Farnorth escrita por mattwilliams


Capítulo 1
Capítulo I - Prenúncio


Notas iniciais do capítulo

Olá (:

A história que criei é completamente original. Aproveitei-me, apenas do universo de Harry Potter para ambientá-la, e farei uso dos elementos que estão no livro e na série.
Talvez um ou outro personagem esteja presente, mas os protagonistas serão todos personagens criados por mim.

Espero que gostem.



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A pequena cidade de Farnorth vivia os últimos momentos do verão.

Como toda a cidade do norte da Inglaterra, os meses em que não se vivia num congelante frio eram raros - e eles aconteciam durante o verão. O pequeno parque no centro da cidade estava cheio naquele sábado, e os gritos animados das crianças eram ouvidos por todos os pedestres que por ali passavam. Não se engane: não quero dizer que o clima era quente. Mesmo o sol, que havia dado as caras naquele dia, não era o bastante para fazer com que a temperatura ultrapasse a casa dos dez graus centígrados. Os meninos e meninas brincavam agasalhados, e seus pais tomavam xícaras de chá fumegante nas proximidades do parque. Era o único lugar decentemente arborizado da cidadezinha, possibilitando uma agradável e rara visão de árvores com folhas verdes e amareladas, que podiam ser escaladas ou esculpidas com as inicias de casais apaixonados.

Farnorth, como bem diz o nome, ficava quase na fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, numa região pouco habitada do país. O lugar era praticamente um vilarejo tranquilo e afastado das rotinas turbulentas das grandes cidades. Apesar de não possuir nenhuma característica turística, a cidade recebia muitos visitantes, principalmente no verão, que buscavam a pacatez do lugar. A maioria da população já era mais velha, uma vez que os jovens buscavam a vida em outros destinos, com melhores oportunidades de trabalho. As crianças estudavam todas numa única grande escola, mas quando partiam para a faculdade, os pais precisavam colocá-las em instituições de cidades próximas - não havia ensino superior em Farnorth. Os jovens estudavam ou na Universidade de Cumbria, em Carlisle, ou na Universidade de Newcastle, na cidade de mesmo nome. De lá, a maioria só voltava para passar as férias com a família.

Era o que acontecia no momento: jovens de todos os cantos da Inglaterra retornavam para passar as férias com suas famílias. Era no verão que a cidade tinha o maior movimento, o que fazia muito bem para os comerciantes locais. Os restaurantes estavam sempre cheios, assim como os bares e as casas de chá. As portas da maioria das casas permanecia sempre aberta e a felicidade permanecia estampada nos rostos das pessoas que caminhavam pelas ruas. Músicos exibiam suas habilidades nos cantos, arrecadando algumas moedas no processo. As ruas estavam cheias de veículos, praticamente o dobro do que normalmente existia na cidade. E diversos ônibus chegavam, originários da estação de trem mais próxima. Era uma época muito aguardada para todos que ali viviam.

No meio de toda essa movimentação, dois jovens embrenhavam-se no meio do bosque que permeava a pequena cidade.

—Vamos logo!

A garota seguia na frente, caminhando com confiança sobre a trilha que os dois já conheciam tão bem. Seus cabelos escuros, compridos e soltos, balançavam conforme ela se movia em direção ao ponto que os já conheciam tão bem há anos. Não demorou e as árvores deram vista ao pequeno lago.

—Os anos passam, mas a beleza deste lugar é sempre a mesma. - Disse o garoto, ao vislumbrar o lago a sua frente. O lugar era rodeado pelas árvores do bosque, altas e imponentes, garantindo um certo ar de privacidade e isolamento - longe do barulho e inquietude de Farnorth em agosto. O sol ia se pondo, dando lugar à noite, e garantindo uma bonita visão a partir daquele silencioso local.

Oliver Redwell se sentou a beira da água, sorriso estampado no rosto. O verão havia sido incrível. Havia revisto sua família, seus amigos de infância e, bom, também havia reencontrado Bella. Não que Isabella Green não estivesse na categoria de amigos de infância, mas ela tinha algo mais. Sempre fora algo mais.

—Sempre, quando venho aqui - Bella disse, sentando-se ao lado de Oliver. -Eu penso que talvez seja a última vez que eu veja esse lago.

