C o r a g e m escrita por Julie Mellark


Capítulo 3
T R Ê S


Notas iniciais do capítulo

QUASE DESISTI..... mas cá estou hahahah enjoy



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A notícia que Severus Snape havia matado Albus Dumbledore foi digerida em câmera lenta, no futuro nem um dos dois Potter’s presentes saberia dizer quanto tempo realmente se passou.

—Você está de brincadeira comigo certo? – Lily foi quem recuperou-se primeiro – Nem em mil anos Snape seria bom o bastante para matar Dumbledore

— Lily, Harry foi atrás de Snape nesse dia, houve uma briga, e ele desapareceu com todos os outros comensais da morte desde então

Lily abriu a boca para protestar novamente quando James cortou-a

— Se Harry diz que foi ele, eu acredito no meu filho – disse James olhando-a no fundo de seus olhos – Eu tenho que confiar que meu filho não é um mentiroso, eu preciso que ele seja um bom homem, sabe?

Lily suspirou e concordou com a cabeça, ela sabia. E então se virou para seu amigo.

— E agora? Você sabe onde ele está agora? – perguntou a ruiva angustiada

— Eu não sei, ninguém sabe, ele estava na antiga casa do Sirius, agora é dele, nós...bem, nós brigamos quando eu estive por lá, e desde então não o vejo mais – suspirou Remus cansado se lembrando da briga com o garoto

— Brigaram? Mas por quê? – James quis saber

— Bem, eu fui oferecer ajuda – exclamou Remus – Ele, bem ele ficou muito bravo que eu queria ajudá-lo enquanto Tonks está gravida. Disse que você James ficaria muito desapontado comigo por deixar meu filho e minha mulher, nós brigamos feio nesse dia e perdemos contato.

— O garoto não se lembra de uma palavra minha, com toda certeza, mas sabe exatamente o que eu diria, você está maluco? Deixar sua família assim, nesses tempos? – Perguntou James zangado olhando para o amigo

A conversa foi interrompida com o Sr. Weasley dizendo que a reunião deveria começar o mais breve possível.

O casal foi apresentado a todos ali, não havia muitas pessoas, eles já sabiam que metade da Ordem estava sendo vigiada e não pode ou não quis comparecer, outra metade estava morta ou desaparecida. Estavam todos sentados e espalhados pela sala, havia Tonks com a mãe Andromeda, Gui e Carlinhos que eram os irmãos de Jorge e Fred, os próprios gêmeos, Molly e o marido, Remus, Fleur a esposa de Gui e uma velha senhora que James soube assim que viu o chapéu que era a mãe de Frank Longbottom. A princípio todos ficaram muito assustados e mantiveram distância do casal, mas James e Lily não os julgava, era tão estranho para eles quanto para os outro.

— Podemos começar? – Fleur perguntou – Gabrrielle esstá em cassa e non posso deixá-la sozinha – claramente Fleur ainda possuía muito do sotaque francês

— Arthur, é verdade o que eu ouvi no rádio hoje mais cedo? Harry foi visto no ministério da magia? – perguntou Molly

— O que? Meu filho? A pessoa mais procurada da comunidade bruxa, estava no ministério da magia? Como não me contou isso Remus? – perguntou Lily se levantado do sofá exasperada e caminhando de um lado para outro

— Essa informação é nova para mim, o que raios Harry foi fazer no ministério? Ele queria ser morto? – Remus perguntou esgotado e alterado pela imprudência do garoto

Sr. Weasley interviu e começou a contar para todos, o que sabia, já que estava trabalhando no ministério ainda

— Ele foi visto sim, entrou com a poção polissuco de um funcionário do alto escalão, Hermione e nosso filho também foram – explicou Arthur para Molly tirando os óculos e pressionando as têmporas – Foi a maior bagunça, eles entraram pela porta da frente, o Ministério esta um caos, como três adolescentes conseguiram entram sem nenhuma dificuldade. O caso é que Harry se infiltrou em um julgamento de uma trouxa, atacou a Dolores Umbridge, ela está gritando a mil pulmões para quem quiser ouvir que Harry roubou o colar dela e ainda fugiu com a acusada. Acredita que eram os Cattermole?

