Haviam chego em Ach-To, a moça precisava de um tempo para treinar, para usar a Força e aquele era o lugar do primeiro templo Jedi, aquilo atraia tanto Kayralor quanto Kylo Ren como se fosse besouros. Subiram novamente até a colina com os porgs amontoando-se ao seu redor, Kylo Ren realmente odiava aqueles animais por sempre estar cheio de raiva e odiar tudo. Aquele templo parecia chamar aos dois tão incrivelmente agora que não pararam para pensar no que estava acontecendo, iam subindo a colina sem nunca parar ou pensar, ambos compartilhavam na ligação aquela duvida do que era que os chamava realmente.

                Kayralor seguia subindo e Ren ia bem atrás dela a Força estava-os guiando para algum lugar misterioso, passaram por pedras negras e depois brancas, musgo e porgs, iam caminhando calmamente e Kylo Ren estava extremamente irritado com a visita ao seu tio ficando claro para Kay na ligação. Pararam a frente de um grande portão em pedra negra, envelhecido pelo tempo e pelo uso, pediu que a ajudasse abrir com a Força e então fizeram, enorme e pesada porta se abriu lentamente para que pudessem passar e o que viram foi um imenso lugar detalhado pela história, a relva crescendo pelas paredes contendo imensas gravuras de guerreiros, uma enorme janela que mostrava toda Ach-To e uma arvore morta no meio do salão.

                A moça podia escutar os sussurros, a Força naquele lugar era tão incrivel que ela poderia quase ver o que aconteceu, poderia quase tocar o passado e o futuro. Ren via exatamente atrás dela com um certo grau de preocupação, ele tinha medo do que escutava, ele ainda sentia raiva por Luke e ainda assim estava nervoso com o que a Força poderia fazer com ele e Kay.

“O universo está assim, porque as pessoas não se ajudam”, a voz de Anakin enquanto criança.

“Difícil de ver. Sempre em movimento está o Futuro”, era o verdinho e Kay sorriu nesse momento, “Treine a si mesmo a deixar partir tudo que teme perder”. Ren ao seu lado podia sentir a sensação de familiaridade, ela já esteve com aquele ser e isso o deixou um pouco chatado, ele nunca havia visto qualquer fantasma da Força e não sabia que isso existia até o momento.

“Você não pode impedir as mudanças, assim como não pode impedir o pôr do sol”, era agora a mãe de Anakin.

                A Força mudava de concepção perto deles como muita rapidez, sentiam repuxar ferozmente em seus corpos e agora começava a ficar um pouco ameaçadora, a árvore morta se quer tinha algum movimento.

“Eu estava esperando por isso há muito tempo”, era a voz dele, de Kylo Ren. Kay olhou para ele rapidamente e o mesmo agora olhava para os lados com nervosismo e temor, “Não tenha medo”, “Eu sinto isso também”, “Eu sei o que você veio procurar”, “Não lute contra isso… Você sabe que não consegue”, todas vozes dele mesmo e agora a voz de um senhor, “Você não pode negar a verdade em sua família. A Primeira Ordem nasceu do lado sombrio, você não.”

— Pare!

                Ele gritou. Em seus olhos haviam pânico e aquelas feridas voltavam a sua mente novamente, ele podia sentir a dor, podia sentir o momento que matou Han Solo e aquilo o feriria para sempre. Sentia a escuridão de quando Kay ainda não estava com ele, era horrível, o terror era real e seus olhos pareciam se fixar na sombra de alguém que ele estava tentando ser, Darth Vader. Se afastava de Kay vendo as coisas horríveis que fez e que passou e a moça o seguiu, ela segurou em sua mão rapidamente afastando o que ele sentia e então o mesmo a olhou com alivio em seus olhos.

— Me mostre

— Não! – Disse com firmeza – É muito, não quero que veja

                Sentia-se extremamente melhor quando estava com ela, mas quando sozinho o medo e a escuridão tomavam conta de si, Ben havia passado por todos esses anos sozinho e agora ela estava estendendo a mão. Hesitava com o tamanho poder da luz que acendia em seu coração, a esperança de alguém atentaria para ele o e salvaria, tinha medo que esse alguém fosse ela. Ele sabia que seria para sempre atordoado pelos atos que fez e sabia que era impossível se livrar disso, mas a moça não precisava compartilhar disso, era muito doloroso. Kay segurou firme a mão do homem e sentiu o calor que vinha por baixo da camada de couro de sua luva.

— Ben, me deixe entrar – Estava bem próximo dele agora

                Os olhos dele alarmados agora não conseguiam afasta-la e o seu coração como o dela batia muito forte, o fluxo estava a mil na troca de informações e propicio para o que a moça pretendia. Ele não pode dizer sim ou não, estava rígido como sempre com as mãos em forma de punho e um pouco curvado para baixo a vê-la, os olhos dela o clareavam a mente como grandes estrelas de luz. As mãos dela pegaram o seu rosto levemente, uma segurava bem na cicatriz e outra ia mais acima tocando sua testa, ele não poderia deixa-la ir, Kay estava em seus pensamentos desde que a conheceu.