A garota possuía enormes olhos azuis, que contrastavam com sua pele alva. Seu sorriso era uma mistura de timidez e esperteza, algo que Oliver nunca tinha visto em outra pessoa. No momento, entretanto, ela parecia preocupada.

—O lago não vai a lugar algum.

—Eu sei, mas talvez eu vá. - A garota relaxou o rosto ao expressar tristeza. Doía em Oliver ver aquilo. Poucas vezes a vira triste, mas lembrava-se de todas elas.

—Caso você vá, nada impede que retorne.

A menina sorriu. Não da forma com que Oliver se acostumara, mas com um sorriso de quem havia se conformado com a situação, mas apreciava a tentativa do amigo. Ela deixou que o silêncio tomasse lugar por alguns momentos. O lago se movimentava conforme o fraco vento que os enfrentava de frente. O sol seguia seu lento movimento em direção ao horizonte, e o céu adquiria cores avermelhadas.

—Afinal, eu retorno. - Disse Oliver, ao referir-se a si. O garoto não estudava ali desde que tinha 11 anos de idade, quando recebera um convite para atender às aulas numa instituição londrina. Ou pelo menos era no que Bella acreditava.

—Ainda estamos na escola. -Ela continuou, olhos fixos nas pequenas ondas que o vento formava na superfície da água. -Quando eu me mudar, as coisas serão diferentes.

Isabella estava no último ano da escola, e depois disso cursaria direito em alguma das melhores universidades da Inglaterra. Sabia disso por  causa do desempenho acadêmico da menina - sempre notas máximas, durante toda a sua vida. Era o orgulho dos pais, e conhecida em Farnorth. Era o futuro que ela queria, e Oliver sabia que estava ao seu alcance.

—As coisas serão diferentes apenas no nível em que você deixar que elas sejam.

O garoto também estava no último ano da escola, mas não pensava em fazer faculdade. Nem precisaria, pois já tinha em mente o caminho que desejava seguir. Um caminho bastante distante das grandes universidades inglesas.

—Como vão as coisas em Londres? - Bella perguntou. O sonho da jovem era ter acompanhado Oliver quando foi para a capital. Entretanto, seus pais fizeram questão de que ela continuasse em Farnorth, com a família, pelo menos até se formar. Também não agradava ao garoto ficar longe da morena, mas, dadas as circunstâncias, ele não tivera muita escolha. Fora difícil despedir-se pela primeira vez, e era difícil despedir-se no final de cada verão.

—As mesmas. Você sabe. - Respondeu, pegando uma pequena pedrinha do chão e arremessando-a no lago. -Muita gente. Muito movimento. Cada dia lá faz com que eu tenha mais certeza de que não é o lugar para mim.

—Ainda não consigo acreditar que você não vai para a universidade. - Era um comentário recorrente desde que Oliver anunciara que não faria faculdade. Aquilo não estava e nem nunca esteve nos planos da garota, que sempre priorizou a educação superior. Claro que havia uma sensação de estranheza pela diferença nos planos de vida, mas o maior desconforto era aquele que permanecia guardado. A certeza que, mesmo depois de anos estudando em cidades distantes, nem mesmo na universidade os dois se encontrariam novamente.

—Você sempre soube que é um lugar feito para as Isabellas da vida. - Sorriu, fitando aqueles olhos azuis. -Não para os Olivers.

—Não me venha com essa besteira de novo. - Disse Bella, acenando negativamente com a cabeça. Ela já sabia daquilo há muito tempo, mas era algo que se tornava mais difícil de aceitar conforme se aproximava.

Um vento frio invadiu o bosque, movimento da superfície do lago e anunciando o chegar da noite. Não havia muito mais do sol a ser visto, e a temperatura ficava mais baixa a cada minuto. Logo só haveria as estrelas no céu. O local já havia ficado escuro, apesar dos olhos ainda serem capazes de enxergar. E, mesmo que não fossem, os dois conheciam cada canto daquele bosque e daquela cidade. Poderiam voltar de olhos fechados, se fosse necessário.

