If I Could Be Anyone Else escrita por theosgood


Capítulo 1
Capítulo Único




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Tony Stark amava sua vida.

Apenas para começar a listar os motivos, ele era um gênio. Toda a sua história mostrava isso, sem deixar espaço para dúvidas. Desde que havia construído sua primeira placa de circuitos aos quatro anos de idade até sua formação no MIT aos dezesseis anos. Uma noite estudando os arquivos certos e ele se tornava especialista em astrofísica termonuclear da noite para o dia. Já havia acontecido.

Ele também gostava bastante da parte “bilionário” de suas qualidades, essa pelos motivos mais óbvios. Tony possuía gostos caros desde pequeno, e dinheiro nunca, em momento algum de sua vida havia sido um problema. Era o luxo que ele se permitia ter e, honestamente, ele realmente merecia. E era exatamente todo esse dinheiro que o permitia viver a vida de playboy, recheada de ostentações e tão socialmente intensa, apenas para usar palavras mais brandas.

A parte preferida de Tony era ser um super-herói. Ele acreditava que vivia a melhor parte de si mesmo sempre que estava na armadura do Homem de Ferro. Sem falsa modéstia, ele adorava a atenção que aquilo lhe rendia, claro, ele ainda era Tony. Mas era apenas quando vestia a armadura que ele se permitia ser totalmente altruísta.

Então, se qualquer pessoa perguntasse, ele responderia sem pestanejar: ele realmente amava a vida que levava.

Mas às vezes ele se cansava de ser Tony Stark.

Não tinha nada a ver com ingratidão, e apenas a ideia de que alguém poderia pensar isso era o bastante para irritá-lo. Não, era mais simples que isso. Às vezes ele se pegava imaginando como seria se ele não precisasse lidar com... Bom, com tudo que ele lidava. Como seria uma vida simples, em um lugar simples, comum. Sem uma empresa para comandar, sem um time de heróis do qual fazer parte e sem precisar estar sempre preocupado em fazer uma nova flecha para Clint ou aprimorar o escudo do Capitão.

Era por causa desse cansaço que Tony havia se permitido criar uma conta fake em um site de relacionamentos. Sim, ele sabia que aquilo era um tanto quanto juvenil, e ele realmente já havia passado dessa época há algum tempo. Mas ele considerava que aquela havia sido uma de suas melhores ideias. Ninguém ali sabia quem ele era, ninguém possuía idéias pré-definidas a seu respeito. O anonimato que a internet oferecia era uma dádiva em alguns momentos.

Foi assim que ele conheceu Stephan, inicialmente pelo nome de usuário ssm-70. De todas as pessoas com as quais Tony havia conversado pelo site, Stephan era de longe a melhor delas. Ele sabia quando ser engraçado e quando falar sério. Ele parecia aguentar bem as reclamações de Tony – que no geral eram muitas. Tony achava que Stephan era quase perfeito, e por isso era tão bom para Tony que eles não se conhecessem na vida real.

A última coisa que ele precisava era de mais um Capitão América em sua vida.

Não que ele não gostasse do Capitão – ele gostava, provavelmente muito mais do que o recomendado. O problema era que Steve Rogers era o homem ideal, o cidadão modelo, o soldado perfeito. Ele era realmente tudo o que Howard havia lhe contado durante sua infância, isso se não fosse mais.

Só que Tony estava muito longe de ser perfeito.

No fim, mesmo que a maior vontade de Tony fosse ser o mais próximo possível de Steve, sempre parecia que suas tentativas de aproximação apenas afastavam o loiro ainda mais. E ele sequer poderia culpá-lo.

Então sim, já bastava Tony ter que lidar silenciosamente com a rejeição de Steve, alguém de quem ele queria tanto ser próximo. Ele não precisava ter que também lidar com a rejeição de alguém como Stephan. Tony Estava realmente velho demais para lidar com perfis falsos e paixonites.

***

Durante muito tempo Tony havia morado sozinho, tendo como companhia apenas JARVIS. Ele nunca havia visto essa “solidão” como um problema – na verdade ele até gostava bastante. Não precisar se preocupar com o que fazer ou quando fazer ou como fazer era a melhor parte de morar sozinho, e mesmo que ele morasse em uma mansão, ele sempre tinha algo que o ocupasse.

Mas agora Tony não morava mais em Malibu. Ele era um atual residente da Torre dos Vingadores em Nova Iorque. E, diferente da paz que possuía na antiga mansão, o tempo todo havia alguém caminhando pela torre. Não importava o horário que ele estivesse andando pelos corredores, sempre havia alguém acordado – e os horários em questão eram realmente bagunçados. Mesmo às cinco e vinte da madrugada, Tony encontrava Steve sentado em frente a bancada da cozinha com dois enormes lanches em sua frente, um deles já pela metade.

Steve estava sempre acordado. Tony entendia que ele não dormia tanto quanto seres humanos comuns, provavelmente algo relacionado ao soro do super soldado. Mas ele achava no mínimo engraçado a maneira como sempre, em qualquer horário que Tony passeasse pela torre, ele acabava encontrando Steve.

— Bom dia, Tony. — a voz de Steve parecia cheia de energia.

Porque ele sempre parecia cheio de energia, é claro. Tony também não dormia muito, possuía coisas demais para fazer e dormir era um luxo que pessoas como Bruce tinham, com a desculpa de estar sempre relaxado para evitar aparições indesejadas do “cara verde”. Mas Tony sabia que, para não soar como um zumbi de produções baratas, ele precisava de algumas xícaras de café.

— ‘Dia. — o mau humor era claro em sua voz. Café. Ele precisava de café.

— Dormiu alguma coisa essa noite? — às vezes Steve parecia uma mãe. Depois que havia descoberto a falta de hábitos de sono de Tony, aquela havia se tornado uma pergunta realmente frequente e, honestamente, bastante irritante.

— Uhum. — Tony nem se deu o trabalho de abrir a boca para reproduzir o som, forçando a garganta. Pegou a maior xícara, a mesma que sempre falava para ninguém mais usar mas também sempre via na mão de Clint, a levou até a cafeteira. Sem café. — Você não fez café?

— Você não gosta do meu café. — Steve franziu as sobrancelhas, parecendo confuso demais para seu próprio bem.

