Ensina-me a respirar escrita por Soyer


Capítulo 8
Capitulo 7 Flora me diz não




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A noticia que eu acabara de receber desceu arranhando minha garganta, eu não sabia direito para onde e quem olhar. Tudo estava meio confuso. Respirei fundo, minha cabeça doía, tentei me atentar a detalhes para distinguir se era um sonho ou realidade, por um momento, achei que era o efeito dos remédios, mas quando olhei para o lado e vi Flora e Júlia, percebi que era real.

Fiquei uns dois minutos nesse transe sem saber como reagir, usar uma bengala por toda a vida não é uma coisa que estava em meus planos e eu sabia que precisava fazer alguma coisa imediatamente para não perder o controle da situação.

—Dr Andrade, o que podemos fazer para mudar este diagnóstico? — perguntei com calma na voz.

— Desculpe, Sr. Aguilar, mas creio que infelizmente não há nada a ser feito. — respondeu ele seriamente — fizemos todos os testes possíveis e consultamos outros profissionais especialistas no assunto, mas não encontramos nada que pudesse reverter seu quadro.

— Doutor, sou um homem rico e não há nada que não possa resolver nesse mundo. Se nessa porcaria de Brasil não existe tratamento adequando para resolver isso, procurarei em países de primeiro mundo, lá com certeza encontrarei pessoas capacitadas de verdade e não açougueiros como o senhor.

— Desculpe-me, senhor, mas meu diagnóstico é perfeito, pode consultar todos os médicos que quiser, isso não mudará seu quadro. — falou com paciência e firmeza — Se existisse no mundo algo para lhe ajudar eu já teria providenciado.

— Você parece não entender, — alterei minha voz — como posso confiar em alguém que deixou meu pai morrer?

— Senhor, eu cuidei do seu pai até seus últimos dias, fiz tudo o que pude para ajudá-lo e tenho minha consciência limpa quanto a isso, a morte chega para todos, Daniel.

— Srta. Linda, ligue para meu plano e peça uma consulta com meus médicos nos Estados Unidos e providencie tudo para que eu possa viajar tranquilamente ainda hoje.

— Mas, Sr Aguilar, — disse ela — o senhor deve escutar o Dr Andrade.

Respirei fundo, odiava estar cercado de pessoas incompetentes e Flora não estava ajudando muito se unindo a elas. Minha raiva começou a crescer, precisava dominar aquela situação ou poderia ser tarde demais.

— Não me force a falar de novo, Srta. Linda, seu emprego já está por um fio e acho melhor me obedecer! — disse ameaçando ela com tom de voz alto e claro.

— Sinto muito, Sr Aguilar, mas sua secretária tem razão, o senhor não pode deixar o hospital agora porque ainda está em observação, acredito que se ainda quiser poderá ir para um quarto adaptado em sua casa talvez em dois ou três dias.

— Daniel, deixa de manha e escuta o Doutor — disse Júlia— Ele me parece bastante competente.

—Júlia, porque não vai procurar alguma festinha para encher a cara como sempre faz? — falei grossamente — se não está aqui para ajudar, então não atrapalhe!

— Daniel, vai à merda! — falou indo em direção à porta — Seu babaca! — disse batendo a porta com força.

— Já ligou, Srta. Linda? — perguntei — Ou terei que fazer isso eu mesmo?

Flora parou durante um tempo, seu corpo tremia e vi lágrimas em seus olhos enquanto cerrava seus punhos, ela abria a boca tentando falar algo mas sua voz falhava antes mesmo de sair uma palavra, até que por fim ela me encarou com o olhar de uma leoa.

— Não, Daniel, você vai permanecer no hospital que é o melhor e seguirá as ordens do Dr Andrade à risca! — disse ela num tom sério.

O que estava acontecendo, todo este tempo que trabalhava com Flora ela nunca me disse um não, e agora estava impondo autoridade?

Fitei-a durante um tempo sem reação, não conseguia acreditar que num momento como este ela se voltaria contra mim. O ódio se espalhou pelo meu corpo, queria demití-la no ato, queria arruinar com sua carreira, sua vida e fazê-la saber que ninguém me diz não!

