Acordei com o apito do despertador, e notei que os fones ainda estavam nos meus ouvidos, dei um bocejo e me levantei devagar sentando na cama. Percebi que ainda estava com o meu óculos na cara, tirei ele do rosto a fim coçar os olhos. Olhei em volta para o meu quarto, sempre arrumado. Digamos que para um quarto de adolescente comum, o meu estaria muito longe de ser um quarto comum de adolescente. Tudo no lugar, tudo completamente arrumado, livros organizados na prateleira, a mesa de estudos com meu enorme monitor para os meus momentos de jogar Acardia Online e um pôster de Walter White na parede com aquela sua cara de mal e óculos escuros. Do outro lado estavam os meus troféus do clube de xadrez e ciências. Se Thor tinha os prêmios de Futebol Americano e Luta Greco-Romana (é, ele luta esse tipo de coisa), eu tinha os meus.

Era oito e quinze da manhã agora.

Saí do quarto com minha mochila e olhei para o corredor vazio, porém bagunçado, copos largados e uma garrafa de whisky ao relento, a porta do banheiro estava aberta e exalando um cheiro nada agradável, deu pra ver que tinha um preservativo pendurado e com uma gosma dentro na pia.

Torci o nariz em sinal claro de nojo.

Desci as escadas, estava tudo fora do lugar e não havia ninguém só lixo e coisas reviradas. Entrei na sala e notei que um vaso estava quebrado.

Mamãe vai surtar com certeza.

Olhei para o lado e me espantei ao ver Thor de bruços no sofá, sem camisa e com a calça meio afrouxada dando a visão perfeita do “cofrinho”.

Ouvi um resmungo e ele levantou com cabelo na cara, cobrindo todo o rosto. Ele se levantou meio grogue. A calça estava desabotoada e quase com uma certa coisa pra fora virei o rosto para não olhar.

— Cara... que bagunça...

Apenas bufei.

“Não me diga?”

— Você estava aí maninho?

— Se não estivesse não estaria me vendo – retruquei indo até a cozinha pegando algumas barras de cereais no armário.

Voltei para sala, Thor ainda olhava ao redor meio tonto.

— Merda – ele falou – que eu vou fazer com tudo isso?

— Sei lá, não fui eu que fiz a festa.

Era assim, eu nunca dava respostas gentis ao meu meio irmão, eu não o suportava, mas diferente de mim ele me via sempre como um pirralho pequeno.

— Que bicho te mordeu Loki? – ele perguntou.

— Bicho? Nenhum que eu saiba, é que não é todo dia que você acorda e descobre que a sua casa tinha virado um antro da perdição.

— Era uma festa – ele respondeu com se fosse uma coisa normal.

— Uma festa -  dei de ombros – to saindo.

Mas então ele segurou meu pulso. Aquele cheiro de álcool, perfume e outras coisa entrou no meu nariz.

— Que é?

— Me ajuda aí vai?

— Eu? – ergui as sobrancelhas -  me poupe Thor! Foi você que fez a festa não eu!

— Mas... o que eu vou fazer – e então ele implorou – por favor Loki! Não quer que ele veja isso, hein?

O “ele” se refere a Odin.

Revirei os olhos e fui até a mesinha de centro e peguei um papel do bloquinho anotei um número e dei para ele.

— Liga pra esse número, eles fazem limpezas rápidas.

Ele sorriu de orelha a orelha e fez o que eu mais odiava, me abraçou. Fiquei abraçado àquele corpo suado e cheirando a bebida, Argh! Queria vomitar!

— O que seria de mim sem você maninho!

— Me solta Thor!

Me afastei arrumando o meu penteado que ele tinha bagunçado.

— Vê se toma um banho você está fedendo! – respondi tentando tirar o suor dele que estava na minha cara.

Depois disso fui para a casa da Sigyn que era a poucas quadras dali.

No fim do dia meus pais voltaram para casa, e para sorte do Thor o pessoal da limpeza chegou antes.  Os dois nem desconfiaram de nada, a não ser pelo vaso – eu inventei uma desculpa qualquer para mamãe dizendo que Thor havia esbarrado sem querer - apenas eu sabia, até poderia me aproveitar da situação, mas Thor era tão burro que seria entediante demais....

Thor nunca foi inteligente, na verdade ele tinha boas influencias. Isso desde que éramos crianças. Ele tinha uma facilidade para convencer as pessoas a ajuda-lo, principalmente as pessoas do sexo feminino.

Ele tinha uns três anos quando eu fui adotado. Mamãe contava que ele vivia me abraçando e eu fugia dele chorando e pedindo colo dela. Thor era o típico irmão mais velho grudento e carinhoso, que achava que eu por ser o mais novo, tinha que ser protegido o tempo todo.

Agora falando em Odin e Frigga Odinson.