De fato, Steve não era o melhor entre os Vingadores quando o assunto era café. Ele sempre errava a proporção pó-água, que aliás já estava indicada na própria cafeteira. Seus cafés eram quase intragáveis, mas Tony ainda acreditava que café ruim era melhor que café nenhum. Bufando, jogou o pó na cafeteira e a ligou, sabendo que teria que esperar mais ou menos cinco minutos para que tudo ficasse pronto – ele faria o máximo de café que a cafeteira permitia.

Tony cruzou os braços e se apoiou contra a bancada, observando enquanto Steve voltava a ignorá-lo e dar atenção a seu lanche, dando mais uma enorme mordida. Tony franziu as sobrancelhas na direção do loiro. Ele não gostava muito de ser ignorado, e teria que ficar ali por cinco minutos até que sua bebida ficasse pronta e ele pudesse levar todo o conteúdo para seu laboratório, onde aliás ele havia deixado o celular, o que o obrigava tentar puxar assunto com o Capitão, apenas para que tivesse a impressão de que o tempo não demoraria tanto para passar.

— Quais são seus planos para hoje? — Tony se pegou falando, impressionado com a maneira como sua voz passava a sensação de que ele estava realmente interessado na resposta.

— Hã... — Steve também pareceu meio surpreso. Soltou o lanche, engolindo rapidamente o que havia acabado de morder e limpando o canto da boca com o polegar, um gesto que fez com que Tony desviasse os olhos automaticamente. Ele não era obrigado a lidar com esse tipo de coisa. — Eu vou... Correr, daqui a pouco. E depois acho que vou ter que passar na SHIELD. Fury pediu... Hã... É, isso. E... Hã, e você?

OK, aquilo era ridículo. Steve claramente estava desconfortável. Claro que ele estava desconfortável. Ele e Tony raramente paravam para jogar conversa fora ou trocar palavras que não fossem a respeito dos Vingadores. Tony olhou para a cafeteira, desesperado, esperando que ela apitasse e ele pudesse sair dali logo.

— Tenho coisas das Indústrias Stark para resolver.

— Claro. Você é uma pessoa muito ocupada. — Steve sorriu antes de voltar a atenção para o seu lanche e dar mais uma enorme mordida.

Tony não sabia dizer o que mais havia lhe incomodado, se havia sido a maneira calma e ainda assim um pouco provocativa que as palavras de Steve haviam soado ou se o sorrisinho tão... Perfeito. Por isso ele apenas revirou os olhos e voltou a prestar atenção na cafeteira.

Ele poderia comprar uma briga, puxar uma discussão, qualquer coisa assim. Na verdade ele sentia uma enorme urgência em responder da maneira mais sarcástica e menos educada o possível, mas ele simplesmente não estava no clima. Ainda estava cedo, ele não havia tomado café, e Steve parecia realmente interessado no lanche. Que ficasse feliz com o maldito lanche.

Quando a cafeteira apitou, avisando que o café estava pronto, Tony sentiu-se tão emocionado que considerou a ideia de acabar chorando – o que teria sido péssimo. Apenas desencaixou a jarra e pegou sua xícara, pronto para transportar as duas para seu laboratório e passar um dia maravilhoso.

— Tony? — a voz de Steve o fez parar antes mesmo de se afastar o bastante.

— Que?

— Você vai levar tudo isso pro laboratório? — os olhos azuis do Capitão estavam na jarra cheia com o líquido escuro, soltando fumaça. Ele esperou que Tony confirmasse com um aceno antes de continuar. — Será que... Você poderia me dar um pouco?

Tony podia jurar que cafeína não afetava o sistema de Rogers de nenhuma maneira, e ele tinha certeza de que a confusão estava muito aparente em seu rosto, especialmente quando notou o rosto do loiro começando a ficar levemente corado. Mesmo assim Tony voltou para perto da pia, onde pegou uma caneca no escorredor de pratos e a encheu com café, estendendo-a para o outro homem.

— Algo mais? — Tony realmente não queria soar irônico, mas foi o que aconteceu.

— Não. Obrigado. — Steve levou a xícara à boca rapidamente, o rosto ainda mais vermelho.

Tony sabia que aquela temperatura era alta o bastante para queimar toda sua boca, mas Steve pareceu não dar a menor importância. Ele apenas balançou os ombros antes de voltar para o laboratório e prestar atenção em coisas que realmente importavam.

***

Steve estava longe de ser um Tony Stark quando o assunto era tecnologia. Talvez Tony não fosse o melhor comparativo, afinal o homem vivia daquilo. O fato era que Steve não era exatamente ótimo com essa coisa de tecnologia, mas ele estava muito longe de ser tão ruim quanto todos imaginavam.

Acordar em uma década, um século completamente diferente havia sido mais difícil do que passar pela Segunda Guerra. Desde o “setenta anos no futuro” até o “todas as pessoas que você conhece estão mortas”. Ele sabia fingir muito bem que estava lidando com tudo com certa naturalidade, e é claro, ele tentava, realmente tentava muito se adaptar a cada nova coisa a qual era apresentado. E, por mais difícil que fosse, na maioria das vezes ele conseguia.

Como a questão da tecnologia. Ele ainda via as pessoas olhando para ele com certo cuidado quando falavam palavras como wireless, tablet, sistema operacional e aplicativos. Ele realmente se esforçava para não revirar os olhos para essas pessoas, que provavelmente o consideravam burro. Em momento nenhum de sua vida, antes ou pós soro, ele havia sido uma pessoa burra, e certamente não começaria agora.

Era por pequenas coisas assim que às vezes Steve queria apenas ser deixado em paz. Ele não aguentava mais pessoas querendo lhe contar tudo o tempo todo, lhe fazendo perguntas sobre a guerra, e principalmente os olhares. Ele realmente não suportava mais os olhares de pena que recebia. Era como se ninguém estivesse pronto para deixá-lo seguir em frente, quando na verdade ele mesmo já havia seguido – ou tentava.

Steve havia gastado muito tempo na Internet, porque ela era simplesmente incrível. Ele havia percorrido os mais diferentes tipos de site, alguns dos quais haviam virado seus favoritos, outros dos quais ele nunca mais queria acessar – as pessoas postavam coisas realmente vergonhosas. Mas a coisa mais incrível que ele havia descoberto havia sido o anonimato.

