Prefácio de Uma Vampira escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 3
Festa em Família


Notas iniciais do capítulo

James leva Rosalie para conhecer sua família. Mas a sua prima, Eve, lhe parece familiar. Qual o mistério escondido na vida da prima Eve?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/74945/chapter/3

O sofá já não parecia mais tão confortável. Eu tentava a todo custo encontrar uma boa posição para assistir um programa de tevê, que eu nem sabia o nome. A apresentadora, com seus longos cabelos escuros, anunciava um concurso de dança. Toda a platéia aplaudia alegre a moça ruiva que entrava ao lado de seu parceiro, sorrindo sob a recepção calorosa que recebia.

                Era tango. Eu não estava a fim de assistir nada disso, e como não me senti satisfeita com nenhuma outra programação, a solução foi um clique no botão de desligar. Deitei-me de vez sobre o encosto do sofá, exibindo meu tédio. Ela chegou devagar, e seus olhos vermelhos cintilavam sob as lágrimas que escorriam por sua bochecha.

                - O que aconteceu, Sara? – perguntei, preocupada, estendendo os braços para ela.

                - Mamãe brigou comigo. – ela respondeu, se jogando no meu colo.

                - Por quê? – perguntei, agora, por saber o motivo, não mais preocupada.

                - Não fiz a tarefa de casa.

                “Novidade!”, pensei. Mesmo sabendo que fora um motivo idiota, a abracei e a aconselhei a ir logo fazer a tarefa de casa, antes que a mamãe brigasse outra vez. Ela obedeceu sorrindo, e logo vi mamãe atrás da porta, entregando a si mesma, que estava ouvindo tudo.

                - Ela foi mesmo fazer a tarefa?

                - Provavelmente. – respondi, levantando do sofá com efeito do som da campainha. Ela entendeu que eu atenderia e se sentou na poltrona que ficava ao lado do sofá e ligou a televisão novamente.

                - Olá, Rose.

                Ele estava lindo, como sempre. Fiquei muda.

                - Olhe, trouxe isso para você. – ele anunciou, tirando das costas um lindo buquê de rosas amarelas. Amarelo era minha cor preferida. Continuei muda.

                - Vim fazer um convite. – informou.

                - Sério? – sorri, pegando nos braços as lindas rosas amarelas.

                - Quer ir à minha casa hoje? Minha família vai dar uma festa, quero que você os conheça. – sorriu.

                - B-bom, eu não sei, eu tenho que falar com a mamãe. – uni as sobrancelhas, temendo a negação materna. – Entre. – convidei.

                Ele pediu licença, exibindo sua boa educação, cumprimentou a mamãe como se ela fosse a rainha da Inglaterra. Até Sara, a curiosa que apareceu na sala de surpresa, ganhou uma saudação digna de uma princesa de maria-chiquinha. Arrumei as rosas num vaso e as coloquei em cima do balcão que dividia a cozinha e o corredor, enquanto mamãe e James conversavam animadamente. Cheguei na parte principal.

                - Então, Sra. Hale, minha família vai dar uma festa hoje e eu gostaria que sua filha fosse comigo.

                - Minha filha? – mamãe sempre foi desconfiada, até mais que papai.

                - Sim, somos colegas de classe, talvez até amigos.

                - Tudo bem, não vejo problema algum. – sorriu mamãe – Você parece um bom rapaz.

                A essa altura, eu já havia trocado de roupa – estava de jeans e moletom – e estava pronta para sair. Despedi-me de mamãe, minha eterna fada madrinha, e entrei no carro dele ansiosa.

                Fizemos o percurso inteiro sem trocar uma palavra, completamente mudos, divididos entre sorrir e encarar a paisagem, que agora simulava um cenário cinematográfico. Eu podia me considerar uma pessoa extremamente feliz, por tudo o que estava acontecendo comigo. A oportunidade de contar a Vera o que estava acontecendo no meu coração ainda não chegara, mas a cada minuto com ele, meus batimentos aceleravam de uma forma que eu mal podia conter. Por um momento, até me esqueci de respirar. Pra ele, não devia ser tão difícil assim estar comigo. Talvez fosse comum para ele conversar abusando de tranqüilidade com uma garota idiota e esquisita como eu.

Ele fitava o horizonte, atento a estrada. De vez em quando, sorria e me olhava. Eu me perdia em seu olhar penetrante, encantador. Depois, voltava a prestar atenção na estrada, que com certeza era mais importante que eu, pelo menos naquele momento. E sem que eu ao menos percebesse, ele parou de repente, anunciando que já havíamos chegado a nosso destino.

- Vamos? - sua perfeita voz aveludada e levemente rouca me convidou.

Estava frio e a neblina distorcia minha visão. Mas eu podia ver um muro baixo em volta de uma casa de vidro. A música alta aumentava o clima de festa.

Atravessei o pequeno muro de mão dada com James, todos me olhavam atentos. Tudo o que eu queria era passar despercebida, sendo obrigada somente a me apresentar para sua família. Mas todos ali eram de sua família.

Uma linda mulher com cabelos lisos, retos e curtos veio me cumprimentar. Chamava-se Linda Newton e era mãe de James. Tanea, sua irmã mais nova, trazia consigo um sorriso contagiante e falou comigo como se me conhecesse há anos. Todos me olhavam e falavam comigo. Até a família Cullen estava lá.

