Emergência escrita por Annie Felicity


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Finalmente conseguir postar essa fanfic. Gostaria que quem lesse comentasse e favoritasse.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748482/chapter/1

Ele estava parado na frente de um prédio onde funcionava um hospital particular. O prédio, apesar de bastante velho, era bonito. Olhava firmemente para o prédio, sabia o que precisava fazer e o faria. Nem mesmo um policial que estava na porta o fez hesitar, na verdade aquilo o encorajou mais ainda, afinal estar tão perto do perigo era algo extremamente excitante.

Ele foi entrando vagarosamente, analisando cada centímetro do corredor e as pessoas que entravam e saiam. A todo instante ele batia a mão no lado do fora do bolso do jaleco. Tinha que ter certeza que ela estava lá. E sim, estava.

Era um homem alto, cerca de 1,80. Cabelos lisos, curtos, castanhos. Aparentava ter uns 35 anos. Moreno e muito bonito, desses que nunca passam despercebidos onde quer que vá.  Estava vestido com uma calça e camisa brancas e um jaleco por cima.

Ao fundo ecoava uma música instrumental erudita. O que ele achava estranho, já que estava num hospital. A música refletia um humor obscuro, parecia ter sido escrita com tensão e brutalidade. Ele tentava decifrar que música era aquela, até que enfim se lembrou, era a 5ª sinfonia de Beethoven, porém o som não vinha do ambiente, a música entonava de sua cabeça.

Por isso continuava caminhando na sua serenidade e sentia que era a hora de agir, não teria outra oportunidade, senão aquela.

— Dr. Miguel Cavalcante — ele ouviu uma moça chamar pelo seu nome assim que chegou na sala de espera.

Era uma moça negra, muito jovem, possivelmente não tinha nem vinte anos ainda. Ela estava agitada e segurava um terço nas mãos. Seu rosto estava aflito, seu cabelo um pouco bagunçado e seus olhos vermelhos, como se há dias estivesse sem dormir. Vestida de forma simples: vestido de alça floral e uma chinela rasteira.

— Lorena — falou ele com uma largo sorriso no rosto —, é a neta da Dona das Dores, não é?

— Sim, sou eu — respondeu surpresa ao perceber que o médico se lembrava dela. — Como minha vó está?

— Bem, ela tem respondido de maneira satisfatória ao tratamento e está totalmente fora de perigo — respondeu o médico prontamente. — Então é muito provável que eu dê alta para ela nos próximos dias.

— Obrigada, doutor — disse Lorena respirando aliviada — , o senhor não sabe o quanto essa notícia me deixou feliz. A minha vó é tudo que eu tenho, não sei o que faria sem ela.

— Eu entendo perfeitamente — disse ele olhando para o relógio como se estivesse apressado.

— Eu posso vê-la agora?

— Agora de manhã, não. Ela está descansando — ele falava e mais uma vez olhava para o relógio.

— Doutor, eu não vou acordá-la. Eu só quero vê-la — insistia a garota.

— Olha, eu sinto muito, mas eu não posso. Eu prometo que assim que ela acordar, eu deixo você vê-la — respondeu ele mais uma vez olhando para o relógio. — Agora se me der licença, eu tenho que ir. Tem outros pacientes me aguardando.

— Tudo bem — respondeu Lorena conformada e ao mesmo tempo tranquila por saber que sua avó estava bem — , e muito obrigada, doutor, por tudo que fez por minha avó.

O médico somente acenou de forma simpática com a cabeça agradecendo e deu as costas indo em direção ao corredor que dava acesso aos quartos dos pacientes que estavam internados. O tempo estava correndo e tinha que agir rapidamente. Miguel não era somente um médico que tinha uma boa aparência, ele também era muito carismático e conquistava a confiança de todos os pacientes e seus familiares. Ele passava segurança a todos.

Logo entrou no quarto de uma de suas pacientes. Era uma senhora, cabelos brancos longo, baixa, tinha mais ou menos 70 anos. Há alguns dias sofreu um AVC, mas já estava totalmente fora de perigo.

— Bom dia, Senhora das Dores — ele disse assim que entrou. — Como a senhora está se sentindo hoje?

