— Não entendo por que você me arrastou até aqui – o rapaz de cabelos ônix repicados reclamou, lançando um olhar de descaso e descrença para a porta pintada de roxo a sua frente.

— Você precisa consultar essa vidente Sasuke, ela é a melhor de Konoha – o rapaz loiro que o acompanhava respondeu animado, apenas arrancando um muxoxo de impaciência de Sasuke.

— Eu não acredito nessas coisas Naruto – Sasuke repreendeu irritado.

 Odiava pessoas que ganhavam dinheiro à custa de quem acreditava naquelas baboseiras de espíritos e previsões do futuro. Uchiha Sasuke não era homem de se enganar facilmente. Era policial havia três anos e nunca deixara se enganar por ninguém e não seria uma vidente meia boca que o faria pensar o contrario.

— Você não vai me envergonhar na frente dela Sasuke. Eu me consulto com ela tem uns seis meses e não quero que os espíritos sintam-se ofendidos por sua causa – Naruto disse lançando um olhar irritado a Sasuke, que correspondeu na mesma intensidade.

 Antes que Sasuke pudesse responder, a porta com a tinta roxa descascada se abriu lentamente liberando um vapor que fez os pelos da nuca de Sasuke se arrepiarem. Por trás das sombras, uma garota de cabelos pretos e olhos perolados saiu, flutuando como um fantasma, aumentando ainda mais o desconforto de Sasuke.

— A vidente esta pronta – a garota enunciou com uma voz delicada e etérea.

— Hina-chan, você está bem? – Naruto perguntou, pulando de sua cadeira e indo apertar a mão da moça, que sorriu docemente.

 Entrar naquela sala fez os instintos de Sasuke dispararem. Dispostos em várias prateleiras havia livros de aspecto suspeito, baralhos de tarô e coisas que Sasuke nem sabia o nome. O cheiro forte do que lhe parecia ser incenso invadia suas narinas, fazendo seus olhos lacrimejarem. No centro do cômodo mal iluminado havia uma mesa redonda, coberta com uma toalha de veludo roxo e bem ao centro da mesa, uma bola de cristal com uma fumaça azul que espiralava dentro da mesma lentamente.

 Havia três cadeiras dispostas pela mesa e uma das cadeiras estava ocupada pela pessoa mais excêntrica que Sasuke já vira. Os cabelos rosa caiam em cascata pelas costas da garota e em sua cabeça um turbante roxo bordado com pedrarias brilhava assustadoramente. Os olhos eram de um verde jade profundo e pareciam ler cada centímetro da alma de Sasuke, o deixando ainda mais desconfortável. As vestes, da mesma cor do turbante, tinham planetas bordados em dourado e várias pulseiras adornavam os pulsos magros da garota. Se a garota que os recebera fez com que Sasuke receasse entrar na sala, a garota sentada à mesa fazia Sasuke sentir vontade de fugir dali naquele instante.

 - Bem-vindo de volta Naruto – a garota saudou com o mesmo tom de voz delicada e etérea, mas Sasuke sentiu poder naquela voz. – Vejo que trouxe um amigo com você. Por que não se senta, Sasuke? – ela perguntou docilmente, apontando a cadeira a sua frente, os olhos verdes assustadores fixos em Sasuke.

— Eu estou bem em pé, obrigado – Sasuke respondeu secamente, tentando se lembrar em que momento informara seu nome. Recebeu uma cotovelada de Naruto nas costelas.

— Senta logo – ele sibilou irritado e logo se voltou para a garota excêntrica, com os olhos azuis brilhando em respeito. – Madame Sakura, é um prazer estar em sua companhia novamente.

— Devo consultar seu futuro Naruto? – Sakura perguntou com um sorriso que pareceu mais macabro do que bondoso aos olhos de Sasuke.

— Ah não, hoje seu cliente é o Sasuke – Naruto informou dando tapas nas costas de seu amigo.

— Não que eu tenha me voluntariado para isso – Sasuke murmurou infeliz, recebendo um olhar curioso de Sakura.

— Então me diga Sasuke, o que você quer que eu veja para você? – ela perguntou enquanto Sasuke se sentava de maneira tensa.

— Tanto faz. Não é como se alguma coisa que você dissesse fosse ser verdade – Sasuke respondeu com desdém, recebendo um arquear de sobrancelhas da vidente.