Uma vez ele acabou acessando um site de relacionamentos, onde haviam todos os tipos de pessoas procurando todos os tipos de relações. Quando tentou responder a uma postagem, ele se viu obrigado a criar uma conta. A última coisa que ele queria era se chamar “CapitãoAmérica47” ou “SteveRogers1920” – inclusive ambos nomes já estavam em uso. Mas ele poderia usar qualquer nome, ninguém precisava saber quem ele era. Por isso ele se cadastrou como ssm-70, e foi assim que ele conheceu Eddie.

Ele não fazia a menor ideia de quem era Eddie. Tudo o que ele sabia era que ele havia se cadastrado sob o nick EdST. Ele não sabia de onde ele era, mas havia associado o ST a Seattle, mesmo sabendo que aquela não era a abreviação da cidade. Ele também sabia que Eddie trabalhava em uma companhia grande, apesar de ele nunca ter falado de qual se tratava. E, principalmente, ele sabia que ele gostava muito de Eddie.

Era estranho essa sensação de gostar tanto de uma pessoa que você mal conhecia, era algo completamente novo para Steve. Mas a cada dia em que trocava mensagens com Eddie, em que reclamavam da rotina, trocavam piadas e confissões, Steve tinha mais certeza sobre o quanto o que sentia pelo homem era real. Aquela era a parte mais difícil de todas. Ninguém havia ensinado-o sobre relacionamentos virtuais. Óbvio, quem imaginaria o Capitão América se envolvendo com alguém virtualmente?

Às vezes ele se pegava pensando em como Eddie deveria ser. Ele já havia imaginado-o de diversas maneiras: alto, baixo, gordo, magro, loiro, moreno, negro, branco, asiático... Tudo parecia levá-lo a crer que ele não se importava realmente com a aparência do homem. Claro, porque ele não havia precisado de uma foto para que sentisse tudo o que estava sentindo. Que diferença poderia fazer se no fim Eddie fosse careca? Absolutamente nenhuma.

“Às vezes eu acho que sofro de insônia” Steve recebeu uma mensagem de Eddie e sorriu. Ele sempre mandava algo, nos horários mais estranhos. Mas Steve não se importava, ele ficava feliz apenas em receber alguma mensagem do homem.

“Até nisso nós combinamos” ele demorou um pouco para digitar. Ele demorava um pouco mais do que Tony, Clint, Natasha e todos os outros Vingadores – com exceção talvez de Thor, que parecia ter mais problemas com tecnologia do que ele.

Steve aguardou mais alguns minutos pela resposta de Eddie, que nunca chegou. Suspirou, imaginando que ele havia acabado caindo no sono ou que estivesse resolvendo algo sobre a empresa em que ele trabalhava – o que acontecia com frequência, para ser sincero. Ele apenas suspirou fundo antes de colocar o pequeno aparelho celular que Tony havia lhe dado no bolso e sair para correr e tentar esfriar um pouco a cabeça.

***

Tony odiava quando Stephan fazia aquele tipo de coisa. Ele realmente detestava quando suas mensagens possuíam qualquer tipo de flerte. Porque Tony, sendo Tony, sabia reconhecer um flerte como ninguém. E, às vezes, Stephan flertava. E geralmente ele tinha a sensação de que ele o fazia de maneira inconsciente. E mesmo sabendo que a culpa não era do rapaz, Tony se irritava.

Novamente, ele não precisava de outro Capitão América em sua vida.

Ele não precisava de mais um homem pelo qual ele suspiraria pelos cantos, que ele tentaria desesperadamente impressionar e então falharia miseravelmente. Ou alguém por quem ele nutriria um sentimento tão forte que às vezes chegaria a doer fisicamente, especialmente porque era um sentimento completamente platônico. Já bastava ele sentir tudo isso por Steve Rogers, ele definitivamente não precisava sentir tudo isso por Stephan.

Por isso, às vezes, Tony demorava mais do que o necessário para responder suas mensagens, em alguns casos até mesmo levando dias, e no fim apenas iniciava um novo assunto. Stephan era educado o suficiente para não insistir em assuntos que Tony ignorava de maneira nada sutil, o que apenas fazia com que Tony gostasse ainda mais dele. E isso complicava ainda mais as coisas. Porque, na vida de Tony, nada era simples.

Enquanto caminhava para seu laboratório, o olhar preso na pequena tela do aparelho celular com dezenas de aplicativos abertos ao mesmo tempo, Tony ouviu um barulho alto se repetir. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para os lados. Ele era tão acostumado com o design da Torre que havia projetado que geralmente não precisava olhar realmente o caminho que percorria. Mas ele tinha certeza que a sala de treinamento era dois andares abaixo. Então por que ele ouvia barulhos de luta como se estivesse ao lado da sala?

Tony desceu os dois andares necessários em questão de minutos, chegando em frente a sala de treinamento mais rápido ainda. A única pessoa presente era Steve. Vários dos robôs e armamentos que Tony haviam projetado para treinos estavam caídos no chão, e mais alguns atacavam Steve com tudo o que tinham – o que naquele momento em particular não parecia ser muito, apenas mais uma preocupação para a gigante agenda de Tony Stark.

O Capitão não estava em seu uniforme, trajando apenas uma calça de malha e uma camisa cinza com o brasão da SHIELD que parecia apertada demais. Uma enorme mancha de suor cobria boa parte do peito e costas da roupa, e o cabelo loiro de Steve estava colado em sua testa. Tony se perguntou o quão patético ele era por achar aquela cena um tanto sexy.

— Steve? — ele finalmente entrou na sala, fechando a porta atrás de si e desviando de um projétil que voara em sua direção. Steve parou assim que ouviu de voz de Tony, quase sendo acertado no rosto, mas desviando de última hora.

— Interromper simulação. — a voz de Steve estava ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente para tentar regular a respiração. Os olhos azuis de Steve se prenderam nos castanhos de Tony com curiosidade e um pouco de preocupação. — Aconteceu alguma coisa, Tony?

— Não, nada. — Tony olhou para todos os pedaços de maquinários caídos ao seu pé e suspirou. Ele teria que pedir para JARVIS lembrá-lo de reprojetar os níveis de treinamento. — Só te ouvi aqui e vim conferir se estava tudo bem.

— Ah. — Steve coçou a nuca, que começava a ficar vermelha, e desviou o olhar. — Eu só estava esfriando um pouco a cabeça.

— Esfriando a cabeça? Assim? — Tony apontou para o chão, e toda a vermelhidão do pescoço de Steve atingiu o seu rosto.

— Eu estava realmente estressado.

