Flor do deserto escrita por Mrs Sociopath


Capítulo 34
Capítulo 33- Uma aliança inesperada




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—Não achamos ele. Avisamos aos hospitais que se chegasse algum homem com um tiro no braço, que nos comunicassem pois era nosso suspeito. Mas nenhum deles recebeu alguém assim desde de ontem de noite até agora de manhã. Sinto muito.

Lestrade estava no 221b, ele falava com Watson sentado no sofá. Emanuelle estava do lado do médico, bebendo um café bem quente.

— E como você está? -perguntou Lestrade para Emanuelle. Ela esvaziou a xícara e suspirou antes de responder:

— Tirando o fato de que tentaram me matar mais uma vez; estou, digamos, sobrevivendo -disse, colocando a xícara na mesinha de centro- Ah, e eu recuperei o movimento das pernas, o efeito da anestesia passou.

— Ah..bom, vejo que está se recuperando. Ótimo. E falando em anestesia, onde está o Sherlock? Só falta ele para irmos fazer uma visitinha na fábrica.

— Ele estava aqui agorinha -disse Watson- não vi para onde ele foi.

Watson ainda falava quando Sherlock surgiu na porta do apartamento, carregando um envelope rasgado. A cara dele não estava uma das melhores.

— Sherlock! -disse Lestrade- estávamos esperando você...mas que cara é essa, o que houve?

O detetive estava com um olhar distante e impassível. Ele ignorou o inspetor e se dirigiu à Emanuelle. Ele estendeu o envelope violado para a jovem, dizendo:

— Isso chegou para você agora de manhã. Por acaso a frase “eu te avisei” faz algum sentido para você?

Ao ouvir isso, a doutora arregalou os olhos e tomou o envelope do detetive. Ao abri-lo, viu um documento que a fez estremecer. Ela levou a mão à boca, soltando lágrimas silenciosas. “ Eu não acreditei que ela fosse mesmo fazer isso” comentou Emanuelle com a voz trêmula. Watson e Lestrade se entreolharam, confusos. “O que foi?” perguntou o inspetor. “Um comunicado de deportação”.

***

Sherlock andava de um lado para o outro. A carta de deportação estava em cima da mesa do Holmes mais velho, junto com outros documentos de Emanuelle. Emanuelle estava encolhida no canto da sala do Holmes mais velho. Mycroft  observava a inquietude de seu irmão mais novo.

— Eu já disse que não posso fazer nada Sherlock -Mycroft falava já impaciente com o irmão.

— Como assim não pode fazer nada? Pensei que você mandasse nesse parlamento inteiro.

— Não é assim que as coisas funcionam.

— Então qual é o problema? -Mycroft respirou fundo antes de responder.

— Com tudo isso que aconteceu nesses últimos dias, todos os órgãos e todo o governo ficou muito mais rígidos com relação à questão da imigração. Não posso simplesmente revogar uma ordem de deportação!

—Senhor desculpe -Emanuelle arriscou, falando de onde estava- mas se eu mostrar meus documentos, que estão todos em ordem, eles não podem simplesmente cancelar isso?

— Seria bom que isso funcionasse -Mycroft passou a mão na cabeça- mas essas coisas demoram, e seu pedido dá até hoje à tarde para você sair do país ou apresentar qualquer documento que a impeça de sair.

— Documento que me impeça de sair? Como assim? Os que eu tenho não são suficientes?  

— Não, você está legalizada por documentos, e não por sangue.

— Sangue? -perguntou Sherlock, se apoiando com as mãos fechadas em cima da mesa do irmão.

— Sim, sangue. Ligações matrimoniais ou de consanguinidade e parentesco dariam a você essa autorização e tempo necessário para resolver essa bagunça.

Os três ficaram calados. Sherlock então olhou para Mycroft com um brilho nos olhos que ele conhecia, o irmão tinha chegado à uma solução.

— Eu já sei como conseguir esse documento.

— O que vai fazer? Vai obrigar John e Mary a emprestarem a filha para Emanuelle? Sem chance, o exame de sangue descartaria essa fraude -disse Mycroft com um sorriso de desprezo no rosto.

— Eu não falei em fraude -A forma como Sherlock olhou para o irmão, fez o Holmes desmanchar na hora o sorriso. Ele leu a resolução que o irmão chegara. Mycroft se inclinou para frente e falou entredentes:

— Diga onde você quer chegar.

— Eu faço isso então.

— Faz o que?

— Eu me caso com ela.

A jovem arregalou os olhos ao ouvir o que o detetive resolveu fazer.