— Não preciso de sua incompetência, se retire da sala por gentileza, a Srta. está demitida e farei com que nunca mais consiga um trabalho decente nesse país!

Flora me olhava sem reação, ela se virou para o médico e respirou fundo.

— Doutor Andrade, o senhor concorda que ele não está em condições nenhuma de tomar qualquer tipo de decisão? — perguntou Flora quase chorando.

— Sim, senhorita Linda, devido a forte pancada que ele sofreu meu diagnóstico mostra que o paciente não está em condições de raciocínio lógico.

Eu não acreditava naquilo, como eles podiam fazer isso comigo? O meu sangue começou a ferver de raiva e eu queria sair daquele lugar, minha cabeça começou a girar e a doer como se eu tivesse levado uma martelada bem no meio dela.

— Eu não admito que me trate desta forma, Srta. Linda, deveria ter visto os sinais de sua falsidade comigo! — gritei quase cuspindo saliva — Saia da minha frente! Saia!

Nesse momento Flora que se contia começou a chorar e soluçar.

— Daniel, eu só quero o seu bem, não me leve a mal porque, se faço isso é porque eu gosto de você! — disse gaguejando.

— Saia daqui ou chamarei a policia, sua hippie idiota! – gritei de ódio – Saia daqui agora, não quero mais ver a sua cara!

Nesse momento Flora saiu chorando correndo porta a fora, o doutor me olhava com uma cara de nojo e desprezo, mas eu não ligava. Queria mesmo sair daquele lugar, comecei a forçar a coluna para frente para me levantar, iria sair dali nem que fosse pulando numa perna só.

— Senhor Aguilar, como seu médico, estou pedindo para que deite! O senhor ainda não está em condições de se levantar! — falou o médico pondo a mão em meu peito querendo me conter.

— Saia da minha frente, seu açougueiro de merda! — disse batendo em sua mão.

— O senhor não me deixa escolha, — disse tentando me conter — enfermeiro preciso de ajuda aqui.

Rapidamente um enfermeiro olhou para a sala e chamou um outro que estava passando na hora.

— Segurem-no rápido! — disse o doutor.

Os enfermeiros apareceram e me seguraram na cama com bastante força, eu tentei lutar para me levantar mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa o doutor veio e me aplicou algo do braço e tudo começou a escurecer rápido demais.

Acordei meio tonto ainda dos remédios, olhei para o lado procurando por pessoas, mas não havia ninguém no meu quarto a não ser um Bonsai em minha cabeceira.

Logo depois de algum tempo, ouvi a porta se abrir e percebi que Júlia entrava no quarto.

— Daniel? — perguntou ela baixinho — Você esta acordado?

— Sim — respondi lentamente —Júlia, você é a única que pode me ajudar, eu preciso sair daqui!

— Você irá ficar aqui até ter alta, Daniel, ordens médicas. — falou ela se sentando em minha cama.

— Pode me fazer um favor então? Ligue para Srta França, preciso dizer algo a ela.

— E o que seria? — ela suspirou.

— Preciso que ela demita Srta Linda imediatamente! — falei com raiva na voz.

— Daniel, você tem noção do que está falando? —questionou-me com raiva na voz — eu não ia me meter nisso, mas você precisa saber. Flora está aqui desde que você chegou ao hospital, ela está dormindo numa cadeira onde não há nenhum conforto.

— E dai? — disse virando o rosto — Eu não a quero mais trabalhando para mim!

— O que está acontecendo com você, Daniel? — falou ela se levantando — A garota está se matando pra cuidar de você e no entanto quer demití-la? – Júlia fez um leve carinho no Bonsai. – O que você disse para ela a magoou de verdade, sabia?

— Se ela tivesse me obedecido, eu não precisaria ter falado daquela forma, ela mesmo pediu por isso! – falei tentando me ajeitar na cama, minha perna doía muito.

— Olha, Daniel, ela foi contra suas ordens arriscando perder o emprego que ela tanto precisa em prol da sua saúde e segurança! Eu realmente não sei como alguém pode ser mais leal do que isso.

