Humanos - Romanogers One-Shot escrita por Lisa Rogers


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era mais uma das noites quentes como o inferno em Wakanda.

 Steve virava de um lado para o outro na cama e o tic-tac do relógio no criado mudo estava martelando sua cabeça como uma bigorna. Ele ainda não havia descoberto como um lugar poderia ser tão quente como aquela cidade. Desde que se deitou depois do jantar com T’challa, não conseguiu pregar os olhos. Claro que não era apenas o calor, havia mais um milhão de coisas em sua cabeça junto com o irritante barulho do pequeno aparelho.

O homem coçou a barba, agora grande, e desfiou os dedos pelos cabelos.

— Mas que inferno - Ele se levantou, caminhando até a janela na tentativa de recuperar qualquer brisa que pudesse. Fechou os olhos e respirou fundo, se concentrando em cada barulho vindo do lado de fora. Ouviu as pequenas cigarras cantarem, os grilos e o barulho natureza. Ouviu alguns carros solitários que vagavam pela rua.

Um dos passatempos favoritos de Steve era ouvir. Com todas as suas habilidades ampliadas, ele podia ouvir detalhadamente sons que ninguém mais podia, e isso o acalmava, o ajudava a aquietar o carnaval que rodeava sua mente.  Estava concentrado em tudo, ate que ouviu algo que não era exatamente o que ele esperava. Uma batida.

Ele caminhou até a porta e se surpreendeu com a figura atrás dela. Natasha estava de cabeça baixa, os olhos vagando pelos seus pés descalços. Os braços cruzados em frente ao peito e a blusa maior que ela chamou sua atenção. Era uma das camisetas dele, ele a reconheceria em qualquer lugar. O motivo de Natasha estar usando uma de suas camisetas o intrigou, primeiramente pelo fato dele nem se quer saber como ela havia conseguido isso e segundo que ele não entendia como uma camiseta que era dele poderia ficar melhor nela.

Então ela levantou a cabeça e apenas o olhou, os cabelos loiros jogados na metade do seu rosto e seus olhos extremamente verdes tinham algo que fez com que Steve sentisse um grande buraco no estomago. Eles estavam completamente vazios.

— Posso entrar? – Ela disse tão baixo que se não fosse pela audição aprimorada, jamais teria escutado.

Não dizendo nenhuma palavra Steve apenas se afastou da porta dando passagem para a mulher entrar.

Natasha caminhou rapidamente até a janela e ficou olhando para a vista que o quarto proporcionava. Ele a seguiu com os olhos, fechou a porta e caminhou até o lado dela, dirigindo seu olhar para o mesmo ponto. Ele conhecia Natasha o suficiente para saber que se ela estava em seu quarto no meio da madrugada, era porque algo tinha acontecido e ela precisava conversar. Ele também sabia que não precisava dizer uma palavra se quer, pois ela falaria quando estivesse pronta.

Um longo e confortável silêncio os rodeava. Steve achava maravilhoso poder estar ao lado de alguém e permanecer em silêncio sem se sentir desconfortável. Eles apenas estavam olhando para fora e aproveitando as pequenas brisa que atravessava a janela. Até que Natasha se virou.

— Você já parou para pensar que nossa vida não vale nada? Que de uma hora para outra nós simplesmente deixamos de existir? – Ela despejou com angustia evidente em cada palavra.

Steve virou-se para ela e antes que qualquer palavra pudesse deixar seus lábios em resposta, ela continuou;

— Você se lembra da gata que me visitava vez ou outra e eu a alimentava escondido?

Steve lembrará. Ele sabia sobre a gata. Em uma de suas noites de insônia, decidiu dar uma volta pelo castelo e encontrou Natasha sentada em um dos bancos, com uma travessa de água e outra de carne, alimentando uma pequena gata preta que se enroscava em suas pernas. Ele não havia acreditado que Natasha o tinha visto e por isso decidiu deixar esse pequeno momento enterrado apenas para ele, pois achou completamente adorável vê-la em um momento tão simples e não quis estragar isso.

Mas Natasha tinha percebido sua presença, claro que tinha. Nada nunca passou despercebido pela mulher.

Ele apenas balançou a cabeça em afirmação.

— Eu a encontrei morta hoje em um dos jardins. Provavelmente foi envenenada. Gata idiota, sempre pensando com o estômago. Eu sou idiota por me importar com isso, certo? Era só um gato, nem era meu na verdade...

Steve ficou surpreso e sentiu a voz carregada de desapontamento vinda dela. Ele percebeu que mais do que Natasha mostrava, ela se importava com a pequena gata. Ele sabia que Natasha não demonstrava seus sentimentos, e vê-la assim tão vulnerável, ainda mais por um animal de quatro patas o deixou sem uma reação precisa.

