Essa é a história de um gato. escrita por Juni CatMoun


Capítulo 2
Capítulo 2 - Apreensivo


Notas iniciais do capítulo

Foi terminada de ser lançada em dezembro no amino, mas levei um tempinho pra arrumar as coisas pra finalmente lançar aqui no Nyah Fanfiction. Espero que todos que estejam acompanhando não tenham perdido as esperanças com a história! Eu já terminei de escrever o Capítulo 3, só preciso postar lá primeiro pra depois vir pra cá. Mas vou me esforçar pra não enrolar muito pra postar.



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“Acabou.”

Ichika Fujita. Ela foi a única pessoa que me fez sentir assim, apaixonado. De tempos em tempos meus amigos me confessavam que tinham interesse em alguma garota. Eu senti isso antes. Ichika foi a única pessoa que me trouxe esse sentimento. Tudo o que eu desejava de outras pessoas independente de gênero sempre foi só amizade. De repente eu conheço ela, Ichika. Fomos só amigos no início, claro, e por um bom tempo estive apenas feliz em ser amigo virtual dela apenas. Começamos a conversar sempre. Fazíamos algumas chamadas pelo Skype, ríamos juntos. Levou um tempo para que eu começasse a sentir algo a mais por ela, mas depois de pelo menos sete meses ou mais meus sentimentos se tornaram bem fortes. Calorosos.

Algumas semanas depois que comecei a ter sentimentos mais intensos por ela, para a minha grande surpresa, ela confessou ter esses mesmos sentimentos por mim. Não sei exatamente por quanto tempo ela tem se sentido dessa forma por mim, mas pelas semanas que se passaram, nos tornamos muito íntimos um do outro. Esse foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Então nós tivemos um encontro. Eu estava tão nervoso! Nos encontramos em uma livraria do shopping. Abracei-a o mais forte que pude, me sentindo tragado pelo seu cheiro o qual eu respirei profundamente. Mas que droga, esse cheiro. Não sei se um dia vou conseguir esquecer aquele cheiro. Era tão suave e delicado. Fazia com que eu me sentisse... E-eu não sei descrever isso. Sinto uma sensação muito esquisita em meu peito quando começo a pensar na Ichika. É diferente, mas prazeroso. Não é à toa que eu a amo tão intensamente.

“Acabou.”

Ela possui uma pele clara e pálida, tão macia quanto marshmallows. Sua pele fica levemente vermelha ao simples toque. Oposto a isso, ela não é uma garota muito feminina. É bem moleca, mantendo seu cabelo negro bem curtinho. Seus olhos são marrons, mas um marrom bem exótico! De uma forma meio estranha, eles são bem brilhantes, cor de mel. Sempre penso nela usando as mesmas roupas que ela usava quando no encontramos pela primeira vez; uma blusa azul bem larga com alguns detalhes vermelho e branco, bem parecido com uma roupa de marinheiro, o que ela vestiu com uma camisa branca, uma meia fina comprida preta e sapatos marrons.

“Acabou.”

É muito idiota isso de eu ficar pensando tão intensamente em nosso primeiro encontro? Foi um dos maiores momentos em minha vida. Tive o meu primeiro beijo naquela tarde. Aquele glorioso sentimento de estar ao lado dela ... Não consigo parar de pensar se eu conseguirei me sentir assim por outra pessoa. Temo que não irei. Será que um dia irei esquecer como a Ichika fazia eu me sentir? Essas recordações um dia serão menos dolorosas? Essas perguntas permanecem em minha cabeça e eu não consigo pensar em outra coisa.

“Acabou.”

Tem também aquelas palavras. “Acabou.” Outro momento que nunca irei esquecer. “Acabou.” Tenho sorte que meus pais não me flagaram chorando naquela noite. Seria uma preocupação grande demais para a minha cabeça. Eles não merecem ver a minha dor. Hoje foi a primeira vez, nesse tempo todo, que eles pareciam realmente se importar comigo pelo menos de forma considerável. Isso engatilhou uma sensação que não estou acostumado a ter. Eu realmente me sentiria muito bem com isso, se não fosse que eles estão me mandando para longe deles. Normalmente, eles apenas me cumprimentam quando me veem em algum lugar da casa, ou me ligam para que eu possa ter minha refeição e só. Eles sempre me diziam que estavam ocupados demais para fazer qualquer coisa que eu os pedisse.