Enquanto isso, Oliver debatia uma questão em sua cabeça: seria capaz de beijá-la? A resposta variava freneticamente entre sim e não. Apesar de se conhecerem desde que eram crianças, o garoto nunca havia nem mesmo tentado um romance com Bella.  Era complicado, e havia ficado ainda mais difícil quando começaram a passar apenas os verões juntos. Na altura da experiência que tinha, ele era capaz de dizer com facilidade que havia “alguma coisa” entre os dois. Mas essa “coisa” nunca havia sido falada ou mencionada em voz alta por nenhuma das partes, apesar de insinuada diversas vezes por seus pais durante os jantares. Esse mesmo momento acontecia em todas as vésperas de despedidas, desde que foi pela primeira vez para Londres - ponderava, pensava, media a situação. Ao fim, acabava por não acontecer nada.

Aquela noite, entretanto, era diferente. Poderia ser a ultima noite como aquela que teriam em todas as suas vidas. No outro ano, Bella iria para a universidade. Talvez nem voltasse mais para Farnorth, visto que se mudaria. Ele, provavelmente, ficaria na capital inglesa, para seguir seu sonho. Talvez levasse anos até que se vissem novamente. Ele não poderia arriscar que a garota encontrasse alguém diferente na nova cidade, e então nunca mais considerasse a possibilidade de ficarem juntos. Era possível que ela pensasse da mesma forma, e estivesse esperando que ele dissesse algo.

—Oliver, eu…

A voz de Isabella mal havia soado e um barulho alto a abafou. A direita dos dois, luzes vermelhas e verdes reluziram, iluminando seus rostos. Oliver sabia o que aquilo significava, mas nunca havia imaginado que se veria no meio de algo assim quando em sua cidade natal. Vozes foram ouvidas em seguida - ferozes, mas ininteligíveis.

—Isabella, precisamos correr daqui! - Disse, com rispidez, ao levantar-se e estender a mão para a menina.

—Mas… - Ela tentou começar, ao segurar a mão do garoto e ser puxada para que ficasse em pé. -O que está acontecendo? Que luzes são essas?

—Não sei. - Mentiu, ao puxá-la para o lado oposto do bosque. - Mas eu não quero ficar aqui para descobrir.

Infelizmente, era tarde demais. Uma luz vermelha atravessou o ar numa velocidade extraordinária e atingiu Bella em cheio, fazendo com fosse jogada dentro do lago. Oliver gritou, e jogou-se na água logo em seguida.

Gelada. Mesmo para um dia de verão, a água do lago de Farnorth nunca ficava quente. Por isso, eles nunca nadavam ali. Os músculos de Oliver pareceram travar assim que ele sentiu-se afundando. Parecia que estava sendo furado por mil agulhas ao mesmo tempo. Afundou.

Seu cérebro estava em pânico, e luzes vermelhas e verdes eram visíveis da superfícies. Entretanto, a superfície parecia cada vez mais longe. Tentava se mexer, mas não conseguia. Sentia seu corpo pesado, e a água parecia prendê-lo.

Durante toda a sua vida, parecera extremamente improvável que, de tudo com o que já tivera contato, seria uma limitação tão mundana que o deixaria sem ação. Pensou em tudo o que já passara, desde que recebera a carta de Hogwarts há seis anos atrás. Tudo o que aprendera e enfrentara, todas as aulas, todas as dificuldades, todas as conquistas. Seu corpo parecia comprimido pela água, fazendo com que ele não pudesse fazer nada além de visitar suas lembranças. A única vontade que tinha era a de gritar por ajuda. De seus amigos, de seus pais. Sentia-se uma pedra que fora jogada na água. Afundava mais. Morreria?

Bella.

Repentinamente, conseguia se mexer. Abriu os olhos para tentar enxergar algo. Em condições normais, estaria em apuros. A luz das estrelas e da lua não possibilitaria uma visão clara. Entretanto, o duelo que acontecia na superfície iluminava a água. Não demorou para que visse a garota, no fundo do lado, deitada na areia. Parecia pálida.

Oliver juntou todas as forças que tinha naquele momento e lançou-se para baixo, projetando-se para atingir o fundo o mais rápido possível. Mesmo assim, não conseguiu chegar tão rápido, e o fato de ter ficado paralisado fez com que o estoque de oxigênio em seus pulmões estivesse no fim. Tinha que subir, naquele momento.

Mas não sem Isabella. Desceu, mergulhou mais. Chegou até o fundo do lago, até o corpo da garoto. Passou seus braços por baixo dela e a puxou, em direção à superfície. Seu pulmão ardia. Com o peso dela, nunca chegaria. Água entraria no seu corpo antes, e então os dois afundariam. Seus olhos começavam a doer, seu rosto começando a desobedecer suas ordens. Seus músculos fraquejavam, seus pulmões quase explodiam.

