LAUREL MONTOYA CLIFF

Sentia a terra sob meus pés. Com isso, a energia da natureza, aquela que me acalmava, que me trazia paz e que me confortava das mil preocupações de um ano letivo que estava por começar.

Era bom caminhar pela floresta, ainda mais sendo uma bruxa, que tinha de lidar com elementos da natureza o tempo todo. Sentia uma rajada de ventos fortes vindo em minha direção, fazendo meus cabelos ruivos voarem para trás, enquanto meu olhar permanecia baixo.

Enfim, um sorriso. A sensação de estar entre elementos tão fortes para mim era incrível.

Só mais alguns passos e logo estarei lá. Eu pensava, enquanto caminhava na mesma direção.

Em meio àquela floresta simplória e humana, existia um portal, que somente era aberto para criaturas sobrenaturais como eu. Havia um ano desde a primeira vez que passei por lá, afinal, foi quando iniciei meus estudos na Academia Wescovich, uma escola para seres até então desconhecidos, tais como vampiros, lobisomens, bruxas, súcubos e íncubos.

Meus cabelos voltaram a cair sobre minhas costas, enquanto todo aquele vento forte cessava. Estranho.

Então uma sensação terrível de sufocamento. Sentia meu corpo ficar mole, a respiração frágil, enquanto caía de joelhos no chão.

— Socorr...

— Ninguém pode te salvar agora. — Ouvi uma voz doce e feminina, porém demoníaca.

— Para, por favor! Scutum...

Por alguns segundos, consegui afastar aquela força maligna de perto de mim. Tentava conjurar um feitiço de proteção, enquanto segurava uma pedra de cornalina que sempre levei comigo em um colar.

— Scutum... — Tentando me recordar do nome do feitiço, a criatura voltava aos poucos, me enforcando novamente.

De repente, senti minha visão escurecer e como se várias mãos passassem sobre meu corpo, abusando de mim.

Súcubos... sério isso? Eu pensava furiosa. Esses demônios não sabem a hora de parar.

— Scutum vitale! — Gritei o feitiço, cessando todas as minhas recentes perturbações e renovando minhas forças. — Mais um ano letivo convivendo com vocês e vocês não param com essas brincadeirinhas, né?

Limpei meu vestido branco, antes sujo de terra por conta da batalha que havia tido com aquela súcubo.

Isso não vai ficar assim...

Por fim, senti uma forte rajada de vento passar próxima a mim, seguindo na direção contrária. E pude notar uma energia obscura de longe, aquela fumaça negra era claramente um súcubo.

— ... vadia!

MYRA LOUISA CORTESE

— Parece que fomos os primeiros a chegar. — Eu dizia, enquanto caminhava pelo grande castelo, o qual alguns reconheciam como Academia Wescovich, e segurava em um dos braços de meu namorado Peter Stevens.

— Vantagens de ser filho do professor de História Vampírica. — Ele falou, quase que se gabando, me fazendo soltar um riso sincero.

Apesar de ser uma pessoa fria, Peter era o único capaz de fazer meu coração gelado se inteirar por completo naquele namoro. Éramos muito parecidos em alguns aspectos, talvez por isso que déssemos tão certo juntos, mas eu realmente sempre fui muito insegura sobre essas questões amorosas, mesmo que nunca expusesse tais inseguranças.

— Pode ficar tranquila, meu bem, porque comigo aqui seu primeiro ano vai ser incrível.

— Promete? — Perguntei, o parando no meio do salão principal e ficando em sua frente.

Como resposta, Peter depositou um selinho em seus lábios, quase se estendendo para um beijo de língua, porém que foi cessado por mim.

— Isso responde sua pergunta?

— Para, nós não podemos fazer isso aqui! — Sussurrei de forma firme e enfática, enquanto ele ria de maneira brincalhona.

— Vem, ainda tenho muito pra te mostrar. — Peter disse certeiro, enquanto erguia seu braço em minha direção para que eu o segurasse novamente.

Seguimos pelos longos e largos corredores daquele castelo, o qual possuía uma arquitetura gótica e atraente aos meus olhares vampíricos.

— Mas me fala, Myra, como é ser uma Cortese? — Peter perguntou de repente, me pegando de surpresa.

— Não tem nada de diferente, tirando o fato que o primeiro vampiro da nossa família foi Blastos Wescovich. — Respondi certeira, por mais que fosse mentira o fato de não ter nada de diferente, ainda mais para mim, que era filha de um humano com uma vampira.

— Sempre achei que vocês eram um pouco retrógrados... é o que dizem por aí. — Ele disse sincero.

— Ah, até porque os Stevens são super pós-modernos, né? — Falei em tom de ironia, o que aparentemente o incomodou um pouco. Será que fui muito arrogante?

— Pior que somos, queria eu que não fôssemos. — Peter disse cabisbaixo. — Jennifer é tão burra que vai destruir toda a nossa história de família por causa de um...

— Humano?

— ... lobisomem. — As palavras de Peter saíam repletas de ódio e desgosto pela irmã Jennifer.

Por mais que tivesse crescido em um ambiente sem preconceitos, o Stevens sempre manteve sua mente muito fechada, principalmente pelo rancor que guardara de toda a sua família por terem sido ausentes em sua criação, enquanto todas as outras crianças eram tratadas com muito mais carinho e atenção.

— Amor, não precisa ficar assim. Você não ia me mostrar o resto da Academia? — O consolei, apoiando minha cabeça em seu ombro.

— Claro, vamos.

Após passar por diversos cômodos do castelo, notei que estávamos subindo escadas até demais. Estranhei o que estava acontecendo, mas mantive meu passo firme, afinal, sempre confiei muito nas intuições de Peter.

— Vai demorar? — Perguntei cansada.

— Não, já estamos chegando. — Ele respondeu, zombando de mim depois. — Tá cansada? Você é uma vampira ou não?

Me sentindo desafiada, vi que era a hora perfeita para mostrar do que eu era capaz. Se tinha algo que eu fazia muito bem, esse algo era se mostrar a melhor em todo e qualquer aspecto, seja na inteligência, na aparência ou até mesmo nas minhas habilidades vampíricas.

Com todo o gás possível, utilizei minha super velocidade e subi até o último andar em questão de segundos. Chegando ao topo do castelo, virei na direção de Peter e fiz uma reverência, segurando na barra de meu vestido de tom escarlate.

Peter indicou, com seu dedo indicador, que eu deveria entrar na porta que dava acesso à torre do castelo, então ergui meus ombros com indiferença e obedeci ao seu pedido, caminhando até o local indicado.

Olhando para o céu, cheio de nuvens carregadas e cinzentas, andei até a beirada da torre mais alta do castelo, descendo meu olhar em seguida para poder ver a vista lá de cima.

Que lindo! Pensei.

Repentinamente, senti uma presença, essa que vinha por trás de mim, me pegando pela cintura em seguida. Logo virei meu corpo, podendo olhar no fundo daqueles olhos castanhos, os olhos de Peter. Aquele olhar profundo e apaixonante me fazia sentir um calor que dificilmente era sentido, principalmente por vampiros.

Em seguida, um beijo. Tão quente quanto sua presença, tão forte quanto nossos sentimentos e tão verdadeiro quanto nosso desejo.

Eu amo esse menino.

Disso não há dúvidas.