Nossos pais são típicos pais de classe média alta. Meu pai Odin tem uma firma de advogados e minha mãe Frigga é dona de uma corretora de imóveis. Meu pai é uma versão coroa de Thor, a diferença é que Thor ainda não tem a proeminente barriguinha da cerveja (estou sendo generoso em dizer “barriguinha”), mas daqui alguns anos é bem provável que eles fiquem parecidos. Mas a semelhança acaba por aí, pois papai Odin é um homem inteligente, sarcástico e divertido. Eu o admiro muito, mas acho que ele nunca percebeu. A verdade que meu pai sempre teve uma predileção pelo meu irmão mais velho. Sua mais nova meta é conseguir que seu filho preferido ganhe uma bolsa para jogar futebol americano e que depois assuma a sua firma de advogados.

Já, eu? Papai não parece ter planos para mim... embora eu ainda nutra uma esperança de chamar sua atenção.

Mamãe era mais de cuidar do próprio corpo, vidrada em alimentação saudável e não come nada bovino, só peixe (acabei tendo a mesma mania, só não sou vegetariano porque odeio soja). Temos uma relação mais cumplice, diferente do meu pai, ele é mais com o Thor, e quase sempre pega no meu pé por causa dos meus jogos. Quero ver o que ele pensaria se soubesse das artes que o Thor apronta. Mas isso não é o caso, mas talvez quando me for conveniente eu resolva chantagear o meu irmão...

Mamãe é bem mais atenciosa comigo, acho até que foi mais ela que quis me adotar do que o pai. É a mulher mais linda que eu conheço.

Ah, a escola?                                   

Eu estou no último ano do ginásio, logo entrarei no colegial, o que não me empolga nem um pouco. Odeio escola. E ainda tenho mais alguns anos para atura-la.

Falando em escola, eu estudo Edda Elementary School, ano que vem provavelmente eu estarei indo para a Valhala High School, a mesma escola do meu irmão.

Agora voltando a minha escola, bem podemos dizer que eu não estou entre os alunos populares. Se fosse fazer um mapeamento da escola encontraríamos vários nichos de estudantes, e de longe se compararia com o colegial. Nós da oitava série por exemplo nos dividimos em: os valentões do futebol (sempre eles) as meninas da torcida, a galera da banda (e não, não tem garotas bonitas com a Taylor Swift tocando tambor e usando aquelas roupas ridículas) alguns grupos de intercambistas, variando de latinos, orientais, africanos e indianos por exemplo, os nerds e nesse eu já me incluo e os alunos barra pesada que tem uma relação intensa com a sala da detenção.

Eu tenho basicamente três amigos: Sigyn, Bruce e Tony.

Sigyn Astrid Lindgren, ou Sigyn é minha amiga de longa data, estudamos juntos desde o jardim de infância. É a bondade em pessoa e filha única, vive numa família, segundo ela perfeita. Seus pais são professores no Valhala High. Ela é muito maternal e gosta de fazer bolos com geleia de amora, e tenho que confessar, são muito bons. Sigyn é meiga e costuma falar baixinho, é muito inteligente e já ganhou dois torneios estaduais de poesia. Fora da escola ela escreve fanfics e curti desenhos japoneses e jogos de RPG, somos membros da mesma guilda no Acardia Online, ela é a minha esposa dentro do jogo.

Robert Bruce Banner, somos amigos desde a primeira série, Bruce é bem tímido e não gosta de falar muito, é bom em ciências e matemática, é filho único também. Apesar da expressão de derrota na cara Bruce costuma dizer coisas certas na hora certa. Os pais deles são professores universitários e quase não ficam em casa, Bruce tem um buldogue preguiçoso chamado Gama, ele só come e fica deitado. Bruce é bem calmo, tão calmo que às vezes até me assusta, mas ele costuma dizer que ele não é tão calmo quanto parece. Assim como eu e Sigyn, ele também está na nossa guilda do Acardia Online.

Anthony Edward Stark, ou Tony Stark, é o aluno mais rico da escola, mas impopular por sua excentricidade. Somos amigos desde a quarta série, o último a integrar nosso grupo no Acardia Online. Seu pai é presidente das Industrias Stark Soluções Tecnológicas. Tony é metido, e gosta de botar apelido em todo tipo ser que anda e respira. Quando ele apanha dos valentões ele responde “Eu sou rico!” apesar do jeito largado Tony é muito inteligente e para ele basta assistir as aulas e pronto, ele não se mata para estudar ao contrário da gente. Ele é única pessoa que tira Bruce do sério.

Nos quatro formamos um grupo no clube de ciências, já ganhamos a feira de ciências duas vezes. Como eu disse somos jogadores de RPG ou MMROPG, jogamos o Acardia Online, nós quatro formamos a Guilda The Betas. Bruce é Hulk, um cavaleiro berseker que usa espada e escudo, Sigyn é Wendy uma arqueira e maga, eu sou Lothur espadachim e mago curandeiro, já o Tony é cavaleiro Stark e também ferreiro, ele customiza nossas armas e armaduras. Tony é um dos poucos jogadores que eu conheço que põe o próprio nome no usuário do jogo.