— Eu não tinha visto por este lado — disse cabisbaixo.

— Nesse momento, Daniel ela está sem dormir resolvendo todas as pendências da sua empresa e ainda cuidando de você. Sinceramente acho que deve desculpas àquela moça.

—Júlia, pode me deixar sozinho um minuto?

— Claro, Dan, — disse ela me dando um beijo na testa — mas pensa no que eu falei, afinal você nunca quis ser igual ao seu pai!

Aquelas últimas palavras de Júlia me impactaram de verdade, realmente sempre lutei para não ser igual ao meu falecido pai.

E não podia acreditar que Flora estava fazendo tudo aquilo mesmo depois de ter anunciado sua demissão.

A dor da perna começava a me incomodar juntamente com meus pensamentos em Flora, eu tinha medo de tudo isso que estava acontecendo e não estava acostumado a não dominar as situações.

Quase uma hora se passou e eu novamente escutei a porta se abrindo, não queria falar com ninguém então achei melhor fingir que estava dormindo.

Ouvi passos chegando próximo a cama.

— Daniel? — era a voz de Flora, senti uma mão carinhosa passando em meu rosto e em meu braço havia pingado uma gota de água.

— Sabe, Dan, eu realmente não gosto de te ver nessa situação, então melhora logo. Queria tanto que você entendesse que eu quero o seu bem.

Senti novamente gotas cairem em meu braço e percebi que ela estava mesmo chorando, nesse momento, senti lábios tocando a minha testa e depois disso ela saiu pela porta.

O que estava acontecendo, cada vez mais eu ficava confuso. Eu a sempre tratei mal e várias vezes disse coisas horríveis a ela, então por que?

Minha curiosidade latejava, tinha muitos medos e dúvidas na minha cabeça.

Resolvi dormir um pouco, procurei uma posição para a perna mas sem muito êxito, por fim o cansaço me venceu.

Acordei e assim que abri os olhos vi que Flora estava em pé conversando com o médico, ela parecia cansada e tinha grandes olheiras. Quando percebeu que estava acordado, ela se virou para mim e veio rapidamente em minha direção.

— Sr. Aguilar, tenho ótimas notícias para o senhor! — disse ela sorrindo — Estava conversando com o Dr. Andrade e ele resolveu que já pode ter alta ainda hoje!

— Sim, Sr. Aguilar! — falou o medico pacientemente — Porém como estava explicando à Srta. Linda, o senhor precisará de uma enfermeira para tratá-lo durante um tempo e também precisará ir à fisioterapia a partir do próximo mês!

— Mas eu não tenho todo esse tempo, preciso voltar à empresa o quanto antes! — retruquei na esperança de fazer com que ele enxergasse a verdade.

— Sr. Aguilar, — falou Flora — eu pedi para Patrícia fazer um processo seletivo com algumas exigências minhas para ocupar meu cargo assim que o senhor retornar. Durante este período, se o senhor permitir. cuidarei da empresa com Patrícia até seu retorno. — disse ela tentando sorrir — Já providenciei algumas enfermeiras também para o senhor aprovar!

— Srta. Linda, — falei rapidamente — você sabe muito bem que não confio direito em pessoas desconhecidas e contratar um secretária a essa altura não me parece uma boa coisa. Tomei uma decisão, você cuidará de mim nesse tempo em que me encontro enfermo pois não confio em mais ninguém no momento para isso e contrate uma assistente para Patrícia, você repassará a ela todas as minhas ordens e decisões, ficaremos nesse período na casa de Angra.

— Mas, Sr. Aguilar, achei que queria me demitir? — perguntou ela confusa com que eu disse.

— Quando eu quiser demití-la eu o farei, não preciso que me lembre disso! — respondi me ajeitando na cama incomodado com a dor na perna.

Pude perceber um sorriso em seu rosto, ela concordou com a cabeça e foi terminar de acertar as recomendações com meu médico.

Reparei nesse momento que Júlia estava na porta e apresentava também um sorriso gostoso como se estivesse orgulhosa de algo.


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