 Sakura achava aquele policial interessante. A mente era fechada e seca, incapaz de acreditar no desconhecido, mas algo em Sasuke a intrigava. Talvez fosse ele ter analisado toda a sala com o olhar, ou o jeito tenso que ele se sentava na cadeira, desconfortável com o desconhecido que o cercava, ou as informações que os espíritos já tinham concedido sobre ele, seja como for, era um de seus clientes mais interessante.

— Uchiha Sasuke, policial, 25 anos, solteiro – Sakura anunciou sorrindo de lado. – Acredito que esteja em uma jornada para encontrar uma casa nova, estou certa?

— O Naruto pode muito bem ter te contado essas coisas – Sasuke disse cético e olhou irritado para o amigo, mas este estava vidrado demais em Sakura para perceber o que Sasuke dissera.

— Devo lhe dizer que sua busca pela casa nova terminara essa semana. Para ser mais exata, em três dias. Mas isso vai lhe custar mais do que você imagina. Apesar da boa localização e do bom preço, você se tornará vizinho de uma pessoa que você não gosta muito – Sakura soltou uma risadinha ao terminar a frase, o que apenas irritou o policial.

— E quem é essa pessoa? – Sasuke perguntou impaciente.

— Ah... quanto a isso, acredito que seja melhor manter a surpresa – ela informou balançando a cabeça em negação. – Nem sempre é uma coisa boa saber todos os detalhes do seu futuro.

— Mas creio eu que te paguei para saber o meu futuro, não metade dele – Sasuke rosnou impaciente.

— Sasuke, a Sakura-chan esta certa. Conhecer demais não é bom – Naruto se manifestou, olhando feio para o amigo.

— Sakura-chan? Desde quando você tem toda essa intimidade com essa mulher? – ele perguntou irritado. Cada segundo que passava naquela sala o irritava ainda mais.

— Não fuja do assunto principal Sasuke, a consulta é sua. O que tem demais se sou intimo ou não da Sakura-chan?

 - Olha os espíritos não tem o dia inteiro – Sakura falou monotonamente, ajeitando a bola de cristal no centro da mesa.

— Espíritos? – Sasuke perguntou engolindo em seco. Imaginar gente morta a sua volta sussurrando em seu ouvido fez os pelos de todo o seu corpo se arrepiarem.

— Se prepare para a visita de pessoas indesejadas quando você alugar a casa nova – Sakura começou a predizer ignorando a pergunta de Sasuke. – E tome muito cuidado com uma mulher que você conhece, ela não mede as consequências para botar as mãos em cima de você.

— Acho que é da Karin que ela está falando – Naruto comentou soltando uma risada, que ele correu a transformar em um acesso de tosses sob o olhar severo de Sasuke.

— Karin... Devo prever mais do futuro entre vocês dois? – Sakura perguntou intrigada, mexendo em uma de suas pulseiras distraidamente.

— Não mesmo – Sasuke pôs-se a responder depressa. O que ele menos precisava naquela hora era de predições sobre aquela maldita.

— Talvez seja melhor partir para a outra parte da consulta – Naruto disse entusiasmado, lançando um olhar significativo a Sakura.

 Sasuke olhou de um para o outro sentindo o sangue gelar. Não sabia que tinha coisas além daquela mulher cuspindo um monte de baboseiras e Naruto as ouvindo em deleite.

— Não fui avisado de outra parte. Já digo que nada vai macular o meu corpo – Sasuke disse cruzando os braços de forma protetora.

— Você acha que isso é bagunça Sasuke? A Sakura-chan só vai fazer uma consulta mais a fundo com os espíritos – Naruto explicou impaciente.

— Eu não quero saber o que mais os espíritos vão falar, ou o que na verdade essa louca vai inventar. Acho que a consulta terminou – Sasuke disse se levantando depressa, mas foi puxado pelo braço de volta pelo amigo.

—Você já pagou a consulta, quer fazer o favor de se comportar como um homem maduro? E olha bem quem está dizendo isso para você – Naruto replicou frustrado.

 Observando a discussão entre os dois, Sakura pigarreou irritada. Costumava atender clientes complicados, mas Sasuke excedia todos os limites.

— Como eu disse antes, os espíritos não tem o dia inteiro, então vamos continuar a consulta. Me dê sua mão – Sakura pediu enquanto estendia a própria mão na direção de Sasuke.