— Ah, por que o Harry só faz esse tipo de coisa quando não estamos perto? – perguntou Fred ligeiramente magoado

— E Rony? Ele está bem? – perguntou Molly preocupada com o filho – Alguma notícia dele? Você o viu?

— Rony foi visto também! Eles duelaram com alguns aurores antes de desaparecerem pela lareira, mas nosso filho está bem Molly – disse Arthur com um sorriso fraco - O Ministério ficou mil vezes mais rígido, está um inferno para conseguir entrar no trabalho.

— Se Harry, Hermione e Rony se arriscaram tanto para roubar esse colar, ele deve realmente se importante não? – questionou James sabiamente e internamente muito feliz por Harry ter escapado de mais essa confusão.

A conversa girou entorno do que eles imaginavam que seria esse colar, o que isso significava e ficaram de pesquisar e se comunicar ao longo da semana, James e Lily iriam ficar na casa com Arthur, Molly e Carlinhos que estava de licença durante os próximos meses.

À medida que os dias se alongavam em semanas, Harry começou a suspeitar que Rony e Hermione estivessem conversando sem ele e sobre ele. Várias vezes tinham parado abruptamente de falar quando ele entrara na barraca, e, em outras duas, Harry os encontrara por acaso, conversando em segredo a uma pequena distância, as cabeças juntas, falando rapidamente; em ambas, os amigos tinham se calado ao perceber sua aproximação e se apressado a fingir que estavam ocupados em apanhar lenha ou água. Harry não podia deixar de se perguntar se teriam concordado em acompanhá-lo nessa viagem, que agora julgavam sem objetivo e errática, apenas porque pensaram que tinha um plano secreto de que eles tomariam conhecimento no devido tempo. Rony não estava fazendo o menor esforço para esconder o seu mau humor, e Harry começava a recear que Hermione também estivesse desapontada com a sua falta de liderança. Desesperado, ele tentou pensar em outros locais para Horcruxes, mas o único que continuava a lhe ocorrer era Hogwarts, e, como os amigos não achavam que fosse provável, ele parou de sugeri-lo. O outono foi desdobrando-se sobre os campos à medida que eles se deslocavam: agora, estavam montando a barraca sobre palhas secas e folhas caídas. Névoas naturais se misturavam àquelas lançadas pelos dementadores; o vento e a chuva aumentavam seus problemas. O fato de que Hermione estivesse identificando melhor os cogumelos comestíveis não chegava a compensar inteiramente o seu isolamento contínuo, a falta da companhia de outras pessoas, ou sua total ignorância sobre o que estava acontecendo na guerra contra Voldemort.

 – Minha mãe – disse Rony certa noite, quando se achavam na barraca, à margem de um rio em Gales – é capaz de conjurar do nada uma comida gostosa. Ele cutucava, rabugento, os pedaços de peixe carbonizado em seu prato. Harry olhou automaticamente para o pescoço de Rony e viu, conforme esperava, o brilho da corrente de ouro da Horcrux. Conseguiu refrear o impulso de xingar o amigo, cuja atitude melhoraria um pouco no momento em que tirasse o medalhão.

— Sua mãe não conjura comida do nada – disse Hermione. – Ninguém pode fazer isso. Comida é a primeira das cinco principais exceções à Lei de Gamp sobre a Transfiguração Elemen...

— Ah, vê se fala em língua de gente, tá! – retorquiu Rony, extraindo uma espinha de peixe presa entre os dentes

 – É impossível preparar comida boa do nada! Você pode convocá-la se souber onde achar, você pode transformá-la, você pode aumentar a quantidade se já tem alguma...

