Flor do deserto escrita por Mrs Sociopath


Capítulo 29
Capítulo 28- Perda necessária




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Um táxi estacionou em frente ao 221b. Um homem de estatura média e cabelos loiros desceu. Ele foi para o outro lado do veículo e, abrindo a porta, ajudou a Emanuelle a sair do carro. Ele pagou o táxi e em seguida subiu ao apartamento do detetive. Sherlock tocava uma melodia triste no violino, quase não ouviu as batidas em sua porta. Logo o homem entrou, sendo saudado pelo detetive.

— John? pensei que você tinha ido para casa.

— Eu estava indo, mas ela apareceu no meio da pista e quase foi atropelada pelo taxista -disse John, indicando para Emanuelle que acabara de entrar a passos lentos.

Sherlock se aproximou da doutora, ela permanecia calada. Apenas olhava para o detetive.

— Ela está sofrendo de estresse pós-traumático Holmes.

— Eu estou vendo -disse Holmes abrindo os olhos da moça, tentando observar suas pupilas.

— Vamos preparar um café para ela e deixá-la descansar, ela pode…

— Não temos tempo -retrucou o detetive, enquanto ia na cozinha pegar seu cachecol azul.

— Como assim não temos tempo?

— Ela foi a única que viu o que aconteceu, ela viu a bomba explodir. Preciso das informações, e não temos tempo.

— O que vai fazer? -perguntou Watson ao ver que o detetive se aproximou da moça e a estava vedando com o cachecol.

— Estou usando uma técnica antiga.

Após vedá-la, Holmes ficou frente à frente com a moça. Ele a puxou para si, ela não resistia. Ele a abraçou forte, passando seus braços por cima dos ombros dela. Emanuelle permanecia com as mãos baixas, não correspondia ao abraço. Holmes começou a falar baixinho no ouvido da jovem. Watson não conseguia ouvir o que era, mas pela entonação parecia que ele estava repetindo algo. De repente os braços de Emanuelle se levantam e ela começa a corresponder o abraço. Holmes permanece repetindo o conjunto de palavras. Emanuelle aperta cada vez mais o abraço, e um gemido baixinho começa a ser ouvido vindo da jovem. Como numa explosão de fúria, Emanuelle fecha as mãos, agarrando o paletó de Sherlock enquanto o abraçava e começa a chorar amargamente, estremecendo nos braços do detetive. Holmes tirou o cachecol da moça. Ela encostou a cabeça em seu peito, desatando em soluços. Holmes não falava mais nada. Apenas segurou a cabeça da jovem contra seu peito, consolando-a: “Você está segura agora, estou aqui”. Aos poucos o choro diminuia e a jovem afrouxava o abraço, como também o detetive. Watson estava de boca aberta com o que acabara de ver, não pela técnica em si, mas pela atitude de Holmes. “Watson, essa é uma boa hora para aquele café”, comentou o detetive. Watson foi para a cozinha para preparar a água. Emanuelle levantou a cabeça e olhou para Sherlock. Ele soltou do abraço, colocando o rosto dela entre suas mãos, enxugando as lágrimas dela com seu polegar. Ele a olhou bem nos olhos dizendo “Manu, eu preciso que você se recupere, eu preciso de suas informações, ok?”. A médica com os olhos inchados de tanto chorar respondeu que sim, balançando com a cabeça e em seguida fechando os olhos e respirando fundo. Delicadamente ela soltou-se do abraço, tirando as mãos de Holmes de seu rosto. Sherlock a guiou até a mesa da cozinha, sentando-a. O detetive puxou uma cadeira sentando-se ao lado dela. John estava quase finalizando o café. Sherlock falou baixinho para ela, com uma delicadeza que Holmes desconhecia existir no detetive até aquele dia : “Manu, diga-me tudo que aconteceu. Preciso que você lembre-se de cada detalhe, leve o tempo que precisar”. A jovem respirou fundo algumas vezes, e, com os olhos fixos na mesa, fez o relato de forma lenta e detalhada desde o atendimento do jovem até o momento que ela foi arremessada contra a parede. Watson nesse momento trouxe as xícaras com o café pronto. A jovem pausou para tomar um gole do café.

— E então? o que veio depois? -perguntou Sherlock.

— Eu não sei se o que eu vi foi algo da minha cabeça...eu vi como se todo o fogo causado pela explosão estivesse sendo contido dentro de algum tipo de campo.