— Sherlock, não. Deve haver outro jeito -Emanuelle disse, agora ainda mais encolhida no canto da sala.

— Não há outro jeito Emanuelle -disse Holmes- estamos sem tempo e sem saída. Se você sair do país, perdemos a chance de pegar esses desgraçados, sem falar que eles continuarão indo atrás de você. E lá não posso te proteger.

— Mas qual a garantia que isso vai funcionar? Quer dizer, como saber se eles vão aceitar o documento, ou não vão desconfiar que é uma armação.

— É aí que meu querido irmão maestro do parlamento entra -Sherlock olhou para o irmão, falando com ele agora- eu sei que você pode colocar esses documentos para dentro tão facilmente quanto colocar um peixe num aquário.

— Eu não vou fazer isso -disse Mycroft pausadamente.

— Eu vou fazer de todo jeito irmão, com ou sem você. Mas sem você será mais difícil, e eu posso ser até preso.

Mycroft rangeu discretamente os dentes.  Ele bufou, batendo com os dedos na mesa. Estava pensando. Após um suspiro, ele virou-se para seu computador e começou a teclar. Logo saíram da impressora duas cópias da certidão de casamento com o nome de Sherlock e Emanuelle. O Holmes mais velho pegou os papéis e entregou ao mais novo. “Está cometendo um erro”, disse. Sherlock leu os documentos, pegou uma caneta e assinou no espaço devido. Em seguida chamou a jovem no canto da sala pra assinar. Ela permaneceu parada no mesmo lugar, o olhar assustado. O detetive se aproximou dela e disse baixo, como se guardasse um segredo:

— Lembre-se de sua promessa de fazer o que era preciso para pegar esses caras.

—Até quando você vai usar isso como barganha? -respondeu ela baixinho também.

—Até esses malucos estiverem atrás das grades e você segura de novo. Ora vamos, Manu! Não vou tocar em você. Você disse que faria o que fosse necessário, e isso é o necessário agora.

A jovem piscou alguma vezes, olhava para o chão. Então, suspirando pegou os papéis e a caneta da mão dele, e foi em direção à mesa de Mycroft para assinar. “Espero que você saiba o que está fazendo”, disse ela, quando passou por ele. “Eu também”, resmungou Sherlock.

***

— E então, como resolveram isso? -perguntou Watson.

— Isso o quê? -perguntou Holmes.

— Essa questão da imigração. Afinal foi esse o motivo de nosso atraso, esse encontro com seu irmão.

— Foi resolvido, Emanuelle vai ficar.

— Sério? Ótimo, tão simples assim?

— Sim, só tivemos que assinar um documento.

— “Tivemos”? Como assim? Você também assinou?

— É...Assinei.

— Porque você teria que assinar algo para ela ficar...espera, você não…

— Sim eu fiz.

— Você se casou com ela?!

— Não foi a primeira opção, mas a mais razoável.

— Razoável?

—Sim, a outra opção era pegar Rosie emprestada. E vocês não iam querer isso, e não ia dar certo.

Watson abriu a boca para falar, no que Sherlock interrompeu dizendo:

— Foram só negócios Watson. Ela precisava de um bom motivo e eu estava livre. Fim da história.

A forma fria como Sherlock tratou sua inesperada união civil àquela jovem, o fez balançar negativamente a cabeça. Ele recostou-se no banco do carro, e observou a vista em completo silêncio.

Eles estavam no carro de Lestrade, indo para a fábrica Powerful Fertilizer. Atrás deles haviam várias unidades policiais que o acompanhariam naquela busca.

Ao chegar ao local, vários policiais armados vasculharam o lugar inteiro primeiro. Ao ver que o perímetro estava seguro, Lestrade, Holmes e Watson entraram na fábrica. Sherlock já havia visitado os dois galpões e o escritório. Tudo estava do mesmo jeito que ele vira na última vez. Ele lembrou-se que não visitou o grande cilindro de metal que ocupava boa parte do território, indo primeiramente para ele, seguido por Watson e Lestrade.

O detetive chegou perto da estrutura e olhou para cima, verificando a altura. Esse tipo de estrutura era utilizada por muitas fábricas como reservatório de água. Ele viu que grudada nas paredes curvas do monumento, havia uma escadaria de metal muito enferrujada. Ele rodeava o gigante cilindro em busca de alguma pequena porta.

— O que está procurando? -disse Watson.

— Pela porta.

— Porta? mas é um reservatório de água gigante. Se houver alguma porta, é lá em cima, subindo as escadas.

— Não. Ninguém usa essas escadas faz muito tempo, estão muito enferrujadas, se partiriam com o primeiro brutamontes que colocasse o pé nela.

