Flor do deserto escrita por Mrs Sociopath


Capítulo 3
Capítulo 2- Entrega na emergência


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Como estudante, eu acompanhei a rotina médica dentro da emergência, e muitos dos procedimentos que vocês lerão nesse e nos próximos capítulos são reais e rotineiramente aplicados. Demais dúvidas podem pesquisar na internet. Boa leitura.



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Emanuelle chegara um pouco atrasada no hospital devido aos acontecimentos daquela manhã, e logo se adiantou para começar com os atendimentos, já que a fila de pacientes estava consideravelmente grande. Assim que deixou suas coisas no alojamento de repouso médico e desceu em direção à sala de emergência, deu de cara com seu chefe, Charles, recebendo uma bronca:

— Isso são horas de chegar no hospital doutora? os pacientes estão se acumulando na emergência!

— Me perdoe Charles-disse a jovem com o tom mais ameno que ela podia demonstrar- tive alguns contratempos que escaparam do meu controle essa manhã, mas estou indo direto para a sala para começar os atendimentos imediatamente.

— Então comece logo, pois hoje teremos uma pequena reunião na hora do almoço.

— Pequena reunião? Houve alguma coisa?

— Não houve nada aqui, é sobre esses atentados que estão acontecendo, teremos que relocar a emergência para um setor maior, você não leu os avisos? mandei que colocasse em todas as portas do estar médico.

— Não, não li, entrei com muita pressa e não vi que tinha avisos novos.

— Enfim, vá terminar logo seus atendimentos! Espero você na hora do almoço, será no 8° andar, na sala de reuniões, não vá se atrasar hein?

— Certo doutor, então vou agora.

— Vá logo - disse abanando a mão, como se aquilo fosse fazer a jovem chegar mais rápido em seu destino.

Rapidamente Emanuelle chegou em sua  sala, e os atendimentos começaram: primeiro uma paciente com  suspeita de apendicite que ela enviou para a ultrassonografia para confirmar o diagnóstico; depois um paciente com pancreatite, provavelmente de causa alcoólica, a julgar pela aparência do doente: ruborização das maçãs do rosto e do nariz, mãos tremendo, jeito nervoso, dentes amarelados, pastilha de menta no bolso, “um possível alcoólatra e tabagista” ela pensou, ela o mandou para a tomografia para classificação do estado do pâncreas, logo mais ela foi chamada por um colega para a sala de procedimentos para ajudar a suturar um paciente que tinha chegado vítima de tentativa de homicídio por faca. A sala de procedimentos era um grande salão com cerca de 30 leitos, que eram separados uns dos outros por grossas cortinas, do qual dispunha de todos os materiais necessários para o atendimento ao paciente traumatizado; desde material básico de sutura, até desfibriladores e material para intubação. “Foi uma briga no bar doutores, o desgraçado partiu uma garrafa de vidro na parede e partiu para cima de mim com tudo, só porque eu não quis dividir a minha vodka com ele!! Ele já tinha tomado metade da minha garrafa de cerveja ontem, e hoje queria de novo, é um absurdo!!” disse o paciente que apresentava claros sinais de embriaguez, enquanto se agitava constantemente no leito, “entendo senhor, mas preciso que fique quieto para que eu e meu colega possamos lhe ajudar”, respondeu a jovem que estava no momento tentando suturar um dos tantos rasgos que o paciente apresentava pelo corpo. “Claro, por você tudo belezinha”; respondeu o bêbado, o que fez o médico olhar para a jovem, e ela correspondeu o olhar com uma expressão facial de “deixa isso pra lá”, afinal ela não queria demonstrar nenhuma reação à gracinha do bêbado, mas internamente bufou e resmungou. Logo terminou a sutura, e voltou à sua sala, sentou-se na cadeira e reiniciou os atendimentos. Passados mais 15 pacientes, os resultados dos exames que tinha pedido mais cedo, e uma intercorrência na sala de observação, finalmente acabaram os pacientes; e ela olhou para o relógio e faltava cinco minutos para o horário do almoço. “Bem na hora- ela pensou enquanto se levantava da cadeira para sair- dessa vez não me atraso”. Emanuelle mal fechou a porta após sair da sala, quando foi urgentemente chamada para a sala de procedimentos. Mal sabia ela que estava para socorrer um paciente que mudaria o rumo da sua história.

