O Universo Em Um Jardim - Degustação escrita por Srt Florencio


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Mais uma capítulo fresquinho para vocês, obrigada por estarem dando uma chance para essa história! S2



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Querido Eduardo,

O gosto de teus lábios ainda permeia em minha boca, jamais imaginei que algo assim poderia ser tão fantástico.

Digo, sem vergonha alguma, que essa foi a primeira vez que beijei alguém e foi muito melhor do que sonhei.

Você deve estar se perguntando como isso é possível, afinal tenho quase vinte anos. A verdade é que eu tive, sim, algumas paixões ao longo de minha jovem vida, entretanto nunca sequer fui correspondida.

Nota-se que não estou desprezando-o, lhe classificando como mais um na lista de paixões, você é especial de uma forma que eu jamais acreditei ser possível.

Rogo para que não se assuste, pois estou mais encantada ainda com a pessoa que você é, e quando fecho os olhos tudo o que posso imaginar é um futuro ao seu lado, onde seríamos felizes observando o sol e vivendo cada dia como ele merece ser vivido.

Sei que posso estar divagando para coisas impossíveis, porque um simples beijo não significa que meus sentimentos por você são retribuídos, mas não me impeça de sonhar, não me impeça de ser feliz, mesmo que seja por conta de um devaneio.

Seu beijo vai ser uma memória que nunca irei esquecer. Seu sorriso para mim, o brilho de seus olhos, segundos antes de me segurar, permitindo-me sentir sua pele quente contra a minha, e se inclinar contra mim e transformar meu maior sonho em realidade.

Jamais irei me esquecer de como você se separou de mim, olhou em meus olhos, e, ainda me segurando, disse:

— Eu queria muito fazer isso.

Você é meu anjo, mesmo que não saiba disso.

De sua Alice.

Seu avô a beijara, tinha retribuído os sentimentos logo depois de sua declaração, provavelmente já os retribuía antes mesmo de salvá-la dos tais garotos que a importunavam e se transformar em seu amigo. Esse momento deveria ter sido a brecha que precisara para se aproximar da garota, porque, pelo que contara ao neto ainda criança, nunca fora um ótimo galanteador, se aproximava com grande facilidade das mulheres, mas nunca sabia o que fazer para conquistá-las.

E isso fazia com que Pedro não conseguisse entender seu avô, queria que ele estivesse ali para explicar todos os acontecimentos de sua vida com Alice, que não precisasse ler um monte de cartas velhas para conhecer o passado do homem que foi seu ídolo por toda a vida. Porque nada mais fazia sentido.

Voltou a ler as cartas.

***

— Venha comer alguma coisa, meu amor — Chamou sua mãe quando o sol começava a abaixar contra as árvores — Está tarde e você está com a barriga vazia debaixo desse sol por todo o dia.

Pedro nem se dera conta de que o tempo passara tão rápido outra vez, contudo não deveria se impressionar, estava tão concentrado naqueles relatos, lendo-os e relendo, tentando encontrar alguma mensagem subliminar que o fizesse entender o que eles realmente significavam que o tempo não passara de uma mera besteira casual.

— Já estou indo — Prometeu. Mas ele hesitou ao guardar todas as cartas de volta ao seu local de origem e fechar a caixa, queria tanto terminar de ler, saber tudo o que Alice escreveu para o vovô Eduardo, entretanto não queria que sua mãe desconfiasse do que ele fazia e lhe questionasse o que era aquilo tudo. Podia ser considerado egoísta, porém sentia que aquele deveria ser um último segredo entre ele e o avô, algo que pudesse guardar na memória para sempre.

— Filho, tia Jane está no telefone e quer conversar com você — alegou seu pai no momento em que ele atravessou a soleira da porta.

— O que ela quer? — perguntou Pedro, revirando os olhos. Tia Jane era a única irmã de seu pai e morava no exterior, e todas às vezes que falava com Pedro por telefone insistia em enumerar os atributos de sair do Brasil e estudar nos EUA, bem pertinho da casa dela.

— Você só vai saber se atender — Respondeu seu pai com um riso.

Pedro pegou o telefone, já imaginando que desculpa usaria para desligá-lo mais o rápido possível, quando a voz alta de tia Jane já começava a exclamar:

— Eu estou com saudades do meu sobrinho querido!

— Eu sou seu único sobrinho, tia Jane — Lembrou o garoto

— Ora, isso não o faz menos querido, embora, é claro, eu sempre tenha dito para o Zé Ricardo ter mais um filho, mas esse irmão me escuta? É claro que não. Ele e sua mãe ainda são tão jovens, poderia tentar outra criança, aposto que você adoraria ter um irmãozinho, não é? Ensiná-lo a jogar bola, brincar de carrinho, essas coisas de garotos. Mas não era isso que eu queria falar com você, querido.