— Claro. — Tony sorriu com sarcasmo. — Fury está exigindo demais de você? Porque é a cara dele fazer esse tipo de coisa. Ele acha que todos somos robôs super espiões e só porque a SHIELD ainda tem algum controle sobre os Vingadores ele pode nos dar ordens absurdas e abusar da nossa boa vontade, ainda mais de você, e é todo pronto para servir. Como se nós fossemos um bando de–

— Não é isso. — a voz de Steve cortou a de Tony porque ele sabia que, se deixasse, Stark começaria um monólogo, e ficaria dando várias e várias voltas para falar exatamente a mesma coisa. — É só... Alguém.

— Alguém?

— É, Tony, alguém, como em “alguém que eu realmente gosto mas...” — Steve se interrompeu e encarou Tony novamente, esperando alguma reação.

— Você... O Capitão América está apaixonado?

— Talvez. — Steve balançou os ombros e olhou para os próprios pés, o rosto ainda vermelho.

Tony sorriu. O sorriso mais falso que já havia dado em sua vida, forçando os músculos do rosto como jamais havia forçado. Seu peito doía tanto que a única explicação possível era algum problema com o reator arc. Era isso, ele teria que pedir desculpas para Steve e sair dali o mais rápido possível, porque ele simplesmente não conseguia. Ele não possuía mais forças para continuar.

— Isso é incrível. — Tony ainda sorria, ele não sabia porque ele sorria. Ele não queria sorrir. Ele queria gritar. — Realmente muito bom, Capitão. Quer dizer, uau, que mulher de sorte, né? O Capitão América. Aposto que ela vai falar sobre isso com as amigas dela na hora do chá. Ela toma chá? Não, não responde, assim você pode acabar me dando dicas de quem é e você sabe que eu transformaria a vida dela em um inferno. Espera, eu conheço ela? Não, de novo, não responde. Eu realmente prefiro esperar a surpresa. Ei, falando em surpresa, isso foi bem surpreendente, mas eu estava indo para meu laboratório, eu tinha que terminar um aplicativo para as Indústrias Stark e agora eu também vou precisar reprojetar a sala de treinamento então parabéns pela conquista, realmente. Deus abençoe a América!

Tony girou os calcanhares, virando o corpo para o lado oposto ao que Steve estava, pronto para sair dali. Ele era um completo idiota, claro que era. O que havia sido aquele monólogo horrível? Ele era um idiota por falar sem parar sempre que ficava nervoso, era uma mania horrível que ele precisava aprender a controlar o mais rápido o possível. Assim que saísse dali, assim que Steve soltasse seu braço. Por que raios Steve estava segurando seu braço?

— Tony? Você ‘tá bem? — Steve parecia realmente preocupado com ele. Óbvio que ele havia notado o nervosismo de Tony, ele não havia exatamente escondido.

— Sempre. — Tony ainda sorria, um sorriso que parecia engessado em seu rosto, o mesmo que ele sempre dava para revistas e paparazis. Ele torcia para que Rogers não percebesse isso. — Sério. Eu estou feliz por você.

Ele afastou a mão de Steve e saiu da sala de treinamento. Seus pés não o levaram de volta para o laboratório, como ele havia imaginado que acabaria acontecendo. Sua mente não parava de repetir para si mesmo que Steve estava apaixonado, e como aquilo era provavelmente o fim de qualquer esperança que ele pudesse um dia ter de... Qualquer coisa. Quando deu por si, Tony estava fechando a porta do próprio quarto, suspirando profundamente. Ele não estava bem, e definitivamente não estava nada feliz.

***

Steve estava preocupado com Eddie e com Tony.

Nos últimos dias, Eddie estava se mostrando um tanto afastado. Ele respondia as mensagens de Steve com monossílabos ou frases curtas, sem a menor demonstração do bom humor usual – ou o mau humor que também acontecia com alguma frequência. Steve realmente queria saber o que estava acontecendo com o rapaz.

A pior parte era que aquilo acabava afetando Steve de certa maneira. Querendo ou não Eddie era a maneira que ele usava de escapar de seu mundo de heróis, vilões e tentativas de dominação mundial – porque muitos vilões ainda achavam de dominação mundial era algo possível. Mas com Eddie agindo daquela maneira estava ficando realmente difícil usar sua válvula de escape.

Steve suspeitava que Eddie estava realmente triste com alguma coisa. E ele realmente queria saber do que se tratava, mas ao mesmo tempo não queria parecer invasivo. Não era pura curiosidade, era preocupação genuína. Steve já havia aceitado que, muito provavelmente, havia se apaixonado por Eddie, então a simples ideia de imaginá-lo triste daquela maneira era bastante incômoda.

“Eddie, está tudo bem?” todo dia ele mandava essa pergunta, esperando que ele voltasse a responder com a animação de antes.

“Na medida do possível. E com você?” e ali estava mais uma resposta que nem de longe era animadora.

“Preocupado com você...” Steve fechou os olhos e passou a mão pelo cabelo. Ele queria poder atravessar aquela droga de tela e abraçar Eddie, dizer que tudo iria melhorar e que ele estava ali, ao seu lado. Mas ele não podia. E ele nem sabia quem era Eddie.

“Não precisa se preocupar. Eu só estou sendo idiota, como sempre”.

“Não fala assim, Eddie. E é claro que eu me preocupo, eu me importo com você”.

“Você é a pessoa mais incrível que eu conheço, e eu nem te conheço de verdade. Sério, eu estou bem. É só... Alguém”.

A última mensagem de Eddie havia despertado muitos sentimentos diferentes em Steve. Havia o calor que sentiu ao ler que ele era a pessoa mais incrível que Eddie conhecia, um pouco do seu ego aumentando. E então a tristeza da parte que eles não se conheciam, e como Steve queria tanto conhecer Eddie. E, por fim, o alguém. Além de ironia de Eddie ter falado para ele exatamente da mesma maneira como ele havia falado para Tony, aquilo queria dizer que Eddie estava apaixonado por alguém.

Que não era ele.

O que era bastante incômodo.

Steve não havia se apaixonado muitas vezes durante sua vida. Claro, havia tido Peggy, o mais perto que já chegara. E talvez, em retrospecto, ele havia tido uma pequena paixonite por Bucky. Mas ambas estavam setenta anos no passado. Agora, havia Eddie, a pessoa do outro lado da tela, que ele não fazia a menor ideia de quem era, e que mesmo assim havia conseguido fazê-lo se apaixonar. E, é claro, estava apaixonado por outra pessoa. Porque a vida nunca facilitava as coisas.

