Ela observou o rio que corria pela lateral da casa, as janelas de vidro iam do chão ao teto deixando toda a luz do sol entrar, Caitlin girou os calcanhares sobre o tapete felpudo indo em direção ao grande sofá, se sentou no braço pegando o telefone sem fio e digitando o número já conhecido, foram necessários apenas dois toques para ele atender.

—Pode me trazer algo para comer quando vier? - pediu mordendo a ponta do dedão, Barry riu do outro lado da linha.

—Engraçado que você só me liga para pedir comida.

—Não tenho culpa se Josh é tão morto de fome quanto você. - disse balançando os pés e olhando para a barriga, estava no quarto mês e ela já estava bem mais formada e visível.

—Quando eu for, eu levo. - ele assegurou.

—Você já falou com ela? - indagou trazendo o assunto à tona, Barry pigarrou incomodado com aquilo.

—Vou falar quando ela voltar.

—Não temos muito mais tempo, Barry. Apenas diga a ela, Iris ira entender.

—Você realmente acredita nisso?

—Não, mas é sempre bom ter pensamentos positivos.

Barry riu e se despediu, ela desligou jogando o telefone sobre a mesinha de centro e caminhando para o quarto. Sua mãe havia cedido a casa para ela passar quanto tempo fosse necessário, Barry havia lhe ajudado a se mudar depois da conversa, enquanto todos pensavam que ela estava em Paris, ela estava apenas algumas horas de distância de Central City. Aquilo havia sido por impulso, porém com o tempo ela acabou percebendo que fora bom para a sua segurança. Elizabeth pensava que ela tinha ido embora, então não a procurava mais, talvez se continuasse assim poderia viver em paz.

Josh tinha seu próprio quarto na casa, tinha apenas um berço e um par de cortinas amarelas, mas era acolhedor, tinha vista para o bosque a frente da casa e a estrada que seguia até lá. O quarto dela era mais afastado. Tinha a vista para as montanhas e uma lareira para o inverno. Abriu a porta de correr que levava a varanda, deixou o vento bagunçar seu cabelo. Sorriu.

—Sabe Josh, uma hora teremos que contar a todos sobre você, mesmo que eu não goste muito dessa ideia, por isso mandei seu pai contar. Não quero ter que encarar aqueles olhares de pena, você sabe como seus tios são. Exagerados, principalmente Cisco. - riu. - Deus me livre de ver a cara dele quando Bar contar.

Fitou as montanhas, o branco em suas pontas e o verde aos seus pés. Suspirou e sentiu algo apertando seu coração. Algo estava errado.

***

—Tem certeza disso? - Barry indagou sentando na cadeira da cozinha. Ela assentiu ajeitando a bolsa. - Digo, de verdade?

—Wally me convidou e eu não posso negar.

—Na verdade você pode, porque teoricamente está na França e são muitas horas de viagem até aqui.

Ela bufou.

—É apenas uma noite, qualquer coisa eu digo que já tinha que vir por causa da minha mãe e não dou mais nenhuma explicação.

Barry riu, em resumo ela iria mentir, até porque uma mentirinha não iria agravar ainda mais a situação.

—Vai de carro? - assentiu. - Então toma cuidado, a estrada estava molhada por causa da chuva.

—Não se preocupe, sei me cuidar. - disse sorrindo.

—Tenho uma coisa para você. - Barry falou lhe estendendo uma pequena caixa.

Caitlin arqueou a sobrancelha olhando para a caixinha azul Tiffany com o laço branco, retira a tampa encontrando um pequeno pingente azul repousando sobre a almofada de camurça branca, o cordão era de prata, ela riu puxando-o.

—Não precisava.

—Acho sim, meu pai presenteou minha mãe com um rubi quando descobriu que ela estava grávida de mim, é meio que uma tradição da minha família dar uma joia pelo primeiro filho. - ele deu de ombros. Ela abaixou os olhos em direção a pedra na palma de sua mão e se sentiu um pouco culpada, aquele colar deveria pertencer a Iris, não a ela. O colocou de volta na caixa e empurrou em direção a Barry do outro lado do balcão.

—Não posso aceitar. - disse e ele franziu a testa. - Isso não é meu, é de Iris, guarde para quando ela estiver grávida.

Barry suspirou empurrando de volta.

—Mas o meu primeiro filho está crescendo dentro de você.

—Esse bebê é de Savitar. - ela argumentou.

—Mas tem o meu sangue. - ele retrucou fazendo-a se calar, ele sempre terminava a discussão assim. - Aceita logo o colar e acaba com isso. Sabe que eu sou bem insistente quando quero.