 – ... pois não se dê o trabalho de aumentar esta aqui, tá uma porcaria – retrucou ele.

— Harry apanhou o peixe e eu fiz o melhor que pude! Estou notando que sempre sou eu que acabo resolvendo o problema da comida; porque sou uma menina, suponho!

— Não, porque a gente supõe que você seja melhor em magia! – disparou Rony. Hermione se levantou de repente e os pedaços de peixe assado escorregaram do seu prato de estanho para o chão

. – Você pode cozinhar amanhã, Rony, você pode procurar os ingredientes e tentar transformá-los em alguma coisa que valha a pena comer, e eu vou me sentar aqui e fazer cara feia e reclamar e você vai poder ver...

— Calem a boca! – exclamou Harry, levantando-se de um salto e erguendo as mãos. – Calem já a boca!

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Durante as próximas semanas, as coisas ficaram ainda mais difíceis na casa dos Weasley, Arthur e Molly foram chamados para depor sobre o aparecimento do filho Rony ao lado de Harry no Ministério da Magia, eles negaram tudo, disseram que não era Rony, que seu filho estava com Sarapintose no porão de casa, morrendo aos poucos. Talvez por isso Sr. Weasley tinha sido obrigado a pegar uma ‘licença’ e isso deixava a situação financeira dos Weasley ainda mais debilitada que antes, com os Potter morando com eles os gastos eram ainda maiores

Todos os dias de manhã seja durante almoço James e Sr. Weasley entravam em uma discussão amigável, já que James insistia em tentar ajudar com os custos e Arthur negava veemente;

— Tenho certeza que Harry não vai perceber que alguns galeões desaparecerem e muito menos se importar quando contarmos – repetia James o discurso de sempre. Sentado ao lado da esposa na mesa, junto com Arthur e Molly

— Agradeço muito James, mas não é necessário, tínhamos algumas economias e meus filhos estão nos enviando tudo que é necessário e você sabe nós temos muito espaço aqui e Molly tem plantações realmente boas de... – Mas Sr. Weasley foi impedido de continuar a tentativa em convencer James pela coruja grande e marrom que bicava sem parar a janela da cozinha, ele reconhecia essa coruja era da mesma espécie de corujas oficias de Hogwarts e sabendo que apenas sua filha Gina estava na escola nesse período ele se adiantou para abrir a janela.

— O que diz ai? Minha menina está bem? Aconteceu algo com a Gina? – questionou Sra. Weasley se levantando e colocando-se ao lado do marido que já lia a carta.

— Não diz muita coisa, é uma carta do Direto Snape, ele diz que Gina vai estar proibida de ir a Hogsmead até o natal – Sr.  Weasley fez uma careta ao ler isso – parece que ela e Neville Longbottom tentaram roubar a espada de Gryffindor da sala dele

— Mas por que Gina faria uma coisa dessas? O que essa menina está pensando? Com todos aqueles comensais da morte circulando por lá, tenho medo do que possam ter feito a nossa menina – exclamou Molly sentando-se na cadeira e colocando o rosto entre as mãos. Lily foi até a mulher abraçando-a e murmurando palavras de conforto.

—//--//-

Os dias que se seguiram foram ainda piores para todos, o clima começou a pesar, sem noticias de nenhum dos filhos os pais começaram a ficar com o humor afetado, não tinha havido novas noticias da Ordem, um casal nascido trouxa da confiança de Dumbledore que estava em missão secreta havia aparecido no Jornal outro dia a manchete dizia que foram encontrados na França em cativeiro, aparentemente morreram de fome, acorrentados em uma masmorra. A marca negra na parede da sala de tortura evidenciava a natureza brutal do crime.

