— Eu preciso que saia, tenho muito trabalho a fazer. – Seus olhos tentavam esconder a tristeza gerada em si ao ouvir o que acabara de dizer. Era mentira. Não a parte que tinha muito trabalho, de fato o tinha, mas o que mais queria era a companhia dela. Observar seu sorriso, confortá-la e dizer que tudo ficaria bem. Lutava para que a amizade que nutriam a muito, persistisse, mas era difícil demais para ele. Era insuportavelmente difícil encará-la e não poder tê-la. Foi assim que decidiu tentar se afastar. Falaria o mínimo possível com ela, evitaria estar no mesmo espaço. Ele precisava disso, precisava esquece-la ou teria problemas maiores que a sua falta de concentração ou felicidade recentes.

Pensava a todo tempo em sua família e na família dela. Martirizava seus pensamentos por deseja-la, por nunca a ter esquecido. Não queria magoa-la, mas precisava afasta-la.  Faria o necessário, tentaria. Lutaria a batalha e esperaria vencer a guerra.

Surpreendeu com a atitude da Haruno, ao sentir o choque no ombro esquerdo provocado pelo seu punho forte. A quanto não tomava essa atitude? Sentiu-se em sua adolescência, onde o ato se fazia constante e quis ceder. Quis de alguma maneira mantê-la ali, perto de si e dizer que não precisaria se preocupar com ele ou com o excesso de trabalho que ele enfrentava ultimamente, embora não comentaria que era devido a uma maneira desesperada de tentar afastá-la de seus pensamentos. Respirou fundo novamente enquanto contornava a mesa e depositava o corpo na cadeira, que a muito, tanto sonhava. Seria apático, antipático, mas até que sua razão retornasse, não poderia se descuidar. Não quis olhar em seus olhos, não quis observar sua reação. Não podia.

Sakura estática, era rodeada por diversos pensamentos, mas o predominante lhe perguntava o que ela havia feito para o baka em sua frente. Inicialmente estava ali por estar preocupada pelo amigo trabalhar demais, atribuía a isso o fato da distância entre eles, sentia a necessidade de resolver toda a situação. Por mais que Shikamaru a alertara sobre sua atual preocupação com Naruto, por sua recente atitude ríspida começou a pensar que ele estaria agindo dessa maneira por alguma atitude impensada dela. Arrependeu-se por um momento por tê-lo golpeado. Não eram mais adolescentes, ele havia crescido e o convívio diário, ficado para trás aos poucos. Não soube contar por quanto tempo ficara ali, parada, observando o amigo anotar algo em um pergaminho sem elevar seu rosto. Nenhum sorriso contagiante, nenhuma fala amistosa, podia jurar que estava em frente ao Sasuke do passado, indiferente. Resolveu ir embora. Precisava colocar seus pensamentos no lugar. Repetindo a ação do amigo, ficou em silêncio. Tocou a maçaneta, olhou de soslaio em direção ao Hokage, entre os cabelos róseos que pendiam ao rosto. Ele continuava na mesma posição. Saiu em silêncio fechando a porta atrás de si, deixando seu corpo pesar contra a mesma, sentiu a lágrima que descia quente sobre sua face. Ele não era mais o mesmo.

Ele respirou fundo, como se prendesse o ar por muito tempo. Passou a mão sob os cabelos e desejou que nada daquilo tivesse acontecido. Pôs os olhos no recipiente que ela trouxera e não conteve a tristeza. Destampou e encarou a comida por um tempo.  Sentiu o aroma do ramen que ela preparou com todo carinho para ele, ciente que era seu prato favorito. Lembrou das pílulas de comida que Sakura preparava fielmente, todos os dias, para ele quando passara dias treinando, e das diversas vezes que ela levava refeições em duplicata nas missões que faziam, pois sabia que ele nunca levaria nada além de macarrão instantâneo. Seus lábios secos contraíram, apoiou seus olhos sob suas mãos, queria prender o que, a tanto, implorava para sair. Conteve o choro, respirou fundo, tampou o recipiente. Comeria quando fizesse o intervalo que sempre fazia, perto do horário do pôr do sol. Ali era vulnerável, alguém poderia entrar e vê-lo expondo suas emoções. Afastou os pensamentos da mulher de cabelos rosados e tentou trabalhar. Precisava se refugiar de alguma maneira, em algum lugar.

Era tarde quando ele pisara em casa, fazendo o mínimo de barulho possível para não acordar sua família. Seguiu em direção ao corredor que levava ao quarto dos filhos. Parou em frente a porta de Himawari e sorriu ao reparar o sono tranquilo da menina. Depositou um beijo sob a testa dela e acariciou seu cabelo macio. Seguiu em direção ao quarto de Boruto, um sorriso triste tomou conta do rosto dele ao se lembrar que ele não estaria ali, saíra em missão. Gostaria de ser mais presente ao filho.

Finalmente seguiu para o seu quarto e observou por um tempo a linda mulher que estava deitada. Estava sonhando, pensou ao julgar o sorriso que estampava seu rosto. Sentiu-se culpado ao fita-la enquanto os pensamentos mantiveram em outra mulher mais cedo. Afastou quaisquer vestígios da rosada que pudesse e deitou ao lado dela após se despir. Fechou os olhos, mas o sono não veio. O corpo implorava por descanso, mas a mente não permitia. Respirou fundo e seguiu ao banheiro social, com intuito de não a acordar. Um banho frio relaxaria sua mente.