— Ei, Steve! — ele quase deu um pulo da cadeira quando a voz de Tony preencheu a sala. Ele não havia ouvido Tony entrar, não tinha certeza se porque estava atento demais às mensagens de Eddie ou se porque Tony havia sido extremamente silencioso. Virou o rosto, encarando o rosto sorridente de Tony. — O que você está aprontando?

Ali estava a segunda preocupação de Steve. Tony, diferente de Eddie, parecia triplamente animado nos últimos dias. O tempo todo sorrindo, fazendo piadas, até mesmo puxando assuntos aleatórios com Steve – o que ele geralmente quase nunca fazia. E estaria tudo bem se fosse apenas isso, mas Steve tinha a sensação que havia algo mais que o homem não estava falando.

— Eu não estou aprontando nada, Tony. — ele o observou escorregar no sofá e se sentar ao seu lado, os olhos presos na tela do celular, onde vários números e equações estavam a mostra, das quais Steve reconhecia absolutamente nenhuma.

— Eu sei, Cap, é só modo de falar. — Tony balançou a mão na direção de Steve, os olhos ainda na tela, as sobrancelhas agora um pouco franzida. — JARVIS, apaga isso, mais tarde vou recomeçar. Steve, quando você vai me apresentar a sua namorada?

Steve estava com os olhos presos na tela de Tony, vendo as equações desaparecerem, mas a pergunta o pegou de desprevinido. Ele olhou assustado para Tony, sem saber muito bem o que aquelas palavras significavam. Namorada? Apresentar? Quê? Aquela conversa não estava fazendo o menor sentido.

— Namorada? — foi apenas o que ele perguntou.

— Não me diz que você ainda não falou com ela! — Tony pareceu chocado. — Você é o Capitão América!

— Não é isso, Tony...

— É o que? Você é inseguro? Ela tem namorado? Ela é casada?

— Quê?! Não! — Steve não sabia se sentia mais incomodado, chocado ou irritado. Ele não queria ter essa conversa com Tony, de jeito nenhum.

— Bom, seria interessante ver o Capitão América como parte de um caso extraconjugal, vários artigos poderiam ser escritos sobre isso. — Tony balançou os ombros, ignorando completamente o olhar de ódio que Steve lhe lançava. — Então, se ela não é comprometida, o que sobra? Insegurança? Você tá com medo de não ser bom de cama? Não beijar bem? Steve, você já beijou alguém?

— Tony, cala a boca! — certo, agora Steve estava apenas bravo. — Esse não é um assunto que lhe diz respeito, não fica se metendo na minha vida!

— Uou, calma aí Capitão! — Tony ergueu as mãos, as palmas voltadas na direção de Steve. Pelo menos agora ele não dava mais aquele sorriso irônico e irritante. — Eu só ‘tô querendo ajudar.

— Eu não preciso de ajuda. Eu vou falar pra ele quando eu achar que é a hora certa. — Steve cruzou os braços na frente do peito, respirando fundo mas ainda encarando Tony.

— Ele? — as mãos de Tony caíram ao lado do seu exatamente ao mesmo tempo, os olhos chocados na direção de Steve, a boca levemente aberta.

— É. Ele.

Sem nenhuma outra palavra, Steve observou Tony se levantar e sair dali, deixando-o novamente sozinho na sala. Suspirando fundo, Steve pegou o celular e mandou mais uma mensagem para Eddie. Agora ele ainda teria que lidar com Tony Stark não aceitando que Steve Rogers também gostava de homens.

***

Quando Steve contou para Tony que estava apaixonado, Tony realmente pensou que as coisas não poderiam piorar. Mas pioraram. Porque uma coisa era ser rejeitado achando que o motivo era Steve ser heterossexual. Ele podia lidar com a ideia de que Steve só não gostava dele por ele ser um homem. Mas agora, que ele sabia que ele havia se apaixonado por outro homem? A dor da rejeição havia aumentado em níveis estratosféricos.

A resposta automática de seu corpo havia sido começar a ignorar Steve. Ele não mais puxava assunto, mal respondia quando ele se dirigia a ele, evitava ficar no mesmo espaço. Era como se, daquele jeito, aquele sentimento acabasse passando. Mas, mais do que nunca, ele não parava de conversar com Stephan. Porque Tony precisava ter alguém que o ouvisse – mesmo que não fosse no sentido literal da palavra – e conversar com JARVIS era quase como conversar consigo mesmo.

“Você já se apaixonou platonicamente?” foi uma das perguntas que ele fez em uma das conversas da madrugada.

“Sim. E você?”

“Eu estou, e estou achando extremamente irritante”

“Eu te entendo tão bem...”

Tony olhou para a tela e suspirou. Stephan. Ele poderia se apaixonar por Stephan. Seria mais fácil, com certeza. Com exceção talvez da parte de eles se conhecerem apenas virtualmente, mas isso seria fácil de ser resolvido. Fora isso, ele sabia que ele poderia ser mais feliz sendo apaixonado por Stephan.

“Por que nós não nos apaixonamos um pelo outro?” Tony enviou a mensagem, sentindo o coração acelerar só um pouco, ansioso pela resposta.

“Pra que isso aconteça você só precisa se apaixonar por mim”.

Tony teve certeza que seu coração havia parado. Olhou para o próprio peito, vendo o reator brilhando meio azulado, e tentou respirar fundo. Sua garganta parecia meio fechada, e novamente ele tentou forçar a respiração, reproduzindo um barulho estranho. Ele não havia acabado receber uma confissão de Stephan. Não era possível.

“Eddie? Você ainda está aí?”

Ele não conseguia digitar. Ele queria responder a mensagem de Stephan, realmente queria. Mas ele simplesmente não sabia como. Claro, ele ainda era apaixonado por Steve, isso ele não poderia negar. Mas Steve era apaixonado por outra pessoa. Tony sabia que não tinha chances com o Capitão América. E ali estava Stephan, esse homem incrível que ele havia conhecido através de um site, a pessoa com quem ele conversava praticamente todos os dias, talvez a única pessoa que o conhecia melhor que Pepper e Rhodey, falando que estava apaixonado por ele.

