Adult Wolf escrita por CASS


Capítulo 7
VII — Mente vazia, oficina do diabo.


Notas iniciais do capítulo

Depois de tantos meses, cá estou de volta. Peço perdão por ter demorado tanto, mas tantas coisas têm acontecido que eu não tenho o mínimo de paciência e criatividade para escrever a história pra vocês. Porém, voltei! Espero que eu continue postando. Me deem um motivo. ♥



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NATAL

Acordar é bom. Muitos podem dizer que não; acordar é horrível. Acordar é horrível para quem acha que tem tudo, ou que não tem nada. Agora, acordar com um propósito, seja ele qual for, não importa onde, nem com quem: é magnífico. E é melhor ainda acordar recebendo carinhos de seu namorado na manhã de natal. É como se fosse mágica.

— Bom dia, doce raio da minha manhã.

A voz de Thomas, rouca, logo de manhã, deixava tudo melhor. Até aquela semana horrorosa.

— Bom dia, meu amor. — respondeu Allison, sorrindo, abrindo lentamente os olhos.

— É tão bom ouvir isso assim. — murmurou para ela, dando-lhe um selinho. — Quer tomar café agora?

— Sabe... — começou ela, sentando-se. — Eu não sei. Não quero sair daqui com você. Não quero ter que encarar a verdade cruel quando sair dessa cama.

— Verdade cruel? — perguntou ele, sorrindo. — De que está frio e você está nua?

— Também. — riu-se Allison, puxando o edredom para cobrir os seios. — Mas sobre meu pai.

— Ah. — Thomas respondeu.

Os pensamentos que assombravam Allison não a deixaram dormir boa parte da noite. Mesmo com as carícias do garoto ao seu lado, simplesmente pensava em coisas horríveis, e até mesmo absurdas. Mais uma “noite de ansioso” assustava a morena, e isso a fazia lembrar da pouca humanidade que tinha. Que herdara do pai, e que ainda vivia em sua mente: a síndrome do pânico, a ansiedade, o medo constante de tudo dar errado, inclusive sua vida. E falar da vida lhe fazia lembrar da morte e das várias possibilidades de morrer antes dos vinte anos. Como um círculo vicioso, a fazia pensar no pai, e aquilo revivia todos os pensamentos que havia tido durante a noite, o que a fazia repensar as coisas mais ridículas.

— Você acha que meu pai tem pacto com o diabo?

Metralhou em cima do namorado, sem medir as palavras. Aquilo resultou em uma gargalhada da parte dele.

— Pare de rir! É sério!

— Você só pode estar brincando! — ele ainda ria. — Ally, diabo? Não tinha nada mais original, não?

— Tinha vampiros e fadas também.

Thomas caiu em outra gargalhada, escondendo o rosto entre os dedos.

— Thomas!

— Desculpa. — ele ainda ria. — É que... não, né? Sei que somos lobisomens. Porra, você é uma banshee. Mas fadas? Vampiros? Vai apostar nos unicórnios também?

— Não fala dos unicórnios!  

Thomas continuava rindo, deitando de costas e observando o teto com os olhos marejados de tanto gargalhar. Allison sentou na cama, frustrada, de costas para ele.

— Ally... — ele chamou. — Não faz assim. Você sabe que estou brincando.

— Eu estou tentando achar uma resposta, só isso!

— E não estamos todos? — perguntou Tom, observando enquanto Allison abaixava o corpo para pegar a camisa branca que estava sob o suéter na noite anterior e vestir.

Ela optou por não responder, apenas levantou e seguiu para a porta, abrindo a mesma e indo até o banheiro, onde caçou uma toalha e tomou seu banho.

...

Ao sair do banho, ela escovou os dentes e secou o cabelo molhado, acabando por esbarrar com o pai ao abrir a porta. Ainda havia um clima de tensão que pairava por cima deles, como uma nuvem densa que logo choveria em suas cabeças. Pensou em dizer “bom dia!”, um simples “olá” ou qualquer coisa do gênero. Mas a única coisa que saiu foi:

— Temos que conversar. — Merda, Allison. — O que aconteceu?

Stiles pareceu mais do que desconfortável, pareceu humilhado demais para responder. Trocou o peso do corpo de um pé para o outro, os dedos enrolando em si mesmos, evitando os olhos da filha.

— Responda! — ordenou Allison.

— Allison, escute... — começou o pai. — Isso que vou dizer, você tem que entender.

— Pois diga! — mas o silêncio prevaleceu, como sempre, no meio dos dois. — A única coisa que estou entendendo é que você é um covarde! Você mudou completamente desde a morte da mamãe! Não poderia ser como antes? Aquele pai de verdade?

