Hunk não aguentava mais ouvir Lance falando sobre garotas, estava se sentindo no inferno. Agradeceu mentalmente quando terminou de cozinhar, pois pôde pedir para o amigo ir chamar os outros.

Amigo… Como tinha uma oscilação de sentimentos por esse título que a relação deles possuía.

Suspirou aliviado ao ver que estava sozinho, queria chorar de frustração, era tão óbvio que Lance jamais gostaria de si. Primeiro: eram garotos. Segundo: quem gostaria de alguém como ele? Nerd… Acima do peso…

Balançou a cabeça negativamente e viu Lance retornar na companhia de Pidge, pareciam conversar sobre algo sério, mas ao me verem se calaram e sorriram.

— Shiro, Allura e Keith estão treinando. Eles disseram que logo vão vir. — Lance explicou a falta dos outros e se sentou — Parece bom… — comentou já salivando, o que o paladino amarelo não pôde evitar de ver e sorrir.

Katie olhou para Hunk nesse momento e sorriu também, a paixão daqueles dois era tão fofa ao ver dela.

— Então. — a paladina verde chamou a atenção do amigo — Quando vai se confessar para ele?

— Quando eu tiver coragem para isso. — McClain respondeu e a outra negou com a cabeça.

— Para com essa enrolação ridícula, Lance! — protestou ela — Você sabe que ele gosta de você, até causou ciúmes nele só para comprovar e se duvidar encher esse seu ego ridículo.

— Ei! Não me ofende! Eu admito que encheu meu ego sim, mas eu jamais causaria ciúmes para isso! Eu queria provas de que ele realmente sente algo.

— Já tem as provas. Pode ir se confessar.

— Para com isso! — ele disse bem mais alterado que antes, o que a assustou um pouco — Você realmente acha que é só chegar em alguém e dizer “oi, eu gosto de você”?! Não é assim que as coisas funcionam!

— Na verdade, é sim.

— Claro que é. — ele revirou os olhos — O que eu quero dizer é que eu não consigo fazer isso porque eu tenho vergonha.

— Você canta tanta gente em tantos planetas… E agora quer falar sobre vergonha?

— Existe uma diferença entre cantar alguém que você sente atração física e se declarar para alguém que você sente atração romântica e física. — a jovem parou para pensar sobre as palavras ouvidas e concordou com a cabeça.

— Acho que te entendo agora.

— Você é muito lógica. — ele disse e riu — Eu vou… Tentar meu melhor para conseguir me confessar…

— Não se preocupe, Lance. Você vai conseguir. — disse o abraçando.

— Obrigado, Pidge. — ela sorriu quando seu contato foi retribuído.

Cinco dias… Já haviam se passado cinco dias desde que Lance conversara com Pidge, e ainda não havia conseguido se declarar. Esse negócio de se declarar já estava lhe custando muito de sua sanidade, estava pensando seriamente em desistir.

Mas estava ali, do lado de Hunk, em silêncio e lhe fazendo companhia enquanto ele fazia alguma sobremesa, que nem fazia questão de saber o que era, sempre seria bom. Afinal, era o paladino amarelo que estava fazendo, a pessoa que ele tanto gostava de admirar em silêncio.

— Você é incrível, Hunk. Não é a toa que eu gosto de você.

Espera, o que havia acabado de falar? Desde quando não tinha controle sobre as partes de seus pensamentos que se tornavam falas?

Bem, agora já havia começado, então iria terminar.

— O quê? — questionou o amigo sem entender o sentido daquilo. A essa altura o McClain já estava olhando para outra direção.

— Eu disse que gosto de você. — repetiu mais baixo. Se sua pele fosse clara como de Pidge, talvez seu rubor fosse visível.

— Essa parte eu entendi, mas por que isso de repente?

— Hunk. — o chamou enfim voltando a olhar para o outro — Eu estou me confessando para você, pode parar de fazer perguntas idiotas, por favor? Dios mio! Esta es una buena hora para morir.

— Se confessando? Lance, você está bem? — perguntou preocupado — Ou será que é um delírio meu..? — sussurrou para si mesmo.

— Não é um delírio seu. — Lance respondeu, mostrando que mesmo sendo um sussurro tinha escutado perfeitamente.

— Ahn… Certo. — concordou — Então é uma brincadeira sua. — concluiu, fazendo o outro paladino negar com a cabeça.

Lance pegou a mão de Hunk e beijou mesmo estando um tanto sem graça.