O Natal se aproximava e a única noticia que haviam recebido dos filhos até agora eram que Gui e Fleur viriam para passar a véspera e almoço de natal com os pais enquanto Carlinhos teve uma emergência com alguns dragões na Albânia e precisaria passar o natal e ano novo no trabalho, Fred e Jorge não haviam dado nenhuma notícia desde então, mas Sra. Weasley estava confiante de que eles apareceriam para o Natal.

— Sabe Harry passou alguns natais aqui conosco, todo ano eu faço uma lembrancinha para os meus filhos e acabo fazendo um para o Harry também, mas com você aqui agora, estava pensando que talvez você gostaria de fazer – disse Sra. Weasley descendo da escada ao lado de Lily – gostaria querida?

Os olhos de Lily se encheram de lagrimas não derramadas enquanto ela acenava fortemente com a cabeça – gostaria sim, você me ajuda?

— Claro querida, olhe eu fiz esse para o Rony, ele odeia a cor, acha que eu não sei, mas eu não posso me aguentar eu adoro vê-lo com esse tom – Sra. Weasley sorriu sapeca.

James e Arthur haviam saído para buscar Gina na estação Kings Cross, James havia ido com poção polissuco disfarçado de Carlinhos Weasley que havia cedido alguns fios de cabelo antes de ir para Albânia. Isso havia gerado uma grande crise entre James e Lily que era contra a ideia, principalmente pelas chances de James e Harry serem confundidos, mas James convenceu Lily quando seus olhos se encheram de lagrimas ao dizer que não suportava mais ficar preso em casa e como ele estava se sentindo morto nesses últimos dias, sem noticias de Harry e impotente sem poder fazer nada para ajudar.

Não demorou muito para James e Arthur aparecerem com uma garota ruiva, completamente desconfiada de James, que ainda estava em forma de Carlinhos.

— Mãe? Você está aqui? – disse uma voz vinda da cozinha

— Aqui na sala querida, temos visita, tenha modos – gritou a senhora Weasley

Ela e Lily continuavam a fazer os suéteres, quero dizer a Sra. Weasley fazia suéteres, Lily Potter estava embolada em uma mistura de linhas sem fim.

— Será que eles já contaram a ela? - Perguntou Lily para Molly.

Molly deu de ombros, mas se levantou em um pulo assim que viu uma cabeleira ruiva entrar na sala carregando um malão magicamente em seus calcanhares. Uma garota não tão alta, magra de longos cabelos ruivos, sardas pelo nariz e olhos castanhos que encaravam Lily enquanto abraçava a mãe

— Senti sua falta também mamãe – murmurou Gina ainda sem se soltar da mãe e encarar a estranha mulher ruiva no sofá – eu conheço você? – perguntou Gina finalmente se soltando e indo em direção a mulher no sofá – Com certeza deve ser uma dessas tias de terceiro grau, certo?

— Acho que isso responde a sua pergunta Lily querida – riu Sra. Weasley

— Não acho que somos parentes, sou nascida trouxa, Lily Potter, mas pode me chamar de Lily – Sorriu Lily que estendeu a mão para Gina que não apertou

— Ah não, eu sabia que aquele não era o Carlinhos – reclamou Gina – qual deles é você? – perguntou Gina deixando Lily confusa – Fred ou Jorge, qual deles é você? Está na cara que vocês estão tentando me pregar uma peça, papai veio com um papo super confuso de vida pós morte, os Potter e sabe-se lá o que mais. Então qual deles é você, é o Jorge eu aposto que você é o Jorge.

James nesse momento chegou ainda disfarçado de Carlinhos, mas com traços de que a poção estava começando a desaparecer.

— Eu disse que era péssimo imitando um irmão, eu fui filho único você sabe, ela não acreditou em mim – disse James que começou a diminuir de largura, e adquirir suas próprias características físicas

— Mas que merda? – exclamou Gina quando James terminou de se transformar

— Ginevra, olha a boca – ralhou o Sr. Weasley

— Esses são James e Lily Potter, os pais do Harry – disse Sra. Weasley – Os seus sogro e sogra se não me falha a memória, huh? – disse Molly ainda com o sorrisinho sapeca.

