Realmente (Me Chamam de Rei) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 9
O fim


Notas iniciais do capítulo

Chegou o último dia. Como será que vai ser esse pôr-do-sol?
Ah, gente, desculpem a demora. Estou postando essa junto com Bulletproof Grower, que tá atrasada porque fiquei um tempo sem escrever (hihi).



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Fazia muito tempo que eu não me arrumava para um baile, mas eu gostava de todo aquele cuidado, toda aquela preocupação com os detalhes da aparência. Normalmente, eu me vestia elegantemente, e precisava de ainda mais elegância em momentos como aquele. Como eu disse, a roupa não era nada muito maravilhoso, mas ainda assim era linda, e era maravilhosa em comparação com os farrapos que eu estivera usando nos últimos dias.

Depois de arrumar o cabelo, eu saí do quarto onde estava e fui para o hall pelo caminho já decorado depois de tanto serviço. O hall, no entanto, estava diferente do que eu conhecia. As cortinas vermelhas e pesadas, que sempre deixaram o ambiente escuro e sombrio, não estavam mais lá. Pelas grandes janelas de vidro, entrava a luz do dia, enaltecendo o brilho do chão limpo com muito trabalho. De algum lugar, vinha a música tocada por muitos instrumentos. Eu sabia que só havíamos nós quatro na casa, e não consegui compreender como aquele som poderia estar nos alcançando, mas eu estava em um lugar onde monstros que sempre foram lendas eram reais. Talvez a magia também pudesse ser.

Namjoon, Hoseok e Taehyung já estavam lá, arrumados e elegantes. Assim que me viu, Namjoon sorriu e estendeu a mão para mim. Eu fui até ele e segurei sua mão, tentando compreender como era possível eu estar tão apaixonado por ele. Sempre o achara lindo mas, naqueles trajes, ele estava simplesmente irresistível.

— Você está lindo — eu disse, em voz baixa e encantado com ele.

— Você também.

Eu sorri, completamente feliz, e o girei, fazendo-o rir um pouco. Quando ele voltou, eu me posicionei para dançar com ele, que ficou imediatamente desconfortável.

— Eu… Eu não sou muito bom com isso.

— Eu também achava que não era bom… Até aprender. Eu posso te ensinar.

Sem tirar os olhos de mim, Namjoon esticou o braço na direção dos meninos e estalou os dedos, bem alto.

— Prestem atenção, seus molengas. Temos a sorte de ter um rei aqui hoje, para nos ensinar a dançar.

Eu ri.

— Pare de me chamar de rei.

— Por quê?

— Eu não sou mais rei, Namjoon.

Lentamente, Namjoon se inclinou, colocando o rosto perto do meu ouvido, onde sussurrou.

— É o rei do meu coração.

Eu me arrepiei na mesma hora, enquanto ele voltava ao normal, tentando conter o sorriso.

— Agora, nos ensine a dançar como reis.

Eu comecei a ensinar os passos básicos. Foi engraçado ver Taehyung e Hoseok aprendendo juntos, mesmo que estivessem estranhando. Depois de algum tempo de aulas, estávamos dançando minimamente bem e girando pelo salão. Eu não tirava os olhos dele nem por um segundo.

Tudo estava indo muito bem, e o tempo passou tão rápido que não me dei conta. Nem me dei conta de que nós quatro éramos os únicos convidados daquele baile, o que me pareceu perfeito. Só percebi que as coisas não eram tão perfeitas como eu gostaria que fossem quando as portas do hall tremeram com uma batida violenta. Eu tremi junto, com o susto, e os quatro voltaram seus olhos para lá. Logo em seguida, Namjoon mudou de posição, colocando-se sutilmente entre eu e a porta e, ainda olhando para ela, segurou a minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. A porta tremeu novamente, com muita força e fazendo muito barulho. Apertei a mão de Namjoon. No estrondo seguinte, as portas se abriram violentamente enquanto Hebi entrava, um pouco atordoado com o impacto. Logo, começou a olhar em volta, e assim que me viu, começou a rugir. Namjoon ficou mais à minha frente.

— Para, Hebi! — gritou ele. Em resposta, o monstro rugiu mais uma vez. — Eu disse para parar. Ninguém será engolido hoje. Eu sou o seu mestre e eu decidi mudar os planos. Você deve me obedecer!

Eu tive que cobrir os ouvidos para lidar com o rugido que se seguiu. Longo e altíssimo, enaltecido pela fúria visível nos olhos dele.

— Ele não vai desistir — disse Hoseok, alarmado. — Ele se acostumou com a promessa, ele precisa de sangue real.

Hebi rugiu baixo, como se concordasse com aquilo. Mantinha os olhos vorazes sobre Namjoon.

— Nam — eu disse, segurando as lágrimas. — Não tem problema.

Namjoon ficou parado por algum tempo, encarando o monstro, provavelmente pensando no que fazer. Hebi não baixou a guarda nem por um segundo, permanecendo em posição de ataque e fixado em Namjoon, que acabou por levantar a cabeça.

— Pois bem. Já que você faz tanta questão disso… Eu vou prepará-lo. Espere lá fora.

Hebi emitiu um barulho baixo de desconfiança.

— Espere lá fora! — gritou Namjoon, como se fosse a única opção.