— Não é um sonho e não é uma brincadeira. Isso é a realidade e esses são meus sentimentos, Hunk. Eu gosto de você e gostaria de te namorar. Poderia parar de arranjar desculpas para essa situação e dizer que vai pensar a respeito dos meus sentimentos ou que vai me dar um fora ou não? Essa agonia me mata por dentro, sabia? — o paladino riu sem graça pela situação.

— Posso te dar uma resposta mais tarde? Minha cabeça parece que vai explodir depois dessa. — admitiu.

— Vou estar no meu quarto. — alertou e saiu do cômodo deixando o outro sozinho.

Hunk gostava de Lance… Certo. Lance gostava de Hunk… Errado! Completamente errado! Completamente impossível!

— Alguns dias atrás ele estava falando de garotas… Isso não faz o menor sentido.

— Vocês são muito entediantes! — reclamou Pidge entrando no recinto com um laptop em mãos e logo o fechando — Lance só queria te fazer ciúmes naquele dia, ele gosta de você. E você gosta dele, é só dizer “sim, eu aceito”. Vocês dificultam demais algo tão simples! Um programa já teria apontado uns dez erros no mínimo depois dessa.

— Pidge..?

— Vocês são tão ingênuos não percebendo minhas câmeras passeando por aí. — sorriu arrumando o óculos enquanto o paladino amarelo notava a presença de uma pequena câmera passeando por cima.

— Você ouviu tudo? — questionou assustado.

— Claro. — parou para analisar melhor o amigo e percebeu o tamanho da insegurança dele com a situação — Hunk. Faz dois meses que eu estou ouvindo Lance falando que está gostando de você. Eu não sei por que está tão inseguro sobre isso, mas é a verdade, e você como a pessoa incrível que é por ter recebido uma declaração de Lance — ela riu com seu próprio comentário — Vai terminar de fazer sua sobremesa porque eu quero e usar esse tempo para formular uma resposta a altura da declaração dele, combinado?

— Combinado..? — respondeu ainda processando tudo e então viu a amiga concordar com a cabeça e sair dali, deixando-o sozinho novamente.

Não sabia como, mas depois que terminou a sobremesa, parou para pensar no que fazer, e sem que percebesse, estava na frente da porta do quarto dele.

Bateu na porta receoso e um “entre” foi dito alto o suficiente para que ouvisse e realizasse o ato.

— Eu gosto de você também. — confessou assim que a porta foi fechada — Eu só não esperava ser correspondido, então… Desculpa duvidar de você…

— Por que não esperava?

— Porque… — não queria dizer, não gostava de admitir e não gostaria de falar aquela palavra.

— Insegurança. — a palavra pareceu ecoar na mente dos dois por alguns segundos — Eu também tenho. — admitiu e se aproximou de Hunk — Sei o quão ruim é. Nos conhecemos, mas ainda há muita coisa que não conhecemos sobre o outro, o que acha de descobrirmos mais um sobre o outro? Quem sabe trabalhar o efeito da insegurança sobre nós...

— Acho uma ótima ideia. — respondeu e se abaixou um pouco.

O paladino amarelo havia ensaiado uma cena parecida em sua mente e treinado sua vergonha para se esconder um pouco para que a coragem aparecesse no lugar. Aparentemente deu certo, pois seus rostos estavam próximos, até demais.

— Hunk..? — e antes que pudesse formular outra pergunta, Lance sentiu a pressão dos lábios da pessoa que tanto queria.

Era apenas um lábio pressionado no outro. Mas Lance pensou que poderiam aprofundar e dessa forma, um beijo desajeitado se iniciou. Ambos sem nenhuma experiência naquele ato, um desastre total. Mas mesmo assim, o ato continuava sendo especial, porque gostavam um do outro.

E por essa razão repetiram a dose mais uma vez.

E outra.

A parte desastrosa da situação diminuía aos poucos e ação parecia viciante ao ver deles.

Então depois de perderem as contas sobre quantas vezes já havia se beijado ou então tentavam recuperar o fôlego, se separaram sem o intuito de fazerem aquilo novamente (pelo menos, não naquele momento) e então se abraçaram.

— Então… — começou Lance sem graça — Estamos namorando?

— Acho que sim.

O diálogo fez ambos darem risada.

— Completamente idiotas. — murmurou Pidge depois de engolir um pedaço da sobremesa e olhando a cena pelo aparelho e sorriu — Caramba, que delícia! — comentou olhando para a sobremesa.