— Que? – perguntaram James, Lily e Gina todos juntos.

//--//--//

Na manhã de Natal Gui e Fleur chegaram cedo com um prato de batatas assadas, enquanto Fred e Jorge resolveram passar a noite na casa da mãe juntamente com os Potter e Gina.

— Que ótimo que só vocês estão aqui – disse Gui ao entrar na cozinha que só tinha Gina e Lily conversando baixinho na mesa enquanto James e Sra. Weasley preparavam o café da manhã e Arthur que colocava as xicaras na mesa. – Abaffiato. Olhem não pude contar nada antes, mas Rony apareceu em casa outro dia. É mãe desculpa, mas não pude mandar uma coruja, ela podia ser interceptada. Mas ele está bem, quero dizer estava bem abalado ele se separou de Harry e Hermione depois de uma briga, ficou em casa por uma noite e desapareceu no dia seguinte.

Os minutos seguintes foram de várias perguntas, mas foram cessados assim que Fred e Jorge se juntaram a mesa, quanto menos pessoas soubessem, melhor.

Mal todos haviam se reunido na mesa de café da manhã quando a porta da frente recebeu pancadas fortes e todos pegaram suas varinhas

— Quem é? – Perguntou Sr. Weasley

— Sou eu Remus Lupin, eu sei sobre James e Lily, sou amigo deles desde nosso primeiro ano em Hogwarts, por favor abra, tenho notícias do Harry – disse a voz do outro lado da porta.

— Abra, é ele eu sei – disse Lily se aproximando da porta

Assim que a porta foi aberta, Remus entrou com o rosto corado, provavelmente deve ter corrido até lá aquela hora da manhã – Ele foi visto – anunciou – Harry foi visto em Godric’s Hollow.

— O que? Godric’s Hollow? Por quê? Alguém viu ele? Ele foi pego? – Perguntou Gina

—Ele está bem? – perguntaram James e Lily novamente e juntos.

— Eu não sei, tenho alguns contatos de lá, e ele foi visto, junto com Hermione, apareceram tarde da noite, foram ao cemitério, a antiga casa de vocês e depois foram a casa de Batilda Bagshot, ela foi encontrada morta, e a casa tinha sinais de luta, mas eles não estavam mais lá hoje cedo e o corpo de Batilda aparentava estar em decomposição há vários dias

— Mas o que isso tem a ver com o Harry? Ele não fez isso – disse Lily

— Harry foi visto conversando e entrando com Batilda ontem mesmo na casa dela – disse Remus – aparentemente uma armadilha, e Harry não estava lá.

E seu grito foi o grito de Harry, sua dor, a dor de Harry... que pudesse acontecer ali, onde acontecera antes... ali, à vista da casa onde ele chegara tão perto de saber o que era morrer... morrer... a dor era tão terrível... irrompia do seu corpo... mas, se não tinha corpo, por que sua cabeça doía tanto, se estava morto, como poderia senti-la de forma tão insuportável, a dor não cessava com a morte, não ia... A noite úmida de ventania, duas crianças vestidas de abóboras atravessavam a praça bamboleando, e as vitrines das lojas cobertas de aranhas de papel, todos os adornos baratos e kitsch dos trouxas simbolizando um mundo em que eles não acreditavam... e ele seguia deslizando, aquele senso de propósito e poder e correção que sempre experimentava nessas ocasiões... não raiva... isso era para almas mais fracas que ele... mas triunfo, sim... esperara por isso, desejara isso...

— Bonita fantasia, moço!

