Os Meus, Os Seus, Os Nossos escrita por Charirou


Capítulo 2
Café gelado em uma noite gelada


Notas iniciais do capítulo

Então, olha só eu atualizando essa fic de anos atrás como se nada tivesse acontecido hehe. O que aconteceu? Bom eu estava testando se essa história iria ter um bom feedback ou não, mas aí acabei deixando de lado. Eis que volto pro site e vou dar uma olhada na fic e vejo que alguém se interessou então dps de anos eu voltei aqui na maior cara de pau e resolvi atualizar, ela realmente ainda tem vários erros e vou aproveitar esse tempo de estar postando aqui para ir corrigindo algumas coisas da história.



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Even If a lot of time passes and we forget each other                                                                                                                                                 Let´s reminisces our past days                                                                                                                                                                                   We can say that this is love                                                                                                                                                                                        Then that's all we need

‘’16 de Janeiro. 21:58

 Essa foi uma música especial dedicada aos amantes que não pregaram os olhos nessa madrugada de terça-feira, buscando sua metade, sua força de viver, sua luz, o seu amor...Procurem se aquecer nessa noite, se o corpo estiver tremendo, um café quente e um corpo amante, se o coração estiver gelado: abrace quem o ama, amor verdadeiro que não espera nada em troca, apenas espera seu amor.’’

A locutora citava seu roteiro calmamente com uma voz hipnotizadora, era suave e delicada, perfeita para aliviar o estresse de quem estava no trânsito ou cansado do trabalho, não parecia que encima dela havia números gigantes em contagem regressiva medindo seu tempo de fala, como se a ameaçasse em falar mais rápido senão seria cortada do ar e colocariam uma música aleatória por cima. Faltando 10 segundos, ela anunciou a próxima música.

Começou a tocar The scientist do Coldplay no rádio de um carro levemente gelado, os vidros estavam embaçados, poderia até fazer um desenho do lado de dentro. Porém a música era o que menos importava naquele momento. Wu Yifan abaixou o volume do rádio enquanto falava ao telefone, estava com as mãos segurando o volante e com um olhar calmo na estrada, tentando esconder o quão ansioso estava. Mas estava sozinho no carro, não precisaria fingir nada era só um pensamento bobo que rapidamente fugiu de sua cabeça.

—  Sim, já estou chegando em Incheon. Sim, sim... Muito obrigado mesmo por ter feito isso por mim, sabe que pode me pedir qualquer coisa – ele riu ao ouvir a resposta da outra pessoa. – Você é a melhor, se não fosse por você não conseguiria ter feito nada disso... Eu te amo demais, você é a melhor. – Ele desligou.

Yifan voltou sua concentração a estrada, pisou levemente no acelerador para chegar mais rápido ao aeroporto de Incheon. Ele é dono de olhos vivos, bastante sedutores, sobrancelhas grossas que deixam o olhar penetrante. Garotas que passavam por ele e tinham o azar de cruzar os olhares, quase caíam sob seus joelhos, perdiam suas forças como se tivessem sido roubadas por simplesmente ter olhado naqueles olhos sensuais. Desde jovem sempre foi muito bonito, e ele sempre teve consciência disso. Dizia que era atraente demais pra qualquer pessoa, fingia não saber quando uma garota dava encima dele, mas o mesmo era muito tímido quando alguém se aproximava.

Quando era no dia dos namorados, ele era quem mais recebia declarações das meninas e dos meninos de sua classe, até mesmo dos secundaristas.

A garoa batia contra o asfalto, levantando uma quase inexistente névoa. Yifan já conseguia ver a frente do aeroporto, fez uma curva entrando no estacionamento do aeroporto. Estava indo buscar seus filhos, fazia três dias que estava longe de casa, longe de seus filhos, em um país estrangeiro.

Desde que Yifan decidiu seguir de verdade seu sonho de ser produtor musical, ele teve que abrir mão de muitas coisas, uma delas é diminuir seu tempo com os filhos. Sua rotina era no escritório, e na Coreia do Sul, tentando fechar contratos e mais contratos. Quando uma empresa o aceitou, ele ficava mais vezes viajando para o outro país, mesmo na China tendo uma filial, como a sede ficava na Coreia ele teria que ir de uma forma ou de outra.