Miguel foi até uma mesinha que havia do lado direito do leito. Ele pegou o prontuário e ficou lendo enquanto escutava as reclamações da paciente.

— Eu estou me sentindo melhor — respondeu prontamente a velhinha. — Mas ainda estou sentindo muita dor, essa dor não vai passar nunca não, doutor? Eu não aguento mais isso.

— Claro que vai — respondeu o médico em seguida devolvendo o prontuário à mesa. Em seguida sentou-se do lado da velhinha que ainda queixava-se de dor.

— Eu não sei — falou ainda queixando-se —, parece que piora a cada dia. Tem horas que penso que vou morrer com essa dor.

— Isso tudo vai passar. A senhora não confia em mim? — perguntou o médico segurando a mão dela tentando acalmá-la.

— Claro, doutor — respondeu a senhora Das Dores apertando a mão do médico. — O senhor é um homem de coração tão bom. Sou muito agradecida por ter você como médico.

— Imagina, Senhora das Dores — falou o médico sentindo-se lisonjeado —, eu gosto muito da senhora. Apesar das circunstâncias não terem sido das melhores, gostei muito de te conhecer.

— Obrigada — falou ela totalmente sem jeito.

— E as dores? Passou? — perguntou o médico.

— Ainda não — respondeu Dona das Dores. — Doutor, o senhor não tem um remedinho para me dar?

— Se quiser, posso fazer essa dor passar agora? Você quer?

— Eu quero, doutor. Não aguento mais tanta dor.

Assim que ela consentiu. Ele colocou a mão no bolso da calça e pegou um par de luvas de látex e calçou-as. Depois colocou a mão no bolso do jaleco e lentamente tirou uma seringa. E a segurou na altura dos seus olhos, conferindo a quantidade de mililitros que havia.

— O que é isso? — perguntou a senhora curiosa.

— Dipirona — respondeu ele enquanto olhava fixamente para a seringa.

— Ah, doutor. Isso é um remédio que eu nem preciso vir no hospital para tomar. Eu só vou na farmácia e compro, preciso nem de receita.

— A senhora sabe qual a diferença entre um remédio e um veneno? — perguntou ele enquanto segurava o braço esquerdo dela procurando uma veia.

— Sei não, doutor — respondeu ela inocentemente.

— É somente a dose — disse Miguel enfiando a agulha na veia com muita força.

No começo, a senhora das Dores sentiu somente a picada da agulha, porém, em seguida sentiu o ar faltar aos seus pulmões e se desesperava. Sentia como se estivesse sendo asfixiada e era uma das piores sensações. Suas pupilas dilatavam e tentava gritar por socorro, mas era em vão, pois mal conseguia respirar. Ela tentava estender a mão pedindo ajuda ao médico. A morte estava chegando, ela sentia. Logo seu corpo começou a se debater, pois seus órgãos foram entrando em colapso e em pouco tempo sofreria falência múltipla de órgãos.

O Doutor Miguel olhava para ela avidamente e se excitava. Ainda mais que ela não perdeu a consciência. Ficou o tempo todo consciente e isso aumentava o sofrimento daquela pobre senhora.

Era muito bom não somente ver o medo e desespero nos olhos dela à medida que a vida dela se esvaziava, mas era excitante saber que o seu rosto foi o último que ela viu na vida. Que ele era a esperança de vida dela, mas ele preferiu não ajudá-la.

Ele sentia que tinha total controle da vida e da morte. Ele escolhia quem sobreviveria e quem morreria. Seu ego dizia que ele era um deus e superior a todos os outros seres humanos.

Quando o corpo dela parou de se debater, ela caiu desfalecida. Ele queria que o sofrimento dela tivesse demorado mais ainda. Todavia o tempo que ele teria a sós com ela, sem ser importunado, havia acabado. Ele escolhia justamente o horário de troca de turnos das enfermeiras, pois tinha observado que por dez minutos, os pacientes eram sempre negligenciados, justamente na troca de turnos. 

Mas naquele momento já havia enfermeiras de prontidão. Então antes que pudesse ser descoberto. Ele precisava acioná-las, mas antes, foi até o corpo, precisava ter certeza que ela estava morta, por isso se aproximou, conferiu os batimentos cardíacos, a temperatura do fígado e o pulso. Sim, ela estava morta. E assim que confirmou, arrancou um cordão que ela tinha no pescoço cujo pingente era um golfinho. Colocou em um dos bolsos do jaleco. Pegou a seringa seca, tirou as luvas e as guardou no outro. Só então pediu ajuda.