Tirou a varinha de dentro da calça, e a apontou para baixo, utilizando um feitiço. Um feixe de luz vermelha propulsionou os dois para a superfície do lago, onde Oliver pôde puxar novamente todo o ar que lhe faltara. Segurava Isabella com força perto de si, e a menina estava desmaiada. Segurava seu corpo com força, enquanto tantava manter-se flutuando. Precisava nadar até a margem, e começou a tentar dar braçada atrás de braçada. Não estava longe. Ele poderia chegar. Conseguia ouvir o duelo, que continuava. Não podia arriscar tirar seus olhos do objetivo, mas as luzes dos feitiços ainda entravam em seu campo de visão. Um duelo em Farnorth. Parecia brincadeira. Mesmo seu pai tinha dito que a magia nunca havia pisado naquela cidade. Mas ali estava, e o colocou naquela situação.

Finalmente, alcançou a margem. Utilizou o que ainda tinha de forças para puxar-se e puxar Isabella para cima. Deitou ao lado do corpo dela e respirou - mas não por mais de alguns segundos. Sabia que ela havia engolido água, e precisava tirar aquela água dela. Lembrou-se das lições da mãe, que era médica. Juntou seus lábios com os da menina e assoprou longamente por duas vezes. Depois disso, colocou suas duas mãos, uma por cima da outra, sobre seu tórax. Jogou todo o seu peso ali. Uma, duas, três… Até quinze. Estava desesperado, mas sempre fora metódico. Sabia como fazer, e faria da maneira certa, não importa quão nervoso estivesse. Repetiu o procedimento. Uma, duas, três…

E Isabella cuspiu toda a água que tinha dentro dos pulmões, tossindo muito no processo.

—Bella! - Exclamou, segurando a cabeça da menina por trás. -Respira.

Ela respirava com dificuldade enquanto expelia mais água. Ela ficaria bem, ele sabia. A parte difícil havia passado. Precisava prestar atenção no duelo. Levou Bella até uma árvore próxima e a encostou ali. A menina estava nervosa, tentando respirar fundo enquanto seu corpo ainda estava se recuperando do trauma. Tremia.

—Você vai ficar bem. - Disse. -Vai ficar tudo bem. Fique aqui.

Ele se levantou e olhou ao redor. Agora podia ver melhor - as figuras duelavam realmente perto dali. Um deles estava encapuzado, vestindo um grande manto branco. Um cachecol preto esvoaçante enrolava seu pescoço. O outro era mais alto, vestia uma camiseta sem mangas e uma calça comprida e preta. Era forte, e possuía a pele morena e cabelos curtos e claros. O duelo era parelho, com os dois bloqueando e lançando seus feitiços logo em seguida. Antes que Oliver pudesse decidir se deveria interceder - e por qual lado deveria interceder - o encapuzado desarmou seu oponente. Lançou outro feitiço e o fez bater com as costas numa árvore. O homem derrotado sentou-se no chão, claramente sofrendo. O encapuzado se aproximou devagar. Quando Oliver pensou em se mover, percebeu o que aconteceria. Ele começou a correr enquanto tirava a varinha do bolso. Mas estava longe. Tinha saído do lago em outra margem. O homem do manto branco parou a cinco passos de seu adversário. Levantou sua varinha - feita de um osso muito fino.

—Avada Kedavra.

Um clarão verde tomou o lago, fazendo com que Oliver tivesse que desviar o olhar. O ar tornou-se gelado por um momento, tão gelado quanto estava a água do lago, e depois voltou ao normal. Quando o garoto voltou a olhar para a cena, somente um dos duelistas continuava vivo. O encapuzado se aproximou do cadáver, agora deitado perto da árvore, e tirou de dele algo que o homem devia estar segurando. Era um livro, preto e espesso. O assassino olhou para o livro e o abriu, folheando.

Oliver não tinha a menor ideia do que havia acontecido ali, mas algo dentro dele sabia que não estava certo. Precisava fazer algo. Ele havia atacado Isabella, e agora havia matado alguém. O que era aquele livro, afinal?

—Ei! -Exclamou, para chamar atenção do homem de branco. Levantou sua varinha e apontou em sua direção. -O que você pensa que está fazendo?

