Pela manhã, o humor de Sasuke não estava dos melhores. Ele não costumava ser falante, mas também nunca havia sido tão silencioso como estava. Gai ficou muito preocupado e tentou conversar com ele diversas vezes; mas não havia papo, e todos sabiam disso. Uma vez que ele se fechava, não havia ninguém que pudesse fazê-lo falar.

Tenten, mais observadora, também reparou que Sai estava mais mal-humorado que o normal. Não sorria, não conversava com os companheiros. Os turnos deles haviam sido próximos, seguidos, acontecera alguma coisa durante a noite que não perceberam? Era a única explicação. Estava muito curiosa, porém não quis intervir; não quis perguntar ou se meter aonde não haviam pedido sua opinião. Se fosse qualquer outra pessoa, teria forças para confrontar. Mas o Uchiha…

Não que sentisse medo. Havia deixado de sentir medo quando o conhecera melhor. Os primeiros dias foram difíceis, tinha que admitir. Ele não era o melhor dos companheiros, o mais simpático e nem o mais conversador. No começo se tratavam como precisavam. Precisavam dele em seu time, então tinham que aturá-lo. Com o passar do tempo, entretanto, a relação começou a mudar. Ele havia se aberto mais, de sua própria forma, alguns dias até mesmo chegava a falar de Itachi, seu irmão falecido.

Para ela, fora uma honra quando ele tocara no assunto, quando todos treinavam pela tarde. Todos ficaram comovidos; ele, que era tão fechado, falar com tanta emoção do irmão não poderia despertar neles sentimentos diferentes. Naquele dia se tornaram, enfim, companheiros de verdade. Dali em diante, se acostumaram com a presença um do outro e ela até mesmo podia dizer que ele gostava de estar ali com eles.

Identificava-se com ele de uma forma que não sabia explicar. Até sabia, na verdade. Se identificava com ele como se identificava com Neji. Não gostava de compará-los, mas era inevitável. Achava-os tão parecidos, nenhum dos dois costumavam demonstrar sentimentos, nenhum sentimento, mas quando demonstravam, eram tão fofos. Não só fofos, mas verdadeiros, sinceros. Como se fossem pessoas de verdade e não seres humanos inalcançáveis, como gostavam de parecer.

Sabia que tudo o que Sasuke precisava era de um pouco de compreensão. Assim como o Hyuuga, o seu Neji. Que nunca fora muito bem compreendido por ninguém. Sua arrogância, a arrogância deles, não era mais do que medo de não ser aceito. Precisavam estar acima de todos por algum motivo, para se sentirem bem. Por esse motivo, não chegou nele para conversar. Pessoas assim precisavam de algum espaço para se resolverem consigo mesmas, antes de estarem prontas para lidarem com os outros.

Seguiu ao lado de Lee, silenciosa. O amigo de roupas verdes estava igualmente preocupado com o outro membro do time, chegara a comentar com ela. Eles se entendiam bem, sem precisar de palavras. Ele era estabanado, desatento, mas tinham uma comunicação incrível um com o outro quando precisavam. Só bastou um olhar para que ele entendesse, por fim, que esse assunto era para ser tratado em outro momento e que o moreno precisava de espaço.

Naruto, atrás deles, não entendia bem o que estava acontecendo. A viagem estava sendo feita em silêncio, o único som presente era o de todos se deslocando pela floresta. O que era estranho. Não sabia que uma viagem com os dois sobrancelhudos poderia ser algo além de barulhenta. Conhecia-os, nada os faria ficar tão quietos assim a não ser que a situação fosse realmente ruim e estivessem em perigo.

Não estavam em perigo, estavam? O caminho parecia relativamente tranquilo, então realmente se perguntava o que acontecera com todos. Brincara algumas vezes com Sai, seu mais recente rival, mas este não lhe dera nenhuma atenção. Olhou-o por um momento e depois voltou-se para frente, deixando o loiro incomodado. Queria chegar logo à outro país, talvez assim o clima entre o grupo melhorasse e todos voltassem a conversar normalmente.