Uma vez a minha turma precisava se apresentar no palco durante um festival. Boa parte da minha turma foi instruída a se juntar para atuar uma peça chamada “Saru-san e a Casca de Banana”, mas eu acabei ficando de fora, junto com um garoto chamado Suzuki Yuma-san. Ele é da minha classe.  Nossa professora representante da turma, a Sra. Fujioka, pediu a nós que cantássemos uma música logo após a apresentação da turma. Era uma música bem esquisita; eu estava tão envergonhado! A professora Fujioka sabia que ano passado os meus pais tinham perdido a apresentação daquele ano, então ela escreveu uma carta para eles e foi pessoalmente em nossa casa solicitar a presença deles.

Meus pais realmente vieram! Então, depois da apresentação, eles me deram parabéns pela minha performance cantando. Desde então fiquei bem interessado em cantar. Até considerei me tornar membro do ‘Clube de Música Leve’ da escola, mas descobri que eu seria rejeitado automaticamente porque só alunos com notas acima da média podem participar dos clubes. Não sei se eu iria realmente ter coragem de me juntar a eles de qualquer forma. Então eu apenas faço alguns covers de músicas de Vocaloid só para eu mesmo no meu quarto. Infelizmente, depois daquele dia nada realmente mudou no meu relacionamento com os meus pais, mas a sensação que eu tive quando fui elogiado por eles foi uma sensação única. Foi bem impactante.

A segunda-feira após o meu “acidente” com as tachinhas, pude voltar para a escola e tudo foi bem normal, até que me chamaram para ir à sala do diretor durante o horário de almoço. Aparentemente o Sr. Satou contou ao diretor sobre o incidente, então ele me perguntou se eu tinha alguma ideia de quem colocou as tachinhas no meu sapato. Eu já sabia que tinha sido a Yamamoto, claro, mas eu decidi não contar ao diretor sobre isso. De qualquer forma, ela acabou sendo expulsa algumas semanas depois. Parece que um outro estudante ficou sabendo do incidente, e relatou ao diretor que ele viu a Yamamoto mexendo no meu armário.

Foi então que chegou novembro, e uma das coisas mais difíceis que eu já tive que fazer. Meus pais me revelaram que eles pretendiam me mandar para o Brasil em Janeiro, daí eu poderia começar minhas aulas na escola brasileira em fevereiro sem problemas. No finalzinho de novembro que finalmente tive coragem de falar com a Sra. Fujioka sobre isso. Fui para a entrada da sala dos professores naquele dia durante o horário de almoço.

— Com licença, eu poderia falar com a professora Fujioka? – falei com minha cara completamente vermelha, batendo timidamente na porta que estava já aberta. Mas bati nela para ser mais educado.

Ela olha para mim e eu engulo o ar seco, tremendo levemente. Ela levantou-se da cadeira e se direcionou à porta, ao meu encontro.  Eu realmente não queria dizer isso, mas era preciso.

— Sim, Nekoyama? Precisa de alguma coisa? – ela responde com um semblante sério, arrumando seus óculos enquanto me olhava.

— Eu... estou aqui para lhe avisar de uma coisa... – olhei para baixo, evitando seus olhos imponentes.

— Certo. O que seria, Nekoyama? – ela franziu sua testa e olhou para mim em uma mistura de preocupação e curiosidade.

— Não vou... Não serei... – dei uma leve tossida para limpar a  garganta e juntei um pouco de coragem para olhar em seus olhos. – Eu não vou poder ser o próximo representante da turma. – curvei minhas costas, fechando meus olhos bem fortes. – Aprecio a oferta, mas meus pais decidiram que seria melhor para mim voltar para o Brasil.

Por um momento, seus olhos arregalaram em surpresa. Ela levantou suas sobrancelhas.

— Eu... Entendo. Quando voltará ao Brasil?

— Partirei em janeiro. Meus pais acham que será o melhor. – respondi.

Meu corpo se arrepiou um pouco sentindo a decepção radiando dela. Aqueceu um pouco o meu coração perceber que ela não queria que eu deixasse a Academia Yoakenoyama. Esse sentimento era mútuo. Mesmo que eu não me sinta em casa no Japão, eu não queria sair. Apesar da atitude distante dos meus pais, eu queria ficar com eles. Eu queria que a Sra. Fujioka continuasse sendo minha professora. Eu queria... a Ichika. Minha “Chikachika149”. O tempo passou muito rápido. No dia do meu embarque, meus pais nem esperaram eu decolar. Meu pai me levou ao aeroporto, me ajudou com o check in, então me deixou sozinho no salão de embarque. Será que isso significa que ele não se importava que eu iria deixa-lo? Me pareceu isso. Minha mãe nem ao menos se importou em vir para me dar adeus.

