Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 6
Vínculos


Notas iniciais do capítulo

Á medida que Amennekht convive com as gems na Torre do Mar Lunar, ele cria uma interação diferente com cada uma delas e vai aprendendo novas coisas sobre a raça gem.



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No dia seguinte, Rose se dirigiu até o lugar onde Amennekht dormia. Ela viu, à “porta”, alguns dos azulejos onde o garoto costumava escrever para passar o tempo. Como naqueles azulejos Amennekht acabava falando um pouco de sua cultura, a guerreira quartzo os guardava com todo o carinho, para aprender mais sobre os humanos por quem ela lutava tão ardorosamente. Naqueles azulejos, Amennekht falava sobre as vestimentas egípcias, os pratos típicos, as armas, inclusive ela tinha um azulejo falando sobre uma espécie de jogo, que consistia em quatro barrinhas de madeira, em formato de meia lua, pintadas de cores diferentes nos dois lados; algumas pecinhas pintadas de preto e branco e uma espécie de tabuleiro retangular. Nestes azulejos que ela recolheu recentemente, havia desenhos de seres humanos um tanto diferentes dos que ela já havia visto: eram homens e mulheres que tinham cabeças de animais.

Rose ficou confusa com aquilo, nunca havia visto seres humanos que tivessem cabeça de cachorro, de águia ou de tigre. Ao olhar adiante, viu Amennekht sentado de costas para ela, imóvel. Ao se aproximar, notou que na frente dele estavam algumas estatuetas similares aos desenhos que ele fez. O garoto havia acendido velas em frente às estatuetas, depositado algumas porções de alimento e estava com os olhos fechados, murmurando palavras desconexas.

(Rose, tocando levemente o ombro de Amennekht): Amennekht, Amennekht. Está tudo bem?

(Amennekht, despertando do transe): Hã, o quê? Mãe, o que houve?                              

(Rose): Você estava falando umas coisas estranhas, e parecia estar dormindo, mas estava sentado.

(Amennekht): Eu não estava dormindo, estava orando para os deuses protegerem a mim, a você e a todas as guerreiras que lutam pela terra.

(Rose): O que são deuses?

(Amennekht): Deuses são criaturas mais poderosas que qualquer ser humano que existe. Eles têm poderes para governar a vida, a morte, a paz, a guerra, o dia, a noite, e até mesmo o amor e a justiça.

(Rose): Você... acha que eu sou uma deusa?

Amennekht virou o rosto, visivelmente desconfortável com a pergunta de Rose.

(Amennekht): Eu... não sei. Eu só acredito nos deuses do Egito, se eu disser que vocês também são deusas, então...

Rose percebeu o desconforto na fala, e resolveu parar a conversa por ali.

(Rose): Desculpe, eu não quis fazer você se sentir mal, eu só...

(Amennekht): Não, não, tudo bem. Eu entendo como você se sente. Todas essas coisas, sobre as gems, esta guerra, também soam muito confusas para mim. Nesse aspecto, nós dois somos bem parecidos.

(Rose): Sim, nós somos.

Rose abraçou Amennekht e deu um beijo na cabeça dele, tirando um sorriso dos lábios dele. Amennekht também ficou alguns segundos contemplando aquele belo brilho singular que Rose tinha nos olhos.

(Rose): Então, você já está pronto para ir de novo ao zigurate gem e treinar?

(Amennekht, animado): Estou sim!

(Rose): Peça para Garnet levar você até lá. Eu preciso resolver alguns assuntos referentes às nossas outras tropas.

Amennekht, com aquela animação que todas as crianças possuem, saiu correndo para procurar Garnet. Rose, com um belo sorriso no rosto, saiu para seguir o menino egípcio. À “porta” da sala que Amennekht usava como quarto, estava Pérola, que parou para ver enquanto o rapazinho saía correndo pelos corredores da Torre do Mar Lunar. Rose chegou pelas costas e pôs as mãos suavemente sobre os ombros de Pérola, fazendo as bochechas dela ficarem levemente azuladas.