—Campo? -perguntou Holmes.

—Sim, um tipo de campo de força. Sabe a mulher invisível do quarteto fantástico? Ela nos quadrinhos constrói um campo de força. É como se o fogo estivesse sendo contido por um campo desses. Então eu vi uma grande bola de fogo bem à minha frente, como se ela brotasse do chão. Depois disso não lembro mais de nada.

Sherlock permanecia com as mãos de frente ao rosto, reflexivo. O trio permaneceu calado por um tempo. Sherlock quebrou o silêncio. “Eles começaram a testar essa arma depois da morte do Said, por isso não vimos no vídeo” Sherlock tirou o objeto com fios soltos do bolso, continuando “Achamos outro igual à esse nos escombros. Tenho a forte impressão que essa é a nova arma que eles estão criando”. “Isso explica o desespero deles” disse Watson. Emanuelle parecia pensar. Ela então de repente levantou-se e pegou o notebook de Holmes, colocando em cima da mesa e o abriu em seguida. Ela passou de uma pasta a outra, procurando arquivo após arquivo. Quando ela achou o que procurava, tomou o objeto da mão de Holmes. Ela pra olhava para o objeto, ora para a tela, colocando um do lado do outro. Ela virou o notebook para eles, mostrando um arquivo cheio de desenhos e instruções. “Eu estava analisando esses arquivos -disse Emanuelle- procurando algo estranho. Eu tinha visto esse mais não tinha percebido nada de diferente nele, até agora”. Ela imprimiu o documento. Holmes avaliava as folhas, principalmente os desenhos. De fato, nas “instruções de montagem” do explosivo havia o desenho do mesmo objeto que ele achara. Entretanto, a parte escrita estava toda em árabe. Numa das folhas, havia uma parte escrita. Sherlock mostrou para a jovem o texto, no que ela pegou a folha da mão dele e, com uma centa, começou a traduzir. Dado certo momento, ela arregalou os olhos com determinado trecho do texto. Ela releu duas vezes. Com a feição preocupada ela perguntou;

— Diga-me Sherlock, como estava o lugar onde a bomba explodiu?

— Com alguns corpos bastante carbonizados e os móveis retorcidos pelo calor.

— E o que você acha disso?

— Que não faz sentido. Pelo estrago causado nos corpos, o raio de alcance da destruição deveria ser muito maior, mas ficou restrito à uma área limitada.

— Céus -a moça esfregou os olhos. Sherlock levantou-se da cadeira e foi para a janela, sua mente fervilhava em teorias.

— O que tem escrito aí? -perguntou Watson

— Isso não é simplesmente uma bomba. É um explosivo cujo princípio ativo é a fissão nuclear.

— Fissão nuclear? -Watson arregalou os olhos- é uma bomba atômica é?

— Não exatamente, a quantidade de urânio usada aqui é muito pequena, menos do que aquelas usadas nas bombas nucleares, embora seja suficiente para causar um bom estrago. O que eu não estou entendendo é porque eles adicionaram o campo magnético para conter o raio de destruição. Se o objetivo é destruir, porque conter?

— Para aumentar aumentar a concentração do seu poder -interrompeu Sherlock, virando-se para ambos que estavam na mesa- e se o objetivo não for conter, mas concentrar o poder de destruição? Imaginem toda a força de uma bomba nuclear sendo dissipada dentro de uma esfera de dez metros, quando seu alcance em campo aberto seria em kilômetros.

— Você teria plena garantia que iria destruir um alvo específico -completou Watson.

— Exatamente. Manu, qual era o tamanho do dispositivo que você apalpou na barriga do terrorista explosivo?

— Não era grande...ele deveria ter mais ou menos uns dez centímetros, eu acho.

— E foi suficiente para deixar um raio de destruição de quase dez metros.

— Espere, olhem isso! -disse Emanuelle, ao observar uma pequena tabela no canto da folha. Com uma caneta ela reproduzia a tabela a traduzindo num pedaço de papel- aqui tem uma relação entre peso e área. O peso é o urânio, mas ele não diz de que é a área -Sherlock observou e rapidamente tirou a conclusão:

— Isso é uma relação entre quantidade de urânio e sua área de destruição. Veja, esse daqui foi o usado essa noite. Essa quantidade de urânio teve uma área de trezentos metros quadrados, que foi a área da circunferência da destruição do hospital. Os de baixo seguem uma mesma lógica de proporção.

