Operação Zumbi escrita por Morgenstern


Capítulo 6
06 - Não está tão ruim




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Cora Coralina, como papai costumava me chamar, ou Coralina Chadwick? O que significava aquele duplo C? Virei a arma procurando o desenho no outro lado mas não havia nada. Voltei a encará-lo tentando entender como aquilo havia aparecido agora ou se sempre esteve ali e eu nunca notei, acompanhei com o indicador o C que terminava exatamente no começo do segundo.

CC .

— Ei. – a voz de Nathan ecoou em um sussurro ao meu lado e não importava se ele não queria me assustar, foi impossível não pular ao vê-lo ajoelhado ao meu lado. – Você está bem? Eu não queria te assustar.

— Não... só estava distraída. – olhei para cima encontrando os olhares de todos. – Você que desceu?

— Eu disse que iria descer. – ele respondeu pressionando os lábios para não sorrir. – Você está bem mesmo? Seu rosto...

— O que tem meu rosto? – interrompi aumentando o tom da voz nervosa, com medo de ter me machucado ainda mais. Nathan ergueu uma mão levando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, sua mão deslizou para minha bochecha até o queixo onde ele ergueu lentamente analisando meu rosto.

— Está sujo. – ele disse delicadamente, como se precisasse ser gentil naquele momento.

— De sangue? – perguntei desviando o olhar, não queria vê-lo tão perto de mim como estava.

— De lixo. – Nathan respondeu levantando rapidamente. Rolei meus olhos fazendo o mesmo. – Tudo bem, eu vou amarrá-la para poderem te puxar.

— Eu posso fazer isso sozinha.

— Eu sei. – Nathan disse distraído enquanto puxava a corda e levava o cinto até minha cintura, amarrando-a apertado e prendendo a corda. – Bon voyage. – ele disse em um aceno, como se eu soubesse o que aquela frase significava.

Fechei os olhos os cinco segundos que se passaram até que estivesse no topo do muro. Luke e Parker esperavam na beirada para me puxarem quando estivesse perto o bastante para ser alcançada, eles foram os primeiros que me ergueram do muro e me fizeram sentar enquanto Tony desamarrava o cinto e a corda com rapidez. Os veteranos ajudaram Nathan a subir me esquecendo completamente, o que foi algo muito bom da parte deles, já meu grupo me analisava com tamanha atenção e perguntavam a cada cinco segundos se eu estava bem. Os outros grupos já haviam descido e não demoramos para fazer o mesmo não me dando tempo para ver Nathan chegar ao muro.

Luke e Tori me ajudaram no caminho até o dormitório enquanto Parker e Tony roubavam alguns analgésicos nos consultórios que ficavam no shopping. E só quando chegamos pude respirar aliviada, sentindo toda a tensão se esvair ao saber que estava segura. Tori se voluntariou para fazer algo para comermos, mesmo sendo a última coisa que faria no momento, enquanto era levada por Luke para meu quarto. Sentei na minha cama deixando a espingarda apoiada na cômoda observando Luke fechar as cortinas e se virar para me ajudar com as botas, o canivete, as facas e a pistola.

— Nossa, você levou a sério a regra de sobrevivência. – ele disse com um sorriso zombador.

Sorri com os olhos fechados, deitando na cama fazendo um gesto de ok com os dedos, meu pé latejava como o inferno, minha cabeça doía, Parker demorava com os remédios e o cheiro de bacon que vinha da cozinha revirava meu estômago. Mantive a respiração calma, os pensamentos ruins longe para que meu cérebro não explodisse. 

De repente a porta se abriu e a voz de Tony ecoou pelo quarto, ele falava com Tori sobre ovos fritos e mais uma vez, o cheiro me fez querer vomitar. Abri os olhos para encontrar Parker com uma sacola de papel nas mãos, seus cabelos loiros grudavam na testa com o suor e a respiração ofegante só confirmava que ele estava correndo, observou meu quarto por completo como se fosse a primeira vez ali. E era. Ele só não sabia disfarçar como Luke ou Tony fizeram. Rolei os olhos e voltei a deitar fingindo um gemido de dor que o trouxesse de volta a realidade, mas foi Luke quem teve iniciativa.

— O que você trouxe? – perguntou pegando a sacola de Parker.

— Analgésicos. – Parker respondeu inclinando a cabeça para o lado enquanto me via deitada na cama. – Nunca pensei te ver nessa posição Cali.

— Cala a boca. – falei sentando na cama com dificuldade. – Tem seringa? É mais rápido.

— Eu não peguei seringa. – Parker disse sorrindo como se desculpasse pelo deslize. – Mas tem pílulas. Me deixe ver seu... Oh Merda. – ele exclamou encarando a cama. Segui seu olhar apenas para ver meu pé em um roxo quase preto, como se... Como se...

— Não. – sussurrei em desespero. – Não. Não. Não pode ser.