 Por causa de seu trabalho ele tinha que estar sempre viajando e isso afetava muito sua vida familiar, deixava seus filhos aos cuidados da avó e da cunhada quando possível. Depois de decidir muito, resolveu se mudar de vez para a Coreia do Sul, levando com ele seus filhos. Ele sabia que era uma decisão difícil e arriscada, teriam que começar uma vida nova, em um país estranho e não sabendo nem um pouco da língua, ele tinha consciência do quanto aterrorizante isso era para os menores, mesmo eles não reclamando em sua frente. Abriram mão da escola, dos amigos, da casa em que cresceram, não veriam sua avó por um bom tempo. Mesmo assim, Yifan acreditava que essa mudança seria algo bom para os filhos e até para ele mesmo, um novo começo, uma vida nova.

Desligou o carro, abriu a porta e saiu. Imediatamente seu corpo encolheu com o vento frio, usava apenas uma jaqueta de couro. Perguntou-se se seus filhos estariam bem agasalhados. Ele jogou seus cabelos loiros descoloridos para traz e os cobriu com um boné, virando a aba para as costas. O aeroporto estava tranquilo, não muito lotado. Havia algumas pessoas esperando seus parentes, segurando cartazes, até um jovem rapaz com um buque de rosas, o apertando ansioso, olhando para cada portão.

Na sua direita, várias fileiras de cadeiras com algumas pessoas sentadas esperando ou descansando. Em uma das fileiras ele viu rostos familiares, dois de seus garotos estavam deitados nas cadeiras, outro estava praticamente jogado na cadeira mexendo no celular e com os pés apoiados na mala com estampa de onça. Estavam com uma mulher de cabelos curtos, ela abriu um grande sorriso e acenou quando o viu se aproximando.

 – Fanfan!

Ao ouvir o nome de seu pai ser pronunciado, Tao levantou seus olhos surpreso, viu uma figura alta com roupas escuras, com boné pras trás se aproximando. Ele quase derrubou o celular no chão ao se levantar em um pulo, se não fosse pelos fones de ouvido que estava conectado para salvar o celular de uma queda, teria ido ao chão e quebrado toda a tela, que já estava com um trinco bem no meio.

 – Papai! – Tao pulou e foi direto pros braços do pai, tinha guardado a saudade por cinco dias inteiros, não o soltaria tão cedo.

Wu ZiTao era o filho mais novo, sempre estava grudado em seu pai, pra onde ele ia o garoto o seguia e o copiava, típico de uma criança de 13 anos de idade que estava na fase das descobertas. Se Yifan usava óculos escuros e jaqueta, Tao revirava seu guarda-roupa procurando óculos e uma jaqueta parecidos para poder usar também.

 – Hey pequeno – Yifan acariciou os cabelos do filho. – Como foi no avião?

 – Foi tranquilo.

 – Muito tranquilo, 3 horas com o Tao choramingando com medo do avião cair.

 – Eu só fiquei um pouco nervoso só isso. – Tao balançou a cabeça em negação, pedindo que a tia não contasse o resto vergonhoso da viagem. Ninguém precisa saber que gritei e vomitei em cima da aeromoça.

Como caçula, ele era pequeno, cabelos longos escuros que iam até a linha do queixo, as pálpebras inferiores eram arroxeadas como se não dormisse por mais de meses, elas marcavam bastante seu olhar. Particularmente, Tao não gostava delas, por isso estava aprendendo a se maquiar; passava a noite inteira vendo tutoriais e tutoriais de maquiagens na internet, juntava seu dinheiro que recebia para lanchar na escola e comprava pinceis, corretivos, bases... Acabou criando um gosto por isso, mesmo os outros dizendo que era ridículo, coisa de mulherzinha e o chamando de viado. Ele se fazia de forte e xingava os outros de volta, mantendo a cabeça erguida, mas segurando suas lágrimas de raiva.  Quando chegava em casa que ele jogava suas coisas no canto da cama, se jogava nos lençóis e chorava.

Pouco depois os outros garotos da sua escola pararam de importuná-lo, viram que não tinha efeito, acabaram de acostumando e também porque fizeram o erro de xingar o menor na frente dos irmãos, o que resultou em uma perseguição na rua atrás da escola. Luhan, Yixing e Lei, como irmãos mais velhos correram atrás dos outros garotos que maltrataram Tao, seguidos mais atrás por Minhsuo e o mais novo.