As palavras feriram Stiles mais do que ele imaginava. Fechou os olhos e deixou que a filha passasse por ele. Ela andou até seu quarto novamente e encarou um Thomas que a observava, de braços cruzados, cético, sentado na cama com as partes escondidas pelo cobertor.

— Grande incentivo. — ele começou.

— Cala a boca. — Allison murmurou. — Você não tem nada a ver com isso.

Thomas encarou a namorada, sério.

— Que mau humor para quem teve a melhor noite.

Ele levantou, vestindo-se sob o olhar aturdido da namorada. Calçou os sapatos em silêncio e começou a andar para a porta, esperando qualquer pronunciamento de Allison, que nunca veio. Suspirou, abrindo a porta e finalmente saindo. Desceu as escadas, bebeu um copo de suco de laranja e comeu um biscoito, tomando o caminho para a casa seis horas mais cedo do previsto.

...

Aquilo não podia ser considerado uma briga com Thomas, eles nunca haviam brigado; mas por que Allison se sentia tão mal? Talvez aquelas palavras o houvessem ferido, assim como feriram ao pai. Ela estava nervosa. Desde que encontrou Lauren, algo estava de errado com ela. Algo muito errado acontecia ao seu redor, principalmente aquele barulho de vidro estilhaçando que aumentava gradativamente, a cada vez que pensava no quanto o pai passou a ignorá-la durante aquele dia. O almoço foi silencioso, exceto por Claudia, que contava repetidamente o que havia acontecido com Ariel na parte do filme que estava assistindo. Isaac estava ao lado de Cora e Chloe, observando Allison, sabendo que algo estava errado. A melhor amiga não foi capaz de perceber que Thomas não estava presente, já que comia feito um monstro faminto. Ben também não estava, apenas os dois irmãos — Aria e Corey — sentados ao lado de Max e Joanne. Derek sentava na outra ponta da mesa, encarando Stiles como se fizesse força.

Poucos sentiram o clima te tensão que regava aqueles corpos, mas todos sabiam do acontecido: Stiles não queria contar o que acontecera dentro de sua mente, não queria contar o motivo de ter ficado tão nervoso na noite passada. O motivo de ter gritado com toda sua força. A razão pela qual dizia repetidamente a frase “eu sei que foi você”.

— Stiles. — chamou Scott. — Hora de explicar.

O mesmo largou os talheres que remexiam a comida com estrondo, fazendo Chloe se assustar e derrubar metade de sua torta salgada.

— Depois do almoço, sim? — perguntou Isaac. — Não quero que nada atormente meus pensamentos no momento.

— Não, agora. — Malia fortaleceu a opinião do marido, após beber um gole de refrigerante.

O xerife respirou fundo, todos os olhares seguiram para ele. Max levantou, pegando Claudia pela mão e começando a caminhar até a escada, levando a mesma até o quarto. Corey seguiu o melhor amigo, desaparecendo pelo corredor. Aqueles poucos segundos de espera foram torturantes para todos.

— Tudo bem. — começou Stilinski. — O que vocês querem saber, exatamente?

— O que aconteceu naquela noite. — respondeu Allison.

— Quem é Shannon? — perguntou Derek.

— O que você está escondendo? — perguntou Scott.

— A receita dessa torta. — respondeu Chloe.

Stiles suspirou, esfregando as mãos no rosto. Silêncio avassalador.

Aquela noite foi a pior da minha vida. — começou. — Foi o dia que eu perdi sua mãe, Allison. Foi o dia que a minha vida perdeu o sentido. Foi quando tudo acabou ali, na metade.

“Não saber o motivo da morte dela ainda é uma incógnita para mim. Para todos nós. Apesar de eu ter minhas dúvidas, sabe, ela é e sempre vai ser o grande amor da minha vida. Não consigo viver sem ela, não sei o que vai acontecer comigo aguentando sozinho isso tudo”.

A filha de Stiles baixou os olhos, sabendo que eles e os lábios eram o grande motivo de fazer o pai lembrar da mãe a todos os momentos, só de olhar para ela.

— Shannon é minha secretária. Estamos saindo há algumas semanas, mas, entendam, eu não sinto nada por ela comparado ao que eu sinto pela Lydia.

Derek cruzou os braços, encarando-o com olhar acusador.

— Você só quer usar e jogar fora?

— É. — Scott respondeu pelo melhor amigo. — Grande homem.

— Vocês não entendem. Vivem dizendo para eu seguir em frente, vivem me obrigando a sair e me divertir, então? Eu estou me divertindo com ela.