Carlisle Cullen, um médico muito respeitado naquela região, raramente aparecia em público, muito menos acompanhado da esposa, Esme, e do filho, Edward. Todos eles apresentavam um traço de beleza inconfundível e olhar penetrante e encantador. Assim como todos da família de James. Todos naquele lugar eram extremamente lindos, e ao lado deles, eu era apenas um patinho feio em meio aos cisnes brancos. Eu me sentia estranha por atrair tanta atenção, nunca fora assim na minha vida. Meu coração palpitava cada vez mais, e as vezes eu sorria, mas de nervoso por ser alvo de tantos olhares.

Somente duas pessoas ali não me encaravam de forma constrangedora – excluindo os Cullen, e Linda e Tanea. Eram uma mulher e um homem. Ele tinha os olhos – estranhamente - vermelhos fixados num copo cheio até a borda. Ela, porém, chamava mais atenção.

Os enormes cabelos vermelhos caíam por sobre suas costas em cachos largos. Os olhos fixavam num ponto qualquer que eu não poderia distinguir. O rosto escultural trazia um sorriso um pouco torto por um motivo desconhecido. Ela conversava com ele, sem olhar para mim, sorrindo a toda hora por razões que eu desconhecia. Até que ela desviou o olhar para minha direção. Eu, constrangida e provavelmente corando, migrei o olhar para um ponto qualquer situado no gramado molhado. Só escutei ela gritar por ele:

- James!

Ele estava ao meu lado e olhou para ela com um evidente sorriso. Pegou em minha mão e sussurrou:

- Quero que conheça uma pessoa.

Aceitei – óbvio - e o segui em direção a ruiva que sorria escancaradamente. Ela pulou em seu pescoço, num abraço interminável. Posso confessar que senti uma pontada de ciúmes me corroendo por dentro. Mas esse sentimento não durou muito, foi só até ela falar com ele mais uma vez.

- James, fiquei tão feliz por você já ter chegado, meu primo. Estava com saudades.

Só nessa hora percebi minha mancada: ela era prima, não havia motivos concretos para eu ter ciúmes. Só a minha cabeça cheia de imaginação, que confundia uma prima melosa com uma sirigaita escandalosa e já pensava que estava tendo um compromisso sério com James. Pura bobagem.

- Prima, essa é minha amiga, Rosalie Hale. – ele disse a ela, que sorriu mais ainda.

- Sou Eve Newton, prazer. – ela se apresentou, pegando uma mecha de seu cabelo ruivo para enrolar no dedo, assim como eu tinha a estranha mania de fazer. Estendi a mão na esperança de que ela fosse apertar como fazem as pessoas que acabaram de se conhecer, mas ela agarrou meu pescoço numa coisa que ela chamaria de abraço, mas eu chamei de tentativa de homicídio. Sem exageros, eu quase me enforquei. Dessa vez, não foi por que me esqueci de respirar por motivos comuns, como estar ao lado de um ser tão lindo que jamais alguém imaginaria algo mais perfeito. Foi porque a prima Eve apertou tanto o meu pescoço numa tentativa de abraço que se tornou impossível o tão simples ato de respirar.

Assim que ela me soltou, fiquei um bom tempo tentando recuperar o ar, mas depois que consegui, pude perceber em Eve algo que eu não percebera antes. Suas feições, seu rosto, seus olhos, seu jeito, até seu sorriso, por um acaso, me lembravam alguém. Alguém de quem eu não lembrava nem tinha a esperança de lembrar, considerando minha péssima memória. Mas em algum canto da minha memória estava guardado o rosto de Eve, eu sei que estava.

Eu tentava a todo custo obrigar minha cabeça a me trazer a lembrança de Eve que eu estava certa que tinha. Tentei me lembrar de todos os meus amigos de infância, meus professores, meus vizinhos, a moça da padaria da esquina... Mas não consegui encontrar em nenhum desses rostos a face perfeita de Eve.

Eu passaria o resto daquela festa pensando nisso, se não fosse o meu bom amigo que resolveu me apresentar seu outro primo, irmão de Eve, Laurent. Esse rapaz tinha uma conversa tão boa que me esqueci completamente da prima Eve. Aproveitei a festa como nunca havia feito na vida, Eve fora embora mais cedo, então meus pensamentos sobre ela só voltaram a me atormentar na solidão da madrugada adentro. E minhas horas de insônia naquela noite - com pequenos intervalos para ir ao banheiro, tomar água, leite quente e contar carneirinhos - só me fizeram concluir que Eve Newton, talvez fosse um eterno mistério para mim.

Essa era eu, na minha ingênua adolescência, fase que eu não conseguia enxergar as pessoas como elas realmente são. Pobre de mim. Mas resolvi esquecer Eve. Mas minha cabeça não obedecia minha decisão. Afinal, quem era realmente Eve Newton?

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, James bate na porta de Rose. Mal imagina ela para que. Acredite, Rose terá mais surpresas pela frente. E afinal, quem será Eve? Se tiver algum palpite, COMENTE, estou aberta a opiniões. E, lembre-se: todo autor aqui é movido a comentários.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prefácio de Uma Vampira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.