“Por favor, apertem os cintos. Nós estaremos aterrissando logo. Por favor, apertem os cintos. Nós estaremos aterrissando logo.”

Eu estive distraído durante quase todo o voo. Apenas ouvindo minha música. A viagem leva 33 horas no total, e tem duas paradas, uma em Dubai e uma no Rio de Janeiro. Quando finalmente começamos a aterrissar, recebo uma sensação estranha e perturbadora em meus ouvidos, como se eles estivessem cheios de água. Isso tem algo a ver com a pressão do ar, até onde eu saiba. Estou muito cansado; nunca consigo dormir bem durante um voo. Eu esfrego as costas das minhas mãos em minhas pálpebras enquanto eu me viro para olhar pela janela. Posso ver que estamos muito perto do chão. Eu abraço minha mochila com força.

A aterrissagem não é nada gentil, e faz meu coração bater forte, mas lá vamos nós. Essa é a última parada. Já estou no Brasil. Eu não tinha notado antes, mas a maioria dos outros passageiros no meu voo estão falando português. Estou impressionado com isso. Quando eu estava no Japão, era tão raro ouvir português. Meus pais ocasionalmente falavam comigo em português, mas raramente ouvia português fora da minha casa. Agora vou morar em Brasília, capital do Brasil. Todos estarão falando português aqui! É assustador!

Eu me direciono à esteira transportadora, olhando cuidadosamente, tentando encontrar a minha bagagem. Eu trouxe duas malas, além da minha mochila que estava comigo no voo. Felizmente, não demorou muito para encontrar minha bagagem, e então parti para procurar os meus avós. Localizo-os me esperando com um grande sorriso em seus rostos. Eu percebi que minha avó estava tão entusiasmada por me ver que parecia estar quase chorando.

— Aki!!! Meu netinho lindo!! – ela exclama, vindo em minha direção e me abraçando e me abraçando bem forte. Sou inundado por uma sensação de alívio ao sentir o seu abraço quente. Meu avô se junta a nós, envolvendo seus braços sobre nós. Isso parece tanto como... uma família de verdade. Faz o meu coração derreter, me sinto tão aquecido que meu rosto cora. – Eu sentia tanto a sua falta! Tanto!

Ela é magra para a sua idade, e possui olhos grandes e expressivos. Ela veste um vestido branco suave com alguns detalhes de flores vermelhas. Seus cabelos são brancos e próprios de uma avó.

— Eu senti muita falta de vocês também, vovó e vovô. – respondi com um leve sorriso em meu rosto.

— E então, garotão? Como tem sido o Japão para você? Como está lá hoje em dia? – meu avô pergunta, claramente tão feliz em me ver quanto minha avó. Ele tem características visivelmente japonesas, assim como eu, mas ele já perdeu boa parte de seu cabelo, exceto alguns fios que ficam ao redor de sua cabeça. Típico de seu senso de estilo (ou falta de senso mesmo), ele veste um casaco preto de ginástica com alguns detalhes vermelhos. Ele também veste uma camiseta cor ciano e uma calça preta que parece até um pijama.

— Está indo bem, vovô. Esse ano está bem frio, porém sem neve, como sempre.

— Parece que você teve uma sorte grande por ter visto neve no seu primeiro dia lá, né? – ele bagunça o meu cabelo e começamos a ir em direção ao carro deles.

Eu observo ao redor, admirando as cores. O Japão e o Brasil são tão diferentes! O cheiro, as cores, a atmosfera inteira. Já lá no Japão... Eu não sei. Tudo parece mais silencioso. É como se o contraste de cores estivesse no mínimo. Era bem mais limpo. Aqui no Brasil, tudo parece ser um pouco mais sujo. As cores fortes ajudam nesse sentido. É tão bonito. Tudo é tão brilhante e vibrante, e de alguma forma levemente amarelado. Eu também fico observando a aparência dos meus avós. Faz tanto tempo que não os vejo, não consigo evitar ficar observando o quanto eles parecem bem mais velho do que a última vez que os vi. Eu os amo muito, lamento muito por não ter falado muito com eles esses tempos.