                O toque suave das mãos da garota a fez voltar dez, doze anos atrás quando com muita tristeza se despedia da sua mãe tão querida para ir treinar com Luke Skywalker, era um menino cheio de bondade e vontade que com fortes poderes havia se assustado no início. Ele era forte desde pequeno, poderoso na Força e furioso fisicamente e isso tornava sua convivência com os outros um tanto dificil, se comparado a pessoas normais. Seu tio parecia incrivelmente animado por o estar treinando, mas cada vez mais Ben sentia-se mais sozinho, seus poderes afastavam os outros padawans e não via mais sua mãe, ou Han Solo.

                Kay viu uma sombra negra se aproximar daquele garoto, tinha bons conselhos e bons ensinamentos para seu treinamento, não deu valor de início e então depois de um tempo passou a escuta-la, porque aquela voz oferecia o que ele mais queria desesperadamente no momento, companhia, entendimento. Ficou forte, mas sua solidão aumentava cada vez mais e a influência daquele ser sobre ele também tinha uma vontade cada vez maior, queria liberta-lo se sua família. Seus familiares tinham medo de seu poder, Leia tinha medo por um poder tão grande que ela não saberia ensinar, ele era um jovem dedicado e bom, mas poderoso na Força e isso trazia uma grande responsabilidade, ele parecia um monstro.

                O ser passou a entrar em sua mente e ele não queria, mas era castigado caso contrário, depois de tanto tempo não passou a nega-lo e estava em todos os cantos de sua cabeça. Ela sentia essa dor, com a mão á testa dele Kay via tudo e sentia tudo que havia se passado, o sentimento de abandono que tinha e a ideia de que estava sozinho. Ben tentou alertar seu tio, mas ele havia encontrado outro meio de trabalhar a Força, estava descobrindo sobre o lado sombrio, sozinho Luke passava o tempo tentando entender a melhor forma de esinar isso a Ben, mas ele o escondia a verdade, o escondia que havia em sua família alguém igualmente poderoso e que fez milhares sofrerem, Darth Vader.

                Então se deu, uma mistura de raiva com frustração e a mais pura dor, vivida durante alguns vários anos de treinamento no templo que Luke havia construído sobre suas próprias mãos, sem ver ninguém e sua mãe cada vez mais longe de si, dizia aquela sombra que nunca mais iria retornar, nunca mais veria amor, e nunca mais sentia alegria novamente pois seu coração era fraco e nunca conseguiria retornar a sua família. Leia o havia traído, ela o havia negado e o havia deixado perecer com Luke, ela tinha raiva daquela abominação que era Ben Solo e por isso o abandonou sem pensar duas vezes. Contou a ele sobre Darth Vader, seu avô que era forte na Força e conseguiu governar a galáxia, salvando vidas e famílias da morte.

                Ben caiu, caiu tão fundo que Kay só pode ver escuro e depois um grande fogaréu. Ele destruía tudo, não havia misericórdia o sofrimento em seu coração era tão grande que não via muito a sua frente, apenas morte e pareceu aliviar seu interior no momento. Ninguém estava ali por ele, ninguém, não havia nada ao que se agarrar, não havia uma luz se quer. O seu cristal sentiu quando ultrapassou os corpos daqueles aprendizes, ele chorou e se quebrou em milhões de pedaços, uma rachadura incrivelmente profunda. Matou a todos que estavam com ele, colocou fogo e abaixo disso tudo estava seu tio que tentou detê-lo e naquele momento não havia conseguido.

                Sentia falta de sua mãe e de seu pai, mas eles haviam destruído Darth Vader o homem que sem sentimentos nunca foi fraco e nunca pestanejou diante de seus desafios, queria ser como ele, intocável, indestrutível, invencível. Seu pai fora pouco presente, ele o havia trocado por bebida e sabaac e Ben descobriu da pior forma, vendo sua mãe chorar diante de si, depois de um tempo ela decidiu focar em reeguer a república e Ben foi esquecido. Han Solo nem se quer havia voltado por Leia quando Ben se tornou Kylo Ren, Han Solo fora covarde e evitou de ve-la, evitou de unir sua família pois ele sabia que Ben era seu filho e não poderia ser salvo, confiava que seu filho estava perdido para as trevas, ninguém confiava que poderia ser salvo e isso o rasgava de todas as maneiras em seu coração.

