Estava sentado no convés do barco, admirando a garota de cabelos rosa, seus olhos percorriam cada parte dela, coxas torneadas, cintura fina, seios fartos, braço finos, lábios carnudos, longo cabelo róseo que caia como uma cascata e os olhos... Ah, seus belos olhos púrpuros cintilantes, um pelo par de joias. 

Muitas vezes se perdia na imensidão roxeada do olhar da garota e esquecia de respirar. E o melhor, era apenas sua e de mais ninguém, bem a não ser dele. Levantou-se com uma expressão séria e ficou ao lado da mesma, o belo par de joias que tanto amava estava sem aquele brilho especial e isso cortava seu coração. Ao tentar tocar o rosto da mesma sua mão simplesmente passou através da rosada. 

Ela apoiou-se na borda e suspirou, pronunciando ternamente. 

— Ace... - As vezes ela chamava-o como se esperasse que ele aparecesse em sua frente sorrindo. 

— Bonney – Chamou em um sussurro, a mulher que arregalou o olhos, a surpresa foi substituída por uma expressão irritada, virou-se, ficando de costas para o horizonte e jogou seu chapéu no chão no convés e bagunçou seus cabelos nervosamente. 

Tal cena fez o coração de Ace apertar-se, ele havia machucado sua preciosa joia. 

Estava louca, definitivamente, havia enlouquecido. Estava até mesmo escutando ele lhe chamar, com sua voz rouca e quente. Passou as mãos no cabelo para arruma-los e tentar recompor-se, não queria chorar, não queria cair, sabia que se isso acontecesse não teria ele para enxugar suas lágrimas ou para levanta-la... Quando havia se tornado tão dependente dele? 

Ela pegou a bolinha de papel que estava jogada em um canto qualquer e tentou desesperadamente abrir com mãos trêmulas, era o cartaz de procurado do moreno, sentou-se no chão sem se importar se iria se sujar ou não e fitou docemente o cartaz do grande Punhos de Fogo. Aquilo era única coisa que tinha dele, material no caso. 

Ace sentou-se ao lado da mesma, desolado. Não puderam se despedir, ele nem ao menos conseguiu dizer suas últimas palavras para ela. A última vez que a vira foi em uma noite enquanto procurava por Teach, ela havia bebido e começou a gritar para ele ir embora, pensando nessa cena entendeu que mesmo vivo machucava a garota, como quando ia embora em plena madrugada depois de uma noite de amor, não fazia isso por frieza ou algo assim, fazia pois sabia que não aguentaria dar adeus a sua preciosa joia. Contudo, ela não entendeu assim e ele compreendia isso. Bem, ele foi embora, sem saber que era a última vez que a veria. Daquele dia em diante o oceano parecia furioso consigo, estava pronto para mata-lo e com razão. 

— Como eu fui estúpida naquela noite – Lamentou Bonney. Ela lembrava de cada parte daquela noite de cada nome profano que chamou o garoto por estar sentindo-se sozinha. Ela agiu como uma grande idiota. E aquela maldita dor que sentia em seu coração se tornada pior ainda ao pensar nisso. 

— Não fique triste, eu te perdoo – Bonney arregalou novamente os olhos, não sabia se a voz havia ecoado em sua mente ou se realmente havia escutado, mas era exatamente isso que ele diria. 

Colocou uma mão na madeira que consistia o navio e Ace sobrepôs a sua, ou algo próximo a isso visto que não conseguia toca-la. Com a outra ela ainda segurava o cartaz, mas ainda atordoada com sua "loucura". 

O moreno já havia tentando falar com ela várias vezes, mas agora ela parecia escuta-lo... Talvez, devesse tentar acertar as contas, para que ela ficasse um pouco mais feliz, para que soubesse que não estava triste com a garota, muito pelo contrário estava feliz e orgulhoso. Ela chegou tão longe! 

— Bonney, esta me escutando, certo? - Indagou e ela levantou assustada e cambaleante. Olhava freneticamente para todos os lados. Sim, ele a escutava. 

— Estou louca! 

— Não esta! Eu estou aqui! - Colocou-se a frente dela, ela olhava para sua direção, mas sabia que ela não era capaz de vê-lo. 

— Ace? Como? Isso é sério? Onde você esta? - Ela queria ver seu rosto e seu sorriso brilhante, nem que fosse um simples lampejo. 

— Estou a sua frente. Então permaneça assim – Assim o fez. 

— Por que não falou comigo antes?! - Esbravejou. Suas emoções eram intensas e mudavam rapidamente, como o oceano. 

— Eu tentei, mas nunca consegui, você nunca me escutou – E agora ela estava triste consigo mesma.  

— Por que não esta no céu ou algo assim? - Ela arqueou uma sobrancelha, ele sorriu nervoso. 

— Não me deixaram entrar, eu tenho um arrependimento, um muito forte – A rosada pareceu ponderar sobre algo e ele continuou – Você.  

Bonney sentia varias coisas dentro de si, as mais variadas emoções fervilhavam em seu peito: Raiva, tristeza, incerteza, arrependimento, mas principalmente felicidade. Lhe deram uma chance de pode ouvir a voz rouca de seu moreno, pelo menos uma ultima vez. E não iria desperdiçar.  

— Antes de continuar seu discurso eu falo – Ele permaneceu em silêncio – Fale alguma coisa! Você esta ai, certo? - E ficou brava novamente. 

— Oh, desculpe. Você estava olhando tão intensamente para mim que parecia me ver – Ela corou e olhou para o chão de madeira – Vamos, continue. 

— Eu sinto muito pelas coisas que lhe disse, e por tentar jogar você no mar, você não tem culpa de nada.  

— Eu te perdoo – Repetiu — Na verdade, eu nunca fiquei bravo ou triste. Eu entendo o que você sente, pegue esta memoria e apague-a, colocando esta no lugar — Percebeu que estava começando a desbotar, havia pagado pelo seu arrependimento – Eu tenho que ir... 

— O que?!Não! 

— Chegou minha hora de ir, definitivamente... — Os olhos da garota encheram-se de pavor. Era obvio que isso iria acontecer, mas mesmo assim ainda era triste.

— Eu te amo! — Gritou, para não perder a chance de dizer o que sentia novamente. 

— Eu também te amo. Você é minha querida joia – Estava quase completamente desbotado – Mas, nunca se esqueça que você também é uma joia do oceano 

Ela assentiu, e o brilho de seu belo olhar retornou. Sabia que tanto os seus arrependimento quanto os dela havia sido pagos, poder ver aquele belo par de joias cintilar novamente, era o melhor presente que poderia receber. 

Adeus, Bonney... 

Adeus, Ace... 

E assim Ace desvaneceu. Bonney fitou o oceano gentilmente, ele estava calmo, em paz. Sorriu para cena e leves ondas surgiram, como se retribuíssem seu sorriso. Sim, ele estava feliz agora, pois ela também estava, a linda e brilhante joia do oceano.