(Rose): Amennekht é maravilhoso, não acha?

(Pérola): Sim. *sussurrando* Igual a você.

(Rose): Quando essa guerra algum dia acabar, se nós vencermos, Amennekht poderia ficar conosco. Poderia viver com a gente.

(Pérola): Ah Rose, você sabe que ele é um humano. Os humanos não vivem tanto quanto nós.

(Rose): É uma pena, os humanos são seres fantásticos.

(Pérola): Mas eu sempre vou estar aqui com você.

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Amennekht voltou para o zigurate gem. Ao olhar ao redor, notou que as gems estavam todas treinando por conta própria, sem a instrução da sargentona Ágata Amarela. Amennekht viu em um dos lugares a Rubelita e a Topázio Imperial treinando uma luta que parecia uma mistura de luta-livre com boxe. Quando Amennekht chegou mais perto, ficou ruborizado ao notar que ambas as gems estavam só de maiô, a primeira usava um de cor rosa choque e a outra usava um laranja. Rubelita estava de pé, segurando Topázio Imperial sobre os próprios ombros, puxando e envergando as costas da gem menor de um jeito que parecia ser doloroso.

(Rubelita): Vamos, Topaz, admita logo que eu venci. Não tem como você sair daí de cima.

(Topázio Imperial): N-Não, d-dessa vez eu venço você, você vai ver!

(Amennekht, constrangido): P-Porque vocês estão vestidas desse jeito?

Rubelita e Topázio Imperial pararam o treino e ficaram de pé normalmente, a Topázio Imperial voltou a usar suas roupas normais, mas a gem maior continuou com o maiô rosa choque que usava.

(Rubelita): A gente estava treinando pancrácio, um estilo de luta que eu aprendi com um sujeito careca, mal-encarado, que tinha umas pinturas vermelhas pelo próprio corpo.

(Topázio Imperial): Eu estava tentando derrotar a Rubelita.

(Rubelita): E só para variar, falhando de novo.

(Topázio Imperial): Não é justo, você tem o dobro do meu tamanho.

(Rubelita): Se você soubesse a técnica correta, poderia me derrotar, independente do meu tamanho. Ei Amennekht, eu vi ontem que você lutou muito bem com a Rubi Joanete. Você aceita lutar comigo?

(Amennekht, constrangido): E-Eu não sei se eu d-devo...

(Rubelita): Ah, por favor, só um treininho básico, aposto que eu posso te ensinar uma coisa ou duas.

Amennekht ficou bastante corado ao olhar para Rubelita: o brilho que ela tinha no olhar, os cabelos reluzentes, o sorriso caloroso, a pedra dela, com o formato de um coração, tão perto do rosto...

... sem falar nas coxas volumosas que ela tinha.

(Topázio Imperial): Rubelita, eu acho que o Amennekht está passando mal, olha como ele está mudando de cor.

(Amennekht, voltando ao normal): Não, não, não tem nada de errado comigo. Vamos treinar.

(Rubelita): Então, fique em posição.

Rubelita levantou os punhos fechados, ficando com a mesma postura de um boxeador. Amennekht imitou ela, mas novamente começou a ficar distraído com aquele sorriso hipnótico que ela tinha. Tudo ao redor dele pareceu ficar bastante silencioso, até que ele foi despertado por um estalo barulhento que atingiu sua testa. Não foi algo doloroso, mas ele tomou um susto forte o bastante para que recuperasse sua concentração.

(Rubelita, rindo): Atenção nos meus punhos, Ameni, ou você vai acabar engolindo eles.

Rubelita voltou à postura inicial, e dessa vez Amennekht estava mais atento. Rubelita deu outro soco, mas Amennekht se desviou e acertou um no queixo dela, fazendo dar um passo para trás. A gem rosa choque tinha uma expressão de espanto no rosto, enquanto que a Topázio Imperial tinha uma feição que parecia dizer “Woooow, essa eu não deixava! ”

(Rubelita, sorrindo): Você aprende bem rápido, Ameni.