 Os encurralaram em um beco com uma cerca alta no outro lado que impedia a saída. Luhan, o mais velho de todos que estavam ali, era 3 anos mais velho que ZiTao e os garotos que o incomodaram, ele em direção de um dos garotos que tremiam seus olhos de medo e rapidamente agarrou o colarinho do que parecia ser o líder da dupla.

— Você deve se desculpar com meu irmão! – Luhan o agarrou pelo colarinho e o jogou no chão o forçando a se ajoelhar – Por que está mexendo com alguém que nunca te incomodou?!Ein?!

Os três os estavam cercando, o outro garoto estava encostado na cerca procurando uma abertura para fugir. Minshuo segurava a mão de Tao um pouco mais atrás. O líder no chão ainda tremia enquanto Luhan segurava fortemente seu colarinho.

—  Lu-ge ... – Tao olhava para os lados com medo que os vizinhos escutassem o barulho e ligasse para a polícia, com medo pelo irmão mais velho que geralmente é gentil e doce e agora estava cada vez mais alterado.

O garoto no chão balbuciava alguma coisa sem sequer olhar para os outros.

 – Peça direito, eu quero ouvir – Luhan levantou o colarinho como pegasse impulso e o jogou no chão novamente, fazendo o garoto bater o queixo em um ladrilho falho.

Lei e Yixing estavam ansiosos, com medo, com a adrenalina a flor da pele. Tinham o mesmo pensamente que Tao, se os garotos não se desculpassem e resolvesse agir, eles teriam que lutar porque não valeria a pena segurar o irmão mais velho, e não iriam fugir depois de tudo.

Lei viu o outro garoto que estava na cerca se mover.

—  Ei se ajoelhe também, rápido! – Lei tinha uma voz bastante alta o que fez o garoto pular de susto rapidamente indo para o lado que o líder dele estava. – Peçam desculpas rápido!

 - Po...por favor nos... nos des..culp..pe – As vozes dos dois tremiam mais que o próprio corpo.

—  Nunca mais cheguem perto do Tao, entenderam?

O líder que estava no chão, lentamente levantou seu olhar curvando as sobrancelhas de raiva que sentia pela humilhação, Luhan percebeu e não gostou nada da atitude, o deixando mais enfurecido.

 – O que há com esse olhar? Entendeu ou não? – Luhan pisou no ombro do garoto e o empurrou, o derrubando no chão fortemente.

 - Lu-ge já chega vai – Yixing que estava bem preocupado pra onde o rumo disso estava indo, resolveu parar o mais velho, o puxando pelo braço para que fossem embora. – Eles já se desculparam.

Luhan puxou seu braço de volta.

 – Eu quero ter certeza – Disse se aproximando dos que estavam caídos, agora se levantando.

 – Eles já pediram desculpas e não vão mexer com o Tao de novo, olha só pra eles – Yixing disse apontando pros dois de cabeça baixa. – E se mexerem nós não vamos deixar quieto.

O mais velho bufou, abriu caminho um pouco relutante, mas não antes de agarrar o garoto pela gola mais uma vez.

 – Não quero me esbarrar com você e nem vê os dois perto dos meus irmãos. – Luhan o empurrou pra longe.

Os dois garotos quase tropeçaram um no outro, tentando se equilibrarem enquanto corriam pra longe, um deles com o orgulho ferido e quase chorando, puxou o fôlego pra responder os garotos mais velhos.

—  EU VOU CONTAR PRO MEU PAI, ESPERA SÓ, MEU PRIMO TEM UMA GANGUE EU VOU CONTAR TUDO SEU COVÁRDE, ELE VAI TE MATAR!

Assim que ouviram a ameaça, Luhan correu pra cima dos dois pegando um pedaço de ladrilho e atirando na direção deles, não antes de Yixing e Lei o segurarem.

—  CHAMA! PODE CHAMAR A GANGUE INTEIRA DO TEU PRIMO, CHAMA O XI JINPING, CHAMA QUEM VOCÊ QUISER, EU TO NO COLÉGIO DAS 8 HORAS DA MANHA AS 3 DA TARDE VIU NÃO ESQUECE!

 – Luhan-ge já chega para com isso – Yixing o puxou de volta. – Isso não vai dar em nada.

