Hey! Amor escrita por Jess Porcino


Capítulo 1
Lamentos de um coração dilacerado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Aquele fim de tarde possuía um ar pesado, frio e melancólico, as pesadas nuvens escuras indicando que uma tempestade se aproximava. O tempo parecia apropriado, como se compartilhando do momento, da dor, da perda.

A multidão ia se dispersando, todos com passos vagarosos e olhares ora pesarosos ora melancólicos, mas para ele não importava, não importava que todos estavam saindo ou que logo ele mesmo teria que sair, que os portões seriam fechados, que a noite chegaria, nada importava. Não mais. Tudo o que lhe era importante estava ali, tão perto e ao mesmo tempo tão longe, intocável. Continuava do mesmo jeito de quando chegou, quieto, silencioso, agachado de joelhos no chão e olhar vago para a lápide a sua frente contendo o nome daquele que tinha sua vida, que foi a sua vida.

Sentiu uma mão tocar seu ombro e uma voz calma lhe chamar.

 

— Vamos, Milo. — Era Mu quem lhe chamava, um amigo da família, um amigo dele. Mal notou que o cemitério estava vazio a não ser por eles dois. Balançou a cabeça em negativa sem tirar os olhos da lápide, temia desviar os olhos e perceber que a mesma não se encontrava mais ali e nada mais do seu amado sobrasse. Aquilo era culpa sua, sim SUA culpa por ter agido daquela forma, estava sendo castigado.

Ouviu um suspiro e logo depois a voz tranquila de Mu novamente.

 

— Tudo bem, estarei lhe esperando no carro. — Logo depois passos se distanciando até que o silêncio voltou a predominar.

 

Tocou o mármore delicadamente traçando as palavras talhadas ali em baixo relevo.

Camus Delacroix, (1992 - 2017) Amigo, companheiro e irmão.

 

Aquelas palavras eram tão poucas para descrevê-lo devidamente. Pensou. Deveriam ter escrito: Chato, orgulhoso e certinho. Extremamente irritante, sério, inteligente e amado. Ah! Sim, principalmente amado.

Deslizou os dedos levemente pelo mármore como uma carícia, imaginando poder tocá-lo novamente, aquela pele macia e perfeita, apertar os dedos por aquele corpo alvo que marcava-se facilmente e vê-lo se arrepiar. Deixou a mão cair com a realidade cruel que lhe assolou num rompante como um soco, mas mais dolorosa. Finalmente permitiu-se encarar a realidade que estava à sua frente. Ele não voltaria. Deixou as primeiras lágrimas caírem grossas pelo rosto, os olhos claros banhados na mais profunda tristeza.

 

Hey lucy, eu me lembro do seu nome
Deixei uma dúzia de rosas no seu túmulo hoje
Estou com as gramas no meu joelho, limpando as folhas
Eu vim apenas para conversar por um momento
Eu tenho algumas coisas que eu preciso dizer



— Hey… — A voz saiu arrastada, vacilante diante do pranto que se seguia. Fungou secando as lágrimas parcamente fitando novamente a lápide, respirou fundo lembrando do perfume do seu amado, tomando coragem para pronunciar as seguintes palavras sem cair no desespero.

 

— Eu… Tenho algumas coisas para te dizer… Acho que agora você vai me ouvir sem reclamar. — Ousou uma piada e um riso forçado que saiu como um soluço engasgado.

 

— Você não costuma perder a paciência, mas só eu sei como você fica lindo bravo. Sempre fui difícil de aturar, mas você conseguia, sempre conseguiu. Seus amigos nunca souberam como você me suportava, nem eu mesmo sei como. Sempre fui impulsivo e você sempre soube me domar, éramos tão diferentes… As pessoas diziam que não íamos dar certo e você os mostrou que estavam errados, que eu valia a pena e no fim eu mesmo que estraguei tudo não é… — Fez uma pausa lembrando de como aconteceu.

 

— Me perdoa Camus… Me perdoa meu amor! Eu não devia ter feito aquilo eu… Nós tinhamos brigado e eu queria te fazer ciúmes! M-mas nunca te traí, nunca, eu só… Eu te amo! — As palavras saíam rápidas e desesperadas, ele já não se importava em secar as lágrimas, a voz embargada despejava toda a angústia e desespero que os estavam sufocando.

 

— Eu sei que fui um idiota, eu não mereço perdão. EU fiz isso com você meu amor!



Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu daria todo o mundo
Para ver aquele pequeno pedaço de céu olhando por mim
Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu tenho que viver com as escolhas das que eu fiz
E eu não posso viver sozinho hoje

 

Chorou como nunca havia chorado antes, sua alma dilacerada, quebrada  pedaços não conseguia suportar viver em um mundo sem ele, sem o seu “cubo de gelo”. Era assim que o chamava por ser tão frio e indiferente, mas ele sabia que por trás daquela face congelada existia um coração ardente. Coração esse que ele destruiu. A culpa lhe corroia de tal forma que chegava a doer, faria tudo para tê-lo novamente. Para ver aqueles olhos tão verdes lhe encarando com sua típica frieza, mas ao mesmo tempo quentes, amorosos. Queria poder abraçá-lo como gostava, pedir perdão e beijar aqueles lábios macios.

Lembrou-se da última vez que viu aqueles olhos, cheios de mágoa, o último olhar do seu amos antes de ir para sempre era uma olhar magoado. E ele teria que conviver com aquele sentimento de culpa.


Hey lucy, eu me lembro do seu aniversário
Eles disseram que isso traria um fecho ao dizer seu nome
Eu sei que faria tudo diferente se eu tivesse a chance
Mas tudo que tenho são essas rosas para entregar
E elas não podem ajudar a me compensar



— Eu nem tive a chance de me despedir. — Lamentou com a voz embargada.

— Eu faria tudo diferente se isso te trouxesse de volta. Camus, meu amor, eu daria a minha vida se isso te fizesse voltar! — Apertou as mãos contra a terra enterrando os dedos contra a mesma, como se pudesse senti-lo ali. As lágrimas caindo sobre as mãos sujas enquanto soluços ecoavam.

 

— Eu sinto muito, sei que isso não é o suficiente para trazê-lo e nem justifica o que eu fiz…  Me perdoa… Eu não consigo viver sem você!



Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu daria todo o mundo
Para ver aquele pequeno pedaço de céu olhando por mim
Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu tenho que viver com as escolhas das que eu fiz
E eu não posso viver sozinho hoje



Haviam discutido mais uma vez por um motivo fútil, Milo estava com raiva e quis fazer ciúmes a Camus. Saiu para uma festa e lá beijou a primeira pessoa que apareceu na sua frente. Ele sabia que Camus estava lá, que o tinha seguido pois o mesmo se preocupava com ele, sabia que Milo faria alguma besteira e temia que algo ruim acontecesse, mas quando adentrou o lugar viu Milo aos beijos com outra pessoa. Milo quando virou-se encarou aqueles olhos verdes que tanto amava magoados, logo depois o ruivo saiu sem dizer nada. Milo queria que Camis tivesse brigado com ele, mas o mesmo apenas saiu, claro ele não gostava de brigar.

 

Um arrependimento bateu forte e rapidamente saiu atrás do ruivo, mas já era tarde ele ja partia  seu carro. Milo não sabia o porque, mas sentiu um aperto no peito ao ver o carro distanciar-se como se nunca mais fosse ver Camus, seu ruivo.

 

O mais rápido que pode pegou a moto de Aiolia, um amigo seu, emprestada e seguiu seu ruivo, sabia que ele voltaria para casa. O que não esperava era deparar-se com um acidente no meio do caminho. Reconheceu o carro de Camus e nesse momento seu sangue gelou, parou a moto de qualquer jeito correndo em direção ao carro acidentado, algumas pessoas já estavam em volta e ligavam para a ambulância. Milo não prestou atenção, correu até o carro sob os protestos dos desconhecidos, o coração na mão. Não era ele, não podia ser ele.

 

Mas era.

 

Viu com desespero seu ruivo caído à poucos metros de distância do carro, havia sido jogado para fora, ele sempre usava o cinto de segurança, exceto naquela noite. Milo desesperado foi de encontro ao seu amado que jazia caído, imóvel e desacordado no chão. Gritou, chorou, chamou por seu nome, mas nada aconteceu. Ele não respondia. Seus belos olhos não se abriam, e a face manchada de sangue tornava tudo tão surreal quanto Milo negava-se a acreditar.

 

Só notou que a ambulância havia chegado quando foi afastado de Camus e o mesmo transportado por enfermeiros. Via tudo com os olhos de outra pessoa, como se aquilo não fosse consigo, ficou assim até chegar a notícia de que Camus havia falecido. Ali naquele momento, ele gritou. Gritou tão alto quanto sua dor clamava, não se importou de estar no hospital, só queria que a dor parasse, que ele voltasse. Apertava com forma o peito e gritava desesperado, lembrou-se de terem injetado algo em si e tudo apagar. Depois só se lembrava de acordar em uma cama de hospital com Mu a olhá-lo com pena. Chorou mais uma vez.

