― SAI!!

Deidara viu Sakura passar correndo descompassada por sua frente, nem ao menos parando para olhá-lo. Acompanhou o trajeto desesperado dela com o olhar, parando em um homem jovem de pele muito pálida e cabelos negros, jogado no chão e repleto de sangue no peito, onde fora acertado por um ataque de Uchiha Madara. Ele estava vivo e respirava com dificuldade.

Ele tinha a visto —a procurado, na verdade— logo que chegou no campo de batalha para se juntar à aliança ninja, e a observava desde então. Ela estava linda. Manteve a estatura pequena, mas havia se tornado uma mulher. Os cabelos, agora longos, estavam amarrados igual aos da recém-falecida Princesa Tsunade, em tributo à mestra. Na verdade, se ele não guardasse a memória de Sakura em si, teria a confundido com a Quinta: a postura era imponente, igual à da Senju, mostrando a todos quem ela era e do que ela era capaz. Ela carregava o fogo de Tsunade consigo.

Mas não naquele momento. Naquele momento, só havia a mesma garota frágil e amedrontada que ele conheceu anos atrás.

Sakura se deixou cair de joelhos, analisando o corpo do garoto que havia sido atingido por um dos ataques do Juubi controlado por Madara. O chakra apareceu em suas mãos e ela tentava curar o rapaz com as palmas tremendo incessavelmente e sem direção certa, deixando cair várias lágrimas ao compasso de sua respiração forte. Era visto que aquela pessoa estava além de qualquer ajuda possível.

Aquele deveria ser um amigo dela, talvez um familiar ou companheiro de time, pensou Deidara. Ele estava extremamente inclinado a ir para o lado dela, a consolá-la; entretanto, ele sabia que não deveria fazê-lo por um bom par de motivos plausíveis. Mesmo assim, ele não conseguia conter em si o dilema invasor.

Mas ela está desesperada.

E esse é o problema.

Mas ela não esteve assim nem quando viu aquele rapaz das sobrancelhas morrer.

Mais um motivo para se manter longe.

Mas ela pode precisar de ajuda.

E vai ser melhor se outro alguém for fazer isso.

Interrompeu seu conflito interno ao ver que pessoas se aproximavam de Sakura, mas todas mantiveram sua distância. Uma delas finalmente se moveu para perto da mulher e ele a identificou como Ino Yamanaka, a menina que a iryou-nin havia mencionado anos antes pela aparência relatável de ambos e que havia entrado recentemente para os livros bingo por suas habilidades raras e poderosas de espionagem e infiltração. Também estavam lá o Ninja Copiador, uma Hyuuga de cabelos castanhos e outros ninjas da Folha, todos conturbados com a cena que estavam vendo.

Logo Kakashi se aproximou de Sakura quando observou o desespero de sua pupila aumentando a cada segundo que se passava. Se agachou ao lado dela e a viu fitá-lo com o olhar perdido para em seguida voltar a se concentrar totalmente no ferido. Ele viu a boca do moreno se movimentar fracamente ao falar algo e poucos momentos depois os soluços de choro passaram a ficar mais altos e até mesmo audíveis na distância em que Deidara e encontrava. Ele assistiu os olhos daquele rapaz se fecharam para sempre.

Ele observou Kakashi colocar a mão no ombro de Sakura e ela voltar a olhá-lo, porém daquela vez demonstrando uma mistura de sentimentos que quebrou o coração do bombardeiro em infinitos pedaços. Ele via culpa, dor, perda, sofrimento e desespero. Seja lá quem fosse aquela pessoa, era de extrema importância para Sakura.

Naruto chegou não muitos segundos depois, pasmo com a cena que estava vendo. Os olhos do loiro se inundaram de lágrimas e ele se permitiu chorar, se abaixando e envolvendo Sakura em um abraço apertado e cheio de dor. Ela se desfez nos braços do amigo e perdeu a força nas pernas, se largando sentada sem nenhuma condição de manter os pés no chão.

Longos momentos se passaram enquanto as lutas continuavam em torno dos dois colegas de time emocionalmente desestruturados que sussurravam entre si, até que a menina se soltou do aperto de Naruto para encarar o corpo já sem vida ao seu lado.

Ela largou a palma de sua mão delicadamente no rosto muito branco, fazendo um fraco carinho na bochecha ainda quente. Deu um sorriso fraco, correu os dedos pela franja longa e retirou a hitaiate do rapaz, depositando na testa exposta um doce beijo. Logo em seguida, levantou o corpo morto o suficiente para envolvê-lo em um último abraço, fechando os olhos e manchando-se de sangue que não era seu.

Ao observar aquela cena, Deidara finalmente entendeu. Aquele rapaz era o amante de Sakura. Ele via no olhar dela algo que não tinha visto até mesmo quando ela estava com ele. Viu amor. Ela amava aquele homem. Ela havia seguido em frente e amado alguém e havia perdido esse alguém em seus braços.

Mais do que nunca, ele quis correr até ela para lhe abraçar e lhe confortar. Entretanto, ele sabia que simplesmente não podia fazer isso por não ter o direito. Sakura não mais lhe pertencia. Talvez tivesse deixado de lhe pertencer no momento em que eles se despediram perto de Konoha, naquele adeus cheio de medo do futuro que os aguardava.

Ele sabia que Sakura havia feito a coisa certa ao decidir seguir sua vida em vez de carregar uma incerteza eterna de reunião. Se não fossem aquelas circunstâncias atuais, eles provavelmente seriam obrigados a lutar um contra o outro pelos caminhos em que viviam.

Ele sabia perfeitamente, mas por que doía tanto ver aquilo? O destruía por dentro ver Sakura chorando pela morte de outro homem, vê-la se despedaçar a cada segundo que se passava, vê-la sentir algo tão profundo por alguém enquanto eles não sentiram o mesmo um pelo outro durante o período em que foram amantes.

Quando voltou a prestar atenção na kunoichi, viu o Ninja Copiador tirar o rapaz chamado Sai dos braços de Sakura, ela com um olhar infeliz e sem dizer qualquer coisa. Haviam acabado os seus últimos momentos. Naruto abraçou-a novamente. Daquela vez, Deidara observou o anel dourado no dedo anelar da mão direita de Sakura, apertando com força a hitaiate de seu noivo enquanto era envolvida no abraço do amigo.