Amennekht começou a ficar constrangido com o apelido que Rubelita deu a ele e dessa vez resolveu tomar a iniciativa, dando um soco de direita na gem. Rubelita pegou a mão direita do garoto, puxou com força, fazendo ele se desequilibrar para a frente, então aplicou uma chave de braço de direita. Amennekht ficou caído, de quatro, com o braço direito de uma gem enroscado ao redor do pescoço dele, pressionando a lateral de seu rosto contra o busto dela.

(Rubelita, rindo): Você não devia ter feito isso, Ameni.

Amennekht sentiu Rubelita socar sua testa sucessivas vezes. Eram socos fraquinhos, que não faziam nada mais que produzir estalos em sua pele, mas por algum motivo ele sentia incômodos cada vez que a Rubelita lhe acertava um golpe e dava aquela risadinha: sua visão embaçava, sua respiração falhava, seu coração ficava batendo de forma irregular, suas pernas tremiam. Ele tentava se soltar, mas era inútil, a chave de braço dela, embora não o estrangulasse, era bastante firme, o que o deixava totalmente indefeso.

(Rubelita, rindo): Vamos Ameni, eu nem estou segurando tão forte. Ou você gosta dos meus punhos acertando esse seu rostinho fofo?

(Amennekht): C-Chega, eu desisto. N-Não consigo vencer você.

Os socos pararam, a tontura parou, a falta de ar parou, as batidas desreguladas do coração pararam, as borboletas em sua barriga pararam. Amennekht, já solto, olhou para cima e viu Rubelita, agora com usas roupas normais, estendendo a mão para ele.

(Rubelita): Foi um bom começo, Ameni, mas você ainda tem que praticar mais.

(Amennekht): O-Obrigado.

A “luta” entre Amennekht e Rubelita havia atraído a atenção de diversas gems, que ficavam cochichando e ocasionalmente rindo da situação. Entre os diversos rostos gems, Amennekht acabou reconhecendo o rosto de uma rubi, a mesma com quem ele lutara e que acabou usando um golpe baixo contra ele, aquela rubi a quem a Ágata Amarela chamava pejorativamente de “Joanete”.

A rubi mal-humorada saiu do meio da cena e foi para um outro canto, onde estavam outras quatro rubis, que eram suas amigas. Uma delas percebeu o mal-humor da Joanete logo de cara e resolveu descobrir o que estava acontecendo.

(Rubi): J96Y, por que você está chateada?

(Joanete): Eu me pergunto o que a Rubelita vê naquele humano idiota.

(Rubi): Ah, você sabe como a Rubelita é, ela adora humanos. Ela passou grande parte do tempo na Terra convivendo pacificamente com humanos. Na verdade, ela só se juntou à Rebelião quando a Diamante Rosa deu ordem para capturar os humanos.

(Joanete, irritada): Eu sei como a Rubelita se tornou uma Crystal Gem, todo mundo aqui sabe disso, droga!

(Rubi): Mas por que você está tão brava, Joan... digo, J96Y? Eu não entendo.

Nisso, outra rubi começou a debochar da situação e a cantarolar.

(Rubi 2, cantarolando): A Joanete está com ciúme do humano, a Joanete está com ciúme do humano!

(Joanete, irritada): Não me chama de Joanete, droga! O que raios todo mundo vê naquele humano? Ele tem um lugar só dele na Torre do Mar Lunar, ele é treinado pela própria Rose Quartz! Até a Ágata Doida trata aquele humano com um certo respeito, e ele é defeituoso.

(Rubi 2): Realmente, todos os humanos que já vi são bem mais altos que o Amennekht.

— Atenção, todas as Crytal Gems alinhadas aqui, agora mesmo!

(Rubi 1): J96Y, a Comandante Ágata Doi... digo, Ágata Amarela está nos chamando.