***

 

Logo que Mycroft chegou no seu escritório,  prontamente tratou de acessar a rede de arquivos do governo britânico sobre os Imigrantes que obtiveram legalização para morarem no país nos últimos dois anos, e cruzando alguns dados chegou aos documentos de Emanuelle. “Bingo” pensou consigo mesmo, afinal a jovem não tinha traços típicos europeus, havendo grande chance de ser estrangeira, e pela “salada” de características marcantes de diversas raças presentes na moça, julgou ser de origem brasileira; mas, na verdade, os dados que achou foram um tanto surpreendentes e fora daquilo que ele esperava encontrar. De fato, o Holmes mais velho não gostava de ficar por fora do “círculo de amizade” do irmão mais novo, afinal, se alguém perigoso ou que tivesse tal potencial de representar um perigo para Sherlock se aproximasse, ele queria estar ciente da situação para que pudesse intervir da maneira que fosse possível, e pelas informações que coletou, temia que fosse esse o caso. “ Alguém tem que cuidar dele, já que ele mesmo não sabe se cuidar”, pensou, levando a mão à cabeça e suspirando.

Sendo assim, tratou de imprimir tudo, colocou num envelope pardo e mandou um mensageiro entregar no endereço do Holmes mais novo ,e junto com o envelope um bilhete: “Você deveria tomar mais cuidado com aqueles que você se aproxima caro irmãozinho. Acredito que vá achar essas informações interessantes, e quem sabe até um bom motivo para aceitar o meu caso” MH.

***

 

— “Células terroristas adormecidas”…  - disse John baixinho, perdido em seus pensamentos enquanto olhava um enxoval de ursinhos panda no mostruário da loja do shopping, localizado bem no centro da cidade de Londres.

— Células o quê? Perguntou Mary enquanto segurava uma toalhinha daquelas com capuz, sem tirar os olhos da peça.

— Ah não... nada querida, só estava pensando numa descrição que li nos jornais.

— E sobre o que era essa descrição? perguntou Mary interessada.

— Sabe, é sobre esses atentados que estão acontecendo; nos jornais eles estão dizendo que esses terroristas na verdade já estavam há muitos anos em nosso país. Imigrantes vindos de todas as partes do mundo, alguns até nascidos em solo britânico, pessoas que ninguém desconfiaria, mas que já faziam parte, ou posteriormente aderiram ao “Hukm Allah”, e que estavam apenas esperando o comando dos seus superiores para começar a onda de ataques. Estavam “adormecidas”, apenas esperando a hora de serem “ativadas” para a destruição em massa...dá para acreditar nisso? -Disse John em tom pesaroso, levando as mãos à cintura.

— Não, realmente não dá- respondeu Mary reflexiva, imaginando por um momento em que tipo de mundo sua pequena Rosamund iria crescer, quando foi tomada de seus pensamentos pelo comentário de seu esposo:

— Eu ainda não consigo entender porque Sherlock não quis entrar nesse caso - disse em enquanto meneava a cabeça - tem algumas horas que tenho vontade de socá-lo até que algum juízo entre naquele cérebro mecânico - disse num resmungo.

John tinha relatado à Mary todo o episódio daquela fatídica manhã enquanto estavam no carro, à caminho da loja de departamentos. Contara que Mycroft tinha ido ao 221b para recrutar seu irmão para assumir as investigações pelos recentes atentados terroristas na cidade londrina, mas quando percebeu que o mais novo não aceitaria o caso, começou a dar-lhe lições de moral sobre o bem maior, e que o bem estar do país estava acima dos caprichos de um sociopata rebelde; o que fez com que ambos entrassem em um duelo de acusações um contra o outro, que estava tomando proporções perigosas, resultando na saída de Mycroft bufando e batendo as portas do apartamento. Mary escutara todo o relato e desde então estava refletindo sobre o assunto. Ao ouvir o comentário do marido sobre Sherlock, prontamente falou:

— Oh meu querido - disse ela em um tom amável e doce - nosso amigo, dentre tantas de suas características peculiares, ele é uma pessoa totalmente imprevisível. Tanto faz ele achar uma coisa boba digna de sua atenção, como algo super interessante totalmente chato e descartável. Eu fico também decepcionada com essa decisão dele, mas não estou surpresa -disse em tom brincalhão - mas, eu acho que ele vai acabar aceitando esse caso -disse dando um risinho de canto de boca.