Emanuelle olhou preocupada para a última linha da tabela, apontando-a para Sherlock e perguntando:

— Holmes, olhe essa. Tem cento e trinta quilômetros quadrados -Watson levou a mão a boca. O olhar de Sherlock assumiu um aspecto sombrio, comentando em seguida.

— Essa é a área da extensão geográfica da Inglaterra.

— Minha nossa, eles pretendem explodir o país inteiro -comentou John.

— “Salve a Inglaterra” -disse Emanuelle para si mesma- Said sabia disso. Por isso ele fez de tudo para que Carl e seu chefe não botassem as mãos nisso.

— Mas adiantou alguma coisa? Eles sabem como fazer a bomba, vejam o que aconteceu na emergência. -retrucou Watson.

— Eles podem fazer a bomba, mas não sabem que quantidade de urânio usar. Eles devem ter uma reserva bem limitada, então devem ser bem precisos naquilo que pretendem fazer- respondeu Holmes.

— Você quer dizer que a destruição causada hoje no hospital poderia ter sido pior? -perguntou a jovem.

—Acredite, se eles tivessem usado a quantidade certa, talvez você nem aqui estivesse.

Emanuelle engoliu em seco. Ela olhou para a folha com a tabela, e depois para Holmes. O detetive entendeu o recado. Ele pegou as folhas da mão da moça e foi em direção à lareira.

— Espere, o que pretende fazer? -Watson se levantou da cadeira, indo em direção ao detetive.

— John, temos que destruir isso. Se isso cair nas mãos erradas, o estrago será imensurável.

— Mas e o governo? Seu irmão poderia guardar essa informação. Isso poderia ser útil de alguma forma.

— Eu não confio no meu próprio governo, muito menos no meu irmão com uma coisa dessas na mão.

— Mas isso poderia ser o futuro das fontes de energia Sherlock! Usinas nucleares e termelétricas poderiam usar isso para reduzir custos, pense no que…

— John não! -explodiu Sherlock. O detetive respirou fundo, falando mais calmo em seguida- tem coisas que o mundo não está pronto para receber, e esse tipo de poder é uma delas.

Dito isso, Sherlock jogou os papéis na lareira e em seguida apagou o documento do computador. John observava as folhas queimarem em meio às labaredas dançantes. Emanuelle levantou-se e se pôs de pé ao lado de John. Sherlock depois de apagar o arquivo, fez a mesma coisa, comentado com ambos ali de pé:

— Foi uma grande perda, mas foi o certo a se fazer.

***

Donovan estava indo buscar seu terceiro café diário quando soube que Harrison tinha chegado. A agente respirou fundo, puxando lá do fundo toda paciência que ela pôde, e foi falar com o chefe.

Após bater algumas vezes na porta da sala, ela entrou com as fichas na mão. “Senhor, bom dia. Esses são os suspeitos para a apreensão de hoje”, disse Donovan estendendo os papéis para o homem. Harrison pegou o conjunto de folhas e, fazendo uma careta comentou “Tem bem menos gente que o de ontem”. Donovan nada comentou. Apenas esperava a ordem do chefe de segurança. Ele deu de ombros e disse “Bom, pelo menos teremos algo para satisfazer àqueles abutres da mídia. Depois da bomba no hospital e do vídeo da madrugada, temos que dar mais satisfação àqueles sanguessugas. Avise à Lestrade que quando voltarmos das apreensões daremos uma nova coletiva de imprensa. E junte os oficiais, partiremos daqui a algumas horas”. Donovan acenou com a cabeça e saiu da sala para cumprir o que fora mandada.

Depois de algumas horas, Lestrade ainda editava o documento que enviaria à justiça, que o autorizaria a entrar com forças policiais na fábrica de fertilizantes e recolher materiais para a investigação. Donovan já havia contactado todas as equipes do dia anterior, menos os agentes, eles estavam a cargo de Harrison; então ela foi à sala de Lestrade para avisá-lo da coletiva.

—Isso não é uma boa idéia -comentou Lestrade.