Ele viu o sorriso do menino vacilar quando se aproximou o suficiente para espiar sob o capuz da capa, viu o medo anuviar o rostinho pintado: então a criança deu meia-volta e fugiu correndo... por baixo da veste, ele acariciou o punho da varinha... um simples movimento e a criança jamais chegaria à mãe... mas desnecessário, muito desnecessário... E, ao longo de uma rua mais escura, ele caminhou, e agora seu destino estava finalmente à vista, o Feitiço Fidelius desfeito, embora os moradores ainda não soubessem... e ele fez menos ruído do que as folhas mortas que esvoaçavam pela calçada quando se emparelhou com a sebe escura e espiou por cima... Eles não tinham fechado as cortinas, viu-os claramente na pequena sala de visitas, o homem alto de cabelos negros e óculos, fazendo baforadas de fumaça colorida saírem de sua varinha para divertir o menininho de cabelos negros e pijama azul. A criança ria e tentava pegar a fumaça, segurá-la em sua mãozinha fechada... Uma porta abriu e a mãe entrou, dizendo palavras que ele não pôde ouvir, seus longos cabelos acaju caindo pelo rosto. O pai ergueu o filho do chão e entregou-o à mãe. Atirou a varinha sobre o sofá e se espreguiçou, bocejando... O portão rangeu um pouco quando ele o abriu, mas James Potter não ouviu. Sua mão branca tirou a varinha de sob a capa e apontou-a para a porta que se abriu com violência. Já cruzara a porta quando James chegou correndo ao hall. Foi fácil, fácil demais, ele nem chegara a apanhar a varinha...

— Lily, pegue Harry e vá! É ele! Vá! Corra! Eu o atraso...

Detê-lo, sem uma varinha na mão!... Ele riu antes de lançar a maldição...

 – Avada Kedavra!

 O clarão verde inundou o hall apertado, iluminou o carrinho de bebê encostado à parede, fez os balaústres da escada lampejarem como raios e Tiago Potter caiu como uma marionete cujos cordões tivessem sido cortados... Ele ouviu a mulher gritar no primeiro andar, encurralada, mas, enquanto tivesse bom senso, ela, pelo menos, nada teria a temer... ele subiu a escada, achando graça nos esforços que ela fazia para se entrincheirar no... ela também não tinha varinha... como eram idiotas e confiantes em julgar que sua segurança eram os amigos, que as armas poderiam ser postas de lado mesmo por instantes... Ele arrombou a porta, atirou para o lado a cadeira e as caixas apressadamente empilhadas para defendê-la com um displicente aceno da varinha... e ali estava ela, a criança nos braços. Ao vê-lo, Lílian largou o filho no berço às suas costas e abriu bem os braços, como se isso pudesse adiantar, como se ocultando-o esperasse ser escolhida como alvo...

 – O Harry não, o Harry não, por favor, o Harry não!

 – Afaste-se, sua tola... afaste-se, agora... –

 Harry não, por favor, não, me leve, me mate no lugar dele...

 – Este é o meu último aviso...

— Harry não! Por favor... tenha piedade... tenha piedade... Harry não! Harry não! Por favor... farei qualquer coisa...

— Afaste-se... afaste-se, garota... Ele poderia tê-la afastado do berço à força, mas lhe pareceu mais prudente liquidar todos... O clarão verde lampejou pelo quarto e ela tombou como o marido. Todo esse tempo, a criança não gritara: sabia ficar em pé segurando as grades do berço, e ergueu os olhos para o rosto do intruso com uma espécie de vivo interesse, talvez achando que fosse seu pai escondido sob a capa, e que ele produziria mais luzes bonitas, e sua mãe reapareceria a qualquer momento, rindo... Ele apontou a varinha certeiramente para o rosto do menino: queria ver acontecer, a destruição desse perigo inexplicável. A criança começou a chorar: notara que ele não era James. Não gostava de bebê chorando, nunca fora capaz de suportar as criancinhas choramingando no orfanato...

— Avada Kedavra! Então ele sucumbiu: não era mais nada exceto dor e terror e precisava se esconder, não aqui nos destroços da casa em ruínas, onde a criança estava presa, aos berros, mas longe... longe...