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Depois de mais um dia de treinos pesados, Amennekht voltou para seu “quarto” na Torre do Mar Lunar. Usando a cachoeira que passava bem no meio do lugar, Amennekht tomou um banho revigorante para tirar todo o suor e sujeira do corpo, ele também usava essa cachoeira para lavar as roupas e beber água (rapaz, ainda bem que essa água é corrente). Terminando isso, ele se secou e vestiu novamente suas roupas. Ele aproveitou e pegou um pouco da água da cachoeira para beber.

— Eca, você coloca isso dentro do seu corpo? Vocês humanos são nojentos.

Inicialmente, Amennekht pensou que essa fala tinha sido da Pérola, pois sabia que ela achava certos hábitos humanos nojentos, como comer, beber água, sem falar nas formas como os humanos botam a comida e a bebida para fora de seus corpos. Mas ao se virar viu que era a rubi Joanete, com uma cara que misturava indagação, desprezo e deboche. Junto com ela, estavam outras quatro rubis que ele não conhecia.

(Amennekht): O que você está fazendo no meu quarto?

(Joanete): Seu quarto? Hahahaha! Vocês ouviram o que a segunda pérola de Rose Quartz disse?

As outras rubis começaram a rir, algumas mais descontraídas, outras mais nervosas, provavelmente pensando nas consequências que aquele ato teria.

(Joanete): Isso aqui é a Torre do Mar Lunar, é um abrigo de gems. Nós temos a liberdade de ir e vir para quaisquer lugares dessa torre que quisermos. Não tem essa de “seu quarto”, seu projeto de pérola.

Amennekht não sabia o que a rubi briguenta quis dizer com “projeto de pérola”. Não sabia o significado ou a função de uma pérola na sociedade gem, mas o tom de deboche da gem à sua frente, principalmente para se referir a duas das gems que mais cuidaram dele, o irritou profundamente.

(Amennekht, irritado): Escuta aqui, eu não vou aceitar que vocês fiquem debochando de mim, da Pérola e muito menos da mamãe.

(Joanete, rindo ainda mais): “Mamãe”? Então é assim que você chama a Rose? BWAHAHAHAHAHAHA!!! Você é mesmo um humano defeituoso!

Uma das rubis, sem entender direito a piada, perguntou:

— O que é uma “mamãe”?

(Joanete): É como os humanos defeituosos que nem o Amennekht chamam outros humanos normais que cuidam dele. Você não lembra daqueles humanos defeituosos que ficavam toda hora gritando “Mamãe, mamãe, eu quero minha mamãe! ”

Amennekht começou a ficar mais e mais irritado, e sem ele perceber, a rubi Joanete pegou alguns dos azulejos onde Amennekht escrevia nas horas vagas.

(Joanete): Olha só, parece que nosso projetinho de pérola também tem um pouco de zircônio também. Ele está até tentando aprender a escrita gem... ênfase no “tentando”.

(Amennekht, furioso): Me dá isso aqui, sua piolhenta!

Amennekht tentou arrebatar os azulejos da mão da rubi, que num reflexo, empurrou o garoto humano com toda a força, fazendo ele tropeçar e cair em cima das estatuetas dos deuses egípcios. A rubi, irritada com a ousadia do garoto, largou com tudo os azulejos que segurava, que só não se partiram porque eram feitos de material gem.

(Joanete, irritada): Você não ouse botar suas mãos sujas em cima de mim, ouviu bem, humano? Eu e minhas amigas estamos lutando e sendo poofadas para proteger formas de vida inferiores como você, então trate de me respeitar!

A rubi enfatizou a última palavra dando um pisão bem forte, que por puro infortúnio esmagou a cabeça da estatueta do deus Set. Intrigada, Joanete pegou outra estatueta, dessa vez de Rá, e começou a novamente debochar do garoto?

(Joanete, rindo): Que porcaria é essa aqui? Vocês humanos se fundem com as feras desse planeta?

De supetão, Amennekht voou em cima da Rubi desrespeitosa. Devido a todas as lições que tivera com Garnet, Amennekht havia deixado de ser um menininho indefeso com medo da própria sombra e se tornou bom de briga, o suficiente para peitar uma gem do tamanho dele. Agarrando a cabeleira volumosa de sua adversária, Amennekht desferiu murro atrás de murro. No meio da briga, ele percebeu um homem com cabeça de porco-formigueiro, ninguém menos que o próprio deus Set.