 

Depois disso, nada mais lhe importou, os preparativos para o funeral, ir para casa, comer, dormir, acordar, ir ao funeral e agora ao enterro. Fazia tudo no automático, Mu que cuidará de tudo. A única coisa que se lembrava de fato era do acidente e do médico atestando o óbito, o resto era um borrão na sua mente.

 


Aqui nós estamos
Agora você está em meus braços
Eu nunca quis nada tanto assim
Aqui nós estamos
Por um novo começo
Vivendo a vida que nós não poderíamos ter
Eu e lucy andando de mãos dadas
Eu e lucy nunca queríamos ter fim
Apenas outro momento em seus olhos
Eu te verei em outra vida
No céu onde nunca vamos dizer adeus

 

— Me desculpe por tudo meu Amor. Eu sei você já deve estar se irritando comigo por repetir isso mais uma vez. — Falou com a voz mais branda, enxugando as lágrimas e fitando mais uma vez a lápide.

 

— Eu vou ter que aprender a viver com essa culpa, com o peso de ter matado você mas…  Eu prometo, vou seguir em frente mesmo que isso dilacere minha alma, vou seguir por você. — Deu um leve sorriso.

— Você iria me dizer para fazer isso. Quase posso ouvir a sua voz com aquele sotaque sexy me mandando levantar a bunda do chão e parar de chorar que nem uma garotinha. Claro que não com essas palavras,  você sempre foi mais culto do que eu. Eu vou cuidar do Hyoga pra você, prometo, serei o melhor pai que ele já teve. — Fala com carinho, Hyoga era o irmão mais novidades novo de Camus, com dez anos de idade.

 

— Só  não posso prometer que o garoto não fará bagunça. — Riu imaginando a careta de reprovação que o amado provavelmente faria.

 

— Vou me esforçar. Eu juro. Depois disso, vou te encontrar e nós poderemos ficar juntos. Vou até escutar você ler um daqueles seus livros chatos. Escutar o sermão por criar o Hyoga como um farrista e depois vou calar essa sua boca com o melhor beijo que você já teve, depois… Vou te amar e matar toda a saudade que tenho. — Soltou a terra e levantou-se.

 

— Até lá, serei forte, pelo Hyoga, por você. Me espera ok. — Diz deixando uma única lágrima cair a secando logo após.

 

— Se cuida… Até logo… Eu te amo. — Diz saudoso com um sorriso triste nos lábios e os olhos avermelhados pelo choro. Vira de costas e caminha para fora do cemitério.

 


Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu daria todo o mundo
Para ver aquele pequeno pedaço de céu olhando por mim
Agora é o fim
Eu só quero segurá-la
Eu tenho que viver com as escolhas das que eu fiz
E eu não posso viver sozinho hoje
Aqui nós estamos
Agora você está em meus braços
Aqui nós estamos
Por um novo começo
Tenho que viver com as escolhas que fiz
E eu não posso viver comigo hoje
Eu e lucy andando de mãos dadas
Eu e lucy nunca queríamos ter fim
Tenho que viver com as escolhas que fiz
E eu não posso viver comigo hoje

 

Chegou no portão do cemitério e olhou uma última vez para trás. Agora as primeiras gotas da chuva caíam displicentes em seu rosto, como se os céus também chorassem a perda do seu amado. Olhou para mais a frente e avistou o carro de Mu ali parado. O mesmo estava encostado na lateral o esperando. Aproximou-se e entrou no automóvel sem dizer uma palavra, seu amigo também entrou no carro e sem uma única palavra o ligou dando partida e afastando-se do cemitério.

 

Milo notou então ao seu lado, no banco de trás, Hyoga, o pequeno Hyoga olhava pela janela com o nariz vermelho e os olhos marejados, fazia um esforço enorme para não chorar.

 

Igual a ele” Pensou consigo observando o pequeno loirinho que agora seria seu tesouro.

 

Abraçou o pequeno que apertou o rosto contra seu peito, beijou os cabelos loiros e sussurrou.

— O Cami está bem, ele está no céu agora. Não precisa ficar triste, eu estou aqui para você. — Sentiu o corpo menor tremer e um soluço abafado sair enquanto Hyoga finalmente chorava. Acariciou os cabelos do pequeno e olhou para frente onde Mu o fitava pelo retrovisor com companheirismo, acenou afirmativamente para Milo e o mesmo deu  sorriso fraco, observando as gotas da chuva escorrerem pelo vidro do carro enquanto algumas lágrimas silenciosas também caíam-lhe sobre o rosto.



Hey Lucy eu me lembro do seu nome


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Notas finais do capítulo

Bem espero que tenham gostado.
A música usada no capítulo foi "Lucy da banda Skillet" recomendo que ouçam é muito boa.



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