Lá vem.

— Já pensou na minha proposta de vir para Nova Iorque morar na minha casa e estudar? Você tem grandes chances de ingressar em uma boa faculdade aqui, assim como seu primo.

— Eu ainda não tive tempo, tia.

— Ah, mas deveria, o tempo tá correndo Pedro, você terminou o colégio faz dois anos e ainda não iniciou uma faculdade ou curso preparatório. Se quiser ser alguém na vida precisa estudar e não tem lugar melhor que fora do país, porque convenhamos que a educação brasileira não é lá grande coisas.

— Eu sei.

— Você iria gostar tanto daqui. O Carlinhos ama isso tudo — Isso é porque o babaca praticamente nasceu aí, como ele sempre gosta de me lembrar, pensou — E você e seu primo poderiam se dar bem ingressando na faculdade juntos, tá, eu sei que vocês nunca foram grandes amigos, mas já são adultos e com certeza deixaram essas desavenças do passado — Continuou tia Jane.

— Olha tia, eu agradeço sua ajuda mais uma vez, só que agora não estou com cabeça pra pensar nisso não. Eu e o Carlos ainda não nos falamos direito e nem acho que isso vá acontecer algum dia, e não é porque eu não me esforcei não, eu fiz, e muito, mas já é caso perdido. E a senhora também já deve ter ficado sabendo que o vovô faleceu, então eu tô meio com a cabeça fora do lugar.

Houve um suspiro do outro lado da linha.

— Eu sei querido. Estava tentando não entrar nesse assunto, porque sei que você e o Eduardo eram muito próximos, e sei que você deve estar muito mal com a morte dele.

— Eu estou sem saber o que fazer tia. Meio perdido mesmo, tentando descobrir o que vai acontecer daqui para frente. Então a senhora sabe que agora não é o momento certo para me pressionar a começar uma faculdade, não faz nem sentido, não adiantaria me apressar só para dar tudo errado. Mas obrigada mesmo assim, vou pensar com calma, só que não agora, tô ocupado e preciso ir. Tchau — E desligou.

Seu pai ainda se encontrava ao seu lado, o olhar sábio informando que já sabia qual fora o tema da conversa e o porquê de o jovem estar transtornado.

— Você deveria ouvir sua tia, pelo menos agora, precisa pensar na faculdade e os Estados Unidos seria um bom lugar — informou, confirmando os pensamentos de Pedro.

— Eu sei, pai. Nós já tivemos essa conversa antes, só que não vai ser me pressionando que eu vou descobrir o que quero fazer da vida, e a tia Jane não podia ter escolhido um momento pior para voltar com essa história. O vovô morreu, pô. Será que ninguém pode me deixar de luto um pouco? Vocês sabem que ele não era só o pai da mamãe, ele era meu melhor amigo, meu confessor, e agora não vou ter mais com quem contar.

— Nós vamos estar sempre aqui, Pedro, como sempre estivemos — disse seu pai, meio ofendido.

— Você entendeu o que eu quis dizer, eu amo vocês, mas ninguém vai substituir o vovô na minha vida.

— Ninguém quer isso, meu amor — exclamou Cláudia vindo de outro cômodo — Só queremos te ajudar se precisar, ninguém sabe mais do que eu como foi triste perder meu pai.

— Olha, eu sei mãe, me desculpe por estar sendo meio rude, mas a senhora conhecia nossa aproximação. Nossa intimidade era grande, forte, tô me sentindo meio perdido agora. Preciso de um tempo para digerir tudo isso e pensar na vida daqui para frente e vai ser muito difícil.

— Você tem o tempo que precisar, filho — Reforçou Cláudia — Nós estamos aqui para o que precisar, mas não vamos forçá-lo a aceitar tudo e superar tão depressa. Sabemos que o tempo é valioso nesses momentos e te apoiaremos sempre.

— Obrigado. Eu amo vocês.

Foi nesse momento, com a compreensão de seus pais tão clara, que Pedro sentiu uma pontada de arrependimento atravessar seu coração e quase revelou que estava começando a conhecer um passado do seu avô que ninguém mais parecia ter conhecimento. Porém quando abriu a boca para confessar toda a verdade sua mãe exclamou:

— Pode parecer horrível — Fungou e secou as lágrimas dos olhos — Mas estou contente que mamãe tenha falecido antes de meu pai, ela o amava tanto que temo que seu coração não fosse aguentar a perda do marido e eu perderia os dois de uma única vez. O baque seria ainda maior do que está sendo agora.

O jovem se viu obrigado a fechar a boca, sua mãe tinha acabado de mostrar como o amor de seus avós era grande e ele não poderia manchar de forma alguma esse amor revelando que a mulher que vivera anos e anos ao lado de Eduardo poderia não ser o grande amor de sua vida.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Comentários são sempre bem-vindos! ♥



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