O encapuzado se virou, devagar, e encarou Oliver. Pela primeira vez, o garoto pôde ver o rosto daquela figura. Ele era negro, careca e possuía o rosto marcado pela idade. Sua expressão era impassível, e parecia bastante irritado por ter sido interrompido. Num movimento rápido até demais, ele lançou um feitiço na direção do garoto. Com rapidez, ele bloqueou o ataque. Contudo, não era como aqueles que havia desviado nas aulas de Defesa Contras as Artes das Trevas. Aquilo era muito mais poderoso, e sua varinha quase escapou da mão quando tentou desviá-lo. Antes que pudesse pensar em revidar, outra rajada vermelha vinha em sua direção. Ele desviou de novo, com  dificuldade, e dessa vez contra-atacou. Seu oponente desviou seu feitiço como se fosse uma suave brisa de verão. O próximo feitiço, Oliver não pôde desviar. Sua varinha voou para longe, e ele caiu sentado no chão. O encapuzado começou a aproximar-se do garoto. Sabia o que viria a seguir. Seria possível? Acho que morreria no lago, mas não. O destino queria que morresse vítima da magia. A magia que tanto custou a aprender, e a magia que tanto amou. Sabia que tinha poucos segundos. O que poderia fazer? Correr? Sua varinha estava longe demais. E Bella? Ele mataria Bella? Podia aguentar sua própria morte, mas não saber que ela perderia a vida por sua causa. Podia correr. Ainda conseguia. Assim eu colocou as mãos no chão para levantar-se, um clarão vermelho veio de trás de seu executor. O encapuzado foi projetado ao ar e para frente, rolando pelo chão após sua queda e colidindo com um tronco que havia perto de Oliver. Atrás dele estava a única pessoa em Farnorth que poderia salvá-lo daquela situação, pois era o único bruxo da cidade além de si mesmo. Seu pai.

O pai de Oliver era bastante parecido com ele. Cabelos ruivos e espetados, olhos castanho-avermelhados, magro e alto, parecendo uma vara. Suas vestes, no entanto, sempre estavam perfeitamente arrumadas. E aquela não era exceção. O paletó cinza arrumado, na medida, e a gravata preta ostentava o nó mais bem feito que alguém poderia sonhar em amarrar. Mesmo seu rosto preocupado parecia estar exatamente no lugar onde deveria estar, e era essa preocupação com a imagem que John Redwell havia passado a seu filho. A primeira impressão é tudo. A partir dela você constrói as próximas impressões. O homem correu até o garoto.

—Oliver! - Exclamou, ao agachar-se perto dele. -Você está bem?

—Sim. - Respondeu o menino. -Estou bem. O que…

—Esperava que você fosse me dizer. - John levantou-se e andou até o encapuzado. O homem de branco estava claramente desmaiado, e não foi difícil retirar o livro de suas mãos. O pai de Oliver fechou o rosto assim que vislumbrou a capa. Aquilo com certeza significava algo. Ele utilizou a varinha para levitar o corpo do encapuzado e colocá-lo junto ao morto. Logo depois, ele se aproximou novamente de Oliver, com a expressão mais tensa que o garoto jamais vira em suas feições. A escuridão daquela noite escondia quaisquer outros detalhes que poderia retirar daquilo. -Você precisa me escutar agora, e sem perguntas. Eu preciso que você apague as memórias da sua amiga. Ela não pode lembrar de nada que aconteceu aqui, e você sabe disso.

Oliver assentiu. Por mais que doesse em si, Isabella era trouxa, e não poderia ter nenhum contato com o mundo bruxo. Era uma parte de sua vida da qual ela nunca poderia fazer parte.

—Você não pode mencionar nada do que aconteceu aqui hoje, para ninguém. Nem para seus amigos, nem para seus professores, nem mesmo para sua mãe. Eu queria poder te explicar, mas não posso. - Seu pai nunca havia falado tão sério com ele em todos os seus dezessete anos de vida. Oliver ouvia com toda a atenção que o momento permitia. -Amanhã vá para Hogwarts, e esqueça disso. Eu vou dar um jeito, e nos falamos depois. Oliver, você entendeu?

—Sim, pai. - O garoto respondeu, sem hesitar. John Redwell assentiu e se levantou. Andou até os corpos dos dois duelistas que haviam transformado completamente aquela noite. Tocou nos dois, e com um estampido aparatou dali - ele, o encapuzado, o morto e o livro.