Mas já era tarde, a Senhora Maria das Dores havia morrido e não se podia fazer mais nada. As enfermeiras acharam aquilo estranho, mas era Miguel quem dizia a causa da morte e determinou que foi uma parada cardiorrespiratória. O médico chorou diante das enfermeiras, chorou de forma compulsiva, o que acabou causando comoção entre elas, que passaram a admirar ainda mais ele.

— Eu não perdi uma paciente hoje — ele lamentava .— Eu perdi uma amiga.

— Acalme-se, doutor — pedia uma das enfermeiras.

— Como vou dizer isso a Lorena. Eu prometi a ela que daria alta a vó dela essa semana. E agora vou ter que dar essa notícia a coitada dessa garota.

— O senhor está muito agitado — disse a mesma enfermeira de agora a pouco — eu posso ir falar com ela, se quiser.

— Não — respondeu o médico — pode deixar, eu tenho que fazer isso.

Então foi na sala de espera. Lorena continuava lá, sentada naquela velha poltrona e enfim, seria a parte que ele mais gostava, por isso fez questão de fazê-lo. Há poucos minutos, ele havia enchido a garota de esperança, agora ele tiraria isso dela. E faria com o maior prazer.

Ele foi se aproximando lentamente dela. Em pouco tempo a garota percebeu a presença do médico, então levantou-se e foi ao seu encontro. Os dois ficaram rentes.

— Minha vó já acordou? — perguntou Lorena sorrindo.

Miguel nada respondeu e mostrou estar apreensivo.

— Eu posso ver minha avó? — perguntou Lorena sorrindo, mas o médico baixou a cabeça. — Aconteceu alguma coisa, doutor?

— Lorena, vamos nos sentar — ele pediu segurando em seu ombro.

Naquele momento, ela sentiu que havia alguma coisa errada.

— O senhor havia me dito que ela ficaria bem e que logo iriamos para casa — disse Lorena tentando segurar as lágrimas.

— Eu sinto muito — ele falou fingindo ter compaixão e olhando no fundo dos olhos dela para ver o desespero. — Nós fizemos tudo que podíamos, mas sua avó não resistiu e acabou de falecer.

— NÃO... NÃO — gritava Lorena em desespero totalmente fora de controle. — A minha vozinha. Por quê? Meu Deus.

Uma enfermeira se aproximou e tentou contê-la para que ela se acalmasse. Miguel ficou somente olhando a cena. A sensação era parecida com o ápice de uma relação sexual. A cada grito de desespero, a cada lágrima escorrida era como uma nova injeção de adrenalina. E aqueles gritos eram como músicas aos seus ouvidos.

E mais vez, a 5ª sinfonia de Beethoven entonava de sua cabeça. Porém, a enfermeira conseguiu conter a moça e ambas saíram. O médico havia ficado satisfeito, pelo menos por aquele dia.

Logo depois, ele saiu e continuou a realizar seu trabalho normalmente, onde ele escolheria sua nova vítima. E após cumprir seu plantão, voltou para sua casa. Era um belo apartamento com uma vista maravilhosa para o resto da cidade. E assim que entrou, foi direto ao seu escritório.

Os olhos da Dona Das Dores ainda lhe traziam lembranças prazerosas. Foi uma de suas melhores experiências. Então, ele foi até um quadro que havia do lado direito do escritório. O retirou e atrás dele havia um cofre. Abriu o cofre e lá dentro tinha um baú do tamanho de uma caixa de sapato, ele retirou o baú. E o levou até a mesa. Pegou uma chave que guardava pendurada em um cordão que carregava no pescoço.

Logo abriu o baú. Dentro havia um relógio, uma pulseira, três anéis, cinco colares e outros objetos. Miguel pegou o colar que havia pegado de Dona das Dores e colocou junto aos outros objetos.

Ele olhava para cada um deles como se fossem troféus. Cada objeto representava a vida de suas vítimas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu.

Comentários são sempre bem-vindos e alegram o coração do autor.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Emergência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.