Hebi deu um último rugido antes de sair. Taehyung e Hoseok rapidamente foram fechar o que sobrou da porta.

— E agora? — perguntou Taehyung, visivelmente preocupado.

— Vigiem para que ele não entre — ordenou Namjoon, antes de se virar para mim. Parecia ter confiança, mas ao mesmo tempo, medo. — Vem comigo.



Namjoon me arrastou correndo pelos corredores do palácio até voltarmos aos seus aposentos.

— Senta — disse ele, andando alarmado pelo local.

— Mas…

— Senta!

Me deixei cair sobre a cama, com lágrimas acumuladas. Eu estava com medo do que aconteceria, mas não queria que os meninos se arriscassem daquela forma. Tinha ficado com esperanças de sobreviver àquele pôr-do-sol, mas isso foi porque não imaginei que a dominação de Namjoon sobre Hebi pudesse falhar. Ele, pelo visto, estava contando com isso para me livrar, mas essa não era mais uma opção.

— Eu preciso pensar em alguma coisa! — murmurou Namjoon, aflito, sem parar de andar de um lado para o outro. — Fugir pelos fundos? Não, não dá. Ele seguiria o cheiro do seu sangue. O seu sangue…

De repente, Namjoon parou, pensou, e correu para o armário. Abriu-o e começou a remexer nele, procurando alguma coisa. Finalmente, apareceu com uma grande garrafa de vidro retangular que estava cheia de líquido verde. Ele a levou para o criado-mudo, onde havia um cálice de cristal. Abriu a garrafa e encheu o cálice até a metade. Depois, o estendeu a mim.

— O que é isso? — perguntei.

— Confia.

— Nam, você não precisa fugir de sua promessa…

Do nada, ele me beijou. Claramente, ele não queria conversa. Não queria que eu propusesse nenhuma solução que envolvesse meu sacrifício. Não era mais uma opção para ele. Depois, se afastou e contornou minha orelha.

— Confia em mim. Eu vou te salvar.

Ele estendeu novamente o cálice. Eu o peguei e olhei para o líquido, tentando pensar no que poderia ser. Será que era um líquido de invisibilidade? Mas Hebi sabia me farejar, então não adiantaria nada.

— Toma logo. Bebe tudo de uma vez, porque é bem forte.

Respirei fundo e obedeci. De fato, ela era muito forte, e eu tossi um pouco depois que tomei. Namjoon pegou o cálice e colocou de volta no criado-mudo.

— E agora? — perguntei.

Namjoon não respondeu. Ficou apenas me olhando, enquanto eu continuava a tossir. Não demorou muito para os efeitos ficarem mais nítidos. Cobri a boca enquanto a tosse ficava mais forte e mais agoniante, e logo senti o líquido na minha mão. Quando olhei, percebi que era sangue. Imediatamente, minha visão começou a ficar turva e se misturar, de um jeito que eu nunca tinha sentido. Minha cabeça começou a pesar, e como minha visão estava prejudicada, só senti de fato a tontura quando caí na cama de lado, continuando a tossir. Todo meu corpo ficou estranho e eu me retorci, enquanto mais sangue se acumulava na minha boca e escorria. Senti Namjoon me puxando para a beirada da cama e virando minha cabeça para baixo, de modo que o sangue caísse direto no chão. Queria chamar por ele, mas minha garganta ardia, a tosse me sufocava e eu não sabia como parar. Sentia cada vez mais sangue escorrendo, menos como um produto da tosse e mais como um vômito espesso.

Fiquei algum tempo naquela situação, sem conseguir mais aguentar a dor em minha garganta. A tosse tinha cessado quase que por completo, mas eu continuava cuspindo sangue, as dores no corpo aumentando. A visão continuava desestabilizada, mas eu consegui ver que havia uma vasilha onde eu estivera deixando o sangue cair. Percebi a movimentação de Namjoon, olhei para ele. Vi apenas o seu vulto confuso, disforme e colorido enquanto ele tirava a parte de cima da linda roupa. Agoniado, queria perguntar o que ele estava fazendo, mas era impossível. Minha razão mal conseguiu acompanhar enquanto ele colocava as mãos na vasilha, banhando-as no meu sangue antes de passá-las pelo rosto. Ele foi espalhando o sangue por toda a parte superior do corpo e tornando-se cada vez mais vermelho, enquanto eu compreendia sua intenção e começava a chorar. Queria questioná-lo, queria impedi-lo, mas não podia. Assisti, impotente, ao banho de sangue. Depois de ficar todo manchado, Namjoon contornou minha orelha novamente, deixando um fino rastro vermelho.

— Eu te amo.

Tentei segurar a mão dele para impedir que ele se fosse, mas eu não tinha forças nem para falar. Ele foi embora enquanto eu começava a conseguir murmurar vários nãos, mas fui ignorado. Minha visão estava tão prejudicada que só soube que ele tinha saído pelo bater da porta. Então fiquei tossindo e chorando, esperando por algum milagre. No entanto, a única coisa de diferente que eu ouvi, minutos depois, foi o rugido do Hebi, acompanhado pela certeza de que Namjoon havia sido devorado por seu próprio monstro e pelo desespero de um velho rei que chorou tanto, gritou tanto e tossiu tanto sangue que acabou por perder a consciência.


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Notas finais do capítulo

Surpreendente ou previsível? Eu realmente não sei kkk



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