Quando a paisagem começou a mudar, ele agradeceu por estarem finalmente saindo do País do Fogo. Já era de tarde, pararam para comer qualquer coisa durante o caminho que haviam trazido. Na verdade, Tenten havia trazido alimentos dentro de um de seus pergaminhos. A habilidade dela era notável e ele não sabia o que fariam sem aquilo, seriam obrigados a comer comidas ruins e “dormidas”.

O ânimo começava a voltar entre os membros dos times, a Mitsashi comentando com todos o quanto a paisagem era bonita. Montanhas começaram a despontar no horizonte e o ápice foi atingido quando puderam contemplar o pôr do sol mais belo que já tinham tido o prazer de desfrutar. Até Sasuke, que até então estava com a pior das expressões, pareceu impressionado com o show da natureza.

Por fim, no comecinho da noite, chegaram finalmente à Yugakure, a ex-vila oculta das Fontes Termais. Não era mais uma vila ninja, passando a ser habitada por não-ninjas e tornando-se uma vila pacífica. Sua localização era conturbada, havia sido envolvida na guerra e, felizmente, todos foram evacuados para um lugar seguro a salvo. Ainda se lembravam da ajuda militar de Konoha para proteger suas terras, então os ninjas foram recebidos muito bem. Logo foram convidados a passarem a noite em um dos hoteis principais ali e todos pareciam animados em passar a noite naquele local.

No hotel, Sasuke, Lee e Gai dividiam um quarto, um grande futon para os três. O Uchiha sorriu com a possibilidade, por mais que nunca tivesse passado a noite com os companheiros, sabia só de olhar que ambos eram bem espaçosos. Não dormiria a noite, tinha certeza, não se ficasse dividindo o espaço com eles.

Se sentia melhor agora que finalmente havia chegado o fim da noite. As palavras de Sai martelaram em sua cabeça o dia todo, ele não conseguiu esquecer o que o outro havia dito e pensar no assunto o deixava furioso. Apesar de estar certo, o outro não tinha o direito de intervir em seu assunto. Não tinha o direito de confrontá-lo, não daquela forma. E nem magoá-lo com palavras cruéis. Nunca havia feito nada para ele agir assim, nem ao menos o conhecia quando tudo aconteceu. Já estava pagando caro por seus erros e não precisava de alguém esfregando o fato em seu rosto.

No quarto ao lado, estavam Tenten e Sakura. Elas não eram melhores amigas, mas eram companheiras. Sabiam conversar quando estavam juntas, ao invés de ficar um silêncio constrangedor. A aproximação delas só havia se dado com a mudança de Temari para a Aldeia da Folha. Ela e Temari eram muito próximas e a loira tinha uma estranha amizade com Sakura, que provavelmente vinha da convivência dela com Ino e Shikamaru.

As duas arrumaram suas coisas embaladas em uma conversa leve sobre a vila em que estavam, comentando sobre como tudo era bonito e alegre, como as pessoas eram boas e hospitaleiras, que deviam ir às fontes termais pela noite, a melhor hora para tomar um banho quente.

No quarto da frente, Sai arrumava suas coisas em um canto, enquanto o Uzumaki olhava pela janela. Ele também ficara bastante animado, não conhecia muito bem aquela vila, viera poucas vezes com o Sábio Tarado, gostaria de poder conhecer algo além das Fontes Termais.

Enfim todos conseguiram arrumar suas coisas e se encontraram na recepção de onde estavam hospedados. Haviam tido tempo o suficiente para descansarem da viagem longa e tomarem um banho quente para relaxarem. Estavam prontos, agora, para curtir a vida noturna do País das Fontes Termais.

“Muito bem, não vou prendê-los debaixo da minha asa. Curtam sua juventude e mostrem a todos como os corações dos ninjas de Konoha ardem de paixão! Vou andar pela vila e ver se descubro alguma coisa interessante.” Gai saiu visivelmente animado para um lado, enquanto os outros ficaram parados, tentando decidir o que fariam.

“Um fliperama!” Berrou Lee, apontando para a direção contrária em que seu sensei havia ido. “Devíamos todos ir ao fliperama! Sasuke-kun, eu o desafio!”

“Lee, eu já te disse que…” Começou Tenten, vendo aonde isso tudo iria dar; já havia presenciado essa cena várias vezes. Porém, Sasuke colocou a mão em seu ombro. Foi um gesto tão delicado, calmo, que ela se esqueceu do que ia dizer e parou para olhá-lo. Ele balançou a cabeça devagar, uma expressão neutra em seu rosto.