Oliver contemplou o silêncio da clareira por quase um minuto depois daquilo. Seu coração batia rápido em seu peito, e ele suava frio. Nos últimos cinco minutos, estivera à beira da morte duas vezes. Até aquele momento de sua vida, nunca estivera tão perto de morrer. Era uma sensação completamente diferente - e a adrenalina corria rápido em suas veias. O vento batia em seu rosto como um tapa gelado. Suas roupas estavam pesadas, pois ainda estavam molhadas, e não ajudavam seu corpo a esquentar-se. Lembrou-se de Isabella. Levantou rápido, recolheu sua varinha onde havia caído, e guardou-a. Correu até a garota. Ela estava acordada.  

—Bella. - Disse, ao ajoelhar-se à frente da menina.

—O que… o que aconteceu aqui? - Sua voz demonstrava choque, e ela estava tremendo de frio. Seu rosto pálido exibia medo e trauma ao mesmo tempo. A menina não estava entendendo absolutamente nada.

—Calma. - Ele tentou tranquilizá-la. -Eu vou explicar tudo, mas vamos para casa antes. Você precisa trocar essas roupas e se esquentar. Vai morrer de frio se continuar assim. -Estendeu a mão para que ela agarrasse.

A menina segurou a mão de Oliver e ficou em pé com dificuldade. Ele a abraçou e, dessa forma, caminharam juntos para fora do bosque. Depois de algum tempo, estavam na pequena cidade, andando nas ruas de pedra que conheciam há tanto tempo. Era sorte dos dois que os pais de Bella estavam jantando fora naquela noite, de forma que maiores explicações não seriam necessárias.

Chegaram à casa da menina quando a noite já havia tomado o céu. Os postes antigos, que já deveriam ter sido trocados, iluminavam a rua precariamente. Como esperado, a casa estava vazia, as luzes apagadas e as janelas fechadas. Oliver respirou aliviado. Ele deixou a garota na porta de casa.

—Você está bem? - Perguntou, olhando carinhosamente para Bella. Ela estava com frio, pálida e com os cabelos desarrumados e molhados. Apesar de tudo, ela continuava linda.

—Vou ficar bem. - Disse, olhando para os pés. É claro que ela estava confusa depois de tudo que aconteceu. Oliver não conseguia nem imaginar o que ela poderia estar pensando agora, e talvez fosse melhor assim. Ela procurava explicações que ele não poderia fornecer.

—Eu verei vê-la mais tarde, certo?

Ela assentiu e entrou em casa. Não agradava a Oliver deixar as coisas assim, mas infelizmente ele não poderia fazer nada. Sabia que trouxas não deviam ter contato algum com o mundo bruxo e, por isso, ele teria que apagar a memória recente de Bella. De alguma forma, isso parecia traição.

Amadureceu a ideia enquanto andava de volta para casa. Tudo o que acontecera: os dois bruxos duelando, seu pai vindo salvá-lo, o aviso de que não poderia comentar nada com ninguém. Era tudo tão estranho e repentino. Queria entender. Queria encontrar o pai e perguntar sobre tudo, e receber efetivamente as respostas. Essa possibilidade, entretanto, parecia excitante demais para se tornar verdade.

Virou sua mente para o dia de amanhã. Voltaria para Hogwarts pela última vez. Era seu sétimo ano na escola e, portanto, se aproximava do fim de uma das melhores fases de sua vida. Mantivera boas notas, era monitor desde o quinto ano e sentia que seu desenvolvimento estava mesmo quase completo. Contudo, era difícil entreter a ideia de que nunca mais retornaria. A escola havia se tornado sua segunda casa nos últimos seis anos. Não queria deixar os amigos e a rotina para trás, depois de ter se acostumado com aquilo tudo. Havia decidido: faria desse sétimo ano o melhor de sua vida até então.

Não foi até o momento em que parou na soleira de sua casa que sentiu o vento frio atingir seu rosto com intensidade. Às vezes, se sentia como se a vida respondesse seus pensamentos, como se conversasse com ele. Era um pensamento que mantinha para si, pois não sabia que não passava de uma divagação sem sentido.

Contudo, aquele vento, para Oliver, parecia um aviso do que estava por acontecer. Um prenúncio.


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