— Desculpe incomodar você com minhas idiotices. Eu vou indo, boa noite. – Natasha estava prestes a sair do quarto, até que Steve a puxou pelo braço.

— Ei, venha aqui – Ele envolveu seus braços em volta da pequena cintura de Natasha, mantendo-a no lugar – Sinto muito Nat.

Natasha não disse nada, apenas afundou o rosto no peito de Steve e o abraçou tão forte quanto podia. Ela ficou em silêncio e Steve apenas distribuiu pequenos círculos calmantes por toda a extensão de suas costas. Ele sentia que Natasha estava tensa, segurando todas as lagrimas do mundo dentro de si, então decidiu compartilhar uma história de seu passado que ninguém além dele e Buck sabiam.

— Você sabe... Quando era criança, voltando da escola encontrei um cachorro abandonado na rua. Na verdade esse cachorro me seguiu, depois de eu ter levado uma surra em um dos becos. – Steve deu um riso abafado, sentindo Natasha relaxar em seus braços. – Esse cachorro me seguiu até minha casa e parecia faminto. Eu sabia que não podia leva-lo para dentro, meus pais não iriam querê-lo. Então eu entrei em casa e antes que minha mãe percebesse minhas roupas ensanguentadas e minha cara cheia de hematomas, peguei um pão e corri para fora, me escondendo com o cachorro de baixo da escada. Ele comeu o pão todo e me agradeceu com um monte da lambidas na cara. Mesmo machucado aquele cachorro me fez rir, e isso acabou transformando o dia de merda que tinha acabado de ter em um dia mais feliz.

— Sua mãe não descobriu? – Natasha perguntou.

— Oh, ela descobriu  – Steve riu, entrelaçando os dedos no cabelo de Natasha – Minha mãe percebeu que eu estava demorando muito para chegar e decidiu sair para procurar. Ela me viu rindo com o cachorro, e bom, eu levei alguns minutos de sermão por estar machucado pela milésima vez. Mas no final, nós dois entramos em casa. Minha mãe adorou o cachorro tanto quanto eu. E acredite, até meu pai se afeiçoo a ele, e meu pai não era o maior fã de animais que existiu. – Steve acariciou os cabelos de Natasha a fazendo rir baixinho.

— Sua mãe parecia ser uma mulher maravilhosa – Natasha se aconchegou dentro dos braços de Steve, que a apertou um pouco mais perto de si.

— Sim, ela era – Steve sorriu com a lembrança – Esse cachorro se tornou rapidamente o melhor amigo que eu tinha depois de Buck. Acho que o cachorro era o terceiro membro do nosso time. Ele fazia exatamente tudo com a gente. Aonde nós íamos, ele ia atrás... – Steve parou e suspirou pesadamente – Ate que um dia nós chegamos da escola e não o encontramos. Passamos a tarde toda procurando, rua por rua, até que Buck o encontrou.... Ele estava jogado em uma valeta, morto. Provavelmente atropelado.

Ele pode sentir todos os músculos de Natasha se contraírem de tensão.

— Lembro que fiquei tão bravo. Eu fiquei tão triste. Aquele cachorro era um dos únicos amigos que eu tinha e sua vida foi tirada de uma forma tão covarde que me deixou covarde. Passei dias sem conversar com Buck, não queria demonstrar que eu era fraco e chorar na frente dele ou de ninguém... Até que em um dia, Buck me confrontou e disse “Ei, idiota, você acha mesmo que chorar vai te fazer fraco? Não seja um babaca Rogers, chorar não te faz fraco. faz-te humano” Então eu chorei por horas com Buck ali do meu lado. Pode parecer uma cena bem idiota se você imaginar, mas no fundo eu precisava muito daquelas lágrimas para entender que eu não era fraco por chorar, e sim que eu era humano o suficiente para sentir.

Steve ouviu Natasha engolir o choro que estava travado em sua garganta e esconder o rosto em seu peito.

— Nat, olhe para mim – ele deslizou as duas mãos pelas bochechas de Natasha, levantando seu rosto até seus olhos se encontrarem. E quando aconteceu, ele pode sentir toda a dor que estava presente neles, toda angustia de Natasha estava ali, presa em ma jaula, atrás de grandes orbitas verdes manchadas por vermelho. – Você é humana Nat. Esta tudo bem sentir.

Então Steve percebeu que essas palavras foram o estopim para deixar tudo que sufocava Natasha vir para margem. As lagrimas começaram a correr soltas pela pele. Natasha o abraçou e se afundou em seu peito. Steve segurou seu corpo tremulo e deixou que as lágrimas inundassem sua camiseta. Natasha chorou por minutos, e ele não poderia dizer quantos foram, mas sabia que ela havia acabado quando seu corpo todo amoleceu e os soluços foram se acalmando aos poucos. Ele contínuo segurando-a, não pensando um minuto em solta-lá. Natasha permaneceu em silencio por um tempo, até que suas mãos percorreram seus braços e ela se afastou um pouco, olhando para ele.