Ele não poderia simplesmente ignorar algo assim. Era como se a vida tivesse lhe tirado um pirulito mas estivesse lhe dando uma barra de chocolate. Ele estava realmente feliz. Porque, mesmo que ele não estivesse realmente apaixonado por Stephan, ele gostava muito, muito mesmo do homem, e sabia que se apaixonar por Stephan, amá-lo tanto quanto ele amava Steve – senão até mais – seria apenas uma questão de tempo.

“Eddie? Me desculpa se te assustei”

“Stephan, acho que deveríamos nos encontrar”

Dessa vez quem demorou para responder foi Stephan. Tony andava de um lado para o outro no laboratório, o celular em mãos. Ele não conseguiria mais se concentrar em absolutamente nada até que a resposta de Stephan chegasse. E apesar de ele entender que o homem provavelmente precisava de um tempo para processar o convite, ele ainda tinha vontade de mandar mais mensagens, pedindo para que respondesse logo. Atravessar a tela do celular e gritar para que Stephan lhe mandasse a droga da resposta logo, e que eles marcassem um encontro e–

“Eu acho que já passou da hora”

Tony sorriu porque ele tinha certeza que Stephan também estava sorrindo.

***

Tony realmente queria que o encontro acontecesse o mais rápido possível, mas ele era, de fato, uma pessoa realmente muito ocupada. Em meio aos Vingadores e as Indústrias Stark, o encontro aconteceria apenas no fim da semana.

Pelos dias que se seguiram, Tony olhava para o relógio, esperando que o dia acabasse logo, e assim os dias passassem e a semana chegasse ao fim. Ele tomou o triplo do café com o qual era acostumado diariamente. Errou mais ou menos cinco equações seguidas até desistir e deixar para continuar seus projetos quando a única coisa em sua mente não fosse Stephan.

Em uma das chamadas dos Vingadores ele foi acertado por um enorme tentáculo enquanto voava tentando acertar o rosto do enorme monstro, sendo arremessado contra um prédio, vendo o alerta de múltiplas contusões na tela de sua armadura. Tony definitivamente não estava conseguindo manter o foco em nada.

— Homem de Ferro! — a voz de Steve soou brava contra o comunicador. — É a terceira vez que você não presta atenção no que estou falando!

— Desculpa, Cap! — Tony mal abriu a boca para falar, o murmúrio soando por entre seus dentes. Era verdade, ele mal estava prestando atenção no que acontecia ao seu redor, especialmente se fosse em relação a Steve.

A batalha durou mais algum tempo, e Tony tinha certeza que era porque ele não estava sendo tão colaborativo quando deveria. Assim que os Vingadores foram dispensados, Tony voou sozinho de volta para a Torre, checando o celular durante o trajeto e vendo que Stephan ainda não havia lhe mandado nenhuma mensagem. Tudo bem, ele havia mandado uma mensagem pela manhã, estava tudo bem.

Fazia pouco tempo que Tony havia chegado quando ouviu o barulho do Quinjet pousar e logo os outros Vingadores aparecerem. Ele ficou em silêncio, vendo Natasha ajudar Bruce – que sempre ficava um pouco mal após voltar da transformação do Hulk – a ir para o quarto. Clint xingava baixo enquanto passava reto, a testa com um enorme corte que fazia com que sangue escorresse por sua bochecha. E Steve, que estava com os cabelos loiros e o rosto sujos, vindo em sua direção.

— Tony, nós precisamos conversar. — ele usou a voz séria que Tony gostava de chamar de “Voz da América”. Os braços do loiro estavam cruzados na frente de seu corpo de maneira protetora e as sobrancelhas estavam tão franzidas quanto possível.

— Eu sei o que você quer falar, Capitão. — Tony revirou os olhos e começou a caminhar para fora da sala, em direção ao laboratório, vendo Steve segui-lo. Claro, ele não desistiria da tal conversa. — Eu não lutei como um “membro da equipe” hoje, minhas ações comprometeram alguns momentos da batalha, tudo poderia ter sido mais rápido se eu só tivesse ouvido, blábláblá...

— Não é isso. — o tom ainda sério de Steve fez com que Tony parasse no meio do corredor, se virando para lhe encarar e lhe dar atenção. — Quer dizer, sim, tem isso, mas eu queria falar sobre outra coisa.

— Fale.

— Você tem agido meio estranho desde que te contei sobre... O homem por quem eu estou... Hã, você sabe. — o rosto de Steve ficou vermelho, o que fez Tony bufar. Ele não precisava que o homem sentisse tanta vergonha nem que parecesse tão adorável. — Você só fala comigo para falar o estritamente necessário. Sequer fica no mesmo cômodo que eu por muito tempo.

Tony desviou o olhar. Claro que Steve notaria a mudança em sua atitude. Mas o que ele poderia fazer? Ficar ao lado de Steve, vendo-o agir como um garotinho apaixonado enquanto ele ficava ali, morrendo de inveja de quem quer que fosse? Não, Tony ainda possuía um pouco de amor próprio, obrigado.

— Olha, Cap, eu sei que–

— Eu não terminei. — Steve o cortou, o que fez com que as sobrancelhas de Tony arqueassem. Ele tinha bastante certeza que Steve considerava interromper as pessoas daquela maneira tão rude uma completa falta de edução, e ele realmente não se lembrava de ter visto-o ser mal educado em algum momento de sua vida. — O que quero dizer Tony, é que realmente entendo que você possa ter problemas com... Homossexualidade. Não vou pedir para que você ame essa parte de mim, mas eu realmente acredito que–

— QUÊ?! — Tony não poderia estar mais chocado. Se Pepper dissesse que havia vendido as Indústrias Stark por cem dólares ele se sentiria menos ofendido do que naquele momento. — Você... Steve, você realmente acha que eu, eu, sou homofóbico?

Os olhos azuis de Steve ficaram enormes, seu rosto, nuca, orelhas, absolutamente  tudo o que o uniforme do Capitão América não cobria parecia vermelho. E Tony estava tão, tão chocado e ofendido que sequer havia considerado fofo. Tony estava realmente sentindo muita raiva daquela insinuação.

— Desculpe, eu só pensei que–

— Pensou errado. — a voz de Tony estava extremamente rude, o tipo que ele usava sempre que algum governante insinuava que ele deveria ceder a armadura do Homem de Ferro pro Estado. — Eu sei que não reagi muito bem a essa história de você estar apaixonado por um homem, mas homofobia tem absolutamente nada a ver com isso. Então nunca mais insinue isso, nem pense isso de novo, porque eu juro Steve, se um dia você repetir...