Ben saiu dali para se encontrar novamente com a sombra e jurar obediência, chamava-o de mestre e ia agora direto ao seu encontro, mas sempre transtornado por ter sido rachado ao meio, tão cedo. Ele preferiu dar a mão a alguém que verdadeiramente o via como valioso e por qual motivo talvez? Orgulho? Medo? Luxuria? Sentia-se tão escondido nas sobras de um legado que realmente não havia espaço para tais sentimentos, apenas o poder importava. Ele faria de tudo para ser maior que Vader, ele faria de tudo para que alcasasse um grande poder e isso incluía todos os tipos de maldade, ao final esperava que o lado sombrio o tomasse verdadeiramente, se não poderia mesmo voltar, que dessa maneira fosse em definitivo então.

                O que se seguiu foi uma sequência de incríveis cenas na mente de Kay e Ben que demandavam algum terror. O garoto foi preso e torturado, todos os dias, todos os dias era espancado e chicoteado, levado até Snoke que o dizia o quanto era fraco e precisava se fortalecer. Snoke o treinava da maneira mais cruel possível, mais forte impactando o psicológico de Ben pois assim ele seria capaz de lidar com todas as mortes que viria a fazer. Todos os dias sua mente era invadida, ele via sua mãe morrer todos os dias, via seu pai e seu tio morrer todos os dias, durante o que Kay entendeu que foram sete ou dez, doze anos.

As cenas apareciam na mente dela e o horror era real, ela sentia exatamente o que ele sentia e sua respiração começou a se afundar na dor, a mulher era violada, despedaçada e queimada, de diferentes tipos ela sucumbia naquele terror. Não só ela, mas Ben também estava lá para morrer, sua mente fixa na de Snoke não entendia como sair de tais poderes, passagens das cenas mostravam como as marcas apareciam no corpo de Ben, ele matou pessoas inocentes e mesmo assim a luz ainda estava lá, fraca e tremeluzente. Durante parte do seu dia ele era treinado a não sucumbir a compaixão, ao fardo de sua família e principalmente a luz, Ben foi moldado para se parecer com Darth Vader em tudo.

Havia gritos nessas cenas, dele e de sua mãe e das pessoas que assassinou e então os olhos de Han Solo que agora tocavam o seu rosto, o corte que aquilo havia feito dentro de si e a cicatriz que nunca parava de latejar. As milhões de vozes silenciadas pela StarKiller Base, todas gritavam em conjunto na mente de Ben e Kay não aguentava, aquilo era demais e pode perceber que ele ouvia isso todos os dias de sua vida em diante. Ele não ordenou que os matassem, mas ele não fez nada para salva-los, ele sabia que tinha que matar Han Solo, mas ele não fez nada para o impedir de si mesmo e isso o tornava o pior dos monstros.

Arrependimento.

Todos o viram sofrer e não havia ninguém por ele, não havia ninguém, se sentia extremamente sozinho, Luke o havia deixado para Snoke enquanto o conhecimento parecia ser realmente mais tentador, o homem realmente havia tentado trazer Ben de volta, mas era tarde demais. Ben havia visto que nunca conseguiria estar totalmente no lado sombrio, pois ele falhava, tinha sentimentos de empatia por todos aquele que havia feito sofrer e agora seu coração batia por Kay. Finalmente as mentes haviam saído de contato tão rápido quanto entraram, Kay caiu de costas no chão e sua respiração era ofegante, lágrimas caiam sem sua vontade e a dor no meio do peito era real.

Calmamente ele pegou por baixo do braço e a levantou, não havia nenhuma reação em Ben a não ser uma face de tristeza e conformismo, ele não se julgava vitima, se julgava culpado por essas atrocidades e aceitaria seu destino caso a morte fosse a melhor opção. Era tarde demais para voltar atrás, para ir a Resistencia, para deixar a Primeira Ordem e para largar Kay sem qualquer motivo. As lágrimas caiam do rosto dela sem nem saber que estavam ali, a respiração ofegante e a dor no meio do peito estavam muito intensas ainda, ele esticou a mão para a moça num gesto de entendimento e então ela foi rápido aninhar-se em seu peito.

— Eu sinto muito, Ben... Você não merecia isso – Disse ela entre soluços – Você era bom, ainda há luz em você

                Ele a segurou devagar pela cintura e não disse uma palavra se quer, se pudesse ver seu rosto, Ben não compartilhava de nada a não ser uma aceitação e leve preocupação por ela ter visto e sofrido com tudo isso. Ele não havia permitido que ela entrasse em sua mente, mesmo assim o seu coração o fez e o homem não sabia se estava triste ou aliviado por isso, mas a certeza de que ela não precisava ter feito isso por ele continuava forte em sua mente. Kay o segurou forte com o rosto afundado no meio, ele só pode segura-la mais intensamente e pousar levemente seu queixo sobre a cabeça dela.

Depois de um tempo ele a soltou e afastou-se dando as costas.

— Eu sinto o mesmo por você