 – Não – gemeu ele. A cobra se arrastou pelo chão imundo e atravancado, e ele matara o garoto, contudo ele era o garoto...

 – Não... Agora estava parado à janela estilhaçada da casa de Batilda, absorto nas lembranças de sua maior perda, e a seus pés a enorme cobra rastejava pelos cacos de porcelana e vidro... ele baixou os olhos e viu algo... algo inacreditável...

 – Não...

— Harry, está tudo bem, você está bem! Ele se abaixou e apanhou a foto amassada. Ali estava ele, o ladrão desconhecido, o ladrão que ele estava procurando...

 – Não... eu a deixei cair... eu a deixei cair...

— Harry, tudo bem, acorde, acorde! Ele era Harry... Harry, e não Voldemort... e a coisa que fazia o ruído abafado não era uma cobra. Abriu os olhos.

 – Harry – sussurrou Hermione. – Você está se sentindo... bem?

 – Estou – mentiu ele. Estava na barraca, deitado em uma das camas baixas do beliche, sob uma montanha de cobertores. Percebia que era quase manhã pela quietude e friagem, a luz pálida além do teto da barraca. Ele estava encharcado de suor; sentia o suor nos lençóis e cobertores.

— Escapamos.

 – Sim – disse Hermione.

— Precisei usar o Feitiço de Levitação para deitar você no beliche, não consegui levantá-lo. Você esteve... bem, você não esteve muito... Havia olheiras arroxeadas sob seus olhos castanhos e ele viu uma pequena esponja em sua mão: Hermione estivera enxugando o rosto dele.

 – Você esteve doente – ela terminou a frase. – Muito doente.

 – Quanto tempo faz que partimos? – Horas. Está quase amanhecendo.

— E eu estive... o quê, inconsciente?

 – Não, exatamente – respondeu Hermione constrangida.

 – Esteve gritando e gemendo e... coisas – acrescentou em um tom que deixou Harry inquieto.

Que teria feito? Berrara maldições como Voldemort; chorara como o bebê no berço? “Não consegui retirar a Horcrux de você”, disse Hermione, e ele percebeu que a amiga queria mudar de assunto. “Ficou presa, presa no seu peito. Deixou uma marca; lamento. Tive de usar o Feitiço de Corte para soltá-la. A cobra também o mordeu, mas limpei o ferimento e apliquei um pouco de ditamno...” Ele arrancou do corpo a camiseta suada que usava e olhou para baixo. Havia uma oval escarlate sobre seu coração, onde o medalhão o queimara. Viu também as marcas de furos quase cicatrizadas em seu braço.

 – Onde guardou a Horcrux? – Na minha bolsa. Acho que não devíamos usá-la por um tempo. Ele se recostou nos travesseiros e fitou o rosto atormentado e cinzento de Hermione.

— Não devíamos ter ido a Godric’s Hollow. Foi minha culpa, minha inteira culpa, sinto muito.

 – Não foi sua culpa. Eu quis ir também; realmente pensei que Dumbledore tivesse deixado a espada lá para você.

 – É, bem... entendemos mal, não foi?

— Que aconteceu, Harry? Que aconteceu quando ela o levou pra cima? A cobra estava escondida em algum lugar? E simplesmente saiu e a matou e atacou você?  

— Não. Ela era a cobra... ou a cobra era ela... todo o tempo.

— Q-quê? Ele fechou os olhos. Ainda podia sentir o cheiro da casa de Batilda em seu corpo: isso tornava o episódio pavorosamente vívido.

 – Batilda devia estar morta havia algum tempo. A cobra estava... estava dentro dela. VocêSabe-Quem levou-a para Godric’s Hollow para esperar. Você tinha razão. Ele sabia que eu voltaria.


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Notas finais do capítulo

eai? gostaram? continuo?



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