— Você acha?

— Tenho quase plena certeza querido...Ele pode ser um patife assentimental algumas vezes, mas a consciência dele, alguma hora, vai falar mais alto, e o senso de responsabilidade vai levá-lo a fazer a coisa certa - falava enquanto escolhia entre dois lençóis de tonalidades parecidas - mas é claro que ele é orgulhoso o suficiente para não admitir isso. Ele vai dar qualquer desculpa, até se um pombo fizer cocô em sua cabeça será um bom motivo - disse, dando uma gostosa risada, o que fez John também rir.

— Espero que você esteja certa - disse John enquanto se dirigia com a esposa para o caixa da loja.

***

 

Emanuelle se dirigia à passos rápidos para a sala de procedimentos “meia hora- pensou ela- espero não levar mais do que esse tempo para atender esse paciente”.

Antes de chegar no leito onde o paciente estava recebendo o atendimento inicial, uma enfermeira correu em sua direção e a interceptou com o prontuário do paciente das mãos, e ofegante disse:

— Doutora, paciente de 26 anos, vítima de arma de fogo, 5 disparos contados ao total, a equipe que o trouxe disse que ele perdeu muito sangue no percurso até aqui o hospital.

— Qual o estado dele agora? -perguntou a doutora enquanto corria em direção ao leito, com a enfermeira acompanhando sua velocidade.

— Ele está aos poucos perdendo a consciência doutora, já ligamos para o banco de sangue e estão trazendo as bolsas para a transfusão sanguínea, mas temo que não dê tempo; o doutor Marcus também foi chamado e ele já está a caminho.

— Já ligaram para o bloco cirúrgico solicitando uma sala de urgência?

— Já sim, estamos estabilizando ele e esperando a senhora chegar para vê-lo, para já podermos leva-lo para a sala.

Nesse momento chegaram no leito onde estava o paciente. Estava deitado, e quase não havia partes em seu corpo que não estivessem ensanguentadas, no seu peito e abdômen  podiam-se ver os buracos de bala responsáveis pelo sangramento. De um lado para o outro duas enfermeiras corriam buscando soro, medicações e outra tentava pegar algum vaso nos seus braços para colocarem as bolsas de sangue que tinham chegado. Mas o paciente tinha perdido muito sangue, os vasos já não estavam mais fáceis de serem puncionados, ele estava em choque. Percebendo a gravidade da situação, Emanuelle pediu para as enfermeiras para trazerem o desfibrilador e as ampolas de adrenalina “não vai dar tempo -pensou ela- ele está em choque, vai morrer aqui, não dará tempo de o levar para a sala cirúrgica”, enquanto isso, uma enfermeira conseguiu pegar uma veia no braço do jovem, no que imediatamente a doutora falou:“ rápido, coloque o soro nele, deixe o nível do soro descer rápido, vamos tentar uma ressuscitação volêmica nele!”. Em uma tentativa de manter o paciente acordado, Emanuelle falou com ele:

— Senhor, senhor, olhe para mim, qual o seu nome?

— Sa...Said…- Disse o jovem, quase perdendo a consciência

— Said, preciso que você fique acordado, ok? Me conte o que aconteceu, quem fez isso com você?

O jovem fechou os olhos, sua respiração era superficial, a médica se debruçou sobre ele e deu-lhe uma sacudida leve, e falou agora mais alto:

— Said, fique acordado ,fale comigo, você tem família? Resista! Quem fez isso? Fale comigo Said!

Nesse momento o jovem, num último fôlego de vida que lhe restava, agarrou a doutora pelo colarinho com uma mão, e a outra pegou um objeto pequeno em seu bolso, e colocou no bolso frontal da doutora, de forma que os demais presentes na sala não perceberam. Então, aproximou-se da orelha de Emanuelle, e falou baixinho:

Hukm Allah —Emanuelle arregalou os olhos, sentindo um terrível frio na espinha- salve...a...Inglaterra...não...confie...em ...ninguém.

