Realmente (Me Chamam de Rei) escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 7
A segunda tarde


Notas iniciais do capítulo

Agora vamos encontrar algumas respostas.



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— Ótimo. Bom… Eu sempre tentei ser um bom rei e um bom pai. Mas é difícil ser os dois ao mesmo tempo. Para salvar o reino, eu preciso de poder bélico, e só conseguiria isso com uma aliança firmada por casamento. Ou seja, eu tive que arranjar o casamento da minha filha.

— Mas não é assim que a monarquia funciona? Por que é tão ruim?

— Porque eu fiz ela acreditar no amor. E ela se apaixonou pelo primo de criação dela. Agora eles vão ter que se separar, e os dois vão sofrer… Isso não deveria acontecer. Eu não deveria ter mostrado a ela todos aqueles livros…

— Livros? Livros são bons, por que é culpa deles?

— Porque nos livros tudo acontece perfeitamente. A princesa se casa com o príncipe por quem se apaixonou e eles vivem felizes para sempre. Mas não é bem assim. Ela sabia que teria que se casar com alguém que não conhecia, mas não sofreria se não tivesse se apaixonado.

— Bom… Você está salvando o reino. Isso é bom. Mas imagino que tenha sido difícil colocar as necessidades do reino acima da felicidade de sua filha.

— Eu faço tudo por ela. É por isso que estou aqui. Mas eu não posso sacrificar o reino todo por ela… Só a mim mesmo. Talvez essa situação toda seja o destino me punindo por ter sido um péssimo pai.

— Não acho que foi assim, também. Você está aqui por ela, acabou de dizer. Você a ama, e fez o que estava ao seu alcance, levando em conta que é rei… Agora “ser rei” parece ser muito mais difícil do que parecia antes.

— Não se trata apenas de uma boa vida no palácio, sabe? Recebo problemas para resolver a todo instante. Mas isso não importa mais, eu não sou mais o rei. Me conte sobre os misteriosos crimes da monarquia.

— Ah… Tudo bem. Não é um assunto fácil…

— Não precisa contar, então.

— Nós fizemos um acordo. Eu vou contar. Basicamente, o grande crime da monarquia é o descaso com a ralé. Descaso com a pobreza, com a miséria, com todos os problemas que estão entre as portas do palácio e os limites do reino. Pelo que você disse, a atuação da monarquia parece boa no que diz respeito a domínios, mas a população em si está em uma situação diferente. Todos esses problemas, que são pequenos crimes, foram suportados pela ralé durante muito tempo, mas um deles foi especialmente decisivo: a epidemia da “doença azul”. Era uma doença muito grave, facilmente transmitida entre mulheres, mas não pegava em homens e crianças. Quatro famílias que moravam na região do extremo leste eram muito próximas, então foi muito fácil que as quatro mulheres da família a pegassem. Logo, as peles delas começaram a ficar com manchas azuis, o que era o primeiro sinal da doença. Na época, ninguém sabia o que era aquilo. Então as quatro decidiram ir até o palácio real pedir misericórdia aos governantes. Pedir que eles fizessem alguma coisa, qualquer coisa, porque estavam desesperadas. Elas foram ouvidas pelo rei e pela rainha, mas logo foram mandadas embora. Elas voltaram para suas casas, mas a doença avançou rapidamente, então todas elas morreram. Os maridos e os filhos ficaram desamparados, e pensaram que suas vidas não poderiam piorar… Só que a rainha foi infectada pela presença das mulheres no palácio. Logo, começou a se espalhar pela cidade o rumor de que a rainha havia falecido por causa da “doença azul”. A notícia acabava de chegar ao extremo leste quando as tropas do rei apareceram por ali. O general disse que aquele ataque havia sido ordenado pelo rei e era pela vida da rainha. Eles mataram os homens das quatro famílias. A primeira família não tinha filhos. A segunda e a terceira tinham apenas um rapaz cada uma, e a quarta tinha um rapaz e uma garotinha. Com medo de que ela tivesse pegado a doença, os soldados a mataram também.

Eu não sabia o que dizer. Não era bem daquele modo que eu conhecia aquela história. Mas eu conhecia aquele rei, que era o meu pai, e aquela rainha, que era a minha mãe, morta de doença azul. Desde que reconhecera a história, tinha sutilmente dado a volta em Hebi e ido para o outro lado, onde ele trabalhava arduamente, mesmo com as lágrimas acumuladas turvando sua visão. Eu mesmo queria deixar tudo aquilo escorrer, porque não parecia nem um pouco justo. Ele ficou esfregando o pelo de Hebi por algum tempo ainda, mesmo sob meu olhar, até finalmente parar. Sua respiração estava ofegante. Ele olhou para baixo e deixou o sabão cair no balde vazio. Quando ele se virou para mim lentamente, eu já tinha chorado. Eu queria dizer alguma coisa para ele, mas não achei nada adequado o suficiente, então o abracei.

Alguma parte de mim sabia que era loucura. Eu era o escravo dele, eu definitivamente não deveria abraçá-lo. Mas aquela relação senhor-escravo estava um tanto curiosa, e disso eu também sabia. Fosse como fosse, eu precisava transmitir a ele o quanto eu estava tocado com aquela história. Ela estava apenas um pouco distorcida da realidade que dizia respeito à monarquia, mas não era menos perturbadora. Um assassinato quíntuplo em nome da monarquia, marcado pela insensibilidade de quem tem sangue real de garça, de quem nunca poderia saber o que era ser um pequeno corvo à margem da cidade e em meio aos monstros que sempre foram lendas.