— E se de repente isso é só um reservatório velho, quem garante que eles estavam usando? Acho que estamos perdendo tempo aqui -disse Lestrade.

— Você vê mas não observa Lestrade -disse Holmes, cavando no chão, retirando a neve de cima da terra- pelo tempo que esses cilindros gigantes foram usados guardando água, o terreno ao redor ficou muito úmido, tornando-se barrento. Os homens do Hukm Allah devem ter deixado suas pegadas aqui antes da neve ter chegado. Vejam -disse Holmes, mostrando algumas pegadas impressas no chão de barro endurecido agora pelo frio do gelo- pela profundidade das pegadas, eles carregavam coisas pesadas para dentro e para fora daqui. Só preciso achar a entrada.

O detetive continuou tirando a neve do chão, seguindo as pegadas. Elas acabaram num ponto onde o metal parecia estar  desgastado.  Sherlock empurrou e palpou toda a região, até que teve uma idéia. Ele cavou no chão, além da neve e entrando um pouco na terra. Ele sentiu algo de metal entre seus dedos, puxando o objeto. A parte de metal então desprendeu-se. Sherlock achou a porta. Os três entraram no reservatório. Estava escuro e abafado, eles acenderam suas lanternas e observaram tudo. O lugar estava vazio. Apenas o barulho de seus solados contra a superfície metálica era ouvido. Entretanto, algo chamou a atenção do detetive. Uma pequena bola de um branco encardido estava no canto do ambiente. Sherlock se aproximou e pegou o achado do chão.

— O que é isso? -perguntou Watson

— Parece algodão -disse Lestrade.

— Não -disse Holmes- isso é lã de ovelha não processada.

O detetive olhou com mais atenção, achando mais algumas pequenas bolinhas de lã. Ele, olhando para a última que achou, disse:

—Eles levaram o material que escondiam nesse depósito para o mesmo lugar onde  estão se escondendo.

—Que tipo de lugar seria esse?-perguntou Watson.

—Algum lugar que tenha ovelhas.

—Como sabe que escondiam alguma coisa aqui? -perguntou Lestrade.

—Eles não fariam uma porta secreta se guardassem algo inocente aqui.

—Isso tem a ver com a bomba que eles pretendem destruir o país? -disse Watson

—Hein? Que história é essa? -perguntou Lestrade, se virando indignado para Sherlock- Holmes, você não me disse nada deles estarem tentando explodir tudo.

—Eu ia dizer.

—Ah é? Quando? Que tal quando tudo tivesse já pegando fogo.

— Eu ia dizer quando chegasse a hora certa, como agora por exemplo.

Lestrade bufou, aborrecido. Ele passou a mão pelos cabelos grisalhos e perguntou:

—Tá, eles tem uma bomba que pode destruir tudo. Mas porque eles não já usaram ela? -Lestrade se arrepiou com sua própria sugestão, sabia que uma arma poderosa estava nas mãos de assassinos frios. Lendo a preocupação nos olhos do inspetor, Sherlock disse:

—Eles não vão usar essa bomba pois precisam da quantidade certa de urânio. E eles não tem essa informação.

—Como você sabe?

—Pois eu a destruí.

Lestrade olhou para Watson, não acreditava no detetive.

—É verdade Greg, eu mesmo vi isso acontecer.

Lestrade balançou a cabeça e disse, ainda com preocupação em sua voz:

—Certo, então se acharmos eles, achamos a bomba e isso termina.

—Exato.

—Mas onde vamos achar eles? Você falou das ovelhas, mas quase todas as províncias tem a criação desses animais. Temos que filtrar mais essa busca.

Sherlock andava, pensativo.

—Estou deixando passar algo. Preciso pensar.