— É melhor irmos pra casa logo – Falou Lei.

— Agora sim vou ter que mudar de escola – Tao disse, em um tom lamentável enquanto abraçava Minshuo que apenas assistia sem dizer nada.

 – Tao, da próxima vez não vá pra escola de maquiagem – Luhan disse com um tom cansado.

 – Eu não tenho culpa se sou bonito, humpf!

ZiTao sempre foi confiante sobre si mesmo, sempre com bastante energia, um sorriso que enchia o coração do pai. Os filhos eram seu calcanhar de Aquiles se pode assim dizer, para ele mesmo, eles eram sua força e determinação que o fazia seguir em frente. Se alguma coisa ocorresse com algum deles, o que quer que seja, Yifan voltaria correndo pra casa.

—  Avião não é tão ruim assim, só colocar uma musica que esquece que está a quilômetros do chão sobrevoando o mar.

O garoto balançou a cabeça em afirmação.

 – Eu sei ...

 – Relaxa Fan, eles foram ótimos, uns anjinhos – Disse Mei. – Só não dormiram muito bem no avião – Ela apontou para os dois que estavam deitados nos bancos.

 – Sei... Não era pra menos, nunca saíram do país. Muito obrigado de novo por ter trazido eles Mei. – Ele agradeceu a moça.

— Ah que isso, família serve para essas coisas e para subornos. – Ela sorriu divertida observando a feição do alto que parecia confuso. Ela estendeu uma das mãos.

 – Eu vou fingir que entendi o que ta querendo dizer e apertar sua mão, okay?

 – Ah Yifan, não brinca comigo. Os ingressos do show da Beyonce, vamos lá é daqui a quatro dias mano.

 – E Beyonce ta na Coreia? Nossa, esperava que fosse mais uma brincadeira sua. – Ele colocou as duas mãos para trás apoiando a cabeça. Acabei me esquecendo de comprar os ingressos.

Ele se aproximou de Minshuo, que lutava contra o sono e cansaço, suas pálpebras pesadas se fechavam de vez, e uns segundos depois ele tentava abri-las, mas logo dormia. Ele acariciou os cabelos do filho tentando despertá-lo. Tocou em suas bochechas rosadas e gorduchas como um bolinho chinês que estavam um tanto frias.

Yixing o terceiro filho, dormia nos bancos ao lado, com vários casacos encima de seu corpo. Estava completamente imóvel e adormecido, nenhum barulho naquele momento o faria acordar tão cedo.

Mei estava a sua frente com Tao que mexia sem parar no celular, ela era a irmã mais nova de sua falecida esposa, ela tinha ficado no papel de cuidar dos sobrinhos enquanto o cunhado estava fora e viajarem com eles até a Coreia do Sul. Era uma moça agradável, animada e festeira, repudiava a ideia de casamento o que deixava sua família bastante preocupada, usava cabelos curtos, jeans e uma jaqueta rasgada. De costas se olhasse rápido, parecia até mesmo um garoto.

 – Antes de virem, comeram apenas uns salgadinhos com refrigerante, eu tentei fazer eles comerem mais, mas sabe como é, Yixing ficou reclamando que ele teria enjoos durante a viagem e que se comesse, vomitaria tudo e Luhan se trancou na cabine do banheiro por horas, acho que ficou com dor de barriga,não sei direito, mas eu não tinha nenhum remédio comigo.

Mei contava tudo que tinha acontecido, antes, durante e depois da viagem. Se olhasse para Yifan poderia ter certeza de que ele estaria prestando a atenção, já que balançava a cabeça algumas vezes, mas estava muito longe, ouvia pouquíssimo do que a garota dizia. Ele olhava aos redores do aeroporto onde estavam, havia algumas lojas de fast food e souvenirs, ele dois jovens específicos que deveriam estar ali.

 – Onde está Lei e Luhan? – Ele perguntou, interrompendo a história de Mei.

 – Ah eles foram naquela lojinha de conveniências – Tao falou – Eu vou chamar eles!

