Todos dizem que sou linda. Às vezes, não acredito.

                Meu maior sonho sempre foi ter uma família, com muitos filhos e netos, viver para sempre ao lado de uma pessoa que me amasse, ficar com os cabelos brancos cercada de crianças pela casa e morrer feliz por ter tido uma vida tão alegre. Mas todos esses sonhos foram por água abaixo assim que eu o conheci.

                Ele era lindo, absolutamente lindo. Seu rosto pálido incompreensível se destacava em meio à multidão alegre. Ele era o único que mantinha a curva entre as sobrancelhas e os lábios enrijecidos. Encantei-me na hora e não sabia o que fazer então eu decidi me manter afastada.

                - Rosalie, algum problema? – perguntou Vera, olhando para mim como se eu fosse mesmo uma maluca.

                - Quem é ele? – eu perguntei, ignorando sua preocupação.

                - James Newton. – ela respondeu segura de que estava certa. – Ele é o cara mais lindo e disputado desta escola, Rose.

                - Mesmo? – perguntei confusa.

                - E você é a garota mais linda e disputada desta escola.

                - Não acredito nas estatísticas. – bufei.

                - Pois trate de acreditar, Rosalie! Garota, você é linda. Todos os garotos desta escola ou já tentaram ou ainda não tiveram coragem de falar com você. Mas você não dá chance...

                - Nenhum deles me agrada. – aleguei, desviando o olhar do rosto de Vera e olhando para frente. Mas ele estava olhando para mim e tornei a olhar para ela.

                - Não sei por quê. Tantos garotos bonitos e legais já tentaram falar com você, Rose. Mas, como eu sempre digo, você é muito teimosa. Dê uma chance ao amor.

                - Devo mesmo? - perguntei juntando as sobrancelhas tão confusas quanto eu.

                - Claro que deve! O próximo que vier falar com você, responda. Não dê um soco na cara nem um chute no tornozelo. Não fale mal da madrinha dele e muito menos da mãe. Não o mande ir pra China, não peça para ele sair da sua frente nem coloque o pé para ele cair.  - enumerou Vera, assustando-me.

                - Tá bom. – respondi, olhando para frente mais uma vez. O meu olhar encontrou o dele e eu olhei para o chão, envergonhada.

                Entramos na classe de trigonometria, minha matéria preferida. Todos falavam do final de semana, cada um teve um diferente. A voz quase oculta professor nos ordenou que ficássemos calados e que o escutássemos. Toda a classe obedeceu, apesar das reclamações.

                - Hoje precisarão de parceiros para realizar a tarefa, que serão sorteados.

                Avisos de descontentamento surgiram de todo o corpo estudantil daquela sala apertada. O professor pediu silêncio novamente e começou a sortear de um pequeno saco plástico alguns nomes. Rezei para que meu par fosse Vera, então olhei para ela e sorri. Ela repetiu o gesto e estendeu a mão. Peguei em sua mão, para garantir que ela também torcia pela nossa parceria geométrica. Mas parece que o destino não queria isso.

                O professor anunciou que Vera era a mais nova parceira do idiota do Emmett. Bufei com raiva e fiquei pensando em quem poderia ser meu parceiro. Vera e eu éramos inseparáveis desde pequenas. Aquele professor não poderia interferir numa história de eterna parceria e amizade. Eu estava completamente revoltada. Mas tudo isso mudou depois que ele anunciou meu parceiro: James.

                Tentei disfarçar um sorrisinho lateral, meio constrangido, mas não forçado. Eu o fitei, já controlando meu sorriso e ele me olhou, sério. Coloquei o cotovelo em cima da mesa e apoiei a cabeça na minha mão. Com a outra, comecei a brincar com uma mecha do meu cabelo, enrolando-a no dedo. Ele ainda não sorria.

                O professor nos ordenou que as duplas juntassem as cadeiras e fizessem a tarefa na sala mesmo. Como ele não saiu do lugar, resolvi tomar a iniciativa e peguei a cadeira levando-a em sua direção. Emmett estava passando do meu lado e se ofereceu para levá-la para mim. Aceitei, suspirando de tédio e resolvendo de uma vez por todas que Emmett era um verdadeiro imbecil, mas também era um cavalheiro.

                Sentei ao lado de James, e ele continuou calado. Continuei mexendo no cabelo com os dedos, mas ele só me encarava sério. Então eu desisti e comecei a copiar o que o professor escrevia na lousa. James continuava imóvel.

                - Você é linda. – ele disse ainda sério.

                - Obrigada. – agradeci sorrindo.

                - Qual o seu nome? – ele ergueu as sobrancelhas, mostrando ser curioso, mas que não prestara atenção ao sorteio do professor.

                - Rosalie Hale. Prazer. Pode me chamar de Rose. – eu me apresentei, ainda sorrindo.

                - Olá, Rosalie. – ele riu – Precisamos nos falar mais vezes.

                Concordei com a cabeça, enquanto abria o livro para começar a tarefa.

                - Tarefas... – ele bufou – Não deviam existir.

                - Não mesmo. – concordei, enquanto escrevia.

                - Rose, quem é aquele te encarando? – ele perguntou, rindo e apontando para o outro lado da sala. Virei a cabeça para enxergar. Emmett desviou o olhar assim que olhei em sua direção. Vera escrevia sem parar, enquanto ele estava com a cabeça apoiada no punho esquerdo, enrolando a minha amiga e fingindo que também escrevia suas teorias num caderno azul. Não pensei muito para responder:

                - É um idiota. – eu concluí, me virando para frente e continuando a escrever.

                - Concordo. – ele cruzou os braços. – Mas você não gosta desse idiota, gosta?

                - Não. – respondi sem tirar os olhos do papel. – Ele é um completo idiota, e mesmo depois de tantos foras, não desiste de mim. – informei.

                - Ele vai desistir, um dia vai.

                - Ele tem que desistir um dia, se não eu não vou conseguir agüentar.

                - Tenho certeza que consegue. Conseguiu até agora, não foi?

                - É...  – suspirei. – E ainda não morri.

                - É... Ainda não. – ele murmurou de um jeito quase incompreensível. Fingi que não tinha entendido o que ele disse e continuei a escrever. Mas, no fundo, aquelas palavras me afetaram e me assustaram. Passei a noite pensando naquilo e no que ele queria dizer. Seria uma ameaça? Eu não o conhecia o suficiente para saber, então resolvi não me precipitar e ignorar o que pensei que ele quis dizer. Foi quase como um sonho, quase irreal. Mas eu sabia que tinha sido verdade, eu conhecera um cara de quem eu gostava e agora estava encantada por ele. Mas eu ainda não sabia o que fazer, então decidi somente deixar as coisas acontecerem no seu tempo.