— Na primeira noite que eu cheguei aqui, quando você foi me pegar... Eu entrei no quarto tão assustada, tão aborrecida por ter deixado as coisas chegarem ao ponto que chegaram com Tony. Eu estava me sentindo falha, senti que tinha falhado com você, com Clint, com Wanda. Senti que toda a minha família tinha sido destruída e eu era a principal culpada... Então essa gata entrou por uma fresta em minha janela. Lembro que quase atirei nela...  Ela começou a se enroscar nas minhas pernas e apenas ficou ali por um tempo. Era como se ela soubesse que eu precisava de alguma coisa para me manter no chão, entende? Ela ficou ali por um tempo e então simplesmente saiu. E todas as vezes que eu estava me sentindo mal com alguma coisa, ela voltava e fazia o mesmo ritual, como se sentisse tudo junto comigo... Eu sei que isso é bobagem Steve, mas aquela gata me fazia sentir uma pessoa mais... Normal... Com uma vida mais... Normal – ela abaixou a cabeça novamente e encostou a testa no peito de Steve – Era como um escape para me fazer sentir alguém que podia pelo menos ter alguma coisa que todos tinham, como um gato para acalmar suas paranoias, por exemplo.

Steve entendia. Ele entendia completamente o ponto de vista de Natasha, ele sentia em todos os seus ossos o que ela queria dizer. Eles estavam sempre cercados por toda guerra, por todos os medos e por tantos demônios que o sonho de ter pelo menos alguns momentos de uma vida normal eram agarrados com todas as forças que tinham.

Steve depositou um pequeno beijo no topo da cabeça de Natasha e se permitiu por alguns segundo se embriagar pelo leve aroma de mel que seus cabelos exalavam.

— Eu prometo Nat, quando tudo isso acabar eu mesmo vou construir uma casa para você, ao lado da de Clint se você quiser. E você vai ter quantos gatos você puder. E Enquanto isso não acontece você tem a mim. Eu sempre vou estar aqui.

Ele ouviu Natasha soltar um riso abafado que aliviou a angustia que nem ele sabia que estava guardando.

— Então você é meu novo gato? – Ela torceu os lábios.

—  Acho que eu estou mais para um cachorro vira-lata, certo? – Steve encolheu os ombros e deslizou o polegar pela bochecha de Natasha.

— Tudo bem, eu também gosto de cachorros – Ela subiu na ponta dos pés, encostando suavemente os lábios na bochecha de Steve. - Me desculpe por ter encharcado sua camiseta. – Natasha encarou a pequena poça de lagrimas que havia deixado na camiseta dele.

— Desculpo se você me explicar como conseguiu essa que esta usando – Ele apontou para sua camiseta largada nas curvas do pequeno quadro dela.

— Ok Rogers, boa tentativa. – Ela piscou para ele e se jogou na cama de Steve, ajeitando um dos travesseiros atrás da cabeça – Ah, será que nós podemos ter um cachorro também? E podemos chama-lo de Buck? Você sabe, vai ser bem engraçado.

Steve sentiu novamente o buraco no estômago. Mas não pelo mesmo motivo. Era como se uma pequena emoção tivesse acordado dentro dele. Ele não sabia o que exatamente era ou o porquê suas mãos estarem geladas se a temperatura lá fora era de no mínimo 34 graus. Não sabia se era por ver Natasha deitada tão livremente em sua cama ou se era pelo fato dela estar pensando em compartilhar uma vida com... Ele!? Isso o deixou zonzo, e ele sabia que estava transparecendo isso, pois Natasha esta o olhando e rindo como uma criança.

— Você esta flertando comigo, Romanoff? – Steve cruzou os braços em frente ao peito.

— Não sei, Rogers. Eu estou? – Natasha deu de ombros e sorriu

Steve caminhou até o lado dela e se deitou olhando para o teto

— O cachorro não vai se chamar Buck, eu estaria morto se isso acontecesse.

— Eu aposto que Buck vai se sentir lisonjeado. – Natasha mudou na cama e agora ocupava a maior parte do seu ombro como travesseiro.

Steve passou o resto da noite observando a respiração de Natasha se tornar mais lenta, até ela pegar completamente no sono.

Agora, nem o calor de Wakanda ou o tic-tac do relógio o incomodavam mais. O carnaval na sua cabeça deu espaço à única pergunta que ele no momento, queria saber a resposta; Será que juntos, hora ou outra, eles poderiam ser inteiros e verdadeiramente, humanos?


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