Operação Zumbi escrita por Morgenstern


Capítulo 4
04 - Senhor-sou-o-centro-de-tudo




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Para os jovens Betas não existia outra diversão a não ser nosso trabalho, era o que os soldados falavam e até gostávamos dele. Havíamos aprendido sobre armas e pontaria para sair da Cidade e voltar como heróis, aqueles que trariam alimento e remédio para quem precisava. Como Betas principiantes, nascemos na era pós-apocalíptica enquanto que os Betas veteranos viram com seus próprios olhos no que o mundo se transformou. Talvez seja esse o motivo que os deixou tão frios, intensos e verdadeiros guerreiros, não era a toa que moravam nas primeiras casas.

Mas, ainda como jovens que éramos criávamos nossa própria ideia de diversão. 

Vesti uma calça jeans amarrando na perna o suporte para minha pistola, guardei o canivete fechado em uma das botas e vesti uma blusa amarrando a alça da minha CFR Whisper em um dos ombros. Parker estava apoiado na parede ao lado da janela e não parecia feliz, resmungava algo quando pulei a janela me fazendo ignorar totalmente, já sabia como era seu temperamento e nós dois estávamos armados.

Parker e eu corríamos em silêncio pelas sombras que faziam parte de quase todo aquele lado e nos escondíamos quando passávamos por alguma janela de luz acesa. Os soldados e civis não sabiam sobre aquilo, os Betas que não saíam também não sabiam e para aqueles que eram convidados, a primeira regra era sigilo total. Seguimos até o norte para o muro que ficava atrás do pequeno shopping, lá não se vendia nada mas era feito como ponto principal para entrega de comida, roupas e remédios. Era também a ala médica no primeiro andar e por isso o shopping era o local mais afastado de tudo. Quando chegamos ao muro Parker assobiou duas vezes e uma escada de madeira alta o suficiente para chegar até o topo dele, desceu até meio metro antes do chão. Parker pulou para o primeiro degrau erguendo uma mão para mim, como se eu precisasse de ajuda, mas a peguei por bondade. Subimos rapidamente já podendo ouvir os sussurros que se transformavam em conversas altas e gargalhadas de quem já havia chegado. Os muros em volta da Cidade eram grossos e largos podemos caber até três pessoas lado a lado de uma ponta a outra e era por esse motivo que estávamos todos reunidos ali.

A cada saída de busca os veteranos faziam uma reunião para que o grupo que saiu possa relaxar e ser tratado com respeito. O que nunca acontecia normalmente. Os três grupos já estavam ali conversando e pela primeira vez, interagindo entre si. O clima era ameno, afinal, tínhamos veteranos para puxar nosso saco e nos manter relaxados, ou seja, sem brigas, sem discussões, sem apostas de quem era melhor. Olhei para o horizonte observando todo o lixo que era jogado naquele lado, prédios desabrigados, esqueletos de casas e uma escuridão total fazendo daquele um ambiente totalmente inapropriado. Mas, perfeito o bastante para as criaturas que viviam ali.

— Ai estão eles! – era a voz de Nathan se aproximando, fazendo com que Parker e eu nos virássemos rapidamente em sua direção. – E ai Parker. Estou responsável pela garota hoje.

— Você? – Parker e eu perguntamos ao mesmo tempo, eu surpresa e ele chocado. Ergui minha sobrancelha para os dois apertando os punhos.

— O que vocês estão aprontando?

— Relaxa. Eu puxei seu nome, está bem? E você. – Nathan se virou para Parker. – Arlete lhe espera.

— Arlete? – Parker sussurrou surpreso. Nathan concordou com a cabeça sorrindo como se soubesse de algo que, Parker sabia, mas eu não. Os dois trocaram um olhar significativo e então, fui deixava por meu próprio companheiro de grupo.

— Ele gosta da Arlete. – Nathan disse, como se eu precisasse de uma explicação, ficando em minha frente cobrindo quase toda minha visão.

— Quem disse isso?

— Ele.

— Oh.

— Então, o que você quer fazer? Sentar e conversar? Correr ou atirar em mim? – Nathan perguntou abrindo os braços, dando um passo para trás.

— Por enquanto, um refrigerante gelado.

Sentei na ponta do muro observando as sombras que se arrastavam pelas ruas, enquanto Nathan se apressava para fazer o que eu havia pedido. Não precisei olhar para o lado para ver meus colegas de grupo sendo paparicados por garotas veteranas que eram, bonitas demais em relação as outras e o fato de elas saberem como usar uma arma talvez a deixassem ainda mais atraentes aos olhos deles. Observei o Grupo Y sorridente para os veteranos com que conversavam, vi Luke conversar com Sarah e Arlete enquanto Parker estava ao lado de Nathan procurando algo no fundo do isopor.

Há. É claro que Arlete não iria fazer algo por Parker. O que deveria ser já que os veteranos seriam responsáveis por nossa diversão naquela noite.

— Ei Califórnia. – a voz masculina falou atrás de mim. Me virei no instante em que outro veterano sentava ao meu lado no muro. – Está sozinha aqui?

— Eu? Não. E você, não escolheu alguém?

— Na verdade fiquei de fora. Você mora com Adelle, não mora?

— Tecnicamente, sim. – respondi erguendo uma sobrancelha para o moreno que me estudava com seus olhos azuis. – Por que pergunta?

— Pensei que... Vocês conversam muito?

— Ué, acabamos de nos conhecer. – a voz de Nathan ecoou atrás de mim. Rapidamente o moreno abriu um sorriso largo, levantando-se assim como eu, para falar com Nathan em um toque de punhos.

— Não estava falando sobre você, Senhor Sou o centro do mundo. Califórnia e eu temos um assunto em comum.

— Sapatos? – Nathan perguntou erguendo uma sobrancelha, fazendo o moreno rir alto. Só eu me ofendi com aquela pergunta. – Escute Leo, vocês podem conversar outra hora, está bem? Trouxe seu refri. – disse virando para mim.

— A gente se vê depois, Califórnia. – Leo disse erguendo a palma da mão para mim e o dedo do meio para Nathan antes de virar em seus calcanhares.

— Eu não falo sobre sapatos! – exclamei irritada.

— Sei que não. Mas ele pode gostar sobre o assunto. Aliás, ele estava te...?

— Me o que? – perguntei levando as mãos na cintura. Nathan suspirou desviando seu olhar para a mão erguida que segurava uma lata de refrigerante e então voltou aos meus olhos. Eu o ignorei. – É um assunto meu e do... Leo.

— Tudo bem. Olha, você pode pegar o refrigerante antes que alguém mais perceba minha mão erguida para você?

Peguei o refrigerante e voltei a sentar frente a paisagem que não era nada bela de se ver, mas por algum motivo insano, me dizia o quanto eu teria trabalho pela frente se eu quisesse ser como meus pais. Se eu quisesse fazer valer a pena teria que iniciar muitas batalhas dentro de nosso país e fora dele para ter o que eles queriam que tivéssemos. Nathan sentou ao meu lado com uma perna flexionada apoiando um braço e a outra caída sobre o muro. Não falamos por muito tempo, ele provavelmente estava ouvindo conversa alheia em nossa volta e eu, simplesmente não estava a fim de falar. Pelo menos, não com ele.


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