— Se o senhor não quiser ir, tudo bem, eu invento uma desculpa…

— O meu problema não é ir Donovan -interrompeu Lestrade- Olhe para a população, todos estão muito insatisfeitos com o que está acontecendo. E cada vez que Harrison sobe naquele palco pra dar uma explicação, sinto que ficamos cada vez mais enrolados.

Lestrade esfregou os olhos, estava claramente exausto. Donovan nada disse. Apenas observava o cansaço do inspetor. Chegou a sentir pena. A agente sentiu seu celular vibrar, então atendeu à ligação. Era um dos oficiais avisando que Harrison estava reunindo o pessoal para dar as instruções e irem para a rua em seguida.

—Chefe, sinto muito, tenho que ir. Harrison está reunindo todos. Logo vamos para a rua. Se quer um conselho, vá descansar antes da coletiva, vai precisar.

— Ok, vou fazer isso -disse, massageando as têmporas- vou terminar esse documento e vou descansar.

Donovan se despediu e saiu da sala, deixando para trás um inspetor à beira de uma estafa mental.

***

Boa tarde para todos aqueles que estão acompanhando nosso telejornal.

Depois da terrível explosão à ala da emergência do hospital St Barts, tivemos mais um vídeo ameaçador colocado no ar pelo Hukm Allah nessa madrugada; o qual detalhamos no telejornal matinal. Após todos esses eventos, o segundo dia da operação liderada pelo chefe da segurança Harrison foi posta em prática, entretanto para desgosto de toda Scotland, não houve nenhuma prisão. Com a autorização do próprio Harrison, nossas equipes acompanharam de perto a abordagem às casas dos suspeitos. Entretanto ao adentrar nelas, nada foi achado, a não ser a mobília. A equipe policial fez uma busca em cada casa, não achando nada legalmente relevante. Entretanto, duas das equipes lideradas por agentes especiais não tiveram um final feliz. As residências para qual cada equipe foi designada também tiveram seus proprietários foragidos, mas eles deixaram uma armadilha plantada para quando a equipe entrasse na casa. Segundo a perícia, bombas foram instaladas no sótão dessas residências, e assim que alguns policiais entraram, elas explodiram, ceifando a vida de alguns oficiais, inclusive dos agentes especiais de Harrison que lideravam cada equipe.

Devido à repercussão nacional que esse novo vídeo lançado na internet teve, vários manifestantes se reuniram no fim dessa manhã na Trafalgar Square para protestar por resoluções e maior rigidez para autorização de moradia para imigrantes. Eles exibiram cartazes com conteúdo xenófobo, o que preocupou as autoridades. Ao ser questionado sobre isso, um dos parlamentares desabafou que o crescimento do sentimento xenófobo era preocupante, uma vez que isso atrairia a intolerância e cada vez mais violência, de forma que ele se pôs totalmente contra ao que estava escrito nos cartazes. Entretanto essa opinião não era unânime no parlamento. Outro parlamentar que aceitou conversar conosco, disse que todo esse caos era resultado de uma política de imigração frouxa, permitindo a entrada de células adormecidas no país. Logo depois nos veio a notícia que setores do governo estavam divididos, parlamentares debatiam e os ânimos não estavam muito bons. O primeiro ministro, junto com outros setores do governo se reuniram em caráter de urgência para sondar a situação. Não tivemos acesso ao conteúdo abordado nem às resoluções adotadas. Foram relatados também que, como resultado do clima crescente de xenofobia, várias lojas e vendinhas pertencentes a imigrantes legais de vários países foram atacados a pedradas por manifestantes encapuzados. A polícia deteve os delinquentes, os levando sob custódia.

Depois de todos esses acontecimentos, o chefe de segurança Harrison disse que daria mais uma coletiva de imprensa no início dessa tarde, para esclarecer a situação. Entretanto, alguns jornalistas também aderiram à causa, chamando toda essa operação de Harrison de “desorganizada e ineficaz”, “uma verdadeira bagunça” e “uma vergonha para a reputação da nossa querida Scotland Yard”. O chefe de segurança ao subir no palco foi vaiado por alguns jornalistas. Harrison não se conteve e dizendo vários palavrões e fazendo gestos obscenos contra a platéia, desceu do palco, cancelando a coletiva.


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Notas finais do capítulo

E isso é tudo por hoje pessoal.
Tenho o prazer de anunciar que a história foi concluída ontem. Aos poucos soltarei a história.
Fiquem ligados.
Até o próximo capítulo.



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