Branca de Neve e o Caçador 2 escrita por Karol Books


Capítulo 7
Uma busca no Santuário


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Perdão pelo sumiço, o motivo é que eu comecei a trabalhar e, então, minha vida tornou-se muito mais agitada e corrida, com um cansaço maior. Porém, não pretendo desistir dessa história e peço que não desistam dela também. Bem, agradeço a Deus pela maravilhosa inspiração e, depois, a Ana Paula pelo comentário no capítulo anterior. ;D Sem mais delongas, aqui vai mais um capítulo!



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Desperto e logo vou escolher um vestido rosa claro, quando as criadas chegam, elas veem-me já escolhendo minhas joias e estranham a minha disposição tão cedo de manhã.

— Minha rainha, está tudo bem? - pergunta-me Georgia

— Sim, eu só estou ansiosa para o passeio no Santuário, o meu coração está pedindo para estar lá - desabafo

— Às vezes, o coração é o melhor guia - comenta Ellie

— Eu espero que esteja certa - digo, enquanto elas terminam de ajeitar meu cabelo em uma trança com enfeites coloridos

— Está pronta, majestade - elas se afastam de mim e eu me alegro ao contemplar o resultado no reflexo do espelho.

— Obrigada - afirmo e deixo o quarto para me encaminhar ao cômodo das refeições. Quando lá chego, estranho ao encontrar o ambiente vazio e decido perguntar a um dos guardas o motivo daquilo - O que houve? Por que ninguém veio?

— Se me permite, minha rainha, ainda é cedo, o duque Hammond ainda está dormindo e seu filho e o senhor Erik conversam na praia - o caçador deve estar se desculpando pelo seu comentário rude ontem à noite.

— Obrigada pela informação.

— De nada, majestade

— Peça para separarem, por favor, dois cavalos: um para mim e outro para o sr. Devenger, além de um grupo de guardas para nos acompanharem em nosso passeio hoje.

— Claro, majestade

Decido, então, dar uma passada na biblioteca, enquanto aguardo Erik para tomarmos e desjejum juntos, eu sei o livro que vou pegar, o meu preferido, o que minha mãe lia para mim com um sorriso radiante, “O sussurro mágico da floresta”, um conto de fadas, recheado com criaturas mágicas e um poema que decorei de tanto ouvir. Mais uma vez retorno às familiares palavras da poesia.

            Há um sussurro suave vindo da floresta

Um sussurro cheio de magia, entoado pelas fadas

Mais macio do que a seda pura

Mais doce que o mel das abelhas trabalhadoras

 

Há um sussurro vindo da floresta

E ele me chama como uma canção de ninar

Um dedilhar das cordas do violão de um velho amigo

E eu quero chegar perto do som para unir minha voz a ele

 

Há um sussurro vindo da floresta

E ele me chama para casa, tem cheiro de lar

Tem o gosto do abraço conhecido

E eu vou, vou para lá, desvendar os mistérios que me aguardam

Vou desbravar o desconhecido

E encontrar respostas ao sussurro que ecoa dentro de mim

 

 

As lágrimas começam a escorrer imediatamente após a leitura, aquilo era um momento especial entre mim e minha mãe, algo mágico que compartilhávamos juntas, era maravilhoso como as palavras pareciam ganhar outro contorno. Eu sei que se ela tivesse que falar comigo secretamente usaria palavras que só nós duas entenderíamos, como as do livro, as do poema dentro dele e é isso que fica martelando em minha mente. Ela está morta, repito para mim mesma em meus pensamentos, ela está morta. Morta. Morta assim como eu já estive, antes do beijo de Erik. Morta? Mesmo? Tento recobrar-me de toda a época, do lamento de meu pai, do seu corpo inerte em cima da cama, mas o meu já esteve assim também dentro da fortaleza do duque Hammond e, então, tudo começa a ficar menos certo. Respiro fundo, pois meu peito se acelera com as conclusões as quais eu quero chegar, as que eu tenho muito medo de confessar, pois, até mesmo, antes que eu realmente tenha falado-as mentalmente, o mero fato de cogitá-las me assusta.

Será loucura? Será? Me sento em uma das cadeiras em busca de algum conforto, pois minha mente está muito confusa, a fronteira entre a magia e a insanidade mostra-se tão tênue para mim, eu, por mim mesma, já senti o poder mágico e, por isso, não duvido de sua extensão. A questão toda é se minha mãe também possuía a forte magia correndo em suas veias. E como eu saberia disso? Os sonhos, talvez eles sejam uma resposta para mim, parece-me um pouco demais confiar neles, mas testa-los são o único caminho que me restam para acabar de vez com as dúvidas que me rondam. Porém, não quero me deixar levar por essa esperança, não quero criar expectativas que me levem a me descontentar com uma dura realidade com a qual aprendi a aceitar.