“Tudo bem, Tenten. Estou devendo uma competição ao Lee.”

“Yo-SHIIII! Vamos lá, Sasuke-kun. Espero que esteja pronto para perder.” Ele se agarrou no braço direito de Sasuke, o único, e saiu arrastando-o em direção ao fliperama que havia citado. O moreno não fez resistência, em vez disso caminhou com o companheiro, um sorriso pequeno em seus lábios.

A Mitsashi olhou a cena, confusa. Não entendeu bem o que aconteceu, mas se Sasuke estava concordando então estava tudo bem. Tinha que confiar que ele controlaria Lee, para que o outro não fizesse nenhuma besteira. Suspirou e deu de ombros, vencida, não tendo muito mais o que fazer. Seguiu atrás dos outros dois, o time Yamato em seu encalço.

Atrás da morena, Sakura caminhava no automático, sem pensar muito no que estava fazendo, nem aonde estava indo. Há muito não via Sasuke se comportando como agora. Se sentia perplexa com a interação dele com o time Gai, ele parecia estar tão íntimo com Lee e Tenten e, no fundo, isso a incomodou. Não podia acusá-lo, ela e Naruto também haviam ficado muito próximos de Sai nesses últimos tempos. Mas era diferente, era uma relação diferente.

Pareciam aceitá-lo tão bem, de forma tão natural, algo que ela própria e até mesmo Naruto estavam tendo dificuldade em fazer. Não o esquecera e a tudo o que viveram, claro, mas tudo o que ele havia feito era demais para ela. Não conseguia esquecer, tentara, mas toda vez que se deitava na cama, pela noite, tinha pesadelos com o passado. Principalmente lembranças do dia em que ele tentara e, quase conseguira, matá-la. Isso fez com que não conseguisse tratá-lo apropriadamente, nem ao menos conseguia chegar muito perto dele. Manter uma conversa decente? Impossível.

Por isso, estranhava. Vê-lo fazendo com outros o que fazia com eles, quando eram o time Kakashi, provocava nela sentimentos, ruins, que não sabia explicar. Sasuke nunca havia sido tão afetuoso com eles, verdade seja dita. Não sorria tanto, era muito raro tocá-los, imagine ser tocado. Era algo, aprendera com o tempo, que o Uchiha odiava: toques. O que mudara para, de repente, ele aceitá-los?

Chegaram, finalmente, à dita casa de jogos e pagaram a entrada. Havia muito a se fazer por ali, várias pessoas, que também eram turistas, com bandanas de outras vilas, procuraram ali como forma de diversão durante a noite. O único brinquedo que estava vazio, naquele momento, era o do martelo, em que a pessoa que batesse com mais força ganhava mais pontos e chegaria, até, a ganhar um bicho de pelúcia.

Lee ainda estava distraído com tudo à sua volta, pensando em quantos brinquedos diferentes desafiaria, e ganharia, do moreno de olhos negros. Em sua mente, sorria de forma maliciosa, o outro não tinha a menor chance contra ele. Se encaminharam, todos juntos, ao jogo vazio.

“Sasuke-kun, tem certeza que quer tentar esse primeiro? Veja bem, você está com um braço só e, bom, eu não quero humilhar ninguém…” Todos foram surpreendidos com uma risada do desafiado. A morena do time Gai deu um sorriso pequeno, sempre achava cômico os desafios que o amigo de sobrancelha grossas propunha.

Do outro time, a Haruno arqueou as sobrancelhas, a surpresa exposta em seu rosto de forma explícita, apenas não mais do que a expressão de Naruto. Ambos ficaram boquiabertos ao presenciar a cena, não tinham palavras para explicar o que haviam presenciado. O ex-companheiro de time acabara de rir, rir abertamente, como se estivesse tão feliz que não conseguia se segurar? Nunca acharam que isso pudesse acontecer, há muito não viam a cena.

“Vá sonhando, Rock Lee.” Foi a resposta do outro, totalmente em espírito competitivo. Ambos se olharam e sorriram, como se fossem melhores amigos.

