Acordei faminta naquela manha devido a dieta imposta por Cláudia, definitivamente, a pior mãe do mundo."Garota você está gorda, e sabe que odeio gente gorda, vamos começar uma dieta JÁ!"
—Sophia, vem comer! Está de dieta mas não quero ninguém desnutrido nessa casa!Gritou minha mãe me despertando do meu transe.
Calcei meu all star branco de cano alto e desci as escadas as pressas, passei pela sala de estar e fui em direção a moderna cozinha, me sentando nas banquetas atrás da bancada, levantei a tampa de vidro intencionada a pegar um pedaço do belo e apetitoso bolo de cenoura com cobertura de chocolate porém fui impedida por minha mãe, que me corrigiu com um olhar severo e colocou uma maçã em frente a mim, revirei os olhos e olhei para minha irmã que me observava com certo pesar.
Eu e Nalu nos dávamos muito bem, apesar do melhor tratamento que minha irmã recebia de Cláudia. Ela era minha melhor amiga, apesar de tudo, nós eramos muito unidas, ela com seus 16 anos recém completos e eu com meus 15. Seus cabelos negros foram fonte de muito conforto para mim nas piores e melhores situações, mas eu pressentia que essa mudança de realidade iria modificar muitas coisas.
Finalizei minha maçã e fui ao lavabo escovar meus dentes, Ana apareceu na porta com uma expressão suave, porém triste e, me atreveria a dizer, procupada.
—Eai, está animada? Nova escola, primeiro dia...
—Uhum, respondi com minha boca ainda cheia de pasta de dente.
—Ah... Eu também. Disse ela.
Terminei a higiene bucal e dirigi minha atenção a ela, que estava com um olhar distraído, olhando em direção ao chão.
—Ana... O que você realmente quer me falar?- eu disse finalmente
—Me desculpa Sophia, o jeito que ela nos trata, com tanta diferença... Eu não queria que fosse assim sabe, eu te amo tanto e ela é nossa mãe...
—Nalu!- Falei dando-lhe um abraço
—Se ela me trata mal a culpa não é sua! Se tem alguém que me deve desculpas é ela e não você.-Eu disse, olhando-a fixamente em seus olhos azuis esverdeados.
—Ah Sophi! Eu te amo tan..
—O QUE ESTÁ ACONTECENDO AÍ? VAMOS LOGO OU VOCÊS VÃO PERDER O HORÁRIO DE ENTRAR!- Minha mãe reclamou aos berros da garagem.
Eu e Nalu nos apressamos em pegar nossas mochilas e fomos para o carro, hoje era o meu dia de ir na frente, o que significava, músicas da Melanie! Coloquei Cry Baby para tocar ao conectar o bluetooth do carro no meu iPhone e eu e nalu começamos a cantar, provocando uma reação de desagrado em Cláudia, mas eu não me importava.
As musicas foram tocando em nosso trajeto, que durava meia hora, devido ao trânsito e ao chegarmos me deparei com aquela escola enorme, que agora eu poderia chamar de minha.
Me despedi de Cláudia e fui em direção ao painel na secretaria, que mostrava as salas e suas respectivas turmas, Ana Luísa havia ficado na sala 14 e eu na 12. Devido ao tour que haviamos feito eu e minha irmã sabiamos a localização das salas, e ao passarmos pelos corredores, confesso que atraímos muitos olhares...
Entrei na minha sala e atraí alguns olhares, uma menina que conversava com um grupinho no fundo da sala me olhou com uma expressão de desprezo.
Sentei na ultima carteira da segunda fila e coloquei meus fones de ouvido para aguardar o professor, um garoto moreno com os olhos cor de mel sentou ao meu lado e ficou me observando, tirei os fones e olhei diretamente para ele, observando sua beleza.
Para minha surpresa ele iniciou um diálogo
—Oi... Er, sou o Felipe mas pode me chamar de lipe. Você é nova aqui?
—Oi... Lipe, sou a Sophia, sou nova aqui sim.
—Sò na escola ou você veio de outra cidade?- ele perguntou
—Eu vim de outra cidade. De São Paulo.
—Ah, espero que você goste da cidade e da escola, de qualquer forma.
—Obrigada.
ele sorriu e eu me virei para frente quando vi uma menina linda, o cabelo curto na altura dos ombros, castanho com as pontas bem cacheadas, seus olhos eram castanhos claro, grandes e brilhantes e cílios enormes de dar inveja.
—Oi! Pelo visto já conheceu o Lipe, eu sou a Leticia, prazer
—Oi, conheci sim, o prazer é meu Leticia. Me chamo Sophia- respondi
—Você tem uma irmã na quatorze né?-ela perguntou
—Tenho sim, como você sabe?
—Sou amiga de umas meninas de lá...
—AMIGA né Leh? Sei- O lipe disse, se intrometendo na conversa
—Rss, bom Sophia, espero que você se adapte bem a escola e a cidade.- Leticia disse
—Obrigada Leh, quer dizer, posso te chamar assim né?
—Claro!
O professor entrou na sala e tivemos aula de biologia, a matéria que eu mais odiava, depois de quimica, história, Português e matemática. Ao fim das aulas guardei meu material e assim que ia embora a Leticia pediu meu numero de whatsapp pra podermos conversar.
Encontrei minha irmã na porta de sua sala e fomos conversando enquanto iamos para a saída.
—Eai Sô, como foi?
—Foi realmente bom, tem um garoto da minha turma que é simplesmente LINDO, e uma menina muito legal e bonita, eles se aproximaram de mim. A começo pensei que eles namoravam ou tinham algum lance mas pelo que me parece a Leh tem algo com alguma menina da sua sala.
Ela arregalou os olhos expressando pavor pela naturalidade em que abordei esse assunto mas ela realmente não era homofobica ou algo do tipo, fez aquilo por brincadeira.
Dei uma risada, e ela também, mas percebi que ela fez aquilo para desviar o assunto então alfinetei-a.
—E você nalu, quem mexeu contigo hoje?
Ela deu uma leve corada e respondeu:
—Ninguém...
—Ana Luisa Souza Mendes! Trate de me dizer o nome do garoto, ou da garota- disse eu soltando uma risadinha.
—Não da mesmo pra fugir de você em garota? Bom, tem o Yuri que é um gato e deu super bola pra mim, mas vou dar uma de difícil sabe?
—Hmmm, Yuri, vou pesquisar sobre. E você não precisa se fazer de dificil Ana, porque já é!
Ela revirou os olhos e percebemos que nossa mãe havia chegado, então entramos no carro e voltando pra casa escutamos muito k-pop e Taylor Swift, era a vez da minha irmã na frente, portanto, as músicas dela.
Chegamos em casa e almoçamos, foi uma comida extraordinária, salada Caesar, frango grelhado e aspargos salteados, deixei meu prato na pia e fui dar meus parabéns a Angela, era a cozinheira lá de casa, trouxemos ela conosco quando viemos de São Paulo.
—Angelaaa, que comida dos deuses, pra variar né?!
—Que bom que gostou sophi, agradou sua mãe?-ela perguntou
—Eu acho que sim, ela não conversa muito comigo...
—Pois é pequena, vocês tem uma relação bem complicada né?
—Sim... De qualquer forma preciso fazer o dever, ainda bem que você está aqui pra melhorar meus dias torturantes com a melhor comida do mundo!
—O prazer é todo meu princesa.
Joguei um beijo pra ela, peguei minha mochila e fui subindo as escadas em direção ao meu quarto. Fiz os deveres de casa e alguém bateu a porta.