O menor enfiou o celular no bolso do moletom e correu até onde os irmãos estariam, cuidadosamente para não tropeçar em ninguém. Não queria passar vergonha de jeito nenhum. Passou em sua cabeça se acidentalmente tropeçasse em alguém e teria que se desculpa, mas não sabia falar a língua de jeito nenhum. Pensando consigo mesmo, ele afirmou que iria estudar coreano de forma certa, assistindo a doramas. Ele avistou seus dois irmãos mais velhos na loja de conveniências em frente da máquina de bebidas. Correu logo entrando na loja.

— Pega isso logo.

 – Calma aí eu to tentando ler isso – Luhan abriu um pequeno dicionário, buscando a palavra que estava escrita na máquina. Pra ele era tudo igual.  – Podia ta ao menos em inglês – Suspirou.

 – Podem ser iguais aos outros olha só, esse botão grande aqui é pra pegar a bebida e esses pequenos de cima ...aah

— É ... Mas eu já apertei e nada. Não quero fazer a idiotice de colocar o cartão do pai e a máquina o engolir. – Luhan riu um pouco.

— Estaríamos bem fodidos, isso sim.

Lei e Luhan não estavam sozinhos na loja, havia outras pessoas voltando de viagem, indo pra fora do país, turistas estavam entrando lá para abastecer e matar a fome. Quando Lei olhou pra trás havia uma fila de onde eles dois estavam, pessoas esperando pra usarem a máquina, poderia até ouvir as pessoas julgando os dois pela demora. Lei deu um sorriso fraco e cutucou Luhan.

 – Deixa isso pra lá, eu não quero mais o café.

Luhan o olhou sentido, sabia que o irmão estava com fome e ele mesmo estavam.

 – Máquina idiota – Luhan estapeou a máquina e logo em seguida a chutou com força.

 – Não faz isso, acabamos de chegar e você já quer quebrar a loja, vão acabar nos deportando de volta por vandalismo – O mais novo puxou o irmão mais velho pra longe da maquina e dos olhares das pessoas. – Vamos só levar esses salgadinhos mesmo – Lei puxou o irmão para o caixa.

A moça no caixa falou algo para os dois, usando uma voz alegre com um sorriso que estendia de uma orelha a outra, mal viam seus olhos de tão finos que ficavam quando ela sorria. Os dois se entreolharam um pouco, Luhan suspirou nervoso decidido usar seu inglês para falar com ela, já que seu coreano ainda era muito ruim. Ele aprendia rápido, mas não queria arriscar em dizer algo errado ou embaraçoso.

—  Oi – Ele sorriu – You have.. aa... coffe ? Cold Coffe?

A moça o olhou com um sorriso estranho, como se processasse o que o garoto havia dito, ela foi até o outro balcão sem dizer nada e os trouxe um cardápio que tinha todas as bebidas e alguns lanches com nomes difíceis.

 – Ei que demora, o pai já chegou, vamos – Tao entrou na loja e foi direto aos irmãos.

 – Espera aí – Lei falou, olhando o cardápio junto com Luhan.

Havia várias figuras das bebidas e ainda bem, estavam em inglês, uma grande parte. Luhan escolheu dois cafés com leite, passou o cartão de crédito e finalizarem as compras, recebem um ‘’Bem vindos a Coreia do Sul’’ da moça do caixa’’. No fim das contas, nem foi tão difícil assim, pensou Luhan.

Voltaram a onde estavam suas malas, seus irmãos adormecidos, sua tia e seu pai.

 - Pai!! – Lei gritou sacudindo seus braços, não só Yifan olhou, como algumas pessoas que passavam por perto.

Minshuo e Yixing já estavam acordados, ao menos Minshuo que enrolava um cachecol felpudo no pescoço. Ao ver Luhan se aproximando, o garoto das bochechas rosadas sorriu, sorriu mais ainda quando viu os copos de café que os dois seguravam. Foi logo pegar no café que Luhan trazia.

  –Ah eu queria mesmo beber algo – O garoto estava com seus olhos brilhando. Quando pegou o copo, seu sorriso diminui um pouco, e seu corpo tremeu um pouco com o copo gelado.

 – Por que não comprou um café normal mesmo, quente ou morno?

 – Ah... – Luhan o olhou como se houvesse um branco em sua mente.

  –Ta muito frio olha isso, e você ainda compra café e logo gelado?

Luhan olha para Lei como se tivesse realizado algo grande. E na verdade tinha mesmo, comprar um café gelado em pleno outono não fazia sentido, não é a toa que a moça da loja de conveniência o olhou estranho. Os três riram da situação engraçada.