Respiro fundo, seco as lágrimas e retorno para a sala de jantar em busca de Erik, quando eu lá chego, ele já está:

— Bom dia, meu amor. Antes que você diga qualquer coisa, eu já falei com William.

— Eu sei.

— Como?

— Um guarda me avisou - eu digo e ele cerra os olhos

— Ainda não gosto de como eles sabem de tudo o que acontece aqui dentro.

— Mas agora você é um deles?

— Eu sei, eu só queria saber aonde foi parar minha privacidade.

— Eu sinto muito, meu amor. - ele passa a mão pelos cabelos

— Eu não gosto nada disso, mas tudo bem. Eles têm que obedecer a palavra de um rei, mesmo um consorte, não é? - eu confirmo com minha cabeça - Isso pode me dar um pouco de espaço.

— Dá sim. - sorrio - Fico feliz que a ideia de ser rei e dar ordens não lhe incomoda tanto quanto antes.

— É, eu percebi que tem seus benefícios. - ele sorri de um jeito encantador para mim, com seus olhos brilhando mais do que a luz do sol que adentrava pelas janelas. - Não vai tomar café?

— Claro - sento-me e começo a me servir juntamente com ele. - E como foi a conversa com Will?

— Ele aceitou minhas desculpas, mas eu sinto que terei que ser bem cauteloso, ele é uma boa pessoa, apesar de estar apaixonado por você, não consigo sentir raiva dele. O fato de ele nos apoiar só faz com que eu tente não tornar as coisas mais complicadas para o duquezinho, se eu pudesse, hoje mesmo faria com que ele se encantasse por outra para acabar de uma vez por todas com isso.

— Também queria ter esse poder, mas, hoje, eu quero focar no nosso passeio.

— Bem, eu já pedi que preparassem a comida para nós, porque eu achei que você esqueceria com tanta responsabilidade.

— Fez certo, eu realmente esqueci. - eu me sinto meio confusa, tentando pensar em como pude não me lembrar disso - Obrigada. São tantas coisas que é difícil lembrar de tudo.

— Tudo bem, eu estou aqui para isso - ele diz e me dá um rápido selinho - Acho melhor irmos agora - ele me leva em direção ao estábulo e, quando dou de cara, fico aliviada de ter lembrado de alguma coisa hoje.

— Dos cavalos eu não lembrei - Erik me encara um pouco preocupado

— Isso não me fugiu, pelo menos. - nós nos aproximamos dos animais tão belos e fortes, o pelo cor de mel brilhante de Vul me impressiona e eu a escolho para a cavalgada; já o caçador vai para Dulino, um dos nossos cavalos mais agitados e de pelo negro como a noite e que, também, parece demonstrar simpatia por meu consorte. Montamos em nossos animais e, quando vamos em direção ao portão do castelo, um grupo de soldados nos acompanha.

— Isso também não - ele revira os olhos em claro incômodo

— Erik, você sabe que isso é necessário - tento fazê-lo entender a situação

— Eu sei - ele suspira - Mas isso não significa que deixa de ser chato

— Eu entendo - eu rio - Quando eu era criança, tentava fugir deles, fazia caminhos complicados para tentar despistá-los, isso até que meu pai teve uma conversa séria comigo, ele me contou como a nossa segurança é importante. Um dia, um antepassado, o rei Hugh, quando tinha onze anos, o pai era falecido, a mãe estava muito doente, à beira da morte e ele fugiu para a floresta para poder pensar. O problema é que ele se perdeu, o reino, então, entrou em desespero, a linhagem real poderia morrer com com ele e isso nos deixaria vulnerável. Todos ficaram desesperados com medo de a rainha morrer sem o herdeiro ser encontrado e o reino do Norte usar isso como respaldo para uma invasão, naquela época, nossas relações com ele não eram tão amigáveis.

— E o garoto foi encontrado?

— Foi, uma semana depois, estava faminto e meio desidratado.

— Tudo bem, já entendi, segurança é importante, não precisa usar um exemplo amedrontador de como as coisas podem dar errado

— Meu pai usou isso comigo quando eu era criança e deu certo.

— Mas eu não sou uma criança, Branca

— Mas estava resmungando que nem uma, caçador. - ele revira os olhos

— Está se confiando muito em sua coroa, rainha. - ele me olha sério e desvia o olhar para as árvores que começam a despontar no horizonte.