Sherlock saiu do depósito e caminhou para o segundo galpão. Policiais passavam por ele, fazendo a busca em toda antiga fábrica. Sherlock entrou só no galpão e foi até o centro dele. Fechou os olhos e respirou fundo. Havia silêncio, e havia frio. Todo galpão ficou escuro ao seu redor. Sherlock sentiu uma mão sendo colocada em seu ombro. Ele se virou para ver quem era, e deu de cara com Emanuelle. Ela estava vestida com a mesma roupa egípcia do dia anterior, a maquiagem e os penduricalhos, tudo igual. Mas ela não brilhava. Ela se afastou de Sherlock, indo para a escuridão. O detetive permanecia no mesmo lugar. Ele ouviu a jovem falar de dentro da escuridão “me ache Sherlock, sou a resposta que você procura”. “Está muito escuro, não consigo te ver”. A jovem então começou a brilhar, como o detetive vira no dia anterior. “Você pode me achar agora” disse a jovem, sorrindo. Sherlock se virou a achando. Ela caminhou devagar na direção dele, enquanto dizia “porque você conseguiu me achar?”, “você brilhou, aparecendo na escuridão” respondeu Sherlock. “E porque eu brilhei?” A moça parou de frente à ele, sorrindo de forma provocativa. “Toque em mim Holmes, o que você sente?”. Ela estendeu o braço e Sherlock tocou em sua mão, subindo pelo braço dela, em seguida colocou a mão perto do rosto dela, sem tocá-la. Ele comentou perplexo “você está emanando calor, parece... radioativa”. Sherlock arregalou seus olhos com a conclusão que chegara, agora ele sabia o que fazer, sabia como achar os fugitivos. Emanuelle deu um suave sorriso, se afastando e brilhando com mais intensidade. “Então diga-me Sherlock, porque você pôde me achar?”, Sherlock com um sorriso triunfante no rosto respondeu “Eu te achei pois você emana radioatividade”. A jovem sorriu e desapareceu após um intenso brilho.

Sherlock abriu os olhos, saindo do seu palácio mental. Ele saiu feito uma bala do galpão procurando Lestrade e Watson. O celular do detetive tocou antes que ele encontrasse os dois homens. Sherlock olhou o número de identificação e seu semblante mudou:

— Alô, pai?

— Sherlock meu filho, fico feliz em falar com você. Como você está?

— Estou no meio de um caso.

— Ah, entendi vou ser breve então. Nesse Natal eu e sua mãe vamos para nossa casa em Cotswolds, estaremos chegando lá amanhã. Gostaria de passar o Natal conosco filho? Pode chamar seu amigo e a esposa dele se quiser, a casa é grande e cabe todo mundo -disse, dando uma risada rouca.

— Pai, eu...espere um minuto aí na linha pai, já volto.

Sherlock estava chegando perto de John e Lestrade na entrada do escritório da fábrica. John fez sinal para que Sherlock se aproximasse rápido, seu semblante era urgente como também o de Lestrade. Sherlock apressou o passo, e se juntou aos dois homens. Watson estava com um celular na mão, estava ligado na televisão. Eles estavam assistindo um programa de entrevistas, em que o entrevistado era o chefe de segurança Harrison. Na vinheta do programa tinha escrito “Chefe de segurança Harrison traz à tona informações reveladoras sobre a operação contra o Hukm Allah”. “Eu não estou gostando disso”, reclamou Lestrade, “o que esse idiota vai falar?”. O trio aguçou a audição para ouvir a entrevista:

— Harrison, ficamos muito felizes com sua presença aqui hoje, embora que em meia hora de entrevista você não disse nada revelador.

— Calma meu bom homem. As melhores surpresas ficam para o final.

— Já estamos chegando no final do programa..se você puder…

— Ok, entendi. Vou revelar meu grande segredo. Saiba que eu me preocupo muito com o povo britânico, são como uma família para mim. E eu sei que fiz algumas bobagens nesses últimos dias. Mas, eu gostaria de dar um presente para todos vocês, quem sabe isso acerte as coisas entre nós. Considerem como um presente de Natal.

— Nossa, até eu fiquei curioso, mas que presente seria esse?

— Uma informação. Um nome que todos desse país estavam sedentos de saber, não por ser ela uma celebridade, ou alguém importante do governo. Mas por causa dela, toda essa confusão aconteceu na nossa cidade. Por causa dela, várias pessoas morreram para preservar sua identidade. Estou falando da moça que o Hukm Allah exigiu a entrega. E agora vocês, povo inglês, saberão quem ela é. Seu nome é Emanuelle Goes.

Lestrade arregalou os olhos, soltando um palavrão contra o homem. Watson ficou boquiaberto, como também Sherlock.

— Ele não fez isso -comentou.

— Ah ele fez sim -disse Sherlock.

—Emanuelle Goes. Puxa. Isso realmente foi revelador.

— E você não sabe ainda da maior. Ela mora com ninguém menos que o famosos det…

Harrison não pôde terminar de falar pois alguns policiais invadiram o palco onde se dava a entrevista e prenderam Harrison. A transmissão fora cortada, fazendo cair nos comerciais. A informação da moradia da moça fora preservada.

Os três estavam atônitos. Sherlock colocou de volta o celular no ouvido e voltou a falar com seu pai. “Pai, avise à mamãe que eu vou, e vou levar algumas pessoas comigo”.


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