Vermelho sangue escrita por Lostanny


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Headcanon, headcanon, headcanon. q



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Desde que se conhecia como gente, Robin possuía aqueles arredores de si marcados pela atmosfera de não pertencimento. A rejeição era de um nível que lhe levava a incompreensões. Afinal, ele não era, pelo menos aparentemente, nem um pouco diferente de qualquer outra criança com que cruzasse os olhares em seu cotidiano como fugitivo.

Eram todas manchadas, mesmo os adultos, por olhares miseráveis e de um susto frequente por uma guerra que nenhum deles pediu, além dos grupos que não poderiam ver, ocultos para e pelo sofrimento do povo.

Dessa forma, nunca entendeu aqueles olhares enlouquecidos que lhe eram dirigidos quando era descoberta a sua origem, ou os conselhos de sua mãe, que lhe dizia sempre para que fosse o mais forte do que qualquer um. Porque, mais do que ninguém, teria de lutar para ser ouvido e, caso isso não viesse acontecer, “todos, todos estariam perdidos”.

Aquelas palavras demoraram a tomar algum contorno certo para ele. Contudo, dificilmente lhe poderiam ser retiradas dos ouvidos, pois eram da pessoa que mais confiava naquele mundo.

Então, deveriam estar corretas. De alguma forma, tinha que ser o melhor, e aquilo estava nele como uma tatuagem arranhada na pele, era um destino da qual não poderia se desvencilhar.

Só que houve Chrom. Ele... foi muito gentil, de uma natureza amável e flexível como uma nuvem, de uma consideração que chegava a embaraçá-lo. Se pelo menos fosse permitido a Robin esquecer, mas ele nunca teve esse benefício.

Lembrava-se das palavras da mãe, do próprio rancor que acabou criando pelas pessoas, ainda que tivesse encontrado aquelas tão boas naquela Ylisse de infortúnios rotineiramente superados. Então, quando o momento de apunhalar seu melhor amigo chegou, nem havia piscado, mesmo que tenha de fato sentido um amargo tomar conta da boca.

Entretanto, a vontade de rir lhe veio quando amparou o rei de Ylisse em seus braços depois daquele fatal ferimento, o tinha como nenhum beijo ou consumação de amor poderiam lhe permitir. O destino de Chrom havia sido imposto por ninguém além de Robin e ele nunca se sentiu tão forte e especial, era mais do que qualquer um.  

Robin dificilmente iria admitir verbalmente a nenhum de seus conhecidos, desconhecidos, fiéis, fanáticos, mas ele faria tudo por Chrom, ainda que para isso tivesse que matar o próprio. Aquele peso do mundo agora tinha um novo senhor e Robin não era de fazer trabalhos incompletos.

E se haviam outros mundos, alternativos? E se ele mesmo tentasse impedí-lo em uma outra linha temporal? Não haveria o triunfo definitivo, porque era, e sempre foi e seria Grima. Ele sempre voltaria como o chefe final, em sua imortalidade, para salvar seu amado da própria perdição que o aguardava.

E não havia prova de amor melhor que poderia oferecer.

O carinho era agradável, mas era restrito, e ele amava a humanidade que Chrom carregava dentro dele com uma intensidade que as palavras eram pálidas e os gestos risíveis. A ponto que o ódio quanto a humanidade de outras pessoas dobrava. O amor, então, era tão insuficiente como inútil com a possibilidade do tempo arruinar com a corrupção um dos maiores tesouros do mundo.

Que não era o Fire Emblem, não eram as terras ensolaradas de Ylisse, o sorriso da princesa, os cuidados do guardião meticuloso, o perfeccionismo da guerreira modesta, as boas intenções da amiga desastrada.

Era o coração que Robin atravessou com a própria espada, como da sua mãe que tentou matá-lo quando viu que “não tinha escolha” e “você não tem mais como ser salvo”. Por muito tempo não entendeu como tinham chegado naquele fim, quando ele tinha feito apenas o que lhe havia sido pedido.

Tratava-se da corrupção, chegou a esse resultado de pensamento, apenas poderia ser isso: os bons nunca duravam por conta do tempo que passava.

Dessa forma, ali estava ele, naquele presente absurdo, tomado pela sua vingança contra a humanidade, e a encarnação da humanidade com seu último sussurro de “não é a sua culpa” ainda parecendo estar ali, fresco.

Inexistiu daquela forma o único ser que ainda conseguiria e quereria ouvir naquele momento. Inclinou-se, entretanto, sobre aquele corpo frio, e beijou aqueles lábios ensanguentados com o próprio sangue.

E mesmo que a vontade de rir fosse grande, o que se esboçou foram lágrimas, que caíram, diluindo o sangue no rosto do outro. Afastou as mechas do cabelo de Chrom para observar bem o rosto dele. Então, voltou a beijá-lo e não demorou em aprofundar o beijo. Era já uma criatura amargurada e ridícula, querendo alcançar uma nuvem desfeita no céu de puro vermelho sangue.

Nem que encontrasse outros seria o bastante para apagar a morte daquele Chrom em especial, e era apenas para ele que fazia o seu voto, por ser aquele que lhe estendeu a mão depois daquele fatídico assassinato cometido por suas mãos, quando não imaginava mais sentir o “amor” por outro ser vivo outra vez.

“Agora... sem mais sentimentalismos”, pensou ao se levantar, arrumando as duas mãos de Chrom sobre o peito como se estivesse apenas dormindo.

Ainda estava longe de ter a sua missão cumprida.


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Notas finais do capítulo

Agradeço por ler! :3