Seguimos com o barulho do ressoar das patas dos animais no solo e com os raios da manhã, aos poucos, iluminando-nos, eu olho para o lado e avisto Erik fitando-me e o sorriso que se abre em nossos lábios é involuntário e tudo o que sinto é paz. Em algum tempo, chegamos à entrada escondida do Santuário, mal adentramos o local e somos recebidos pelas fadas, que vem até mim e Erik muito empolgadas.

— Parece que se lembram de nós - o caçador diz animado

— É - respondo, enquanto uma delas pousa em minha mão - Oi - sorrio para ela que parece tentar falar comigo - É bom ver todas vocês de novo - elas voam ao redor do meu vestido, tocando o tecido - Vocês gostaram? Queria poder dar um para cada uma, porém acho que minhas costureiras teriam dificuldade em fazer algo que se ajuste a vocês - percebo os guardas e meu consorte observando-me - Vocês podem ficar aqui, é perto o suficiente para que possam me acudir em em qualquer coisa - falo com os soldados - Vamos? - estendo a mão para o caçador, que me dá o braço e caminhamos para a região mais interior do Santuário.

— Fique calma - ele me diz quando sente-me um pouco trêmula - Não viemos aqui para descobrir o verdade? Bom, então, é isso o que faremos - nós paramos e ele me olha profundamente nos olhos, enquanto acaricia minha bochecha - Estou aqui sempre para o que precisar, não vou sair do seu lado a menos que me peça para ir

— Não vou pedir. Erik, e se ela estiver viva? E se os meus sonhos forem mesmo verdade? O que faremos? É a minha mãe e eu não faço a minha ideia de como me comportar. Eu sou uma péssima filha?

— Respire, Branca, respire. Tenho certeza de que sempre foi uma boa filha. Quero que se lembre de que ela estar viva é uma possibilidade, pode ser verdade, como também pode não ser. Não crie expectativas demais, não quero que se iluda e, depois, se decepcione, me doeria muito te ver triste.

Paramos um pouco antes de chegar às águas onde encontrei o Cervo.

— Acho melhor você seguir, daqui em diante, sozinha. Eu te amo - ele me sussurra e me beija com amor e me envolve em seus braços, o toque de seus lábios me transmite carinho até que temos que nos separar - Estarei esperando por você aqui

— Obrigada

Sigo sozinha pela campina com a grama abaixo de meus pés, o vento sussurrando e o barulho do correr das águas tornando-se mais alto à medida que me aproximo delas. É solitária a sensação, minha respiração fica mais rápida e pesada, minha mãos gelam e suam, dou passos incertos até que me encontro no exato ponto onde estava quando acariciei o pelo do Cervo. Eu luto para que minha voz saia de minha garganta, ela se esconde durante um tempo até que aparece:

— Mãe! Eu vim aqui te encontrar! Eu entendi o que você me disse, eu vim aqui te encontrar! Pode aparecer, não precisa ter medo, Ravenna está morta, ninguém te fará mal, iremos voltar ao palácio juntas como era antes, mãe e filha! Mãe, não precisa ter medo! Mãe, sou eu, Branca! Mãe! - um bolo começa a se formar em minha garganta - Mãe! - minha voz começa a falhar e as lágrimas quase transbordam - Mãe, por favor, aparece! - um pequeno rio flui de meus olhos – Mãe! Mãe, por favor, por favor, apareça! Mãe! - eu tento buscá-la com meus olhos desesperada, mas não vejo ninguém - Mãe! Mãe!

Minha voz vai minguando até que se tora um mero choramingo, meus joelhos cedem, meu corpo treme com os soluços, um balbucio baixo e sem nexo sai por meus lábios trêmulos. É dor, pura e cruel, que me parte ao meio por completo, sem qualquer piedade ou clemência, arrasando com todos os meus sonhos. Ela está morta, enterrada, morta, eu nunca mais a verei, essa tinha sido uma verdade difícil de aceitar aos doze anos, difícil demais e, agora, alguns anos mais velha, ainda é esmagador encará-la de novo, como se eu nunca tivesse conhecimento disso, como se minha mãe tivesse morrido outra vez juntamente com as minhas esperanças. Eu tinha doze anos de novo, eu perdi a minha mãe e, nem ao menos, tenho meu pai para me consolar, estou sozinha. Sozinha. Não! Sozinha não! Erik! Ele está aqui! Arranco forças de dentro de mim, coloco as palmas das mãos na terra e me empurro para cima, seco as lágrimas com as costas das mãos, ando com passos fracos, enquanto respiro fundo tentando me acalmar. Vou caminhando lentamente e, quando o avisto, ele está de costas para mim, observando a floresta, tento recuperar minha voz e, incertamente, arrisco um sussurro:

— Erik - ele não escuta e eu procuro me aproximar ainda mais dele - Erik - chamo-lhe mais alto

— Branca - ele toma um susto ao me ver - Branca - ele corre até mim e me envolve em seus braços, segurando-me para que eu não caia - Eu sinto muito, eu sinto muito - ele sussurra em meu ouvido enquanto acaricia meus cabelos - Eu queria que fosse verdade, eu realmente queria que fosse verdade, queria mesmo. Eu sinto muito - ele me nina em seus braços e eu choro, extravaso tristeza na segurança dos braços do caçador

Passamos um tempo ali até que eu, finalmente, consigo me restabelecer, afasto-me um pouco de seus braços e fito seus olhos amorosos e compreensivos.

— Me desculpe, isso era para ser um passeio romântico e não está sendo nem um pouco assim - dou um sorriso triste e fungo

— Está tudo bem - ele coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha - Na alegria e na tristeza. São palavras para serem cumpridas mesmo antes dos votos serem ditos. Eu estou aqui, eu já te disse isso. Bom, vamos lavar o rosto? - ele me conduz até um fina corrente de água, onde eu limpo minha face e volto ao normal.

— Bem, vamos comer alguma coisa

— Estava esperando você dizer isso, não aguentava mais carregar essa cesta de comida - o caçador dá uma risada contagiante e eu até solto um riso baixo e suave. Ele forra a grama com uma toalha e vai espalhando os bolos, pães e odres de suco e água por cima dela, pego um pedaço de um bolo de nozes e ele me serve um copo de suco de uva.

— Alguém me escutou falando alguma coisa? - baixo a cabeça, evitando seu olhar - Você ou os guardas?

— Não, nada, a região para onde você foi, incrivelmente, impediu que algum fosse ouvido

— Ainda bem que não, há coisas que devem ser mantidas em segredo, um rei ou uma rainha devem inspirar respeito, então, não temos direito a desmoronar na frente dos outros, isso tem que ser feito em particular. - Erik me lança um olhar meio triste

— Então fique tranquila, não ouvi sequer um fio de voz seu e pode ter certeza de que não contarei nada a ninguém.

— Essa é a primeira coisa que tenho que te contar, ser consorte não é fácil, eu vou precisar que seja guardião de meus segredos e que me ampare nos momentos difíceis.

— Isso um marido já faz com a esposa

— Mas no caso, o marido da rainha, além de questões particulares, tem que lidar com as do reino. Não dá para ficar resolvendo o dia inteiro os problemas do súdito e, depois, simplesmente esquecer tudo na hora de viver a vida particular, às vezes, levamos coisas para nossos momentos de folga e não é porque queremos, é porque, simplesmente, não dá para se desconectar do sofrimento das pessoas. Porém, isso é complicado. Entende, Erik? Quero que saiba logo para que entenda, realeza também tem suas cobranças. Está preparado para isso?

— Estaria mentindo se dissesse que estou 100% certo, mas isso não quer dizer que não estou disposto a tentar e a fazer dar certo. Eu já enfrentei uma floresta enfeitiçada duas vezes e uma bruxa. Então, o que pode ser pior do que isso? - eu rio

— Acho difícil encontrar algo pior - sorrio - Agora que já avisamos um ao outro o risco que é nos relacionarmos, podemos daqui em diante só continuar?

— Concordo plenamente - ele me beija suavemente

Continuamos comendo e Erik faz questão de falarmos apenas de coisas felizes, arrancando-me algumas boas gargalhadas e aquela dor vai minguando até que se esconde em algum lugar do meu coração no qual não pretendo mexer tão cedo. Aproveitamos e também passeamos pelo Santuário com mais calma, já que da última vez que estivemos aqui, a perseguição nos impediu de apreciar plenamente a beleza do local. Ficamos lá até que o sol fica a pino no céu e, então, decidimos ir atrás dos anões para sabermos como estão e como anda a reconstrução das antigas minas. Porém, enquanto deixamos aquele local, não posso resistir a olhar para trás como um resquício de esperança de que ela está lá, um fio que é rasgado pelo vislumbre apenas da paisagem, sem qualquer visão de alguém.


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Notas finais do capítulo

Bem, se gostaram, comentem, recomendem e/ou favoritem! Bjs e até o próximo capítulo! :D



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