  – Por que você não me avisou? – Luhan virou-se em direção a Lei indignado.

 – Como que isso virou minha culpa? – O irmão levantou a voz, chateado por estar sendo acusado.

 – Eu tenho que ficar do lado do Lu-ge toda hora senão ele faz tudo errado, não vive sem mim.

Yifan e Mei conversavam sobre como ela voltaria para casa, se pegaria um outro voo agora ou depois de descansar, era tarde da noite e todos estavam cansados, seria ruim pegar outro voo. Ela decidiu ir passar a noite na nova casa deles, assim ajudaria os meninos a levarem as bagagens.

 – Okay meninos peguem suas malas e vejam se não esqueceram de nada. – O pai dizia calmamente – Vamos Xing, acorde.

— Eu to acordado. – Ele falou balbuciando. O terceiro filho parecia mais estar dormindo do que estar desperto como afirmava, estava sonâmbulo, ou melhor, dormindo sentado. Lentamente ele se levantou apertando as cordinhas do moletom, colocou sua mochila nas costas, pegou a mala e foi empurrando quase se debruçando em cima dela.

Yixing sempre teve um sorriso brilhante e se animava com pequenas coisas, mas quando as vezes ele se encolhia em seu próprio mundo que era seu quarto e dormia o dia inteiro, só saía para comer e tomar banho. Era uma das coisas que preocupava Yifan, por ter ficado muito tempo distante da família, ele se sentia culpado. Sabia que Yixing sempre fora espontâneo e agia de acordo que seu humor permitia, não fingia estar bem quando não estava, nunca foi bom nisso mesmo. Mesmo sabendo que essa era a natureza, vezes ou outra passava por sua cabeça que o garoto poderia estar doente e até mesmo depressivo, mas como o garoto logo estava animado de novo, ele afastava esses pensamentos.

É coisa da idade, isso é normal.

Yifan, seus filhos e a tia Mei estavam a caminho da nova casa. O carro era grande o suficiente para caber ao todo 6 pessoas se usasse os bancos do porta-malas. Como o porta-malas estava fazendo seu papel de guardar todas as malas, as crianças ficaram meio que empilhadas nos bancos do meio. Mei no banco da frente ao lado do loiro que dirigia, Luhan na ponta da janela com Baozi em seu colo, Lei no meio e Tao com o Yixing no seu colo que agora estava mais que acordado.

No rádio, se colocasse seu ouvido bem próximo a caixa de som, e tirasse qualquer barulho que vinha de fora poderia ouvir que tocava Beatles, mais especificamente Twist and Shout. Infelizmente, mesmo quem estivesse com a orelha grudada na caixa, não poderia ouvir musica alguma, pois no carro as crianças falavam sem parar, como se realmente tivessem despertado todas naquele mesmo momento. Todos ansiosos pela nova casa, de como ela seria, de quem dividiria o quarto com quem, conversas de todo tipo acontecia nos primeiros 30 minutos de viagem. O caçula reclamava que o maior era pesado, Yixing retrucando que o mesmo não queria sair do banco, Lei reclamando de fome e pedindo pro pai aumentar o som do rádio, Luhan e Minhsuo rindo de alguma coisa que viram, enquanto os dois adultos conversavam calmamente de como quando os outros moveis chegariam. Mei concordou em ficar até o show da Beyonce e aproveitaria para ajudá-los durante a mudança dos moveis.

Mudar de uma casa para outra é difícil, dar adeus a seu lugar de refúgio, seus amigos, ainda mais sendo uma casa em que cresceu toda sua vida até o momento, viu seus irmãos nascerem e crescerem ali, dar a deus a primeira surra que levou quando quebrou todas as louças de sua avó e pôs a culpa no irmão mais novo, na árvore que ficava no jardim onde aconteceu seu primeiro beijo, nos muros baixo que cercava a casa onde facilmente podia pular e voltar pra casa depois de uma festa, dar adeus ao quarto quentinho da mãe que vivia perfumado com velas aromáticas de camomila.

Agora tudo ficou para trás, ficou apenas nas memórias das crianças e de Yifan. Era uma nova vida, em um novo país, era hora de fazerem valer a pena e recomeçar.

   5 meses depois.