— Você consegue sentir? – Luke perguntou me fazendo concordar várias vezes com a cabeça pressionando os lábios para não chorar ali mesmo, na frente deles. Luke tocou levemente com o indicador o pé inchado e roxo, trazendo uma onda de dor por todo meu corpo. Pressionei os olhos balançando a cabeça enfaticamente. 

— Cora, eu fiz alguns... Oh puta merda! – Tori exclamou parando na soleira da porta. Coloquei as duas mãos no rosto choramingando.

— Cora? – Luke me chamou. Mantive as mãos ao rosto para não chorar na frente deles. Apesar de serem meus amigos, nenhum soldado chorava, eu não chorava. – Não parece está quebrado, deve ter sido uma torção.

— Ou eu posso está virando um deles. – falei atrás das mãos.

Um silencio profundo e assustador inundou o quarto, pude sentir a apreensão em cada corpo humano que estava próximo da cama e de mim, podia ouvir seus corações acelerados, podia sentir o cheiro de medo e mesmo assim, nenhum deles arriscou sair do quarto ou até mesmo sacar suas armas. Parker estralou os dedos fazendo daquele o único som no ambiente e então se aproximou de um dos lados da cama e sem falar algo ou avisar – e ele deveria ter avisado – colocou um de seus braços em minha nuca enquanto o outro se ajustava atrás dos meus joelhos me levantando da cama e pedindo para que Luke puxasse a barra da calça jeans para baixo, para tentar esconder o pé machucado.

— O que está fazendo? – perguntei assustada, colocando um braço em seus ombros, sentido o roçar das pontas do cabelo dele em meu braço nu. Parker ignorou minha pergunta observando Luke fazer o trabalho como ele queria, seus olhos verdes eram atentos para ver se Luke fazia como ele queria. Observei os outros rostos ali, de Tony e Tori, todos olhando para o que Luke fazia sem nem mesmo confrontar sobre o plano de Parker. Saímos em direção ao dormitório dos soldados atrás da nossa casa, aqueles que eram responsáveis por nós, assim como os soldados vizinhos eram responsáveis pelos betas vizinhos a nós. Parker chutou a porta várias vezes sem olhar para mim, pressionando suas mãos em mim como se eu pudesse fugir. Eu até queria. 

— Mas o que... – disse Jason ao abrir a porta.

Parker não foi gentil, mesmo eu esperando que fosse, quando entrou na pequena casa dos soldados, passando por Jason e me colocando gentilmente no sofá. Vê-lo mexer nas almofadas, nas minhas pernas para me deixar confortável ali me fez engoli em seco algumas vezes, eu nunca o vi tão preocupado ou carinhoso com outras pessoas. Ouvi Luke explicando, com uma mentira, o motivo de estarmos ali me fazendo erguer o olhar para Jason que me observava parado na porta aperta enquanto ouvia tudo. É claro que Luke não contou que estávamos do lado de fora já que seria violação da regra número três que dizia que nenhum Beta poderia entrar na Cidade com ferimentos ou contusões. O que era o meu caso. Luke também não poderia dizer o que aconteceu no muro pois estaria violando a regra de que Betas deveriam se manter longe dos muros sem permissão. Me mantive calma ouvindo com atenção a história que ele contava, já que seria aquela a verdadeira história de como machuquei o pé.

— E quando o Cabo Bosco nos liberou voltamos para casa, foi quando Cora tropeçou no degrau, ela caiu de mal jeito disse que estava bem e até estava, mas acordou pior hoje de manhã.

— Deixa eu ver do que estão falando. – Jason pediu se aproximando de mim.

Antes que eu mostrasse o pé, Tori fechou a porta e se manteve frente a ela ao lado de Tony como precaução se, por um acaso, Jason decidisse me levar para o Governador ou pior, para o Presidente. Olhei para Parker, em pé ao lado do sofá, que olhava de volta para mim. Respirei fundo e subi a barra da calça jeans mostrando o pé machucado. Jason que estava agachado para ficar da minha altura se levantou, cambaleando para trás assustado. Por um instante pensei no tipo de soldado que ele era em se assustar com um simples pé roxo.

— Oh caramba! – ele exclamou olhando para os outros checando se haviam visto aquilo. 

— Não está tão ruim. – Parker falou rapidamente.

— Não está tão... Você está vendo isso? – Jason perguntou apontando para meu pé. – Parece até... – ele engoliu as palavras ao encontrar meu olhar. Jason pigarreou e então endireitou os ombros percebendo que havia saído da postura de um soldado. – Vou levá-la ao médico.

— Não precisa. – todos falamos ao mesmo tempo fazendo Jason nos analisar desconfiado.

— Vocês vieram porque sou responsável por alguns de vocês, a maneira que posso ajudar é desta.

— Para qual médico? – perguntei apreensiva. Se fosse o mesmo dos Alfa eu estaria acabada.

— O que estiver pronto para te receber.


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