— Então tem a ver com o que? — Steve pareceu novamente bravo. Tony tinha a impressão que nunca conseguiria não deixar o homem bravo. — Por que então você passou a agir como um completo babaca?

— Isso já não importa mais. — Tony balançou os ombros. Era verdade, não importava. Ele iria conhecer Stephan e esquecer Steve. Tudo ficaria bem. — E eu sempre fui um babaca, em que momento perdi esse título pra você achar que isso é recente?

— Eu só estou tentando te entender, Tony.

— Não tente. Pessoas mais inteligentes que você não conseguiram. Sem ofensas. — porque ele realmente não queria ofender, mas Tony conhecia mais alguns gênios. Steve não pareceu ofendido. — Olha, desculpe por ter reagido tão mal. Eu estava com uns problemas, mas tudo já está melhorando. Eu prometo que estou voltando ao normal.

— Ou tão normal quanto Tony Stark pode ser. — Steve balançou os ombros e os dois riram. Aquilo era bom, uma piada inocente entre os dois, leve. Era raro, mas bom. Tony poderia se acostumar com aquilo.

— Aliás, eu sei que você disse que não era da minha conta, mas você sabe que eu sou curioso. Você falou pra ele?

— Falei. — Steve deu um sorriso tímido, desviando o olhar.

— E...? — Tony o olhou ansioso, esperando que ele continuasse.

— E aparentemente ele sente o mesmo por mim. — Steve o encarou, os olhos brilhando de alegria, parecendo prestes a dar pulinhos. Ele realmente gostava daquele homem, fosse quem fosse.

— E quem não sentiria, né? — Tony riu, vendo Steve desviar o olhar, ficando completamente sem graça. — Eu fico realmente feliz por vocês, Steve. — e dessa vez Tony estava realmente falando a verdade.

***

Steve sentia o estômago embrulhado. Desde o soro do super soldado ele nunca mais havia pegado nenhuma doença. Há muitos anos ele não sabia o que era resfriado, gripe, infecção ou qualquer tipo de problema que ele já havia tido muitas vezes, na verdade. Nem intoxicação alimentar ele contraia, isso porque ele comia muita coisa horrível. Mas ainda assim, ele sentia um mal estar no estômago.

Durante a semana inteira ele havia ficado ansioso. Ele havia usado de todo o seu auto controle para focar nas tarefas cotidianas e nas missões dos Vingadores – apenas porque sabia que a equipe dependia dele. Ele tinha certeza que, se não fosse por isso, ele teria ficado tão desatento quanto Tony.

Os dois, finalmente, estavam se falando normalmente. Steve ainda sentia bastante vergonha por ter acusado o homem de homofobia, mas em sua defesa realmente era o que parecia. Ele ainda não fazia ideia do que havia acontecido com Tony que o fizera agir daquela maneira, mas como ele mesmo havia dito, aquilo já estava passando, o que o deixava realmente aliviado. Era bom ter Tony Stark como amigo.

Mas o que realmente estava importando para Steve naquele dia era seu encontro com Eddie. Ele quase entrou em choque quando descobriu que Eddie também era de Nova Iorque. Todo esse tempo pensando que o homem era de Seattle quando na verdade ele estava tão perto de Steve. Talvez eles até mesmo já tivessem se esbarrado em algum momento e ele não sabia. As possibilidades eram infinitas.

Eles acabaram marcando em um pequeno café que havia próximo a Torre dos Vingadores, no qual Steve nunca havia ido mas já havia ouvido Tony elogiar – e se Tony gostava, Steve sabia que poderia confiar na qualidade, apesar de ficar meio receoso em relação ao preço.

Steve saiu da Torre dez minutos adiantado, o que o fez chegar antes do horário marcado. Ele não sabia se Eddie era uma pessoa que costumava atrasar, mas ele não se importava muito. Escolheu o lugar com cuidado, uma mesa um pouco mais afastada, para que pudessem conversar em paz, e também a única mesa com um jarro de flores azuis, o que facilitou na hora de explicar em qual parte do café ele estava.

Steve esperou por mais quinze minutos. Ele apenas não entrou em desespero porque constantemente Eddie mandava mensagens, falando que iria atrasar um pouco mas que logo estaria chegando. E então, após os quinze minutos, Steve esperou por mais dez. Sempre que alguém abria a porta, ele olhava ansioso, mas ninguém nunca ia em sua direção.

“Estou chegando. Sou o cara bonito de óculos de sol” Steve recebeu a mensagem antes de ver a porta do café abrir mais uma vez, e por ela, trajando óculos de sol, entrar Tony Stark.

Steve respirou fundo, vendo Tony entrar no café e mover a cabeça, procurando algo. Procurando alguém. Steve pensou em abaixar, em se esconder, em simplesmente ir embora e fingir que nada daquilo estava acontecendo. Porque Eddie era Tony. Durante todo esse tempo ele estava apaixonado por Tony.

E mesmo assustado do jeito que estava, ele esperou que Tony finalmente encontrasse sua mesa, com o jarro com flores azuis. Ele sorriu para Tony, que agora estava parado, olhando em sua direção. E então ele observou enquanto Stark virava de costas e saía pela mesma porta que havia acabado de entrar.

***

Tony havia esperado por aquele encontro durante a semana inteira. Por isso é claro que, no dia, Pepper havia convocado-o para uma reunião de emergência das Indústrias Stark. Ele tentou, realmente tentou de todas as maneiras se livrar da tal reunião, mas não adiantou, Pepper acabou vencendo. Porém ele se recusou a remarcar o encontro com Stephan e deixou avisado que, se a reunião tivesse que ser estendida, seria sem sua presença.

Durante todo o tempo ele fez questão de mandar mensagens para Stephan, apenas para que o homem tivesse certeza que ele apareceria, atrasado, mas apareceria, e para que ele próprio tivesse certeza que não chegaria ao local e acabaria dando de cara com uma mesa vazia, para que no dia seguinte Stephan dissesse que ele era um babaca e nunca mais eles conversassem.

Quando a reunião acabou Tony estava quase meia hora atrasado, o que o deixava com vontade de simplesmente gritar, mas a única coisa que fez foi pedir para que Happy dirigisse o mais rápido o possível para o maldito café, para que ele pudesse, finalmente, conhecer Stephan e começar a realizar ao menos dois dos planos que tinha formado.