“Sasuke, você… riu?” O Uzumaki, é claro, não conseguira controlar tamanha surpresa. Não era capaz de guardar o fato para si mesmo, precisava se pronunciar sobre o assunto e questioná-lo. Desde quando ele era aquele tipo de pessoa, que expressava seus sentimentos, daquele jeito, daquela forma incontida?

Todos o olharam, a mulher de cabelos róseos não conseguia acreditar que o amigo estava sendo totalmente transparente, sempre. Era indelicado perguntar aquilo e, provavelmente, só faria o outro parar de sorrir e fechar o rosto, voltando ao mau-humor costumeiro. Estava errada e, até isso a surpreendeu.

“Só tive vontade.” O herdeiro Sharingan deu de ombros, como se não ligasse pra pergunta, pegando o martelo e oferecendo para o homem ao seu lado. “Faça as honras, perdedor.”

Sai bufou, não aguentando mais assistir àquela cena. Saiu, avisando rapidamente à mulher ao seu lado que daria uma volta. Lee e Sasuke voltaram para a competição, qual não foi a surpresa quando o Uchiha, mesmo com um braço só, acertou o pino mais alto e venceu a disputa. A pessoa que sofreu foi Tenten, que teve que carregar em seus braços um urso gigante, presente para ela da competição. Não só isso, mas ela também teve que carregar o companheiro cabeça de tigela, que estava chorando escandalosamente como uma criança, por ter perdido.

O resto da noite se passou assim, e finalmente todos admitiram estar cansados. Voltaram para o hotel, nenhum sinal do moreno do time Yamato. No entanto, Gai os aguardava na recepção, avisando que o desaparecido já estava lá, no quarto. Já era tarde e precisavam descansar para o dia posterior, em que viajariam o dia inteiro. Dessa forma, todos se despediram e foram para seus respectivos quartos.

A mestre das armas finalmente se deitou em seu futon, ela e Sakura dormiriam em dois, separados, de solteiro. Ela acomodou seu urso, imenso em sua opinião, ao seu lado, apoiando a cabeça as pernas deste. Já estava pronta para dormir, com sua roupa de sono, enquanto a outra ainda se preparava no banheiro.

A luz logo foi apagada e não demorou muito para que ouvisse a Haruno se deitar ao seu lado. Fechou os olhos, estava cansada do dia. Tudo o que queria era dormir, já sofria sabendo que teria que acordar bem cedo no dia seguinte, mas a rotina continuaria até que finalmente chegassem ao seu destino. Suspirou alto, aconchegando-se mais à seu mais novo presente.

“Tenten-chan…” A mulher ao seu lado começou, incerta sobre se deveria iniciar aquele assunto. A morena murmurou alguma coisa qualquer, que ela decifrou como um pedido para que continuasse a falar. “Você gosta do Sasuke?”

A Mitsashi ficou tão chocada que teve que sentar-se, seu sono indo embora de repente. Que pergunta estranha era aquela? Só havia uma resposta, é claro. Nem deveria responder, tão óbvia era.

“Como assim? É claro que não.” Conseguia ver a forma da mulher de olhos claros no escuro, seus olhos já acostumados com a falta de luz. Ela mordia o lábio superior, claramente nervosa por ter entrado naquele assunto.

“Bem, vocês estão tão próximos… E você sempre se acalma quando ele conversa com você ou te toca. E ele toca você, muito. Eu achei que… Bem, pareceu um romance ou algo assim.”

“Sakura, não tem nada a ver. Eu e o Sasuke somos apenas amigos, como eu e o Lee. É claro que eu e o Lee somos mais próximos, mas… É complicado explicar…” Não sabia se queria adentrar o assunto. Era delicado e doloroso, há muito tempo não falara sobre aquilo, ou pensava no assunto.

“Você não precisa mentir com medo de me magoar.” Tenten quis revirar os olhos, como se ela fosse o tipo de pessoa que dizia mentiras para fazer as pessoas se sentirem bem. A verdade era sempre a melhor escolha, em sua opinião.

Argh, a mulher estava entendendo tudo errado. Suspirou, dura e longamente. Por que exatamente ela estava vindo com aquele assunto, ali, no meio da noite? Sabia que ela ainda sentia algo por seu companheiro de time, mesmo que provavelmente não admitisse ou fosse tão óbvia quanto antes. Teria que falar sobre aquilo, iria fazê-la entender o que acontecia em seu time.