 Ele não sentia a menor vontade de segurar de volta a mão daquela garota medonha, mas Naruto o acertou outra cotovelada nas costelas, fazendo-o imaginar quantas outras cotoveladas ele receberia e, relutantemente, segurou a mão da vidente. Ao contrario do que ele imaginara, a mão de Sakura era pequena, macia e calorosa, completamente agradável de segurar.

— Eu irei consultar os espíritos para saber mais afundo do seu futuro. Para poder prever mais, eu preciso do contato físico, então não solte minha mão durante o processo – ela pediu e ganhou um aceno relutante de cabeça.

 No instante seguinte, que durou o tempo apenas de Sakura fechar os olhos, o que Sasuke viu ficaria em sua cabeça por várias semanas. Antes que ela fechasse os olhos, Sasuke tinha certeza que eles mudaram de cor, saíram do verde esmeralda para um vermelho sangue amedrontador.

 É coisa de sua cabeça, Sasuke insistiu consigo mesmo. Nenhum olho humano mudaria do verde para o vermelho. Você está delirando pelo cheiro forte do incenso.

 O aperto em sua mão se tornou mais forte e ao seu lado, Naruto irradiava tanta animação que chegava a ser palpável. Sakura estava tão quieta que podia estar dormindo. Com os olhos verdes assustadores fechados, ela não parecia irradiar tanto poder. Na verdade, para Sasuke, ela parecia uma boneca extremamente excêntrica. Os cílios rosados eram longos e curvados, o nariz fino e delicado, e a boca era tão bem definida e vermelha que o fazia imaginar como seria beijar aqueles lábios.

 Beijar? Sasuke perguntou a si mesmo. Ele não queria beijar aquela garota esquisita. Beijar aquela charlatã estava fora de cogitação. Agora tinha certeza que o incenso bagunçara com seu juízo.

 Foi naquele instante em que esse estranho pensamento o invadiu, que a situação ficou assustadora. O aperto de Sakura tornou-se doloroso quando ela intensificou a força e no instante seguinte ela já não estava mais quieta, e sim se retorcia e gritava coisas desconexas.

— Isso é normal? – Sasuke perguntou tentando esconder o medo, sem tirar os olhos da garota que se debatia prendendo a sua mão.

 Naruto não o respondeu, forçando a Sasuke desgrudar os olhos de Sakura. O amigo estava com os olhos azuis arregalados e as mãos tampando a boca como se para impedir um grito de horror. Desesperado, Sasuke tentou se soltar do forte aperto de mão, mas nem seus anos na academia de policia conseguiram o ajudar naquele momento.

 E então Sakura abriu os olhos e eles estavam do vermelho sangue que Sasuke achara ter visto outrora. Apesar de estar de olhos abertos, ela ainda gritava em desespero, mas dessa vez Sasuke conseguia entender, ela estava implorando.

— NÃO! POR FAVOR, NÃO! NÃO FAÇA ISSO, POR FAVOR, NÃO FAÇA. NÃO! –ela berrou a ultima palavra com mais vigor do que antes e puxou a mão que segurava a de Sasuke. No instante em que a conexão foi desfeita, ela tombou mole na cadeira, o rosto escondido pela cortina de cabelo rosa.

— Sakura-sama! – a garota de cabelos pretos entrou correndo na sala, endireitando a vidente na cadeira. Ela estava desacordada e gotas de suor escorriam pelo seu rosto pálido.

— Ela está morta Hinata? – Naruto perguntou assustado, observando Hinata dar leves tapas no rosto de Sakura.

— Ela só está desmaiada – a voz de Hinata não era mais suave e etérea, era apavorada. – Isso só aconteceu uma única vez desde que eu conheço a Sakura-sama.

A vidente abriu os olhos que, para o alivio de Sasuke, voltaram ao verde jade. Ela olhou ao seu redor, confusa. Seu olhar encontrou o olhar de Sasuke e ela levou as mãos a garganta, como se tivesse engasgado com a simples visão de Sasuke.

— O que você viu? – Sasuke perguntou assustado. Estava dividido entre saber o que acontecera e se acreditaria mesmo que aquilo tudo não era encenação.

— Eu não sei por que eles me mostraram isso, no geral eu prevejo coisas normais do cotidiano - ela soltou um suspiro cansado e limpou a testa suada com as costas da mão.- Mas se eu fui capaz de ver, você deve saber – ela engoliu em seco, incapaz de olhar nos olhos do policial. Estava apavorada. – Você vai ser assassinado.