— Eu sinto muito, Namjoon — eu disse, ainda chorando. Os braços dele continuaram parados ao lado do corpo, mas eu o senti chorar em meu ombro. Depois de algum tempo, senti seus braços ao redor das minhas costas correspondendo ao abraço. — Eu sinto muito mesmo. Você pode me punir por isso.

Ficamos abraçados por um tempo que eu não soube precisar. Mantive meus olhos fechados, sentindo o corpo dele se mexendo conforme ele soluçava, até que foi se aquietando. De repente, fomos agraciados com a presença da nojenta língua do Hebi passeando por nós. Ele me soltou imediatamente, em reflexo.

— Aish, Hebi, que nojo! — resmungou ele.

Eu comecei a rir.

— Ele deve querer que a gente termine esse banho logo.

— Também acho. Caso contrário, o pelo dele vai secar cheio de sabão.

Tivemos que pegar mais água para deixar o pelo dele mais molhado, já que ele estava começando a secar. Terminamos de passar o sabão por todo o pelo, enquanto continuávamos conversando.

— O que aconteceu com os rapazes? — perguntei.

— Os rapazes ficaram juntos para sobreviver. Tiveram que se virar sozinhos para conseguir comida, e o fizeram matando os pequenos monstros que habitavam o entorno daquela região. Não ficaram muito tempo nas casas, com medo do exército e atormentados pelas lembranças de suas famílias. Aos poucos, foram adentrando a floresta e indo em direção ao sul, sempre na margem da cidade. Aprenderam a domar os monstros. Estavam em farrapos quando alcançaram a Morte, o castelo que pertencia a um velho homem chamado Park Hyungsik. Ele tinha servido no exército real, e tinha sido o último general antes daquele. Aposentara-se e ficara algum tempo no palácio real antes de ser expulso por problemas com o general seguinte, deixando seu filho para trás. Então, foi para a margem da cidade e construiu o castelo para morar sozinho. Os três meninos bateram em sua porta e foram acolhidos por ele. Ele os ensinou algumas coisas e lhes deu armas. Pouco tempo depois, faleceu.

— Vocês chegaram a se apegar a ele? — perguntei. Ele riu, provavelmente por eu estar transformando o ponto de vista da história.

— Não teve tempo para isso. Ele já estava bem mal quando chegamos.

— Qual dos três tinha uma irmã? — dessa vez, a pergunta foi mais baixa, mas acanhada, assim como a resposta.

— Taehyung. Eles eram bem apegados, então foi bastante complicado para ele.

— Entendo. Bom… Só para você saber… O general mentiu.

Ele olhou para mim, sem entender o que eu queria dizer.

— Como assim?

— Não foi o rei quem mandou ele fazer aquilo. Ele fez porque quis. A ordem do rei foi averiguar a situação das mulheres e ver se seria necessário que elas fossem sacrificadas, para evitar que a doença se espalhasse mais, mas ele já imaginava que elas já tivessem falecido àquela altura. O rei nunca mandaria matar as famílias, ao menos não na intenção de se vingar, porque ele se importava com a rainha, mas não a amava. O general, no entanto, era o irmão da rainha, e era muito próximo dela. Provavelmente foi por isso que ele fez o que fez. Não buscou nenhuma solução, apesar de ter estudado e conhecer a área da medicina… Ele poderia ter tentado dar um jeito, mas o coração frio foi mais forte.

Namjoon ficava olhando para mim entre uma ação e outra. Já estávamos na parte do enxágue.

— Então o rei não era apaixonado pela rainha. Casamento arranjado?

— Como sempre. A diferença é que eu e meu irmão sempre soubemos que eles não se amavam, mas a minha filha cresceu achando que eu e a rainha nos amamos. Ela só percebeu que não era bem assim quando já estava apaixonada.

— E você? Nunca se apaixonou?

— Não. Não me pressionei a sentir algo pela rainha. O palácio não tinha muitas opções na época da infância e da adolescência. Agora até tem, mas… Aish, não é bem assim. É mais uma questão de convivência.

De repente, Hebi se tremeu todo para se secar, e espirrou água para todos os lados.

— Oba — reclamei. — Eu já estava todo molhado, mesmo.

Namjoon riu da minha reação.

— Ainda temos que pegar a comida dele.

Namjoon me levou para uma sala que ficava ali pela lateral. Era uma sala escura e pequena que só tinha portas para o lado de fora… E tinha um cheiro horrível. Claro, estava lotada de pedaços de carne.

— Aigoo, como isso tudo não apodrece?

— Isso aqui? Não dura tanto tempo quanto pode parecer. Temos que alimentar Hebi e todos os monstros do calabouço. E nós mesmos, é claro. Hoseok e Taehyung vivem caçando monstros menores e animais, só para manter essa sala sempre cheia.

— Como que vocês escolhem? Alimentam alguns monstros, matam outros…

— Os que crescem são mais fortes. Nós mantemos os mais fortes para o caso de precisar.

Enchemos uma grande vasilha com vários pedaços de carne, e nos esforçamos para levantá-la pelas alças e levá-la até o Hebi. Ele educadamente esperou que colocássemos no chão para começar a devorar tudo.

— Muito bem, campeão — elogiava Namjoon, enquanto eu mantinha minha careta de nojo. — Vamos entrar. Você precisa tomar banho para receber sua punição.


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Notas finais do capítulo

Eitaaaaaaa Sehun (no caso Eita Namjoon né kkk mas referências são referências).
Já sabem que o próximo capítulo será top, né... kkkkkk



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