(Set): Bate nela, Hórus! Castigue-a sem piedade! Mande essa piolhenta para o mundo dos mortos!

Só que as rubis também eram boas de briga, e também estavam em maior número. As quatro rubis restantes agarraram Amennekht e o jogaram para trás, depois ambas ficaram numa formação estranha e começaram a brilhar, formando uma única rubi, enorme. Aquilo pegou Amennekht totalmente despreparado e, antes que ele pudesse reagir, foi agarrado pela rubi gigante, pressionado contra o chão e moído impiedosamente. Amennekht teria apanhado até ficar desacordado se, milagrosamente, Rose Quartz e Garnet não tivessem aparecido para intervir.

(Garnet): Larguem o humano agora mesmo!

Amennekht foi largado, e acabou caindo bruscamente no chão, quase imóvel, de tão machucado que estava.

(Rose, furiosa): Desfaçam a fusão antes que eu resolva punir vocês todas!

Uma mulher, com cabelos que pareciam um enorme buquê de rosas, usando um vestido de noiva e empunhando uma espada que também tinha uma rosa esculpida em seu punho. Tal imagem seria motivo de escárnio para qualquer outro guerreiro terráqueo, mas tanto as gems de Homeworld quanto as Crystal Gems sabiam da reputação de Rose Quartz num campo de batalha. As cinco rubis desfizeram sua fusão e se afastaram do lugar com o corpo todo encolhido, como se fossem crianças com medo de levar uma surra de cinto da mãe.

Semiconsciente, Amennekht viu que, enquanto as rubis sumiam do lugar, totalmente acuadas, Set ainda estava no mesmo lugar, o encarando com um olhar de desprezo.

(Set): Que vergonha, Hórus. Apenas alguns séculos se passam desde nossa batalha e você se converteu nessa criatura deplorável? Anúbis deveria ter ceifado sua vida naquele dia, no deserto. Você é uma desgraça para o Egito.

Amennekht pensou em responder ao deus egípcio da guerra, mas seus pensamentos foram interrompidos quando lágrimas começaram a cair em cascata sobre os hematomas e sangramentos de seu rosto. Ao olhar para cima, viu Rose chorando, seu rosto misturando alívio pela melhora do garoto, e tristeza por ele ter sido ferido.

(Amennekht): Mamãe, não chora.

(Rose, sorrindo): Tudo bem, eu vou parar.

(Garnet): Por sorte eu consegui prever essa situação e trouxe Rose o mais rápido que pude. Eu sinto muito por isso, Amennekht, não vamos mais permitir que elas venham lhe importunar na Torre do Mar Lunar.

Garnet havia tirado o visor para falar com Amennekht. O menino compreendia o simbolismo desse gesto, pois sabia que Garnet quase nunca tirava o visor, a não ser quando queria conversar como uma amiga, ao invés de bancar a oficial superior. Ela estendeu a mão direita e acariciou a face esquerda de Amennekht. O garoto pegou a mão da gem e foi olhar a pedra em sua palma, mas algo lhe chamou a atenção: a pedra que estava lá tinha uma faceta triangular, e não quadrada, como ele vira na noite em que ambos fizeram as pazes. (ver capítulo 4)

(Amennekht, pensando): Mas, a pedra da Garnet tinha uma faceta triangular, não quadrada. Será que gems podem mudar o formato das próprias pedras?

(Rose, sentida): Amennekht, desculpe por isso. Eu não devia ter deixado você ser machucado desse jeito tão...

(Amennekht): Não, não foi culpa sua. Foram aquelas malditas piolhentas! Elas falaram mal de você, da Pérola e difamaram os deuses do Egito...

Amennekht não havia percebido, mas ao se referir as rubis como “piolhentas”, Garnet acabou mudando a sua postura, como se tivesse sentido uma espécie de desconforto, porém, como aquela gem passava a maior parte do tempo numa postura estoica, às vezes era difícil de dizer no que ela realmente estava pensando.

