O crepúsculo sem fim, cumprimenta Ai com seu cenário tranquilo e cruel, relembrando a garota que a paisagem tediosa e melancólica, sempre seria seu único meio de distração. E ela nada poderia fazer para aliviar sua falta de atividade. A “avó” costurava seu Kimono interminavelmente; na verdade incoerentemente, pois jamais concluía seu trabalho. A aranha vigiava seus passos que nunca têm rumo; seus movimentos simples e sem sentido; seu rosto que só poderia expressar o semblante de uma boneca de cera.

Enma Ai nunca pôde contar os dias, já que eles jamais tinham começo ou fim. Não tinha horas para perguntar. Não tinha obrigações para se preocupar. Não tinha pensamentos para refletir. Seu único dever, é libertar as almas sofredoras – e cheias de rancor – por outras e arrastar as sujas e impiedosas para o merecido inferno, dar-lhes a punição eterna. E após isso... Nada mais, nada menos. Apenas aguardar o som da mensagem e aceitar o novo pedido desesperado.

Ai...

O anjo vingador.

A serva do abismo.

O orgulho de Lúcifer.

De todas, a que mais executou e executa, sua função perfeitamente. O senhor do inferno a testava, a provocava com suas peripécias. Queria ver até onde aquela pobre e infeliz criatura ia aguentar. Mas Ai, não deixava transparecer seus limites, sua dor, sua raiva, suas vontades. Tudo é simplesmente ignorado e deixado de lado.

Contudo, o que ela escondia, é o desejo de ser livre como as belíssimas borboletas que a rodeiam exibindo sua liberdade em pleno ar de forma injusta para ela.

Várias vezes tentou correr discretamente, mas para onde?

Suas pernas, agarradas com força pelos braços daqueles que gritavam, não a deixavam fugir. Imploravam por Ai, seja por ódio, seja por paz. Porém nada podia fazer, tanto por ela ou por ninguém.

Porque quanto mais ela trabalhar para o karma, Enma Ai será sempre a refém dele.