Meu avô tem descendência japonesa, mas a minha avó não tem. Ela é descendente de portugueses. Sempre achei esquisito que eu tenha descendência portuguesa, mas eu pareço completamente japonês, assim como o meu avô. Eles são os meus avós paternais, mas até meu pai não parece nada português. Uma vez, minha avó me contou uma linda história sobre ela e o vovô. Não sei dizer se é verdade, mas eu prefiro acreditar que é. Ela me contou que eles se conheceram enquanto ela tinha 20 anos. Ela estava fazendo faculdade de Letras Japonês. Aparentemente, quando ela conheceu o meu avô, ela estava muito animada pela oportunidade de falar em japonês com um nativo de verdade. Eles se apaixonaram não muito tempo depois, mas a família do meu avô não queria aceita-la porque ela não era japonesa. Mas mesmo assim, ele defendeu o relacionamento deles e eles então continuaram juntos. No final, a família deles acabou aceitando o relacionamento. Sempre achei essa história muito linda! Tomara que seja mesmo verdade.

Após um tempo dirigindo, finalmente chegamos na casa. Minha casa mais uma vez. Meus avós me ajudaram a levar a bagagem para o meu quarto. A casa deles é bem pequena, assim como a maioria das casas no Japão. Possui apenas uma sala de estar pequena com uma grande televisão e um futon confortável. Tem apenas um banheiro e três quartos; O quarto dos meus avós, meu quarto e um quarto de visitas. Tem também uma pequena bem abastecida, uma lavanderia e... esse outro quarto misterioso. Nunca estive nele e não tenho nenhuma ideia do que tem ali. Perguntei aos meus avós sobre esse quarto.

— Não se preocupe com ele, Aki. – minha avó me advertiu, deixando bem claro que seja lá o que tinha nesse quarto não era da minha conta e que mais perguntas sobre ele não seriam bem-vindas.

Assim que eles me deixaram no meu novo quarto, eles foram para a cozinha me dizendo para eu me sentir em casa. Olho para todos os cantos do quarto, ficando bem pensativo. Afe. A casa toda cheira à gente velha. Tenho certeza que vou me acostumar com isso logo. Minha casa lá no Japão tinha um fedor bem forte de cogumelos, e eu consegui me acostumar bem lá. Abro a minha mochila. A primeira coisa que eu tiro de lá é o meu relógio favorito, aquele com um formato de gato. Nunca iria ter largado ele no Japão. Coloco cuidadosamente sobre a cabeceira, ao lado de uma luminária antiquada que já estava lá. Por algum motivo, acho que eles ficam muito legal juntos! De repente uma imagem obscena aparece na minha cabeça, como uma fanart vinda direta do Tumblr feita por uma adolescente, shipando eles que nem um Rule 34. Isso é tão estranho que eu pisquei várias vezes, surpreso e ligeiramente preocupado com o estado do meu subconsciente por me fazer visualizar isso.

O guarda-roupa é daqueles grudados na parede, daí ele é bem grande e largo. Tem também uma mesa com duas luminárias e alguns livros escolares. Provavelmente meus avós já entraram em contato com a nova escola para perguntar quais livros eu iria precisar durante o semestre, e resolveram os comprar logo. Eles sempre foram desse jeito; amorosos e atenciosos. Olho para baixo e vejo o tapete. Uma forte pancada de nostalgia me acerta no peito bem forte. É o mesmo velho tapete que já existia quando eu era mais jovem! Tem um desenho do Super-Homem nela.

Eu passo um tempo admirando o meu quarto. Isso faz meu coração sentir-se quente. Me sinto em casa. Decidi desfazer minhas malas mais tarde, daí eu jogo elas dentro do meu guarda-roupa, depois me jogo na cama para relaxar. Eu respiro profundamente. Por um breve momento, eu me sinto bem. Relaxado. Então, minha mente começa a me levar para uma estrada mais obscura, como sempre. Não me deixa ter um único momento de paz. Tudo o que eu tenho passado esses meses atinge minha mente mais uma vez: Ichika, meus pais, a minha ex-professora Fujioka... aqueles colegas de turma que eu tinha. Tenho certeza que todos estão comemorando minha partida. Será que a esquecerei? A minha Ichika?


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo eu confesso que ficou mais curtinho! Espero que mesmo assim tenha ficado de seu agrado! Até o capítulo 3!



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