(Rose): Shhh, está tudo bem, tudo bem. Eu estou aqui agora, aquelas gems não vão mais lhe importunar nesse lugar. Esse quarto é seu lugar seguro, e Garnet, Pérola e eu vamos manter isso.

(Amennekht): Mãe, o que foi aquilo que as rubis fizeram? Tipo, elas se juntaram, então brilharam e viraram uma gem gigante.

(Garnet): O nome daquilo é fusão, Amennekht. É uma técnica onde duas ou mais gems unem seus poderes e se tornam uma gem maior e mais forte. Pode ser feita entre quaisquer gems, mas Homeworld proíbe qualquer fusão entre gems de castas diferentes.

(Amennekht): O que acontece se duas gems diferentes se fundirem.

(Rose): Errr, Amennekht, fusões são um assunto muito pessoal e delicado para Garnet, quando você amadurecer mais, eu vou lhe explicar tudo.

Rose cumpriu a primeira promessa que fizera: nunca mais houve outro incidente similar àquele na Torre do Mar Lunar. Porém, havia outros lugares além deste, como o zigurate gem, onde Amennekht ia treinar todos os dias com outras gems, e ocasionalmente, na verdade, muito frequentemente, Amennekht e Joanete começavam a brigar. Eles simplesmente não se suportavam, e muitas vezes partiam para a agressão física. Nem sempre Rose podia intervir, ela estava frequentemente ocupada dirigindo os movimentos da Rebelião, mas ela contava com outras gems de confiança para cuidar do garoto, como Pérola, Garnet, algumas oficiais militares como a Ágata Amarela, entre outras. Sempre que havia uma briga entre Amennekht e a rubi Joanete no zigurate gem, a Comandante Ágata Amarela apartava antes que ficasse feia, mas punia ambos com uma série de flexões de braço, o que acabou deixando, com o tempo, os braços de Amennekht musculosos.

Com o tempo, Amennekht foi criando um vínculo com várias outras gems: Rose era o mais próximo que ele tinha de uma mãe, Pérola e Garnet eram suas mentoras, tanto em combate com espada, como em combate físico, além de noções básicas e avançadas de estratégia militar. Bismuto era a tia legal que o enchia de presentes: além da khopesh, ela também havia presenteado Amennekht com uma estatueta nova, para substituir aquela que a rubi Joanete quebrara, fez colares e enfeites egípcios, como braceletes, se baseando nas anotações que Amennekht fazia nos azulejos soltos da Torre do Mar Lunar. Bismuto até fez um luxuosíssimo tabuleiro de Senet: com um tabuleiro com casas talhadas em baixo relevo, “varetas/dados” de madeira de jacarandá e peças esculpidas em madeira de ébano e em mármore (originalmente, Amennekht pediu que as peças brancas fossem de marfim, mas Rose proibiu Bismuto de usar esse material quando descobriu de onde vinha). Também havia a Topázio Imperial, que era meio que sua irmã caçula, a Comandante Ágata Amarela, a quem Bismuto apelidava de “Ágata Doida”, e a Rubelita.

O vínculo que Amennekht tinha com Rubelita era algo confuso: ele se sentia estranho toda vez que falava com ela: suas pernas tremiam, como se ele fosse cair a qualquer momento, borboletas ficavam voando em sua barriga, ele suava e o ar lhe faltava. Ela era uma gem extremamente alegre e simpática e adorava conhecer todos os detalhes da cultura egípcia: pratos típicos, cultura, religião, sociedade... e ele adorava demais a companhia dela.