— Você... — Derek rosnou, dando a entender que começaria uma discussão, mas preferiu calar-se com a possibilidade de arrancar a cabeça de alguém.

Houve mais um pouco de silêncio, enquanto Joanne mastigava uma folha de alface barulhenta.

— Minha resposta, agora. — Scott pediu.

Stiles aquiesceu, bebendo um gole de suco antes de pigarrear para continuar.

— O que eu estou escondendo? Bom, é algo simples. — os olhos de Stiles, que antes estavam baixos, agora foram erguidos para Scott. — Estou perdendo o controle de mim mesmo, e você sabe o que isso significa.

Scott balançou a cabeça, antes de levantar e começar a andar de um lado para o outro, deixando Aria nervosa. Malia segurou a mão do marido, respirando fundo.

— Você está querendo dizer que...? — pronunciou-se Isaac.

— Estou dizendo que algum ser do mal pode ter voltado a me atormentar.

...

Allison já ouvira falar sobre ele. Comumente chamado de VOID pelos demais, o nogitsune que assombrou a tudo e a todos por muito tempo. Como ele poderia estar de volta? Depois de tantos anos?

— Vinte anos. — Scott disse, aturdido. — Vinte anos! Vinte anos. Ele... Ele matou...

— Ele matou a Allison. — completou Stiles. — É.

Chloe largou a colher do doce que comia, e esse pendeu em sua boca escancarada. Encarava a amiga.

— Mas ela tá bem aqui.

— Não, não essa Allison. — respondeu Isaac, segurando um dos braços e baixando os olhos. — Ela era a melhor amiga de Lydia.

Malia foi até a estante e pegou uma foto escondida atrás de tantas outras, onde estavam Lydia e Allison, sorrindo abertamente.

— Ah. — Chloe voltou a comer. — Ela era bonita.

Scott e Isaac se entreolharam rapidamente, e voltaram a encarar Stiles.

— Eu não durmo há dias. — disse o xerife, coçando o pescoço. — Coisas estranhas têm acontecido na cidade, coisas... paranormais. Desde que aquela estrela cadente passou, alguns meses atrás, tudo mudou.

Joanne soltou um murmúrio surdo, como um grito baixo de susto, e tapou a boca com as mãos.

— O que foi? — perguntou Hayden para a filha.

— Eu... Eu pedi uma coisa para a estrela. — sussurrou ela. — Pedi uma coisa pra estrela. — repetiu, mais alto.

— O quê? — indagou Derek, nervoso.

— Pedi que os desejos dos meus amigos se realizassem.

— Funcionou, eu tenho comido as melhores coisas aqui, tudo parece tão delicioso! — disse Chloe, de boca cheia.

— Allison, o que você pediu? — perguntou Cora, encarando a menina.

— O que você pediu?! — Stiles, tremendo, apertou os dois braços da filha.

— Eu... — ela assustou-se. — Eu pedi...

— O quê?!

— Eu pedi pra que trouxesse minha mãe de volta!

— Sua mãe está morta, Allison, ela morreu! Chega. — Stiles soltou a menina, que caiu sentada no sofá novamente.

O silêncio agora foi fulminante. Allison estava sem ar. Suas mãos tremiam, as pernas balançavam como as do pai, a respiração descompassada.

— Shannon virá jantar conosco hoje. — Stiles anunciou, antes de levantar e apontar para Ally. — Isso tudo que está acontecendo é culpa sua.

Chloe andou até a amiga e a abraçou de lado, enquanto Isaac acariciava os cabelos da menina lentamente. Derek seguiu Stiles e Scott sentou com força na poltrona, quase a fazendo afundar. Tudo estava errado ali.

Eles conseguiram ouvir os gritos de Derek e Stiles no andar de cima.

— Seja um pai de verdade! — gritou Derek. — Allison precisa de você!

— Ela sabe se virar!

— Ela é uma criança! Ela perdeu a mãe, você sabe o que é isso!

— Cala a boca! — Stiles deve ter socado algo, ou Derek. — Cala a boca agora!

— Você não quer ver? Não quer perceber o quão bosta você está sendo?

— Do que você está falando agora?

— De tudo! Shannon? Você só pode estar louco! Eu pensei que você amasse a Lydia!

— E eu amo. Eu amo!

— E como pode não amar sua própria filha? Um pedaço de Lydia!

— EU AMO! EU AMO TODOS ELES, EU AMO TODOS VOCÊS!

— ENTÃO PROVE!

Silêncio no andar de cima. Scott deu uma risadinha e balançou negativamente a cabeça.

— Seu pai é o maior bebêzão, Ally.

Não demorou muito para que pudessem ouvir Stiles chorando.


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