 – Oh, certo, já checou a temperatura dele?

 – Já, a febre abaixou, parece que ta normal de novo... ah espera eu vou por no viva voz.

 – Pai só a minha garganta que ainda dói um pouco, tomei já o remédio de resfriado, mas não deu muito certo, não vi nenhuma diferença.

—  Luhan, faça uma sopa quente ta, com bastante legumes, já to indo, só vou pegar umas acelgas e arroz para o mingau.

Minshuo estalou a língua no outro lado da ligação.

 – Mas mingau é muito ruim uurgh

 - Mas tem que comer tudo, senão o remédio não vai adiantar de nada Baozi, Luhan fique vendo se ele vai comer ta, se comer tudo eu vou levar umas guloseimas tudo bem?Ah e antes que eu chegue peça pro Xin-

Assim que Yifan estava prestes a sair, uma mão o parou, fazendo-o virar na mesma hora. Yifan olhou de onde via aquela mão e se deparou com um homem baixo o encarando.

 – Espera um pouco.

Ele abaixou o celular e rapidamente olhou pro homem baixo que lhe segurava o braço, seus olhos por baixo dos óculos gritavam que ele estava com pressa. O Outro saberia se os visse.

 – Sim, posso ajudar?

  –Sim, na verdade...

Yifan balançou seu braço um tanto desconfortável pelo o outro estar segurando, ele notou e o soltou.

 – Eu ia pegar esses doces e parece que são os últimos.

Era só o que faltava, pensou Yifan, meus filhos precisando do jantar, meu outro filho doente, não posso me esquecer de pegar o arroz já que a garganta dele ta doendo, espero que ele esteja tomando a sopa.

Ele sentiu suas mãos suarem enquanto segurava o celular e lembrou que eles ainda estavam na linha, então Luhan não fez a sopa, ah ele teria que se apressar.

 – Você pode me dar os doces? – O homem baixo com certeza tinha falado mais coisa, mas o loiro apenas ouviu a ultima sentença. Como assim ele quer os doces? Que cara de pau.

 – Não, pega outros doces – Ele apontou pra prateleira que estava cheia deles. Virou-se, finalmente ia embora, voltando a falar com o filho.

Porém não antes de seu braço ser puxado novamente.

 Yifan bufou.

 – Vá fazer a sopa, eu ligo depois quando estiver no carro. – Desligou.

Ele encarou segurando sua paciência para o homem que mordia os lábios de uma forma boba, de forma idiota. Ele queria mesmo esses doces não é.

O homem baixinho começou a falar com gestos nas mãos, como se fosse um vendedor de rua tentando fazer você comprar um produto falso, dizendo que era de ultima geração e único. Era até engraçado o jeito de como ele levantava sua cabeça para tentar olhar nos olhos de Yifan que estavam por trás dos óculos.

Ele tirou seus óculos, as luzes brancas do supermercado eram bem fortes, ele franziu o cenho, apertando seus olhos por conta da luz. Percebeu que o outro ainda segurava seu braço, novamente. É comum tocar em pessoas desconhecidas dessa forma? Yifan puxou seu braço de volta enquanto o outro insistia em ficar com os doces, até teve a coragem de querer compra-los. Perguntou até a quantia que ele queria. Quem ele achava que era? O presidente para comprar tudo que as outras pessoas tinham.

 – Eu quero que você largue meu braço, se não conseguiu pegar antes, é problema seu por ser devagar demais. – Yifan esperava que sendo grosseiro o homem finalmente o deixaria em paz, e como ele previu, parece ter dado certo.

O outro abriu a boca surpreso, piscou os olhos várias vezes como se estivesse incomodado com um cílio que caiu dentro de seu olho. Yifan não demorou sorriu de forma sínica e virou-se indo embora daquela situação estranha.

Ouviu o outro praguejar e calmamente o loiro levantou seu dedo do meio e foi embora, o outro até disse mais alguma coisa o que passou despercebido por Yifan. Boa coisa não seria.

Ele pegou seu arroz, pagou as compras de forma calma, mas ao mesmo tempo olhando para o relógio, ele ainda teria que passar no restaurante chinês da esquina e buscar o jantar deles que ele havia encomendado uma hora antes, e então, enfim casa.


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Notas finais do capítulo

Hu obrigado por terem lido e pela paciência k



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