“Olha, eu gosto do Neji. Acredite, o Sasuke não é nada pra mim além de um bom companheiro. Eu sei que você acha que temos alguma coisa, baseada na forma como nos comportamos. Mas você precisa entender que as coisas não funcionam assim. Quando o Neji morreu, foi… foi horrível. O time Gai, por um momento, ficou sem chão. Nem ao menos Gai-sensei sabia o que fazer naquela situação, para nos animar… Ele mesmo estava mergulhado em sua própria tristeza.”

Relembrava muito bem aqueles momentos, sôfregos, dias horríveis que pareciam nunca ter fim. Para nenhum deles.

“Então, o Sasuke apareceu em nosso grupo. Houve dificuldade de adaptação, tanto da nossa parte, como da dele. Mas ele era tão parecido com Neji, mesmo sem palavras, ele sempre ficava ao meu lado contra Gai e Lee. Aos poucos, eu fui percebendo que não estava mais sozinha, os meninos também, que tínhamos alguém ao nosso lado que finalmente podíamos chamar de companheiro novamente. O Sasuke nunca vai substituir o Neji, disso você pode ter certeza, mas aliviou sabe. Todos nós ficamos tão agradecidos e ele nunca precisou ser nada além dele mesmo. Inconscientemente, ele sabia o que nós precisávamos e vice-versa. Sasuke Uchiha foi a melhor coisa que aconteceu ao time Gai depois da guerra.”

Sakura ouviu tudo em silêncio, sem saber o que responder perante àquele discurso. Não era o que esperava ouvir. Sentia-se mal por ter sido questionadora, por ter tocado num ponto que tanto magoava outra pessoa. O ex-nukenin havia encontrado pessoas que o aceitavam exatamente do jeito que ele era; provavelmente só foi tão compatível com o atual time por ter aquela personalidade.

“Ele é bom. É uma pessoa sensível, doce, ele entende e apoia as pessoas do jeito dele. Só precisa de um pouco de compreensão, nada mais.” Não conseguia ver o moreno do jeito que Tenten via, mas ouvia atentamente cada palavra que saía da boca dela. “Ele… ele fala do Itachi às vezes. Sempre fica emotivo quando acontece e nós nunca sabemos como reagir. Ele nunca demonstra seus sentimentos e quando isso acontece, ficamos perdidos. Nós somos tão próximos porque ele nos entende. Ambas as partes perderam pessoas importantes. Nós sabemos a falta que Itachi faz na vida dele, porque Neji era mais do que um simples companheiro, ele era um irmão. Para mim, ainda mais do que isso.”

A Haruno nunca se sentiu tão culpada quanto naquele momento. Ouvir aquelas palavras havia sido precioso para ela e, de repente, compreendeu que nunca vira por aquele lado. Ela sempre havia julgado, mas nunca tentado entender. E ouvir a verdadeira história, do ângulo que a outra contava… foi uma experiência surreal.

“Então, não, eu não gosto dele. Você não precisa se preocupar.”

O silêncio reinou por algum tempo. Ambas as mentes presentes estavam mergulhadas em pensamentos sobre o assunto. Como não havia mais nada a ser dito, a mulher de orbes chocolates se deitou e fechou os olhos.

“Boa noite, Tenten.” A outra murmurou algo desconexo, como se já tivesse entrado no mundo dos sonhos. A kunoichi de cabelos róseos se virou para o outro lado, uma lágrima silenciosa escorrendo. Não pretendia chorar, mas a culpa invadia seu coração. Imaginou a dor que o Uchiha vinha sofrendo durante todo esse tempo, aliada ao modo que estava sendo tratado em sua própria vila e derramou mais lágrimas. Nunca, jamais, ela havia parado um só momento para tentar entender o que estava acontecendo com ele.

Soluçou, baixinho. Havia dito a si mesma e a todos que havia tentado ir atrás do amado, mas, agora, percebia que não havia sido verdadeiro. Que estava tão afogada em razões puramente egoístas que nunca cogitou ver o outro lado. Adormeceu, lágrimas escorrendo lentamente por sua face. Devia ter tentado mais.