Stephan havia avisado que estava em uma mesa com um jarro de flores azuis, a única com plantas daquela cor no café, apenas para facilitar que ele o localizasse. Assim que Happy o deixou, Tony o dispensou, dizendo que ele poderia voltar a ser o motorista de Pepper. Tirou o celular do bolso e avisou Stephan que já estava chegando, informando que ele estava de óculos escuros apenas para retribuir o aviso das flores.

Assim que adentrou a cafeteria, o coração acelerado e as mãos um pouco mais geladas que o normal, Tony começou a procurar pelo tal jarro de flores azuis. E ele encontrou. E, sentado à mesa, estava Steve Rogers. Stephan. E ele sorriu para Tony. E tudo o que Tony conseguiu pensar foi “não”. Porque Stephan era Steve, e ele não estava pronto para lidar com isso.

Por isso Tony deu meia volta e saiu do café.

Ele não conseguia acreditar naquilo. As chances eram tão, tão baixas que ele tinha quase certeza de que tudo era um pesadelo, que logo ele acordaria com o rosto no teclado de um dos computadores do laboratório, como acontecia tão frequentemente. Stephan não podia ser Steve, não depois de tudo o que ele havia passado por causa dele. Não era aceitável que ele tivesse reclamado sobre Steve para Steve. Que ele tivesse sofrido tanto tempo porque Steve não estava apaixonado por ele e sim por... Ele.

— Tony. — ele sentiu a mão de Steve tocar seu ombro a altura que ele havia alcançado a esquina do quarteirão em que o café se encontrava. Ele não sabia exatamente para onde estava indo, além de para longe dali. — Eu acho que a gente deveria conversar.

— Não. — ele se virou para Steve, que ainda sorria. Por que ele estava sorrindo? Será que ele não percebia que a situação na verdade era desesperadora? — Não, Steve. Só... Não.

— Sério? — o sorriso morreu no rosto dele. Tony teve vontade de gritar. Qualquer pessoa que tirasse aquele sorriso do rosto do Capitão América com certeza era uma pessoa terrível.

— Steve! Isso é maluco. Era para você ser Stephan, uma pessoa completamente desconhecida!

— Digo o mesmo de você, Eddie. — Steve revirou os olhos.

Os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando. Tony ainda não acreditava muito bem que aquilo havia acontecido. Ele esperava que a qualquer momento Clint e Natasha aparecessem rindo da cara dele, uma câmera em mãos gravando a pior pegadinha de todos os tempos. Mas estavam apenas eles ali.

— Eu fui tão decepcionante assim? — Steve perguntou após o silêncio longo, sem conseguir olhar nos olhos de Tony.

— Que?! Não! Meu deus, Steve, não. — Tony balançou a cabeça tão rápido que ficou ligeiramente tonto. Como ele iria explicar para Steve o que estava acontecendo? — É só que... É um pouco irritante.

— Eu?

— Como você conseguiu fazer com que eu me apaixonasse por você duas vezes. — Tony finalmente falou. Precisou esperar alguns rápidos segundos para que Steve finalmente entendesse o que ele queria dizer com aquilo.

— Duas... Oh. — Steve balançou a cabeça, compreendendo tudo. — Então a sua reação quando eu falei que–

— É, exatamente. — Tony balançou a mão, sentindo-se bastante envergonhado. Ele queria não ter saído do café e não estar no meio da calçada enquanto tinha aquela conversa, mas agora era tarde demais. — E sim, eu falava de você para você. Eu achei que ia esquecer de você ficando com você. Eu sou ridículo assim mesmo.

Steve começou a rir, o que Tony achou meio desnecessário e um pouco ofensivo também. Tudo bem, ele havia acabado de admitir que era ridículo, não tinha porque rir daquela maneira, reforçando a ideia.

— E mesmo assim eu me apaixonei por você. — Steve finalmente falou após sua crise de riso. Tony havia mudado de “ofendido” para “envergonhado” em questão de segundos. O loiro se aproximou um pouco mais, mantendo uma distância respeitosa mas ainda assim ultrapassando a zona de conforto. — Será que eu posso te beijar agora, Eddie?

— Por favor, Stephan.

Quando Steve anulou distância entre suas bocas, Tony teve certeza que ele estava derretendo. Ele mal sentia as pernas, e tinha a impressão de que, se não fosse pelos braços de Steve ao redor do seu corpo, o mantendo firme contra ele, ele teria desabado. Porque aquele era o beijo com o qual ele havia fantasiado por tanto tempo. E a melhor parte era que era real. Steve realmente estava ali, beijando-o, deixando-o provar seus lábios. Poucos coisas poderiam melhorar aquele momento.

— Espera aí! — Tony se afastou subitamente, fazendo com que Steve se assustasse. — Espera, por que Stephan?

— Foi a única coisa que consegui pensar pra combinar com ssm-70. — Steve balançou os ombros. Os lábios deles não estavam mais unidos, mas Steve não havia soltado Tony, ainda o prendendo em um abraço. — Ssm-70 foi por causa daquela música péssima.

— Star Spangled Man? É, eu odeio essa música. — Tony riu da careta que Steve fez. — Não vai perguntar por que de Eddie?

— Anthony Edward Stark? — Steve riu quando Tony não pareceu tão feliz de ter sido descoberto com tanta facilidade. — Não sei como não descobrimos isso antes.

— Eu não esperava que fosse você.

— Eu fico feliz que tenha sido você.

Tony precisou se esforçar um pouco para alcançar novamente os lábios de Steve. Era verdade, ele era realmente a pessoa mais incrível que ele já havia conhecido – duas vezes. E mesmo assim parecia que ele nunca cansaria de conhecê-lo cada vez mais.

— Tony, acho que a gente deveria sair do meio da rua. — dessa vez foi Steve quem partiu o beijo. — Talvez seja melhor irmos embora...

— E eu achando que seria difícil te levar pra casa. — o olhar sujo que Tony lançou para Steve o fez ficar completamente vermelho. Era incrível a facilidade com a qual aquele homem corava.

— Tony...

— Não, é sério. Eu tenho muitos planos pra nós dois, Steve. Te levar para casa é só o primeiro deles.

Steve riu, selando os lábios rapidamente nos de Tony e segurando sua mão para que pudessem fazer o caminho de volta juntos. Enquanto caminhavam de volta para torre, Tony fez uma nota mental para que excluísse a conta do site de relacionamentos que usava para conversar com “Stephan”, mas não sem antes fazer uma avaliação com cinco estrelas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido ♥



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