das vozes e se apoiando nas paredes, pois não conseguia ver quase nada.

— Mas… — ele ouviu o rapaz tentar dizer.

Sirius logo avistou a luz. Uma forte luz amarela que brilhava no meio do corredor e parecia vir de uma porta aberta.  

— Eu não quero saber o que você vai fazer para conseguir o que eu quero. Só me interessa que esses homens estejam na minha frente em dez minutos — disse a mulher, firme e estressada.

Black aproximou-se, tentando controlar a sua respiração descompassada para que ninguém pudesse ouvi-lo. Ele parou ao lado da porta de madeira escura, que estava aberta, e evitou a luz para que ninguém lá dentro pudesse ver a sua sombra. Ali, na escuridão completa, dificilmente alguém conseguiria vê-lo.

— Sim, chefe — James disse, por fim.

De repente, Potter saiu de atravessou a porta para o corredor, fazendo o coração de Sirius acelerar tanto que quase parou. Ele estava colado com a parede do corredor, sem fazer nenhum movimento, completamente encolhido, esperando que nenhum dos três encostassem nele.

Por sorte, James e seus acompanhantes passaram direto. Sem trocar uma palavra entre si e tampouco perceber a presença dele ali. Era impressionante como eles conseguiam andar naquele lugar imerso no breu, sem cair ou precisar apoiar em algum lugar. Deveriam ter muita prática, concluiu.

Sirius aproveitou a oportunidade que tinha para inclinar-se na frente da porta e espiar lá dentro. Tratava-se de uma sala de controle de máquinas, que tinha uma outra porta no fundo, dando para um salão enorme. De onde estava, Black conseguia ver mesas redondas e muitas pessoas finas de pé, conversando e bebendo algo vermelho, quase preto, dentro de taças chiquérrimas. Sangue


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