Tendo dito isso, o jovem pendeu a cabeça para trás, lentamente caiu no leito soltando a doutora e finalmente expirou.

Emanuelle ficou estática por um momento, olhando para o jovem falecido na sua frente. A equipe verificava os pulsos do rapaz. Ela estava digerindo o que tinha acabado de ouvir, e lembrando do objeto que discretamente tinha sido colocado no seu bolso, se questionava o que poderia ser isso, enquanto passava a mão sobre o bolso.

A doutora foi trazida de volta de seus pensamentos pela enfermeira que perguntou:

— Vai fazer a massagem cardíaca doutora?- Emanuelle piscou algumas vezes, voltando dos seus pensamentos.

— Sim, sim, vamos iniciar.

Emanuelle e a equipe de enfermagem prosseguiram com a tentativa de reviver o jovem. Depois de vários minutos de massagem cardíaca, a equipe desistiu. Infelizmente era tarde demais.

— Hora da morte?- perguntou o enfermeiro, enquanto guardava as medicações que não foram usadas.

— Dez minutos para o meio dia- respondeu Emanuelle. Nesse momento ela ouviu alguém vindo a passos rápidos atrás dela, quando ela se virou viu que era seu colega Marcus, também cirurgião, que acabara de chegar.

— Nossa -falou o colega ao ver o estado do falecido em cima do leito banhado em sangue-  Manu, o que aconteceu aqui?

— Rapaz vítima de arma de fogo, 5 orifícios de entrada, não deu tempo de salvá-lo, ele perdeu muito sangue.

— Ele chegou a falar quem fez isso com ele?

— Ele…-Emanuelle ia falar, mas deteve-se. A voz do jovem ecoava em sua cabeça “não confie em ninguém”— não, não chegou a dizer, morreu antes que pudesse falar alguma coisa.

— Hum...entendo…

— A polícia deve ser informada para que eles possam abrir uma investigação para saber o que houve com esse rapaz. Temos também que preencher a papelada para o enviar o corpo para o necrotério e avisar ao legista sobre as circunstâncias da morte, e da necessidade de uma busca mais acurada no corpo do paciente.

— Eu acho que é Molly que está no necrotério hoje.

— Ah sim! eu conheço ela, foi quem me indicou o apartamento que aluguei de uma senhora; acho que encontrarei ela na hora do almoço hoje, então eu aviso à ela...na verdade como fui eu quem atendeu esse paciente, sou eu mesmo que tenho que preencher a papelada.

— Ok então...inclusive...éramos para estar na reunião, não é?

— A reunião!! Me esqueci completamente! Não vou conseguir terminar essa papelada nem tão cedo.

— Então eu te ajudo a terminar -disse ele já pegando o prontuário do paciente.

— Obrigada, eu não gostaria de levar outra reclamação do chefe.

— É típico do Charles sempre ter motivos pra reclamar com todo mundo.

Ambos doutores deram uma risadinha do comentário de Marcus, e foram para uma mesa próxima do leito onde jazia o falecido.

Marcus e Emanuelle mal tinham começado a preencher os documentos para a liberação do corpo, quando avistaram Charles correndo na direção deles, de forma que chegando perto, falou esbaforido:

— Emanuelle, preciso que você e seu colega Marcus organizem uma equipe para atendimento múltiplo de politraumatizados, vamos receber vários pacientes em emergência!- disse o preceptor num suspiro só e com a feição mais angustiada possível, o que fez a ansiedade da doutora crescer exponencialmente.

— Mas o que foi que aconteceu?!

— Outro atentado -o rosto de Emanuelle empalideceu.

— Onde?- perguntou Marcus.

— Num shopping center , localizado bem no centro da cidade de Londres.


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Notas finais do capítulo

Para os sonolentos de plantão (inclusive eu kkkk), lembram quem estava nesse shopping center fazendo compras? Tan dan...o que será que vai acontecer agora?
Cenas dos próximos capítulos. Fiquem no aguardo. Logo logo postarei mais três.



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