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O tempo foi passando, um ano, dois anos, cinco, dez anos. Amennekht não era mais uma criança, agora ele era um rapagão de 18 anos. Durante todo esse tempo que ele passou na Torre do Mar Lunar, ele treinou fervorosamente e manteve uma rotina puxada, mas saudável. Além disso, como Rose tinha profunda afeição por qualquer criatura viva, não apenas humanos, mas animais também, ela nunca permitiu que Amennekht caçasse para comer, o que fez dele um vegetariano. Consequentemente, ele cresceu e se desenvolveu de forma extraordinária: sua pele nunca desenvolveu acne ou espinhas devido à alimentação pobre em gorduras. Seus músculos, embora não fossem como os de um fisiculturista, eram bem desenhados. Amennekht também mantinha os cabelos raspados bem curtos, mas quando cresciam um pouco, eram negros e incrivelmente reluzentes.

Neste momento, Amennekht estava na Arena Celeste, treinando técnicas de luta com Garnet. Com o passar dos anos, o rapaz havia aprendido a se defender e a se esquivar dos golpes da gem, mas ele ainda esbarrava no mesmo problema de sempre: seus golpes não surtiam efeito. Ele acertava socos bem fortes em Garnet, mas ela mal se mexia. No meio do treino, quando Amennekht acertou outro soco na barriga, Garnet simplesmente parou de lutar e ficou olhando enquanto Amennekht continuava batendo em sua barriga. Ela sentia como se um coelho estivesse dando patadas nela.

(Garnet): Amennekht, já pode parar.

(Amennekht, ainda socando): Não, *puf* eu vou fazer você sentir meus socos, de um jeito ou de outro!

(Garnet): Amennekht, chega. Você sabe que isso não vai dar certo.

(Amennekht): De jeito nenhum, eu ainda posso lutar!

Garnet deu um tapa na testa de Amennekht, fazendo ele cambalear para trás, meio zonzo.

(Garnet): Já acabou? Qual foi a primeira lição que eu te ensinei?

(Amennekht, aborrecido): “Você jamais será tão forte quanto uma gem”. Mas eu era só uma criança, agora que eu sou mais velho...

(Garnet): E qual foi a segunda lição?

(Amennekht, aborrecido): “O lutador mais forte não é necessariamente o vencedor”.

(Garnet): Mas você tem esse problema: precisa de algo que lhe dê forças para enfrentar um quartzo em pé de igualdade. Venha comigo, Rose me pediu para lhe mostrar uma coisa.

Amennekht seguiu Garnet até a Forja, e lá dentro estava Bismuto, Pérola e Rose Quartz. Junto com elas estavam vários artefatos que o rapaz reconheceu na hora.

(Todas as três gems): SURPRESA!!!

(Amennekht, surpreso): Mas... o que é tudo isso?

(Pérola): Parabéns Amennekht, agora você é um Crystal Gem como nós.

(Bismuto): Rose foi recolhendo mais alguns daqueles azulejos onde você escreve e foi me emprestando, daí eu usei os desenhos como base para criar essas coisas para você usar no campo de batalha. O que me diz?

Amennekht deu uma olhada nos presentes que as gems fizeram para ele: havia um elmo egípcio pintado de azul-safira, com uma serpente dourada enfeitando a fronte (https://www.costumearmour.com/images/m31.JPG), uma couraça também azul-safira, com duas asas douradas cruzadas sobre o peito e uma cruz ansata desenhada (https://www.costumearmour.com/images/m32.JPG), um escudo com cor de bronze, no qual estavam vários motivos egípcios escritos em baixo relevo, como mantras de proteção (https://img.etsystatic.com/il/c4e2ce/853691300/il_570xN.853691300_71cs.jpg). Também havia uma carruagem egípcia, nos mesmos moldes que ele desenhou, com as rédeas para prender nos cavalos que ele teria futuramente, bem como uma corneta de guerra, pintada de rosa, curva como o chifre de um carneiro, a boca por onde saía o som era esculpida de forma a lembrar uma rosa.

(Rose): Se no campo de batalha você estiver em perigo, toque essa corneta, e eu virei para lhe ajudar.

(Amennekht): Isso tudo é para mim?

(Pérola): É sim. Isso se parece um pouco com o que você tinha no Egito, Amennekht?

(Amennekht): Eu não me lembro de ter tido nada como isso antes.