—É que...não era para ser assim, Iris deveria ser a mãe de Josh, do seu primeiro filho, não eu. - Caitlin abaixou a cabeça, ouviu os passos de Barry se aproximarem, ele a abraçou.

—Mas não foi assim, e não foi nossa culpa.

—Às vezes eu acho que você devia me odiar. - disse, ele riu.

—Por que?

—Porque eu estou criando um pequeno monstro dentro de mim.

—Josh não é um monstro, ele é nosso filho. Mas tomara que ele não puxe seu senso melodramático.

—Calado. - disse rindo. - Você sabe que eu não sou assim.

—Claro, é apena seu cérebro de grávida.

O socou no peito ainda sorrindo.

—E esse é meu murro de grávida.

***

A festa estava animada quando ela chegou, Joe havia liberado a casa para Wally e seus amigos, se sentia em uma festa de universitário, o que na verdade era, na faculdade havia tentado ao máximo ignorar aquele tipo de ação social, não estava muito afim de morrer de clamídia. Avistou Wally e acenou para ele.

—Pensei que não viria. - Wally disse a abraçando rapidamente.

—Achou mesmo que eu iria perder está festa? - indagou sorrindo. - E parabéns.

—Obrigada.

—Jesse já chegou?

—Sim, está com River e Cisco em algum lugar.

—Ok, vou atrás deles. - se afastou de Wally desviando de alguma pessoas já bêbadas, encontrou seus amigos na cozinha.

—Como vai minha francesa favorita? - River indagou pulando do balcão.

—Bem e você?

—Curtindo muito e descobrindo porque os sonserinos são representados por cobras. - ela disse, Caitlin franziu a testa.

—Ela tá pegando Julian. - Cisco explicou enojado.

—Você não se importa, não é? - River indagou, deu de ombros.

—Não, ele é todo seu. Como anda as coisas por aqui?

—Bem, quer dizer, bem no limite do possível. - Cisco disse. - Você falou com Barry depois daquele dia? Antes de você viajar.

—Sim, a gente conversou sério naquele dia. Mas por que a pergunta?

—Barry tem agido diferente, Iris está um pouco incomodada com isso.

—Eles brigaram?

—Não ainda. - River falou então se inclinou para frente. - Você falou para ele sobre aquilo?

—Sim. - disse, a loira se afastou perplexa.

—Barry sabe?

—Sim.

—Então é por isso que ele está estranho.

—Barry sabe de quê? - Cisco perguntou confuso. - O que ele sabe que eu não sei?

—Cisco, onde está Barry?

—Com Iris, lá em cima.

Se afastou deles indo em direção a escada, será que Barry havia falado para Iris e eles teriam brigado? Ele não havia comentado nada com ela sobre isso. Encontrou Iris levemente embriagada em seu antigo quarto.

—Ei.

—Oi. - ela disse virando a cerveja.

—Você está bem?

—Barry disse que tinha algo para me contar, mas ele desapareceu.

—É bem típico dele. - se apoiou na porta olhando para ela. - Acho que temos que conversa.

—É, nós temos. - Iris deixou a garrafa de cerveja de lado. - Você ama ele?

—Sim. Por que?

—Apenas quero entender o que está acontecendo aqui. Você vai lutar por ele?

—Não, Barry está feliz com você, é isso que importa.

—Você está colocando a felicidade dele acima da sua.

—Estou, pois eu fico bem se ele está feliz, mesmo eu não estando. - disse. - Há alguns depois de vocês derrotarem Savitar, eu estava em uma cidadezinha quando descobri que estava grávida. Frost se envolveu com Savitar e acabou gerando um bebê.

—E o que você fez?

—O que eu tinha que fazer. - deu de ombros. Elas ficaram em silêncio por alguns segundos, Caitlin ajeitou o casaco se preparando para sair, quando Iris falou.

—O que você sentiu quando abortou? - a encarou perplexa.

—Como?

—Como você se sentiu quando matou ele?

—Por que você acha que eu fiz isso? - indagou.

—Você disse que fez o que tinha que ser feito, ele era filho de um monstro, você não sabe que é genético isso.

—Você deve estar muito bêbada. Ele era filho de Barry.

—Não, ele era filho de Savitar, o que é totalmente diferente. - Iris disse com a voz arrastada, ela embriagada demais para se ter uma conversa séria. Virou de costas saindo pelo corredor, cruzou com Barry na escada.

—Ei, onde você vai?

—Para casa. - disse descendo os degraus.

—Por que? Você acabou de chegar. - ele falou a seguindo.

—Pergunte a sua esposa levemente embriagada, talvez ela possa te responder.

Saiu pela porta pegando a chave no casaco. Talvez ter voltado fosse uma péssima ideia.