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— Testuda?? – disse Ino finalmente despertando a amiga de seu transe – Por onde anda sua cabeça?

— Ah Ino... Me desculpe, o que dizia? – a loira rolou os olhos.

— Não finja que não me escutou – cruzou os braços e arqueou uma de suas sobrancelhas em desgosto. Sakura respirou fundo.

— Porque não vamos a algum lugar depois do trabalho? Sai ficaria bem com isso?

— E eu lá me importo? Amigas sempre em primeiro – disse enquanto sorria e passava seu braço pelo pescoço de Sakura – Inoichi saiu em missão de qualquer maneira. Aquele destrambelhado do Sai não sabe fazer o jantar.

— Mas ele ficará bem sozinho?

— Sakura, me poupe! Você precisa mais de mim do que ele agora. E não haverá tempo ruim quando eu chegar em casa e me jogar em cima dele. – as duas riram com o comentário de Ino.

Sakura continuou com seu trabalho um tanto distraída. O expediente no hospital demorou a passar mais que o normal. Como não havia muito o que fazer naquele dia, seus pensamentos se fixavam no dia anterior, que ainda não havia sido digerido pela ninja. Tentava entender o tempo todo o motivo do comportamento de Naruto, que nunca havia a tratado assim, praticamente a enxotado de seu escritório. Forçava a memória de várias maneiras tentando lembrar o que ela poderia ter falado ao Hokage que possivelmente o ofendera ou magoara a ponto de ele agir como um estranho qualquer com ela. Nada lhe veio à mente principalmente pela falta de contato verbal nos últimos tempos que os dois enfrentavam. Sentia-se triste e impotente. Entre os pensamentos com o loiro, lembrava da filha em missão, e se preocupava. Queria desesperadamente saber se ela estava bem, se havia comido direito, se estava machucada e desejava matar qualquer pessoa que pensasse em colocar as mãos em sua preciosa joia.  Sasuke também inundava sua mente, a seis meses não mandava notícias e ela não pediria a Naruto que o contatasse. Se sentia sozinha, quase abandonada. Poderia ser exagero dela, mas se não fosse a filha, não saberia lidar com tudo. Ino também era seu porto seguro, a considerava uma irmã. Quando estavam juntas ela podia respirar um pouco, a loira a trazia de volta pra terra sempre que ela viajava por dimensões distantes.

Sakura seguia ao lado de uma Ino animada para uma espécie de pub localizado na área central de Konoha.  Fazia tempo que as duas não saiam sozinhas para algum lugar que não fosse a casa de ambas. Sentaram-se e pediram sake. Sakura comentou com a amiga tudo que a afligia, recebendo o olhar concentrado da amiga em troca.

— Aquele idiota! – Sua voz saiu alta o suficiente para que as pessoas ao redor as encarassem – Quem pensa que é? Cadê a Sakura que quebraria o pescoço dele pela atitude débil?

— O que eu iria fazer Ino? – o desanimo podia ser notado em sua voz.

— Bater nele até ele te explicar o que está acontecendo! – dizia como se parecesse muito obvio para ela - Vai deixar assim mesmo?

— Ele parece não querer ser incomodado.

— E daí? São amigos a quanto tempo? Naruto não precisa ser mais um motivo de tristeza pra você. Se não tomar uma atitude, eu tomo!

— Será que aconteceu alguma coisa com o Sasuke e ele não quer me contar? – gelou com esta possibilidade.

— Não creio que seja isso. – comentou tentando afastar os pensamentos negativos da cabeça da amiga - Conversarei com Shikamaru amanhã. Preciso sondar se ele anda idiota assim com todo mundo. Vai ver a coisa toda de Hokage subiu à cabeça dele.

— Naruto não é assim – sua voz soou tão baixa que Ino quase não pode ouvi-la.

— Também não era escroto, e está sendo – bufou.

— Ino, não faça nenhum alarde, por favor. Não quero mais problemas – o tom de desespero era eminente em sua voz.

— Fique tranquila. Sabe como sei ser sutil quando quero. - sorriu com malícia - Vamos resolver isto – Seus olhos brilhavam como se estivesse em uma missão importante. Sakura sorriu ao mirar o rosto determinado da amiga, mas não queria que Ino intervisse e resolvesse por ela seus assuntos. Decidiu aquela noite que aceitaria a ajuda da amiga para descobrir se Naruto agia assim somente com ela ou com outras pessoas e pensaria no resto depois. Queria uma pausa dos problemas que precisava resolver. Queria estar ali com sua amiga de corpo e alma, precisava distrair. Beberam até que Sai apareceu preocupado no meio da madrugada no pub, desfazendo o semblante quando observou as risadas altas que as duas trocavam. Ficou ali por um tempo até que o casal escoltou a Haruno para o distrito Uchiha. Devido ao efeito do álcool ela dormiria sem muitas dificuldades aquela noite, agradeceria a Ino no dia seguinte.