(Bismuto): Ah, antes que eu me esqueça, tem mais essa belezinha! Eu batizei de “Os punhos de Hórus”, em homenagem a uma de suas deidades humanas.

Os punhos de Hórus eram duas manoplas, que cobriam as mãos e a região do antebraço. Eram revestidas com placas e semiesferas de ouro. Na parte mais proximal das manoplas, havia uma pedra que lembrava uma safira e, em cada lado dela, uma espécie de cilindro, com tubos que os conectavam a uma espécie de visor com ponteiro (https://orig00.deviantart.net/78f3/f/2016/053/4/9/steampunk_gauntlet___pneumatic_battle_fist_by_steamviking-d9sqrht.jpg). Amennekht colocou as manoplas e as sentiu um tanto folgadas ao redor de seus braços.

(Bismuto): Dá uma flexionada assim com os braços, bem rápido, como se tivesse usando eles para puxar um alçapão imaginário em cima de você. Isso vai ajustar o torque.

Amennekht obedeceu e imediatamente sentiu as manoplas ficarem bem justas ao redor de seu braço, e sentiu elas sendo extremamente leves.

(Bismuto): Agora rapaz, com isso aí você vai ter força física para sair no braço com qualquer uma daquelas brutamontes de Homeworld. Você só tem que ficar de olho no ponteiro, se ele chegar muito perto da área vermelha, você flexiona o pulso para deixar o vapor sair pela lateral do antebraço.

(Amennekht, confuso): Isso parece um tanto complicado para mim.

(Bismuto): Você aprende com o tempo. Aliás, hoje mesmo você já pode fazer o test-drive

(Amennekht): Teste-o-quê?

(Rose): Hoje é o dia, Amennekht. Você vai passar pela cerimônia que o oficializará como um membro do exército das Crystal Gems.

 

 

 

SÓ UM GUERREIRO DE NOBRE CORAÇÃO RECEBERÁ A HONRA DE UM LUGAR AO SOL.


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Notas finais do capítulo

Rapaz, eu ADOREI cada palavra que escrevi nesse capítulo. Sério, não imagino como eu poderia melhorá-lo. Ao invés de treinamentos, eu preferi focar no relacionamento que o protagonista ia desenvolvendo com cada uma das Crystal Gems, inclusive com a Rubelita e a rubi apelidada de Joanete. E para encerrar com chave de ouro, o capítulo mostra Amennekht já com 18 anos, prestes a se tornar oficialmente um guerreiro, mas isso vai ficar só para a próxima.

No desenho oficial de Steven Universo, é mostrado em diversos episódios vários itens denotando que humanos lutaram na Guerra gem, a exemplo das espadas e armaduras de diferentes culturas, inclusive vou deixar os links das imagens logo abaixo.

https://vignette.wikia.nocookie.net/steven-universe/images/5/5d/Lion_2_The_Movie_147.png/revision/latest/scale-to-width-down/640?cb=20151211231729

https://vignette.wikia.nocookie.net/steven-universe/images/7/71/Lion_2_The_Movie_129.png/revision/latest/scale-to-width-down/640?cb=20151211231650

https://78.media.tumblr.com/9df5ab2ed4d87f1efe4f1eb36f843dc9/tumblr_nn0r4wbBPt1usf246o2_1280.png

Curiosidade: as rubelitas são uma classe rara de turmalinas, que não perdem o brilho independente de expostas à luz natural ou artificial. Culturalmente, essas joias são associadas à imponência, delicadeza e sensualidade, o que certamente explica muita coisa nessa fanfic.

A propósito, aqui vai uma foto de Amennekht, agora com 18 anos: http://2.bp.blogspot.com/-srCY3Y6sVuk/UUlxO7WOaBI/AAAAAAAABmc/u-O3P4M46TY/s1600/pharaoh.jpg

Só para constar, ele não é branco, é que a imagem tem a iluminação meio estourada. Os egípcios eram semitas, que era meio que um intermediário entre brancos e negros. Eles tinham uma pele mais voltada pro pardo.



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