— Cuidado ninã, vai se machucar.

— Vai se foder, Leonardo.

O garoto riu a olhando enquanto batia a espada contra a dela, os olhos cinzas dele miravam nos azuis da garota, o que a fez perder a concentração por um segundo. Segundo o suficiente para que ele a desarmasse e colocasse a espada sobre o pescoço dela, quase tirando uma fita de sangue.

— E está morta. Tão previsível.

— Você é tão insuportável. — Ela passou a eletricidade pelo corpo para ir para a espada e dar um choque nele que acabou soltando e gritando.

— Isso foi trapaça!

— “Use tudo o que estiver ao seu favor, Celine!” — Ela fazia uma péssima imitação da voz dele.

Ele estreitou os olhos acinzentados sobre ela e se aproximou bagunçando e deixando desalinhado o cabelo da mesma.

— Olha só, parece que finalmente aprendeu a lição. É quase de se estranhar.

— Haha, muito engraçadinho você.

Ela acabou rindo junto com ele, enquanto saiam do parque onde estavam treinando,  estavam num hotel ali próximo desde que uma amiga deles se tornara caçadora de Artemis, eles seguiam sozinhos, os dois.

Aquilo gerava sentimentos confusos na filha de Zeus, isso ai, olha que choque, filha do senhor dos céus, como se ela achasse que fosse de alguma utilidade.

Graças aquela aventura de seu pai, ela nunca seria livre de verdade, a sua vida passaria a fugir de monstros o tempo inteiro, e quase ser morta todas às vezes.

Mas quando olhava para o seu companheiro, toda a percepção de liberdade se modificava, eles viajam a America toda ao lado um do outro, o pai humano não cobrava, pois achava que ela estava na escola, Leonardo tinha jeitos de hackear o sistema e até ensinava alguns truques para ela. E assim, mesmo com toda a merda anterior, fazia cinco anos que Hera não a atormentava.

Talvez a tivesse libertado daquilo. Talvez ela não sentisse mais ódio, e talvez junto com Leonardo ela pudesse...

Os pensamentos foram cortados quando ouviu um rugido, não um comum, sabia o que eram.

Gigantes. Filhos de Poseidon com sabe-se lá quem.

Eles os encontraram.

Leonardo segurou a mão de Celine e foram correndo para se esconder, ela insistia em sair voando, mas ele dizia que usar os poderes somente chamaria mais a atenção deles.

Estava errada sobre a liberdade. Ela sempre o colocaria em perigo, e isso a fazia hesitar em revelar o que realmente sentia por ele, devia ir embora de uma vez. Foi quando parou e o olhou.

— Corre. Eu cuido deles.

— Você pirou, Regina!? — Ele sempre a chamava assim quando estava sério. Por saber que ela odiava.

— Você não entende! Você sempre vai estar em perigo perto de mim! Alguma coisa ruim vai acontecer com você!

— Eu não me importo! Eu não vou te deixar sozinha ouviu? Se é para a gente se foder, vamos nos foder juntos, se é para rir vai ser juntos também, e se você não subir na merda dessa moto agora, eu vou te obrigar!

— Porque você é tão... — Eles foram interrompidos, quando uma clava foi jogada em cima deles que tiveram de desviar e se jogar para o lado.

Não eram apenas gigantes eram gigantes e ciclopes. Estavam fodidos.  Correram para longe tentando desviar dos ataques, indo em direção à floresta.

Não deu muito certo. O gigante gritava que nenhum filho de Zeus merecia viver, que acabaria com a prole dele, Leonardo chutava que ele fosse Dercino. Qual era a vantagem de ser filha do senhor dos céus? Nenhuma novamente.

 Os ciclopes os encurralaram entre as arvores num campo aberto, Celine respirou fundo para se concentrar, o céu ficava com nuvens cinza e uma tempestade era formada daquilo, ela ergueu as espadas no ar em X, e desceu com ventanias, um tufão em cima daqueles infelizes, sabia que era uma medida temporária, e aquilo a consumiria muito, mas deu certo para apagar os ciclopes por hora, aos quais Leo os finalizou, os mandando de volta para o tártaro.

Ela sorriu para ele, que acenava para ela com felicidade, estavam esquecendo que tinha mais alguém escondido.

Dercino pegou Leonardo e esmagou-o com as mãos antes de joga-lo contra um dos troncos de arvore.

Era como se Celine visse a cena passando devagar em sua mente, seus olhos pararam no semideus no chão, com muitos ossos quebrados.

Ela correu para se aproximar dele, enquanto o gigante ria dos dois, ela não ouvia. Não a importava.

Leonardo ainda estava vivo, mas não por muito tempo.  Ela sentia os olhos encherem da lagrimas, ele tentava falar alguma coisa, mas só movia os lábios, ela acreditou ser um “Amo-te” antes dos olhos cinza que tanto amava perderem a vida.

Tudo ficou turvo e escuro. Quando recobrou a consciência, o gigante não era nada além de cinzas. Assim como a alma dela.